novembro 30, 2009

Blog # 493

Amanhã, 1 de Dezembro, assinala-se mais um aniversário da restauração da independência portuguesa depois de sessenta anos de domínio espanhol, de 1580 a 1640. A data, hoje, tem pouco significado – e já não é comemorada com festejos, porque “fica mal” estarmos a depreciar um vizinho amável e cúmplice. Uma parte substancial da nossa economia depende de Espanha; Espanha separa-nos e une-nos à Europa; há cada vez mais patrões espanhóis em Portugal; periodicamente, José Saramago fala de União Ibérica. Antigamente, a nossa independência era comemorada contra Espanha; hoje, Espanha está no nosso quotidiano e “o espanhol” já não é grotesco nem empertigado. Finalmente, o Barcelona-Real Madrid de ontem teve mais telespectadores do que muitos jogos portugueses de futebol.

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Está definido o novo modelo do grupo editorial de Paulo Teixeira Pinto: chamar-se-á Babel (o logo é da autoria do próprio PTP), e inclui as editoras Guimarães, Ática, Athena, K4 – e as clássicas Verbo, Ulisseia e Arcádia. Bem vindo.

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FRASES

"Não temos necessariamente que ser meninas recatadas e tapadas dos pés à cabeça." Margarida Menezes, fundadora do Clube das Virgens. Ontem, no CM.

"Os jantares em casa de escritoras são muito, muito perigosos." Pedro Vieira, no blogue Irmão Lúcia.

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novembro 28, 2009

Chuva & perguntas

Chove muito nos jogos do FC Porto. Vejam o que aconteceu nesta última quarta-feira: mais remates e menos posse de bola do que o Chelsea; mais passes falhados do que o costume. Deve ser da chuva. Houve uma altura em que, em dias de chuva, Quaresma escorregava mal o risco da área entrava no seu horizonte — desaparecia o artista, entrava o esquiador. O problema, parecia, eram as chuteiras; ele trocou de chuteiras e continuou a cair, até que se descobriu o problema e uma maior dose de confiança melhorou o piso. Com confiança, até o excelente relvado do Dragão ganha aderência. Confiança. Trabalho de cabeça.

Imaginem o que não dirão os jogadores do FC Porto que andam por aí, a distribuir bola em vários relvados, e vêem o seu lugar ocupado por gente que escorrega em todos os jogos e se recusa a fazer passes acertados. Deve ser do frio. Às vezes, o frio é puramente psicológico. Está na cabeça.

Com o campeonato neste patamar, o adepto faz perguntas — a primeira delas é sobre o valor da equipa (o que fazem certos repolhos a actuar num relvado de primeira?) e sobre a razão que nos leva a apreciar as explosões de Belluschi e não a sua constância (porque ainda não está feita a «mudança» entre o Olympiakos e o FC Porto e, portanto, não joga com a frequência requerida?), ou por que razão foram contratados alguns jogadores ainda sob a forma de enzima. Tantos pormenores (a lista deles afligiu-me entre o jogo com o Belenenses e a saída do Dragão, esta quinta-feira) para recolher e comentar, e ouço Jesualdo na rádio: «Nem vou explicar o que me leva a tomar certas decisões tácticas; as opções não são para ser explicadas, nem tenho que as explicar.» Jesualdo tem razão; é capaz de ser pormenor a mais.

Sai hoje um livro intitulado 30 Anos de Mau Futebol. Nele, João Pombeiro recolhe algumas das frases mais disparatadas do mundo do futebolês, ditas por jogadores, técnicos, árbitros, etc. Há ali frases para todos os gostos. No fundo, é um resumo das trapalhadas dos últimos anos de bola. Uma pessoa ri-se, ri-se — e espera que a bola continue a rolar.

in A Bola - 28 Novembro 2009

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novembro 27, 2009

Blog # 492

Em ‘Lua Nova’, o filme, os fanáticos de Stephenie Meyer, autora da saga ‘Crepúsculo’, procuram histórias de amor, de enigma, mistério, vida & morte, tudo o que está para além do real. Os personagens de Stephenie Meyer habitam um mundo fantástico onde há vampiros ou onde Bella se pode transformar em vampiro por amor a Edward. Há ondas assim. Já houve o ciclo de Avalon e do Rei Artur, já tivemos o Super Santo Graal e uma multidão de extraterrestres, agora o vampirismo regressa. Não é bom nem mau, mas tem vantagens – farta dos vampiros reais e cujo desempenho é medíocre, a multidão encontra soluções que estão nos sonhos, nos recantos escuros, nas penumbras a meio da noite. Há um romantismo excessivo no cenário, mas os humanos procuram sempre ser mordidos no pescoço.

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Paul Davies é físico e autor de ‘Como Construir uma Máquina do Tempo’ e ‘Superforça’, publicados pela Gradiva – que agora lança ‘O Jackpot Cósmico’, onde faz uma pergunta simples: por que é bom o planeta e nos saiu a sorte grande?

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FRASES

"É bom que seja assim: para os maiores crimes os melhores advogados." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

"O sistema político parlamentar adormeceu e só se lhe escuta o ressonar." Paula Teixeira da Cruz, ontem, no CM.

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novembro 26, 2009

Blog # 491

Ontem recomendei este livro, ‘Cadernos de Memórias Coloniais’, de Isabela Figueiredo (edição Angelus Novus) – mas o assunto merece mais destaque: trata-se de uma autobiografia sobre a despedida de África e a memória de Moçambique. Sem cedências, sem perdão, sem conforto: tudo a nu, desde a cor da pele até ao horror que as despedidas no Índico provocam em alguém que enfrenta a velha Metrópole que já fora colonial e hoje é pós-colonial. Ainda não estabelecemos, com justiça, o verdadeiro papel dos retornados e dos antigos colonos de África na democratização real de Portugal. Na verdade, eles mudaram Portugal. Isabela Figueiredo, neste livro, fornece uma das imagens possíveis, explosiva, comovente, em chamas. É bom ver que, finalmente, se pode falar livremente sobre África.

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Coordenação de António Marujo e José Eduardo Franco: ‘Dança dos Demónios’ (edição Temas e Debates e Círculo de Leitores) é um livro sobre a intolerância e o pavor do Outro. Uma parte do nosso retrato está ali, a cru.

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FRASES

"Em democracia, é bom não esquecer, o Estado deve estar ao serviço dos cidadãos." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

"Três anos depois do começo do processo a Casa Pia continuava de luto." Joaquina Madeira, provedora da Casa Pia, ontem, no CM.

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novembro 25, 2009

Blog # 490

Há vários motivos de natureza cultural e religiosa que leva os portugueses a não querer comentar miudezas financeiras em público. Por exemplo, os impostos. Os portugueses pagam-nos e não protestam, como se o Estado merecesse o esforço e o silêncio. Quando alguém quer discutir os impostos é apelidado de miserabilista. É errado. Devemos discutir os impostos até ao cêntimo, para que o Estado (quem mais?), o grande delapidador, não se abotoe com aquilo que não lhe pertence nem prolongue os seus maus hábitos em nosso nome. Esse é um primeiro grande passo para que passemos a desconfiar menos do monstro. Os portugueses precisam de discutir o seu destino. Ora, faço notar, o Banco de Portugal já veio dizer que os impostos podem aumentar. O governo diz que não. Curioso, não é?

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Já se esperava o livro: ‘Caderno de Memórias Coloniais’, de Isabela Figueiredo (edição Angelus Novus) – uma autobiografia sobre a memória de Moçambique. Escrita no fio da navalha, como poucos livros já se escreveram sobre África.

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FRASES

"O contribuinte não tem por onde piar." Hidden Persuader, no blogue Bicho-Carpinteiro.

"Passei a gostar mais de Portugal. É bom ser português, mas em Portugal, não nos EUA." Jorge Teixeira, ilibado da acusação de violação a uma passageira num paquete. Ontem, no CM.

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novembro 24, 2009

Blog # 489

A Origem das Espécies’, de Charles Darwin, o livro que mudou a nossa forma de pensar o ser vivo e a sua relação com a Natureza, foi publicado há exatamente 150 anos, assinalados hoje em todo o mundo. Poucos leram ‘A Origem das Espécies’ – é um livro surpreendentemente bem escrito, onde é visível o dom da clareza. Um retrato assim maravilhado só podia comover os criacionistas, que defendem a intervenção superior da Mão Divina (desta forma ou sob a forma do “desenho inteligente”) na criação do mundo e na evolução do ser vivo; pelo contrário, não só relativizam a importância de Darwin como, em alguns casos, o denunciam como o grande inimigo (“adversário” não basta) da religião. Não interessa. Só o facto de permanecerem imunes à beleza deste livro já é assustador.

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É uma das boas novidades da temporada: ‘Outras Vozes, Outros Lugares’, o primeiro romance de Truman Capote, é publicado durante esta semana pela Sextante. Em 2008, a Sextante já tinha publicado os ‘Contos Completos’ de Capote.

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FRASES

"No nosso pais, há crimes, mas não há criminosos." Joana Carvalho Dias, no blogue Hole Horror.

"Pinto Monteiro tem o dever jurídico de mostrar ao País o teor das escutas." Paulo Pinto de Albuquerque, penalista. Ontem, no CM.

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novembro 23, 2009

Blog # 488

Amanhã comemora-se mais um aniversário do filósofo Bento Espinosa, Baruch Espinosa na sua forma hebraica; de origem portuguesa (da Vidigueira) nasceu em 1632, na Holanda, onde a sua família se refugiou para fugir da Inquisição portuguesa. Foi excomungado pela Sinagoga Portuguesa de Amesterdão em 1656 por defender que a Bíblia não deve ser tomada à letra; pelo contrário, é uma alegoria sobre a história, tal como Deus é uma espécie de representação da própria Natureza. Tivessem sido aceites as teses de Espinosa e não andaríamos, em 2009, 350 anos depois, a discutir o dogma banal da crueldade divina ou atrapalhados com a distinção entre ética e política. Jorge Luís Borges escreveu-lhe um poema belíssimo sobre “o homem que engendra Deus”. Não aprendemos a sua lição.

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Poucas vezes os editores falam abertamente do trabalho de edição e dos livros que amam. Francisco Vale, editor da Relógio d’Água, arriscou em ‘Autores, Editores e Leitores’, reunião de textos sobre o assunto. Corajoso e atento.

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FRASES

"Nas separações, a mulher faz um lar e um homem faz um bar." Margarida Rebelo Pinto, ontem, no CM.

"A morte às vezes ainda é mais injusta do que de costume." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho-Carpinteiro, sobre a morte de Jorge Ferreira.

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novembro 22, 2009

Somos os melhores

Não fosse Fábio Coentrão e a coisa passaria: «Portugal é um forte candidato a vencer o Mundial», foi o que disse – preto no branco – o extremo do Benfica e da selecção nacional. Isso é uma coisa; outra, inteiramente diferente, é ouvir Carlos Queiroz a dizer que a selecção não vai à África do Sul para passear. A diferença entre uma declaração e outra não põe em causa o «patriotismo» de nenhum deles, apenas serve para apontar limites à ambição e ao entusiasmo, coisas que consumimos com bastante imoderação quando se trata da velha pátria.

De repente, depois de uma campanha moderadamente feliz (a verdade é que só nos apurámos num playoff contra esse «colosso» do futebol mundial, a Bósnia, ai de nós...), não convém disparar foguetes na direcção da África do Sul. Devemos aprender alguma coisa com a moderação dos sábios: vamos à África do Sul, sim, tentar o melhor dos lugares. Não apenas «honrar a camisola», erguer a bandeira, mostrar o que há a mostrar – mas mostrar o melhor de nós. O melhor de nós devia ser a moderação, justamente, o equilíbrio emocional, e não o desvario tão entusiasta como desleixado que levámos à Coreia (lembram-se?).

Queiroz tem razão: trabalhar, trabalhar, trabalhar. E, já agora, marcar golos. Uma coisa de nada.

A França passou pelo playoff como uma velhinha gaiteira que não hesita em fazer batota às claras, o que provocou uma das maiores injustiças duplas deste apuramento: primeiro, a derrota da Irlanda; depois, a passagem da França à fase final, coisa que não merecia. Que Henry tivesse tentado, a partir de um fora-de-jogo, meter a mão à bola – admite-se. Está-lhes no sangue, aos avançados desesperados. Mas o árbitro devia ter visto, devia ter expulso Henry e devia ter mandado a França para o balneário, com o nariz levantado e a honra ferida.

No futebol, há derrotas que nos dão alento. As da França estão entre as que conferem mais felicidade ao espectador; mesmo quando são imerecidas. Há, naquele futebol manhoso (mais manhoso do que o da Itália, apesar de tudo) e delapidado, um apelo à antipatia. Espero que não passe da primeira fase. Nem a França nem, aliás, Platini.

in A Bola - 22 Novembro 2009

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novembro 20, 2009

Blog # 487

A nova ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, pode ter aberto a caixa de Pandora ao afirmar que é “obrigação fundamental do Estado português apoiar os artistas”. Não que não se possa estar de acordo com a natureza de um Estado que, entre as suas obrigações, conta a de prestar apoio às artes e à cultura; simplesmente, a designação lata e sempre alargada do conceito de “artista” pode levar-nos a alguns exageros. Dos músicos aos escritores, dos designers aos atores, dos pintores aos cineastas e aos músicos, a panorâmica é como se sabe. O grande problema vai ser contentar toda a gente (ou o maior número de gente possível) e encontrar um critério que não provoque guerras civis. Quando se fala de “apoiar” convém esclarecer que não se trata de fornecer dinheiro. Mas de apoiar.

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Depois de ‘Diário da Tua Ausência’, Margarida Rebelo Pinto publica ‘O Dia Em Que Te Esqueci’ (Oficina do Livro) – “Quando amamos alguém não perdemos só a cabeça; perdemos também o nosso coração”. Estantes de Natal, cuidai-vos.

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FRASES

"A cultura dominante tende a pressionar quem revela e aponta as perversões do sistema." Paula Teixeira da Cruz, ontem, no CM.

"A direita quer obrigar os casais homossexuais a adotarem crianças. Não percebo porquê." Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

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novembro 19, 2009

Blog # 486

Portugal caiu no índice da Transparency International dedicado à perceção da corrupção – do 32º lugar, desceu para 35º (entre 180 países). Não é muito. Nos corredores das polícias e dos tribunais não se fala de outra coisa, como se a tivessem descoberto agora mesmo. Como sou moderadamente conservador, a coisa não me aflige. Lendo Camilo e Eça, para não ir mais longe, a coisa está lá, armada e integrada no código genético da tribo. Mário Soares, para desculpar os seus, chama-lhe coisa comezinha. É a opinião do português médio, para quem um “arranjo” se resolve com outro, desde que não toque na casta nem na família. Com tantos juristas aos saltinhos, fingindo preocupar-se com a lei para não ferir os amigos, suspeito que no próximo ano desceremos ainda mais no índice.

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Deixe-se de livrinhos de Natal e compre livros a sério. É o meu conselho da temporada — vá até à Gulbenkian (Lisboa) onde, todos os dias, das 10h às 20h, há magníficos livros a preços convidativos. E catálogos de perder a cabeça.

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FRASES

"Adoro jornalistas. Já gostava deles quando não trabalhavam para o Governo." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

"Nunca fiz nada por dinheiro. Só faço coisas que amo. Algumas tornaram-se um negócio." Francis Ford Coppola, realizador. Ontem, no CM.

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novembro 18, 2009

Blog # 485

O grande romance sobre o amor apaixonado entre duas mulheres é português e escreveu-o Agustina Bessa-Luís em 1989. Leva o título ‘Eugénia e Silvina’ e é um notável retrato sobre a culpa e o processo judicial que decorreu (em Viseu) em redor do caso. Na época, o romance passou despercebido e ao lado dos debates que hoje estão na ordem do dia – Agustina era “reacionária”, “de direita” e vivia longe da gritaria. Hoje, vejo na televisão debates sobre a homossexualidade com gente que acha que descobriu a pólvora cívica. Sexo e política nunca se deram bem, ainda que se conheçam à esquerda ou à direita. A arma dos intolerantes é chamar homofóbico a quem, reconhecendo o direito à união entre homossexuais, não dispare foguetes ou tenha dúvidas. Ontem como hoje. Vem na literatura.

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Para admiradoras e admiradores de Chico Buarque: está aí ‘Histórias de Canções - Chico Buarque’, de Wagner Homem, originalmente publicado pela Leya Brasil e que chegará às nossas estantes a 30 de Novembro. É um ‘arranca-corações’.

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FRASES

"É preciso ter muito cuidado com a intolerância dos auto-proclamados tolerantes." Miguel Morgado, no blogue Cachimbo de Magritte.

"Posso ser criativa sem gastar um euro." Zélia Moraes, brasileira, 26 anos, que ganhou para Portugal a medalha de prata no Festival de Publicidade de Cannes. Ontem, no CM.

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novembro 17, 2009

Blog # 484

O programa do governo na área da Cultura menciona o financiamento das artes – da moda e do design até ao circo, o pobre circo. Sobre o cinema português, por exemplo, a participação dos dinheiros públicos é notória, mas o negócio da distribuição é uma guerra difícil de acompanhar: apenas 4 filmes (entre 19 financiados) foram vistos por mais de dez mil pessoas. João Salaviza, o realizador de ‘Arena’, acha que o Estado “tem de participar na construção do património cultural”, e João Mário Grilo recusa-se a “baixar o nível” através do que ele chama “comédia burgessa” ou “erotismo balofo”. Compreende-se. Mas o problema é o do tom sacerdotal e arrogante dos mestres, certamente génios talentosos que vivem não só acima das suas posses, mas criticando o país por ser tão pobre.

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Em tempos de problemas na justiça nada melhor do que ler o conjunto de “histórias reais” que Francisco Teixeira da Mota escreveu sobre o mundo dos tribunais em ‘Faça-se Justiça!’ (edição Oficina do Livro). Ele avisa-nos.

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FRASES

"Mário Soares, ou guarda silêncio ou indica um caminho." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho-Carpinteiro.

"Grandes almas, grandes homens estes que zelam de dia e de noite pelo pântano." António Ribeiro Ferreira, ontem no CM.

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novembro 16, 2009

Blog # 483

O próximo ano tratará de comemorar os 100 anos de República. Justamente, é um dos capítulos mais importantes da nova ‘História de Portugal’, coordenada por Rui Ramos. Como o próprio sublinha, “entre 1910 e 1921, os confrontos políticos provocaram cerca de 1500 mortos” – é um número que a historiografia oficial trata de ignorar em nome do “republicanismo” patético que gosta de heróis como o salazarismo gostava de milagres. Todo o século XIX (tirando o episódio do constitucionalismo que os republicanos detestam oficialmente) é uma guerra civil permanente. Os líderes mais idolatrados, em Portugal, foram tiranetes autoritários que manipulavam a justiça e as polícias. Nada que não conheçamos. Um pouco mais de conhecimento de História podia poupar-nos ilusões e patetices.

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Sai antes do final do mês, Milton, de William Blake (1757-1827), príncipe dos poetas, com a chancela da Antígona. Vertido para o português por um dos príncipes tradutores: Manuel Portela. Boas razões para ir às livrarias.

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FRASES

"Todas as gerações pensam que o Mundo começa com elas." Rui Ramos, historiador. Ontem, no CM.

"Faz tempo que a tribo dos comentadeiros económicos não acumula dizeres sobre a crise." Masson, no blogue Almocreve das Petas.

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novembro 14, 2009

Selecção e o resto

Hoje, a selecção joga quase tudo. O tornozelo de Ronaldo, a birra de Nani, a esperança com folga a mais, o excesso de entusiasmo – joga quase tudo. Joga contra a Bósnia e isso é uma miragem (ai de nós!) depois de a eliminação ter estado à vista por duas ou três vezes, e termos saltado por cima. Nestas condições, estamos todos com a selecção, como um coro de selvagens desafinados, que é isso que somos a ver futebol, sem dar espaços ao adversário. Vão pelas alas, vão pelo miolo, vão por todo o lado – mas marquem e joguem melhor. Hoje tem de ser.

Gosto de ouvir o treinador do FC Porto porque, tirando as fases de obnubilamento téorico, é dos melhores técnicos a ler o jogo, a interpretá-lo e a tirar as ilações necessárias. Por isso, estranhei que, em vez de pôr a equipa a rodar (coisa que ele sabe fazer, como se comprova pelos três títulos consecutivos), rezingasse contra os que falam de «mau futebol». É um assunto permanente que acompanha os ciclos negativos do FCP. E eu pensei: bom, vamos sofrer no Funchal. Dispus-me, de coração à mostra. Pois nem de propósito, Jesualdo Ferreira avisou antes do jogo com o Marítimo que se tratava de sofrer – ou de prolongar o sofrimento. Há uns tempos, escrevi que «Jesualdo tem de entender o sofrimento dos outros – de nós, que não sabemos de arquitectura e de sistema tirado à esquadria, mas que estamos sentados em redor do relvado a contar os minutos de jogo». Agora, é um ponto sem retorno: o Marítimo ganhou bem e mostrou que há ciclos que terminam. Já disse.

Mas o que me aflige (de aflição duradoura e sem diplomacia) é o tom entristecido das declarações de Jesualdo no final do jogo do Funchal: que a equipa, quando despertou e «percebeu» as suas indicações, já era tarde. Tarde? Uma equipa de profissionais que joga na Champions, que devia ter atrás de si um lastro de memória a honrar quatro campeonatos ganhos sem mácula – e é tarde? Não, não é tarde. É, antes, caso de arrumar a casa e de começar de novo. Para isso ainda não é tarde.

Uma pergunta: quanto tempo dura o efeito do Orangeblast? Há cada pergunta.

in A Bola - 14 Novembro 2009

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novembro 13, 2009

Blog # 482

Com uma subtileza muito hipócrita (mas necessária), costuma distinguir-se entre o que é do domínio da política e o que é património da moral. A distinção vem a calhar quando se nota o esforço para distinguir o que pertence à justiça e o que cabe na zona da política. Não espanta que a justiça seja entregue aos tribunais, aos magistrados, aos advogados e aos comentadores dos códigos, entre outros. Mas causa apreensão que a política seja cada vez mais propriedade dos juristas em geral, entaramelados em leis, processos e casuística adjacente. Esta esquizofrenia está a fazer escola e o objetivo é simples: levar os cidadãos a evitar a política com receio de ferir um princípio jurídico se pronunciarem frases que ultrapassem o hendecassílabo. Deve ser uma campanha negra, deve.

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É um dos livros da temporada — a ‘História de Portugal’, num volume de 900 páginas coordenado por Rui Ramos, com Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro. Uma brilhante panorâmica do séc. XIX – foi a parte que já li.

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FRASES

"Os portugueses terão todo o interesse em saber se se passou algum facto criminal." A. Costa Pinto, politólogo, sobre as escutas a A. Vara e J. Sócrates. Ontem, no CM.

"Quem é que disse que Manuela Ferreira Leite não é a próxima candidata à presidência do PSD?" Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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novembro 12, 2009

Blog # 481

Está na ordem do dia a crise demográfica. Somos poucos e continuamos a diminuir. Nos últimos anos, desejosos de obras, de dinheiro rápido e de cimento, construímos bairros que não vão ser ocupados nos próximos tempos. Há menos crianças nas escolas. Em breve o número dos divórcios será semelhante ao dos casamentos. Em 2007, o número das mortes foi superior ao dos nascimentos. Em 2008 o saldo foi positivo em 314 nascimentos. O pior é que os estrangeiros, imigrantes, começam a achar Portugal pouco atrativo e há muitos que pedem ajuda para regressar aos seus países (brasileiros à cabeça). O que quer isto dizer? Que, por arrasto, a economia não está de boa saúde. Que a educação precisa de mudar. Que precisamos de pensar o país de outra maneira e de o preparar para novos tempos.

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Simon Sebag Montefiore recolhe, em ‘101 Monstros’ (Guerra e Paz) os nomes dos “homens e as mulheres mais cruéis da história”. Há nomes para todos os gostos, da esquerda à direita. É um tratado de domonologia política. Supimpa.

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FRASES

"O país é pobre? Obras públicas. Crise? Desigualdade? Obras públicas. Corrupção? Obras públicas." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

"Somos dependentes deles, pois fazem filhos e são uma ajuda preciosa para a sociedade." Leston Bandeira, demógrafo, sobre os imigrantes. Ontem, no CM.

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novembro 11, 2009

Blog # 480

A hipótese de um referendo sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo arrisca-se, de fato, a ser uma espécie de discussão atrasada sobre a natureza da homossexualidade, coisa que se dispensa e que não vem a propósito. Se o Parlamento pode legislar e está mandatado por uma maioria de votos, não se vê necessidade de voltar ao princípio; que se legisle com decência e com sensatez – é isso que se pede de uma lei, de qualquer lei. Sinceramente, sendo a vida como é, já está na altura de passar adiante e de voltarmos a pensar em coisas mais úteis, deixando que a vida privada diga respeito, exatamente, à vida privada. Todas as pessoas têm o direito de procurar a felicidade; e, através do casamento, o direito à sua breve dose de infelicidade. Nada que não conheçamos, portanto.

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O francês Laurent Gaudé, o autor de ‘Eldorado’ (Asa) regressa às estantes portuguesas com ‘A Porta dos Infernos’ (Porto Editora) – no mundo da literatura francesa, Gaudé é uma explosão de boa literatura. Lançamento na quinta-feira.

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FRASES

"Mas agora a sério, e este nosso país, que tal, hein?" Afonso Azevedo Neves, no blogue 31 da Armada.

"Não consigo olhar para os meus filmes como arte porque me lembro da experiência de fazê-los." David Cronenberg, ontem, no CM.

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novembro 10, 2009

Blog # 479

O caso dos crucifixos nas escolas não tem muito por onde se lhe pegue. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem determinou que a Itália deve retirá-los e logo se ergueu um enorme aplauso por parte das “associações ateístas”, que entre outras coisas defendem o fim dos símbolos religiosos em todos os espaços públicos, numa toada de ignorância e de ressentimento. Corremos o risco de passar do proselitismo religioso para uma espécie de “proselitismo ateu”, cheio de folclore, de risota e de vigilância apertada: fiscalizar as escolas para expurgá-las e obrigar as autoridades a apertar a mão às escondidas ao Sr. Cardeal Patriarca, como se ele transportasse um vírus. Como não sou católico, estou à vontade no assunto; a escola devia ensinar história das religiões, por exemplo.

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Reedição a aplaudir: a biografia de Fontes Pereira de Melo, por Maria Filomena Mónica (Aletheia) – um político mal amado e vítima do pior dos males portugueses, a ignorância feita de inveja e provincianismo, à esquerda e à direita.

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FRASES

"O cinema só tem 100 anos e há muitos grandes filmes." Francis Ford Coppola, ontem, no CM.

"Em crianças eram crentes, agora são crentes ao contrário. Um divã é capaz de ajudar." Henrique Raposo, no blogue Clube das Repúblicas Mortas.

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novembro 09, 2009

Blog # 478

Convém irmos à literatura para de vez em quando. Numa das ‘Novelas do Minho’, Camilo Castelo Branco lamenta-se pelo fim dos fidalgos das Terras de Basto. “É pena”, escrevia ele, que foi um retratista de exceção – além de um dos nossos maiores e prodigiosos escritores. Há cada vez menos fidalgos, de facto. Em vez deles e de quem os simboliza, o plebeísmo da corrupção invadiu e tomou conta do país, devorando-o e desculpando os salteadores à falta de fidalgos que deem o exemplo – e à míngua de exemplos que sejam um modelo de honra na política, na cultura e na vida. Nada escapa e tudo se desculpa como se a permissividade bastasse para esconder a desgraça em que estamos e o retrato grotesco desta gentinha. Já não há fidalgos, bem dizia Camilo. O país vai ficando deserto.

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Grande acontecimento editorial, sem dúvida: as Edições 70 preparam-se para lançar as Obras Completas do filósofo Jürgen Habermas. O primeiro volume sai ainda em Novembro. Livros que mudam a vida dos leitores – isso é ser editor.

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FRASES

"Todos muito ajeitadinhos, muito bem esmaltados, quiçá boémios. Somos todos gente tímida." Masson, no blogue Almocreve das Petas.

"E hoje amamos e traímos por telemóvel." Fernando Lopes, realizador de ‘Os Sorrisos do Destino’. Ontem, no CM.

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novembro 07, 2009

Viram? Não resultou.

Viram? Resultou, afinal. O FC Porto segue em frente na Liga dos Campeões como único representante português na maior competição mundial de clubes de futebol – não vale a pena enumerar os factores que fazem do FC Porto um «caso de sucesso» nos esquadrões lusitanos da bola; para isso estão economistas e políticos de passagem, especialistas em cotação na bolsa e astrólogos que fazem previsões sobre a vida financeira das sociedades anónimas desportivas. Nós, pobre gente sem competência, interessamo-nos por futebol. Comovemo-nos com Radomel Falcao, arrepiamo-nos com uma incursão de Hulk (a quem apetece puxar as orelhas depois de falhar um golo daqueles), lembramos uma jogada que desperta a ilusão de uma felicidade momentânea. Não são precisos grandes comentários sobre o assunto.

Também não foi preciso nenhum fundamentalista da ordem vir acusar-me de ser «um homem em fé» – a festa da passagem aos oitavos-de-final obnubilou os vigilantes e a coisa passou. Lembro-lhes que não passou. Foi o próprio Jesualdo que lembrou que a qualidade do futebol praticado nem sempre esteve ao melhor nível, que faltava ali qualquer coisa, que não podia ser. Ah, como ele tem razão. Às vezes isso acontece; acontece durante semanas, acontece durante dois meses, meia temporada cheia de desníveis e solavancos – mas o talento ultrapassa os desaires e as desconfianças. Dois ou três leitores que, como eu, vestem de azul-e-branco, acham que eu sou especialista em não confiar em Jesualdo, e escreveram-me a dizê-lo. É mentira: apenas lembro, ai de mim, os melhores momentos do FC Porto recente e pergunto por que razão não estamos «ao nível». Lá iremos, dizemos todos nós, semana a semana. No fundo, já estamos a dois pontos do Benfica (lembrando o Bom Jesus de Braga e fazendo contas para os próximos jogos) e nunca se sabe. Depois da passagem à nova fase da Champions, talvez laterais e miolo respirem melhor e afinem a pontaria. Já que o jogo com o Belenenses é melhor esquecê-lo, digamos que Braga e Nicósia serviram como preparação psicológica, foi o que foi.

in A Bola - 07 Novembro 2009

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novembro 06, 2009

Blog # 477

O CM de ontem conta como vai Portugal. Aconteceu na província: aquela cena em que Linda Reis – uma personagem grotesca conhecida como “Pomba Gira” – decidiu fazer strip-tease e dedicar-se a fazer sexo oral a um desconhecido presente na pista de dança de uma festa em Amares (o Minho tem direito às suas excentricidades) para a qual estavam convidadas figuras “da sociedade”. Muita gente ficou chocada com a atuação, ou porque a personagem não emigrou da Playboy para o Minho, diretamente, ou porque lhe fez impressão o gesto. Mas o país está assim desde há uns tempos, meio pornográfico, brincando no fio da navalha, transpirando sexo e graçolas em tudo. Agora, aguente-se com as consequências e não precisa de corar, envergonhado. A “Pomba Gira” limitou-se a aproveitar a boleia.

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Literatura espanhola em belos livros da Minotauro – um deles é ‘Crematório’, de Rafael Chirbes, um valenciano que conta a forma como a costa mediterrânica foi sendo destruída pela corrupção e pela degradação dos homens.

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FRASES

"Estamos a ultrapassar todos os limites." Manuel Alegre, sobre a corrupção. Ontem, no CM.

"[José Sócrates] é a versão lacaniana da linguagem dos taxistas." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

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novembro 05, 2009

Blog # 476

O governo decidiu quais são os acontecimentos “de interesse generalizado do público” que têm de ser transmitidos em sinal aberto pelas televisões, todos de âmbito desportivo (sete são jogos de futebol, num total de dez). Claro que existe uma ideia de “serviço público”, ao cantinho. Cabe lá o que sabemos. Bem o conheço, ao serviço público: uma espécie de gueto que ninguém quer emitir, a menos que o Estado pague. É curioso como o Estado define aquilo que o público tem manifesto interesse em ver. Como chegou lá, a essa conclusão? Pelo que lhe parece – e pelo que lhe interessa a si próprio. Que a populaça se deixe ficar pela bola, pelo desporto em geral e pelas mensagens dos órgãos de soberania. É um sinal dos tempos e desta gente. Um rico sintoma, se querem que lhes diga.

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Quem são os Dabney, que desembarcaram em 1806 na ilha do Faial? Maria Filomena Mónica leu-lhes a correspondência (em ‘Os Dabney. Uma Família Americana nos Açores’) e o retrato é tão vivo que comove o leitor de hoje (Tinta da China).

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FRASES

"Estou arrependida. Se pudesse voltar atrás não o tinha feito." Fátima Velosa, que matou o namorado com ácido sulfúrico e absolvida pelo tribunal, por ser inimputável. Ontem, no CM.

"A ministra continua a ser a Mãe da gripe, sem ver que se pode tornar na sua Viúva." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

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novembro 04, 2009

Blog # 475

De Claude Lévi-Strauss herdámos ‘Tristes Trópicos’, evidentemente – mais do que uma autobiografia intelectual, uma referência ao trabalho e ao olhar do antropólogo mais influente do século XX que morreu com 100 anos de idade. Menciono ‘Tristes Trópicos’ porque é um livro que ultrapassa largamente a antropologia e a carreira do próprio Lévi-Strauss, que começou por se dedicar a observar os índios do Brasil; é um livro sobre a observação do mundo, sobre a arte de escutar as sociedades, as primitivas e as modernas. Outra das heranças de Lévi-Strauss tem a ver com esta ideia simples e perigosa, que coloca a natureza no campo das nossas atenções: o homem não é o centro do universo e o progresso não é sempre um triunfo inquestionável. Era uma das imagens do nosso tempo.

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Pudor e Dignidade’, de Dag Solstad (Ahab) pode ser visto como a reabilitação do que mais forte existe na literatura norueguesa: a sua intensidade dramática, a nostalgia sem arrependimento, uma tristeza que vem do fundo. Belo romance.

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FRASES

"Se ninguém quer realmente ir para lá, então deixem o [Pedro Passos] Coelho ir." Luciano Amaral, no blogue Gato do Chesire.

"Lamento que a política seja sempre mais forte do que os compromissos com a cultura." Inês Pedrosa, ontem, no CM.

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novembro 03, 2009

Blog # 474

A Câmara de Cascais abriu, com a pompa e a circunstância devidas, um museu dedicado à obra de Paula Rego (a Casa das Histórias). Para a tarefa incumbiu Dalila Rodrigues, que já tinha dirigido, com a competência conhecida, o Museu Nacional de Arte Antiga – de que foi polemicamente afastada, por motivos políticos. Depois do sucesso da inauguração, Dalila Rodrigues não foi propriamente afastada do projeto – apenas não foi reconduzida a título definitivo, o que é a mesma coisa. Quem o decidiu? O facto de “não haver unanimidade” no Conselho de Administração da Fundação Paula Rego, sobre o qual correm versões distintas que deixam pairar a suspeita sobre a forma como a Câmara de Cascais conduziu o processo. Política é política, já se vê; mas Dalila Rodrigues merece mais respeito.

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Na coleção Biblioteca de Babel (originalmente dirigida por Jorge Luís Borges para Franco Maria Ricci, e publicada em Portugal pela Presença), acaba de sair ‘Bartleby, o Escrivão’, de Herman Melville. Um momento de grande beleza.

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FRASES

"As pessoas andam todas à procura do orgasmo perfeito." Vânia Beliz, sexóloga. Ontem no CM.

"Ontem adormeci a pensar em jogadores ambidextros. Ajudem-me, sou uma pessoa monomaníaca." Bruno Sena Martins, no blogue Avatares de um Desejo.

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novembro 02, 2009

Blog # 473

A sua voz não se esquece tão facilmente. António Sérgio acompanhou anos e anos da nossa vida e nunca nos serviu rock embrulhado em plástico ou de imitação. Com alguns dos seus programas (o histórico “Som da Frente”, o “Hora do Lobo”, “Lança-Chamas” ou “O Grande Delta”), António Sérgio marcou a rádio e disciplinou-a: onde ele estivesse estava o rock de que não se desconfiava – e a sua voz planava como uma garantia. No pobre mundo da rádio dominado pelas estrelas do pop, ele via mais longe, perturbando, iluminando o estreito caminho onde as bandas se multiplicavam e as falsificações eram numerosas. Na sua morte, os anjos só não se reúnem numa pista de dança porque não sabem dançar; mas escutam-lhe a playlist e recebem-no com surpresa e uma ligeira vénia. Em nome do rock.

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No final desta semana estará nas livrarias, finalmente, o aguardado ‘Blackpot’, novela inédita de Dennis McShade (mas sem Peter Maynard, o seu personagem patifório), aliás Dinis Machado. Na Assírio & Alvim. Vamos para a fila.

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FRASES

"Nenhum candidato a profeta partidário se preocupou com ideias, mas apenas com poder." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

"Este é um espaço cultural bastante interessante. Vim com a irmã da minha namorada." Diogo Rosa, visitante do Salão Erótico da Lisboa. Ontem, no CM.

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