dezembro 31, 2009

Blog # 515

As contas portuguesas dão sempre resultado incerto. No papel, os resultados são positivos e apaixonantes; durante a realização dos projetos, há um desacerto total – os proventos não chegam, os gastos disparam e todos nós empobrecemos mais um pouco. Foi assim sempre, mas sobretudo na época da embaixada de D. Manuel ao Papa, um dos episódios mais pífios da nossa sede de gastos. Vejam-se os estádios de futebol (sobras do Euro 2004): neste momento, há pelo menos três autarquias que gostariam de deitá-los abaixo porque estão a ficar caros demais. Gostamos de ser otimistas por obrigação. Por isso, no último dia do ano, limitemo-nos a não fazer contas mas a pensar no assunto: nos EUA há mais bibliotecas do que McDonalds; em Portugal há mais estádios do que bibliotecas.

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LIVROS DO ANO: Roberto Bolaño está acima de toda e qualquer suspeita e ‘2666’ (Quetzal), nas suas 1032 páginas, é sem dúvida o livro do ano. Tem tudo, como acontece nos romances que se leem pela vida fora. É único, indispensável.

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FRASES

"Estou a meio da minha desintoxicação de bacalhau." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

"Que a Nereida Gallardo deixe de ser convidada para festas em Portugal." Domingos Amaral, sobre os desejos para 2010. Ontem, no CM.

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dezembro 30, 2009

Blog # 514

Há quem rejubile com os gastos excessivos que os portugueses prodigalizaram neste último mês do ano – entre 1 e 26 de Dezembro foram levantados 2.131 milhões de euros no multibanco e feitas compras no valor de 2.577 milhões pelos cartões de débito. É muito, é pouco? Se acrescentarmos que a maioria absoluta dos programas de viagens para o final do ano no estrangeiro está esgotada, o cenário é mais do que festivo: é preocupante. Lamento desiludir, mas isso acontece sempre a anteceder os períodos de depressão. De onde vem tanto dinheiro? Do endividamento e do cenário de juros baixos, que mudará em 2010. Não é preciso ser economista para perceber o que significa esta corrida idiota ao consumo: ou as notícias sobre a crise são falsas, ou os portugueses apreciam o abismo.

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LIVROS DO ANO: Depois do belíssimo ‘As Mulheres do Meu Pai’, pensava-se que J. Eduardo Agualusa tinha de recuperar o fôlego. Está lá todo, em ‘Barroco Tropical’ (Dom Quixote), uma pérola de literatura em estado poético. Prodigioso.

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FRASES

"Mais do que de ideias, o PSD precisa de pessoas que saibam apresentar ideias." Constança Cunha e Sá, ontem, no CM.

"A tranquilidade dos professores e os altos salários não vão dar para pagar todos os prejuízos." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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dezembro 29, 2009

Blog # 513

Camilo é o nosso grande romancista. E humorista. Romântico, dramático, trágico, satírico, de ir às lágrimas e de chorar de rir. A língua portuguesa rejubila com ele. Os seus personagens são desenhados a fio de prata, iluminando a prosa. O realizador chileno Raúl Ruiz escolheu ‘Mistérios de Lisboa’ para filmar e quer continuar com ‘O Livro Negro do Padre Dinis’, outra obra romântica fantástica com um pouco de ‘O Monte dos Vendavais’. Manoel de Oliveira transformou Camilo em teatro radiofónico, o que é pouco para o génio absoluto do autor de ‘A Brasileira de Prazins’. Talvez o chileno Ruiz compreenda esse talento extraordinário de ficcionista e historiador, que os portugueses ignoram por não ser “moderno”, nem “francês”, nem “cosmopolita”. Por isso é o melhor de nós.

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LIVROS DO ANO: ‘O Prazer e o Tédio’, de José Carlos Barros (Oficina do Livro) é um folhetim romanesco e romântico passado num cenário de bosques, aldeias transmontanas, sexo e devassidão. Beleza pura como é raro na nossa ficção.

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FRASES

"O meu desafio não é fazer o melhor filme português, mas sim o mais português." Raúl Ruiz, realizador chileno, que filma Camilo Castelo Branco. Ontem, no CM.

"Passei a dar guarida permanente debaixo do meu próprio tecto a um dicionário de português." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

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dezembro 28, 2009

Blog # 512

Aqui e ali, sobretudo nos blogues, sente-se mais a exigência de um laicismo radical. Por exemplo, o que leva um primeiro-ministro laico a fazer uma mensagem de Natal? Por que razão se permite que o cardeal patriarca fale na televisão, se a televisão deve ser laica? Há aqui uma confusão entre religião e hábitos de civilização – além do regresso do velho jacobinismo demagógico do início do século passado. Abolir o Natal seria uma solução fácil. Na Revolução Francesa, mudaram-se os nomes dos meses e dos dias da semana para que não tivessem conotação religiosa. Como no Turcomenistão, para glória do líder. A lista de ‘ditaduras antirreligiosas’ é bastante longa e nenhuma delas apresentável. O jacobinismo e o ateísmo de pacotilha não aprenderam nada. Continuam ridículos.

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LIVROS DO ANO:Poemas Portugueses – Antologia da Poesia Portuguesa do séc. XIII ao séc. XXI’, coordenação de Jorge Reis-Sá e de Rui Lage (Porto Editora). Uma referência permanente quando se discutir o cânone da poesia portuguesa.

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FRASES

"A justiça é feita por homens e, por isso, é uma atividade falível." Juiz Carlos Alexandre, figura do ano 2009. Ontem, no CM.

"Queremos sempre mais. É disso que tenho medo." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

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dezembro 26, 2009

Abriu a caça

1. O medo raramente fez bom futebol e nunca construiu vitórias. No campo de batalha (mesmo tratando-se daquele mau relvado) o que conta é a vontade de ganhar e a forma como a equipa é desenhada e foi preparada. O Benfica ganhou porque foi melhor, porque jogou melhor, porque queria vingar-se de quatro anos de abstinência – e porque não inventou tanto. São factores que justificam a coisa.

Poderíamos discutir sobre a inclusão defensiva de Guarín (que deixou Fucile como único lateral), sobre a convocação inicial de Hulk (que deixou Varela escondido no banco) e até sobre a animadíssima desconcentração da defesa – mas é tarde. Em primeiro lugar porque o jogo já foi; em segundo, porque nada está perdido; finalmente, porque a derrota foi um lição acerca do que não se pode fazer. Abriu, portanto, a caça ao título.

2. E, agora, dois casos. Um, de perseguição sistemática ao FC Porto, e protagonizado pela Comissão Disciplinar (CD) da Liga, que quer revogar uma decisão do Conselho de Justiça da FPF em relação ao director de comunicação do clube. A Liga quer que o castigo seja maior e não aceita a redução de pena determinada pela FPF. Independentemente da argumentação, há aqui uma intenção recorrente de punir mais o FC Porto. Depois da trapalhada em que certas figurinhas da Liga se meteram durante a investigação ligada ao Apito Dourado, elas regressam com o mesmo apetite: fazer fretes e cumprir o papel. Não mudam.

O outro: o da «suspensão preventiva» de Hulk e Sapunaru por causa do alegado mau comportamento dos jogadores no túnel de acesso aos balneários do Estádio da Luz. A figura da suspensão preventiva é uma iluminação jurídica, a coroa de glória da CD da Liga porque permite punir independentemente de qualquer castigo que venha a ser aplicado. No caso de isto terminar com a absolvição dos jogadores, o servicinho já foi feito – com uma «suspensão preventiva». Abriu a caça ao FC Porto e eles já não têm vergonha.

in A Bola - 26 Dezembro 2009

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dezembro 24, 2009

Blog # 511

Não discutirei os argumentos (que respeito) do bispo de Viseu para quem a aprovação do casamento gay é “um atentado à família”. Mas gostaria de lembrar que os horários de trabalho desumanos são um atentado à família. As políticas fiscais agressivas são um atentado à família. A falta de qualidade no ensino, a programação televisiva alarve, a publicidade dirigida às crianças, o desemprego, a deficiente arquitetura e qualidade de construção das cidades – são um atentado à família. Como é um atentado à família a falta de árvores e de jardins nas cidades. A falta de atenção aos velhos – na doença e no sofrimento – é outro atentado à família. Ao pé disto, o casamento gay (ou o que for), é uma minudência. Pode levantar problemas morais ao bispo de Viseu, mas é quase nada.

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Amadeu G. de Araújo e Carlos M. Azevedo explicam o processo armado pela I República e Afonso Costa a D. António Barroso, bispo do Porto e missionário. ‘Réu da República’ (Aletheia) é um livro fascinante sobre a liberdade.

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FRASES

"Uma mensagem positiva e bonita, é mais eficaz do que dezenas de mensagens desagradáveis." Domingos Amaral, sobre o marketing católico. Ontem, no CM.

"Os primeiros-ministros que ‘provocaram’ Presidentes não acabaram bem." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

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dezembro 23, 2009

Blog # 510

Uma vasta onda de nutricionistas, dietistas e conselheiros de assuntos gerais invadiu as páginas dos jornais propondo receitas saudáveis de peru ou bacalhau e de doces natalícios. Já em tempos a sociedade de Endocrinologia e Metabolismo tinha proposto o fim dos “assados de domingo” (nada como atacar onde dói mais). O problema é a falta de sentido de oportunidade dos conselhos e das admoestações. Há, em certas almas, uma relação direta mas inversa entre ter razão e ter juízo. Na verdade, eles têm razão – devemos cuidar da nossa alimentação, evitar o colesterol e outras ameaças. Mas não têm juízo; os pecadores, mesmo em remissão dos pecados, devem ter uma janela aberta para respirar e sentir a devassidão que traz a felicidade. Uma festa é um tempo de interrupção.

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São 440 páginas de história portuguesa escritas por um italiano que nasceu no ano do 25 de Abril, Riccardo Marchi: ‘Império, Nação e Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)’, edição da Texto.

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FRASES

"A mulher já coloca o macho latino em sentido." António Serzedelo, da Opus Gay. Ontem, no CM.

"A primeira maravilha do mundo futebolístico de hoje é a terceira perna do MessiMaradona.", no blogue A Causa Foi Modificada.

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dezembro 22, 2009

Blog # 509

Ironia perfeita. Entre os dez livros mais vendidos da década, em Inglaterra (Portugal não tem estatísticas), há dois autores mortos: Shakespeare e Enid Blyton. Ou seja: a celebração da literatura, do talento e da perturbação trazida pelo autor de ‘O Mercador de Veneza’; a euforia da inocência, das férias e da primeira adolescência nos livros populares de Enid Blyton, a criadora das aventuras dos Cinco e dos Sete. Ambos os autores transformaram ou modelaram a minha forma de ver o mundo – o pessimismo, a ironia e melancolia de Shakespeare; e a adolescência sem fim dos Cinco. Pelo meio, na lista, há histórias de vampiros, de cretinos e de especulações sobre a felicidade. Subprodutos. Nada como a melancolia, o pessimismo, a ironia e a adolescência. Ou seja, a literatura.

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Sim, é uma reunião de textos – mas fundamental para entender as questões estratégicas. Trata-se de ‘As Guerras que já aí estão e as que nos esperam se os políticos não mudarem’ (Europa-América), do general Loureiro dos Santos.

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FRASES

"Não haverá diminuições do desemprego, nem crescimento do emprego." Pedro Adão e Silva, comentador político. Ontem, no CM.

"Já não via o Porto jogar de uma maneira tão miserável há muitos, muitos anos." Pedro Marques Lopes, no blogue União de Facto.

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dezembro 21, 2009

Blog # 508

O Prémio de Poesia Luís Miguel Nava, pela sua independência e exigência, é um dos que vale a pena seguir. Este ano a distinção foi para ‘As Têmporas da Cinza’, de A. M. Pires Cabral (Cotovia). Pires Cabral é pouco conhecido, o que não significa nada. É um dos nossos raros grandes poetas; vive em Vila Real, sob a penumbra do Marão e os seus versos têm o arrebatamento de uma tarde de Outono – falam de coisas mínimas: melros, relâmpagos, cancelas das hortas, caçadores, vales escurecidos pela tarde, animais da serra, homens perdidos nas aldeias, vidas intranquilas no Nordeste. Ler a sua poesia é um caminho para iluminar o coração. Mas não só: também para respirar, que é uma coisa antiga, com a nossa idade, com a idade da poesia. Raros poetas o conseguem com a sua limpidez.

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Logo no início de Janeiro, a Dom Quixote publica a ‘Assim se Esvai a Vida – Três Livros Num Só’, de Urbano Tavares Rodrigues. São mesmo três livros reunidos para este regresso do autor de ‘Os Insubmissos’. E trazem surpresas.

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FRASES

"Não há bons romances com verbos no título." No blogue Ouriquense.

"O Natal é sempre uma chatice, porque é difícil resistir aos alimentos." Carlos Oliveira, Presidente da Associação de Doentes Obesos . Ontem, no CM.

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dezembro 19, 2009

A vida é como é

1. O mundo não vai parar este fim-de-semana, a menos que se corra para o título de «campeão de Inverno». A imprensa atribuirá o título se o Benfica ganhar o jogo de domingo e irá colorir as suas primeiras páginas com a paleta da glória e alguns pontos de exclamação; se o FC Porto ganhar, como espero, o ceptro não será atribuído e o destaque será dado às novas contratações do Benfica — contratações que, como se sabe, têm como finalidade retirar o clube da sua grave situação financeira, diminuir o passivo acumulado e mostrar ao mundo como são grandes e fartos os clubes portugueses. A vida é como é. Manda quem pode.

2. Nos tempos de Co Adriaanse, o treinador que ganhou o campeonato sem saber ler nem escrever, o FC Porto perdeu no confronto directo com o Benfica. Na altura, o treinador do molho holandês (um homem que conseguiu dizer, sem rir, que Diego não tinha talento especial) garantiu que não imaginava que era importante ganhar ao Benfica. Se calhar não é — mas ajuda um pouco, porque sempre são seis pontos a favor, juntando as duas voltas. Mas enfim, nestas contas nunca se sabe; diante dos tetracampeões, há equipas que se agigantam...

3. Sim, eu gosto de piadas sobre o Benfica. Ajuda, como diz David Luís a outro propósito qualquer, a manter a pressão sobre o adversário. Lucílio Baptista também tem esse efeito, não tem?

4. O mundo seria mais tranquilo e os estádios bons para dormirmos a sesta, se reagíssemos como Carlos Carvalhal depois da derrota da sua equipa em Berlim, frente ao Hertha: «Em termos de qualidade de jogo acho que demos um salto em frente.» Isto equivaleria a dizer, depois de uma derrota categórica (o Hertha está em último na Bundesliga), que «até nem jogámos mal» ou «fiquei apenas ligeiramente insatisfeito». Rui Patrício também é um homem generoso e candidato ao prémio do optimista do ano: «Fizemos um excelente jogo, uma excelente exibição.» O resto da frase é: «Mas infelizmente perdemos.»

in A Bola - 19 Dezembro 2009

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dezembro 18, 2009

Blog # 507

O Acordo Ortográfico entrará em vigor nas escolas apenas em 2011, supõe-se. Não se sabe quando é que o ‘Diário da República’ publicará os decretos já com a nova ortografia, mas é admissível que, tal como aconteceu no Brasil, seja a imprensa a pioneira (atualmente, o diário ‘Record’ já a usa). Por isso, compreendem-se as cautelas evidenciadas pela ministra da Educação, uma vez que ainda não estão disponíveis todos os instrumentos pedagógicos e didáticos para acompanhar o Brasil nesta aventura delicada. Na verdade, e tirando os documentos oficiais, durante alguns anos escrever-se-á como cada um entender, até porque de ambos os lados do Atlântico há vozes autorizadas e dissonantes. Ora, o que é preciso é que se “escreva bem”, o que não tem apenas a ver com a ortografia.

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A Almedina está a reeditar os livros de Adriano Moreira. É uma boa ideia – assim, podemos revisitar as páginas de ‘Tempo de Vésperas’, anteriores a 1974. São cento e dez páginas inesperadas e cheias de melancolia. Vale a pena ler.

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FRASES

"Tenho muitos livros para ler e não quero perder tempo com essas 'maquininhas'." António Fagundes, ator brasileiro, sobre as ‘novas tecnologias’. Ontem, no CM.

"Agora vou dizer o que acho sobre o casamento gay. Não acho nada." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

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dezembro 17, 2009

Blog # 506

Vai uma grande confusão por causa da “proibição de casamentos mistos” supostamente decretada pelo Papa (não é verdade; o Papa limitou-se a atualizar a lei vigente para católicos, em que um bispo ou um padre podem autorizá-los). Numa época de casamentos civis onde as religiões entram pela porta lateral, e em bicos de pés, decretar tal proibição seria um risco decisivo. O casamento dos outros não me interessa grande coisa (para não dizer que o casamento, propriamente dito, é um assunto menor) — mas interessa-me a forma como qualquer frase do Papa é dissecada até à sílaba, de modo a ver nela intenções malévolas que põem em risco a civilização tal como a conhecemos. O preconceito contra a religião é tão ridículo como qualquer preconceito eclesial. É uma obsessão infantil.

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Cuidai-vos rapazes: o novo romance de Inês Pedrosa, que sairá em finais de Fevereiro, leva o título ‘Os Íntimos’ (Dom Quixote) e nele só falam personagens masculinas. Imaginemos um grupo de homens diante da tv. É assim que começa.

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FRASES

"Já praticamente não tenho ressaca." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

"Qual o escândalo de ele ter 13 amantes? Caramba, se cada campo de golfe tem 18 buracos..." Domingos Amaral sobre Tiger Woods. Ontem, no CM.

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dezembro 16, 2009

Blog # 505

Este período – o do Natal – elege a infância como um dos seus temas. As recordações e a alegria da infância. E até o nascimento da infância, propriamente dita, que nem é uma coisa tão antiga como isso. Quem contribuiu decisivamente para que a infância tivesse um destino e um sentido, além de um estatuto, foram os irmãos Grimm. O mais novo deles, Wilhelm, morreu há 150 anos, que deviam ser assinalados hoje. Os contos de Grimm foram decisivos para alimentar a imaginação. Muitos psicólogos e pedagogos acham que os seus contos têm bruxas e monstros a mais – e algumas das suas histórias foram banidas em nome da proteção das criancinhas, que ficam traumatizadas por tudo e por nada, ou porque “os valores mudaram”. Mudaram. Mas a verdade é que nem todas as mudanças são boas.

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É um dos grandes nomes da literatura cubana, que morreu no exílio em 1990, autor de ‘Antes que Anoiteça’. A Dom Quixote publicará, em Janeiro, ‘Mundo Alucinante’, de Reinaldo Arenas, uma grande homenagem à memória de Havana.

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FRASES

"Na Holanda uma pessoa para contar na sociedade tem de ler e ter uma estante com livros." J. Rentes de Carvalho, escritor luso-holandês, ontem no CM.

"Está frio. Irra. Hoje volta a não ser bom dia para falar de aquecimento global." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

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dezembro 15, 2009

Blog # 504

O Instituto de Meteorologia e a Proteção Civil decretaram “alertas amarelos” para vários distritos, o que eu suponho ser uma precaução, digamos, substancial. O que se passa para haver “alerta amarelo”? Uma ameaça terrorista? Uma barragem que está na iminência de desmoronar? Uma fenda abrindo-se na placa tectónica? Um ‘tsunami’ que se aproxima? Não. Pura e simplesmente, acho que vinham aí uns dias de frio. A Pátria devia agasalhar-se porque as temperaturas, dizem as autoridades, rondariam os zero graus, em média – durante a madrugada. Ora, o que vem dizer-nos o “alerta amarelo”? Que está aí o Inverno, aquela estação do ano em que as temperaturas descem e precisamos de usar lã, de vestir casacos e de ligar o aquecedor. Esta descoberta do Inverno é um grande acontecimento.

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Luís Miguel Queirós, um jornalista que ama o Porto, escreveu um dos livros mais saborosos sobre a cidade, ‘As Ruas do Porto’ (Figueirinhas), com fotos de José Eduardo Reis a acompanhar. Mais do que um livro: um guia e uma memória.

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FRASES

"É na blogosfera que se discute política a sério e nunca se discutiu tanta política." Paula Oliveira Silva, autora do livro ‘Blogo, Logo Existo’. Ontem, no CM.

"A história não pára só na estação que nos dá jeito." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho Carpinteiro.

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dezembro 14, 2009

Blog # 503

O combate à corrupção está na ordem do dia — é uma moda gratificante. Na sexta-feira passada, o deputado Fernando Negrão defendeu a figura jurídica do “pré-crime”, uma coisa que o cinema conhece de ‘Relatório Minoritário’, que a literatura vasculha desde que Orwell escreveu ‘1984’ e que a política conhece de todas as ditaduras. Provavelmente, trata-se de um deslize de linguagem mas a expressão está lá. Trata-se de prevenir, dizem os especialistas. Não é. Trata-se de evitar que o ser humano caia em tentação. Se tirarmos todas as consequências da ideia de “pré-crime”, andaremos todos vigiados e sujeitos a escrutínio permanente dos nossos atos. Começa pela ideia moralista de “quem não deve não teme”, a preferida dos idiotas. Depois, até à paranoia da denúncia, é um passo.

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Anna Klobucka é professora no Massachussets, EUA, e é autora de ‘O Formato Mulher’ (Angelus Novus), em que analisa a emergência da “autoria feminina na poesia portuguesa”. De Florbela Espanca a Adília Lopes, um estudo a reter.

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FRASES

"Gostaria de poder viver longe dos emails e dos Blackberry’s ..." Rachel Weisz, atriz, representa o papel da filósofa Hypatia, no filme ‘Ágora'. Ontem, no CM.

"A bondade, conceito absolutamente desactualizado e potencialmente perverso." Joana Carvalho Dias, no blogue Hole Horror.

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dezembro 12, 2009

Contagem decrescente

1. Na semana passada, descrevi os jogos com o Guimarães e com o Atlético de Madrid como «momentos-chave na carreira do FC Porto este ano». Eram. Ganhar ao Guimarães e ao Atlético (e expressivamente, como aconteceu), as duas etapas mais difíceis antes do jogo com o Benfica na Luz, podia trazer um suplemento de alma e de confiança aos campeões. Se, depois disso, o resultado com o Benfica – a equipa-surpresa da temporada – for positivo (entre o empate sem golos e a vitória por meio golo), pode dizer-se que ainda cheira a penta.

Isto arrelia os adversários. É bom. Pressão neles é coisa que dá jeito e funciona às mil maravilhas quando se discute o magnífico título de «campeão de Inverno», o ceptro que o Benfica mais tem conquistado nos últimos anos, salvo seja. Contagem decrescente é o que recomendo.

2. Sobre Bruno Alves, o seguinte: viram aquela elevação sobre uma barreira de colchoneros? Lindo. Bruno é um dos exemplos de balneário e de dedicação. Já oiço, como de costume, as adversativas da ordem: a violência, a agressividade, a dureza, a agressão. Conheço o argumentário tintim por tintim, mas não pega. Nos últimos anos, Bruno Alves foi o jogador que mais cresceu, que mais evoluiu e que mais serenamente afirmou o seu lugar na galeria dos que vale a pena distinguir.

3. Cristiano (Paços de Ferreira), lembram-se? Não há lugar para ele, como não havia para Nené (Nacional). Nené seguiu para Itália e marca como marcava no campeonato português; Cristiano (escrevi aqui sobre ele) vai para o PAOK. Claro que temos génios de sobra no nosso rectângulo, com talentos multimodais. Alguns, aliás, alinham no FC Porto, para minha desgraça, mas podemos fazer o recenseamento pelas outras equipas. Infelizmente, poucos desses «talentos indiscutíveis» têm a ver com futebol. Nené e Cristiano lembrar-se-ão de Portugal como a plataforma de onde partiram para Itália e para a Grécia. Tinham um problema sério com eles: eram baratinhos.

in A Bola - 12.12.2009

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dezembro 11, 2009

Blog # 502

Poucos darão por isso, mas hoje é o Dia Internacional das Montanhas. Portugal não preza especialmente a sua natureza – vê as árvores de longe, serem consumidas pela erosão e pelos incêndios, aprecia as montanhas apenas como uma disposição geológica, despreza e suja os rios, maltrata o litoral (uma das nossas maiores riquezas), destrói a paisagem. Num país que tem uma propensão para criar coisas feias ao longo das estradas e em quase todas as vilas do interior, as montanhas são um bem inestimável. Passeamos pouco por elas. Desconhecemos o “espírito das montanhas”, como ignoramos o “espírito das árvores”, a sua grandiosidade e a sua solidão. O país nem lhes sabe os nomes, hoje em dia, convencido de que é uma ninharia. Aos poucos, vamos esquecendo os lugares onde se respira.

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Para fanáticos de John Le Carré: não gastem todo o dinheiro em Dezembro; a Dom Quixote reeditará, em Janeiro, “A Gente de Smiley”, um dos seus melhores romances de sempre. É indispensável ler para recordar o melhor de Le Carré.

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FRASES

"Dou graças por não ser deputado neste momento." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho Carpinteiro.

"Desculpem senhores deputados. Se prosseguem eu suspendo os trabalhos." Couto dos Santos, na sessão turbulenta da Comissão de Saúde. Ontem, no CM.

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dezembro 10, 2009

Blog # 501

É hoje lançada em Lisboa a antologia ‘Poemas Portugueses’, organizada por Jorge Reis-Sá e Rui Lage (edição Porto Editora), com prefácio de Vasco Graça Moura e notas biográficas assinada por dezenas de autores. É um monumento de mais de duas mil páginas que percorre oito séculos de poesia e cujo índice conviria estar nas nossas escolas para consulta e divulgação. A poesia não vale grande coisa para estes dias – é uma espécie de sobressalto, de língua que vem da sombra para dar às coisas um nome flutuante. Não há grande coisa para dizer sobre a poesia. Devia ler-se. Para dentro ou em voz alta. Não que faça falta “à cidadania” ou “à sensibilidade”. Às tantas, as pessoas viveriam melhor sem literatura – mas eu duvido. Faltar-lhes-ia um suplemento de beleza ou de devassidão.

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Simon Mawer é um escritor inglês que viveu em Chipre, em Malta e na Itália – e que escreve um romance (‘A Sala de Vidro’) passado na Checoslováquia. Com uma elegância tocante e nostálgica, fala de arquitetura e de amor (Civilização).

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FRASES

"Espero que este tema não se arraste." D. Carlos Azevedo, bispo Auxiliar de Lisboa, sobre o casamento gay. Ontem, no CM.

"Substituir Sócrates por outro qualquer para dar de mamar aos seus, é curto." Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

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dezembro 09, 2009

Blog # 500

Discute-se muito, hoje, a questão “do carácter” dos políticos – mas muito em surdina, porque parece que é vergonhoso perguntar por ele, cada vez mais raro. Contra a questão “do carácter”, levanta-se “o debate de ideias”, aspeto que também merece dúvidas, uma vez que as poucas que circulam são de origem e efeitos duvidosos. No meio da discussão sobre uma coisa e outra, ou nenhuma delas, fica a questão de manter ou de conquistar o poder. Basta ler “Portugal Contemporâneo”, de Oliveira Martins, para perceber como esta intrujice é velha de dois ou mais séculos. Mentira, corrupção, falências e rabos de palha: é isto a política portuguesa no início do século. A linguagem é a mesma de há anos, empertigada, sonsa e vazia. Não é final de ano; é final de regime. A vida segue.

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Um romance para os tempos de hoje: ‘A Biblioteca da Piscina’, de Alan Hollinghurst (Asa), o mesmo autor de ‘A Linha da Beleza’, de 2004. Às vezes, a sexualidade é um empecilho; outras vezes, uma porta aberta para uma história.

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FRASES

"Vinha a escorrer sangue e com um grande buraco nas costas, onde levou o tiro." Mulher de Sérgio Oliveira, de 29 anos, na Póvoa de Varzim. Ontem, no CM.

"Nas estatísticas podemos ver tudo, consoante a cor das lentes dos óculos." Miguel Castelo Branco, no blogue Combustões.

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dezembro 08, 2009

Blog # 499

Se há uma coisa boa na internet é termos acesso a documentos originais que fazem parte da nossa cultura literária e da nossa memória nacional. O espólio de Fernando Pessoa vai, finalmente, estar disponível na Biblioteca Nacional Digital – entre outras 10.500 páginas que qualquer um de nós pode consultar comodamente, a partir de casa (Eça, Antero, Camilo, etc.). Uma coisa, porém, são os documentos – de cuja utilidade ninguém duvida (e era uma pena que os papéis de Pessoa ainda não estivessem totalmente digitalizados). Outra, bem diferente, é a leitura dessa obras. Não se podem confundir. O armazenamento dos clássicos, que é útil, não substitui a sua leitura, mais necessária – na escola ou por cada um. Por gosto e, também, por obrigação. É o nosso Bilhete de Identidade.

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Representação Política” é uma útil antologia de textos clássicos, do conservador Edmund Burke ao marxista Giörgy Lukács sobre como se estruturam os parlamentos. Organização de Diogo Pires Aurélio (Livros Horizonte).

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FRASES

"Os milhões com fome, sem emprego e sem futuro vão matar esta III República." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

"Vão preservar florestas para a estrada." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

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dezembro 07, 2009

Blog # 498

Comemoram-se hoje os 350 anos da fundação de Ciudad Juárez. Não há quase nada que recomende esta cidade do estado mexicano de Chihuahua, feia e cercada pela violência, como a mais indicada para um turista, a não ser a memória do cinema (‘Man of Fire’, com Denzel Washington, por exemplo, mas também numerosos westerns porque está ligada à fronteira texana de El Paso), da música (‘Cocaine Blues’, de Johnny Cash e ‘Just Like Tom Thumb's Blues’, de Bob Dylan, para não ir mais longe) e da literatura: é um dos cenários de Cormac McCarthy, e o grande palco para o monumental ‘2666’, de Roberto Bolaño, onde aparece como Santa Teresa, a cidade dos mil crimes que ainda aterrorizam a região. A literatura e a sua magia vivem em lugares estranhos, como se sabe. Até em Ciudad Juárez.

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Santiago Zavala à conversa com Ambrósio em Lima, no Peru corrupto e violento: é este o cenário para ‘Conversa na Catedral’, de Mário Vargas Llosa, em nova edição (D. Quixote) – um dos grandes livros da literatura latino-americana.

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FRASES

"Por que razão anda tanta gente a ensinar ao PSD qual deve ser a sua política?" José Pacheco Pereira, no blogue Abrupto.

"Na prática, funciona. Mas funcionará na teoria?" Paulo Nogueira, ontem, no CM.

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dezembro 05, 2009

Testes e desafios

1. Dois testes: contra o Guimarães, hoje, e contra o Atlético de Madrid para a semana. Não apenas testes formais durante uma prova formal – em meu entender, são momentos-chave na carreira do FC Porto este ano. Não o digo para ilustrar a fome de espectáculo que devora os adeptos; mas porque um módico de estabilidade permitirá enfrentar os rigores do Inverno com outra disposição. Evidentemente que a «jurisprudência de bancada», muito benfiquista, rejubilará com o título de «campeão de Inverno», mais uma espécie de troféu inventado para saciar apetites inconfessáveis. Mas, para quem achou «fantástico» o jogo com o Bate Borisov, basta sorrir e explicar que a poção mágica está a atingir níveis críticos.

Por isso, os testes do Guimarães (uma equipa que encontrou um suplemento de alma com o novo treinador e um jogo mais eficaz nas últimas partidas) e com o Atlético de Madrid, são decisivos. Não são testes fatais – são decisivos. Compare-se com a situação do ano passado e veja-se como não vale a pena entrar na fase de descrença por parte do FC Porto, e como não se pode encomendar a passadeira vermelha para o título lampião. Se é que me entendem.

2. Para que se perceba o que é um adepto: o Benfica apresentou prejuízo de 6,1 milhões; o Sporting com prejuízo de 2,39 milhões no primeiro trimestre, e o FC Porto com lucro de 23,5 milhões. Qualquer um ficaria exausto de alegria e de fé. Cumpre-me anunciar que não quero saber disso, a não ser de passagem e para irritar os adversários. Quero golaços. Alienação. Ópio. Bancadas de pé. Aplausos. Aquela vibração das redes depois de um golaço. De outro. Um adepto quer futebol.

Cabe às administrações das SAD festejar lucros – mas é bom que, tanto as administrações como os técnicos, desçam (ou subam) às bancadas de vez em quando e oiçam o rumor. É esse o desafio a colocar às administrações e aos negociantes – conseguir aquele flutuante ponto de desequilíbrio em que se definem os campeões.

in A Bola - 5 Dezembro 2009

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dezembro 04, 2009

Blog # 497

Woody Allen acha que os americanos são sexualmente reprimidos e que as cenas de sexo idealizadas pelos americanos são “entediantes e aborrecidas”. Há ondas. Vagas. Os anos sessenta passam por terem sido “os da libertação sexual”; os anos oitenta, os da regressão, com a Sida a ameaça;. O sexo transformou-se numa referência central de todo o discurso público, da publicidade à política. É impossível atravessar uma cidade, ler um livro ou ver um filme sem topar com ele, o sexo – uma das coisas mais sagradas da nossa vida. A sua banalização retirou-lhe o enigma, a perversidade e o pecado. Sem pecado, sem interdito e sem segredo, aliás, não pode haver sexo satisfatório. O cinema e a televisão, a arte pop e a net banalizaram tudo. Transformaram tudo no seu tédio particular.

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Monumental, essencial, indispensável – a fotobiografia, aliás ‘Memórias Fotobiográficas’ de Camilo Castelo Branco, por um dos seus grandes cultores, José Viale Moutinho (Caminho). Camilo, o nosso grande romancista, merecia-o.

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FRASES

"Julgo que o país ainda suporta alguma decência." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

"O PSD andou um tanto a reboque dos impulsos do pêndulo da História." Pinto Balsemão, militante n.º 1 do PSD, ontem, no CM.

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dezembro 03, 2009

Blog # 496

Quem mexe nas escutas, suja-se. Que o digam o ministro Vieira da Silva e o deputado Ricardo Rodrigues, que só conseguiram embrulhar ainda mais a sua própria embrulhada. Antigamente, quando se liam romances de espionagem – um género que não acabou com a queda do Muro de Berlim ou o epílogo de John Le Carré –, seria mais fácil encontrar um argumento onde coubesse este caso de papéis perdidos e gravações esdrúxulas. O final seria arrebatador, com surpresas de bom gosto e punições para os pérfidos. Mas isto não é política, lamento. Política é estarmos com endividamento adicional de 500 euros por segundo, sem falar do peso que isso tem no nosso PIB, e não se saber o que fazer para pôr um travão a essa desgraça. Desculpem o retrato, que não vem nas escutas – mas devia.

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Resendes Ventura, ou seja, Manuel Medeiros, fundador da livraria Culsete, de Setúbal, publica ‘Papel a Mais’ (Esfera do Caos), notas, cadernos, crónicas e poesia de um livreiro e amante de livros. Lê-lo é uma homenagem ao Livro.

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FRASES

"Quem conhece a Suíça sabe bem que se trata do país mais chato do Mundo." Domingos Amaral, ontem, no CM.

"Nunca em quinze anos de quotas pagas consegui arrastar uma pessoa do sexo oposto para Alvalade." Rogério Casanova, no blogue Pastoral Portuguesa.

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dezembro 02, 2009

Blog # 495

O romance ‘As Benevolentes’, de Jonathan Littel (publicado pela D. Quixote), acaba de ganhar o prémio para “a pior cena de sexo em literatura de ficção”, atribuído pela ‘Literary Review’. O livro foi um caso sério na edição portuguesa do ano passado – mas escrever sobre sexo destrói a honorabilidade de qualquer narrador. Basta uma metáfora fora do lugar. Na literatura portuguesa, por exemplo, devia ser proibido escrever sobre sexo até serem banidas as metáforas e as imagens corriqueiras e poéticas mais usadas. Não temos jeito. Não temos a malandrice brasileira nem o sentido da crueza de outras línguas. Ainda poucos perceberam que a melhor forma de escrever sobre sexo é, justamente, voltar a página e deixar os personagens a fazerem o que têm de fazer, em liberdade.

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Foi um dos livros mais marcantes na minha formação política, ‘A Riqueza e a Pobreza das Nações’, de David Landes. A Gradiva publica agora ‘A Revolução no Tempo’, sobre a forma como os relógios mudaram a nossa vida e a economia.

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FRASES

"Com a morte do Dubai, caiu por terra a religião do dinheiro sem trabalho." Miguel Castelo Branco, no blogue Combustões.

"Entreguem-no ao povo. Tem de ser morto, devia arder em frente ao povo!". Multidão à porta do Tribunal onde foi interrogado Mário Pessoa, que matou a mulher e um militar da GNR. Ontem, no CM.

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dezembro 01, 2009

Blog # 494

O Prémio Cervantes, uma espécie de Nobel das letras hispânicas, foi atribuído ao mexicano José Emilio Pacheco. Poeta, ficcionista, ensaísta, professor, José Emilio Pacheco não é um patriarca das letras, nem está na primeira linha da “diplomacia literária” muito em voga, e onde se misturam política, esquecimento e glória terrena – a sua “resistência contra a barbárie” é uma espécie de dogma contra a mediocridade dos políticos. Acontece que Pacheco é um dos maiores escritores do espaço ibero-americano (e ao qual é dedicada essa cimeira insolúvel que agora decorre em Cascais), e um poeta que se aproxima do irrepetível. Curiosamente, em Portugal, Pacheco é publicado (pela Oficina do Livro, e graças à insistência de Marcelo Teixeira) numa coleção intitulada “Ovelha Negra”.

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Em Busca da Felicidade’: são dez histórias e dez autores (edição D. Quixote). Entre eles, João Tordo, José Luís Peixoto, Patrícia Reis, Dulce Maria Cardoso, Pepetela, Valter Hugo Mãe ou Maria do Rosário Pedreira. Imaginemos a felicidade.

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FRASES

"Em Portugal, o Natal contado por Dickens parece assustadoramente contemporâneo." A. Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Quando vejo a Shakira, a primeira coisa que me ocorre é ajudar as crianças." M. Jorge Marmelo, no blogue Teatro Anatómico.

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