junho 30, 2009

Blog # 385

A família de Michael Jackson quer um “funeral global” que faça justiça à “universalidade” do cantor. Se a morte de Jackson já foi um acontecimento público seguido em direto pelas televisões, é lógico que o funeral siga o mesmo estilo, numa espécie de despedida pluricontinental a este talento da dança, da música pop, da ginástica, dos média e da tragédia. Periodicamente, as massas precisam de uma perda para justificar as lágrimas que hão de vir; que para isso o destino sacrifique uma princesa quase proscrita ou uma estrela em queda, pouca diferença faz. Contam sobretudo as lágrimas, se possível em público e pela televisão, para que todos percebam que – no meio da “crise” global – as pessoas ainda choram ou fingem comoção. Com esta tragédia ficarão mais confiantes no futuro.

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A Vocação do Lume’, de Isabel Cristina Rodrigues, é um belo conjunto de ensaios sobre Vergílio Ferreira (Angelus Novus). Só facto de ser sobre Vergílio Ferreira já seria suficiente motivo de leitura. Mas por si só são excelentes.

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FRASES

"Aquilo que me ocorre todos os anos por esta altura: o Benfica já pode encomendar as faixas." Bernardo Pires de Lima, no blogue União de Facto.

"Há sinais positivos que indicam que a crise se aproxima do fim." Teixeira dos Santos, ministro das Finanças. Ontem, no CM-online.

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junho 29, 2009

Blog # 384

José Saramago lançou na semana passada o seu novo livro ‘O Caderno’ – textos quase diários do seu blogue. A matéria não é, digamos, “exclusivamente literária”, longe disso. Mas Saramago também não é “apenas literatura”, nunca o foi. Mesmo não concordando com as suas posições políticas, mesmo discordando aberta e claramente de algumas das suas opiniões, é justo que reconheçamos a vitalidade, a energia, a capacidade de trabalho de Saramago – e o seu maravilhamento diante das possibilidades da literatura. Afinal, ele é o autor de ‘Memorial do Convento’, um dos grandes livros da nossa língua, um monumento de poesia em prosa, e de ‘Manual de Pintura e Caligrafia’, uma obra infelizmente ignorada, texto de primeira grandeza. Saramago vive da palavra; é essa a sua prova de vida.

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A Esquerda na Encruzilhada ou Fora da História?’ é o título do nova recolha de ensaios de Eduardo Lourenço – livro a publicar pela Gradiva em Julho. Uma interrogação fundamental ao coração da política, do socialismo e da esquerda.

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FRASES

"O campo não tinha condições para receber um jogo destes." Rui Costa, sobre os incidentes violentos do Sporting-Benfica de juniores, ontem, no CM.

"O primeiro-ministro pode ter muitos defeitos, mas não é burro." Paulo Gorjão, no blogue Vox Pop.

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junho 26, 2009

Blog # 383

Vai uma grande agitação pela Europa a propósito do comportamento de Berlusconi, o cavalheiro que está de primeiro-ministro em Itália. As acusações são de natureza, digamos, moral – e implicam prostitutas e sexo a rodos, à italiana. Mete dó ver o ‘El Pais’, histérico como uma viúva de Lorca, a criticar o comportamento libidinoso de Berlusconi; ou a esquerda italiana, muito moralista, a associar-se ao Vaticano para condená-lo aos fogos do inferno. Berlusconi está crucificado por estes merdosos e acabará por ceder. Não se perde muito, mas é bom saber que, a partir de agora, também no sul da Europa o ataque à democracia pode ser feito através da cama e de um cerrado escrutínio à vida sexual dos eleitos. Andámos décadas a lutar contra isto e o golpe vem de onde menos se espera.

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Para compreender o essencial de Keynes, a Relógio d’Água publica ‘A Grande Crise e Outros Textos’, uma antologia do economista inglês com um esclarecedor prefácio de Manuel Resende (‘Keynes lido por um cidadão leigo’). Qual crise?

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FRASES

"Sócrates respondeu: não querem que a TVI mude de linha editorial, não é? Exactamente." Daniel Oliveira, no blogue Arrastão.

"Anda, demónio homossexual. Ordenamos-te que saias imediatamente." Mulher de uma igreja do Conneticut, EUA, durante um exorcismo a um adolescente homossexual. Ontem, no CM.

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junho 25, 2009

Blog # 382

Parece que o Ministério Público mandou arquivar a queixa do primeiro-ministro contra João Miguel Tavares, autor de uma crónica (no DN) que José Sócrates considerou ofensiva – mas que este despacho considera inserir-se “no direito à crítica”. O primeiro-ministro tinha todo o direito de queixar-se aos tribunais mas é bom que a justiça reconheça que não basta “não gostar dos termos” em que um texto é escrito para avançar com uma queixa. Grande parte da crónica política e jornalística do século XIX faria os tribunais de hoje entrar em colapso; Fialho, Eça, Camilo bastariam para escandalizar a respeitabilidade frágil dos políticos e acabariam presos. Mas também o bom-senso explica que a política não apenas é um bom alvo como merece ser alvejada. Quem vai à guerra, dá e leva.

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Regresso de Erik Orsenna, o autor de ‘Exposição Colonial’, com um romance em capítulos curtos, densos, sobre a arte de traduzir: ‘Dois Verões’ (Teorema) – uma ilha imaginária onde vêm ter todos os livros que valem a pena.

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FRASES

"O BCP continua a roubar ainda hoje em dia, posso provar..." Joe Berardo, ontem, no CM-online.

"Quando estudava, ensinavam que os tribunais administravam a justiça. Agora administram calendários." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

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junho 24, 2009

Blog # 381

No mundo ideal devíamos andar contentes. Os técnicos do Ministério da Educação que elaboraram os exames de Matemática do 9.º ano, por exemplo, acreditam nisso e gostariam que vivêssemos nesse mundo. O mundo não está para exigências suplementares nem para construirmos a “excelência” sobre os escombros do Ensino Básico. A Matemática lá se há de fazer. Devagar. E o Português também. E o que vier. O Ministério, coitado, enfrenta uma série de gente zangada com o mundo e que protesta sempre nesta altura dos exames. São uns chatos, uns aborrecidos. O que importa é desenrascar, ir fazendo, ter bom aproveitamento, passar de ano, engordar a felicidade das estatísticas. Daqui a um mês, os resultados vão aparecer, luminosos e positivos. O que eles são, senhora ministra, é uns invejosos.

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A Esfera dos Livros lança esta semana a prometida biografia de Nuno Álvares Pereira, de Jaime Nogueira Pinto. Começa com uma frase genial: "Se o passado é uma terra estranha, a Idade Média é um dos seus mais estranhos lugares."

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FRASES

"Ao contrário dos aviões, as caixas negras das pessoas não revelam nada. São apenas isso: negras." Manuel Jorge Marmelo, no blogue Teatro Anatómico.

"A minha calculadora não funcionou logo desde o início da prova. Correu muito mal. Foi difícil." Nicole Cardoso, 15 anos, sobre a prova final de Matemático do Ensino Básico. Ontem, no CM.

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junho 23, 2009

Blog # 380

Os portugueses tornaram-se mimados, pouco tolerantes com as contrariedades e incapazes de aceitar a mínima rejeição – e violentos, em consequência. Antes de se suicidar, um homem mata a sua família porque “não aceita o divórcio”. Por causa de um jogo de futebol, dois miúdos esfaquearam-se e o bairro inteiro recebe a polícia à pedrada. Um ex-marido matou o novo namorado da ex-mulher “por não aguentar a situação”. Um estudante universitário matou a namorada “porque ela o rejeitou”. São notícias que vêm nas páginas de crime, é verdade, mas ajudam a pintar o retrato de um país que perdeu o pai, não reconhece a autoridade, teme as dificuldades, desconfia das instituições, muda conforme a onda e desculpa-se com dissimulação abjeta. É um país moderno, arrogante e empobrecido.

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Ontem, recomendei Francisco González Ledesma, um admirável ficcionista de Barcelona – hoje, recomendo o seu pseudónimo, Enrique Moriel, autor de ‘A Cidade Sem Tempo’ (Livros d’Hoje). O tema? Barcelona, cidade de romances e de delírios.

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FRASES

"Esse grupo de jovens reúne-se todos os dias, mas quando se chateiam são violentos." José Moreira, morador de S. Julião do Tojal, em Loures, depois de uma rixa. Ontem, no CM.

"Berlusconi resistiu a tudo, mas não resistiu à cama. É daí que ele vai cair." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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junho 22, 2009

Blog # 379

Machado de Assis nasceu há 170 anos (cumpridos ontem). É um dos grandes monumentos da nossa língua e um autor que o preconceito português afastou da leitura durante anos. Havia a “concorrência” com Eça, o despeito pelo facto de ser mulato e a ideia de que do Brasil só vinha literatura de extração inferior ou mais ligeirinha. Com o tempo, os leitores descobriram esses dois livros maravilhosos, ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ e ‘Dom Casmurro’ – sinais da modernidade do romance. E, mais do que isso, obras-primas do humor e da suspeita, respetivamente. O primeiro, moderníssimo, uma explosão de riso e de ironia. O segundo ainda hoje deixa o Brasil às voltas com a pergunta sobre a sua personagem principal: “Capitu traiu ou não traiu o marido?” É um génio, Machado de Assis.

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O inspetor Méndez é um catalão velhaco e sentimental; as suas aventuras vêm nos livros de F. González Ledesma. Está aí nas livrarias ‘A Dama de Caxemira’ (Contraponto), uma amostra do seu talento e do seu riso. Tudo em Barcelona.

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FRASES

"As mulheres são falsas e parvas. Os homens são só parvos. Acreditam em tudo." Ana Cássia Rebelo, no blogue Ana de Amsterdam.

"Eu disputo a eleição para a formação do Governo." Francisco Louçã, ontem, no CM.

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junho 19, 2009

Blog # 378

O primeiro-ministro admitiu que o governo errou (aqui está uma novidade) por não ter investido muito na cultura e lamentou a falta de oferta cultural. Se é verdade que José Sócrates quer ‘arrepiar caminho’ e aparecer com um imagem diferente, convém que saiba do que fala. A oferta cultural só é diminuta para quem anda distraído; há bastantes coisas a acontecer todos os dias e o governo não fez falta, a não ser para quem quer ter emprego fácil. Quanto aos investimentos, o primeiro-ministro que veja o que os editores, por exemplo, investem na cultura, sem que o Estado coloque um cêntimo. Em vez de falar em esbanjar dinheiro em sinecuras, o melhor seria tratar do património, por exemplo, ou mandar as orquestras pela província. O comendador Berardo não se queixa do investimento.

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Germano Silva é um artífice, um sábio, um estudioso, e a prova está em ‘Porto nos Atalhos da História’ (Casa das Letras), mais uma saborosa recolha de crónicas e preciosidades sobre a cidade do Porto. Indispensável, útil e bom de ler.

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FRASES

"O que um político aldrabão faz quando perde, é tentar passar uma imagem falsa de si próprio." João Miranda, no blogue Blasfémias.

"É incapaz de ter sentimentos de culpa." Vítor A. Rodrigues, psiquiatra, sobre o homem que esquartejou e congelou corpo da mãe. Ontem, no CM.

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junho 18, 2009

Blog # 377

José Calvário passou da música clássica para o jazz e para o pop antes de se ficar na chamada ‘música ligeira’. É daí que o conhecemos melhor, de canções que ficaram na memória da rádio, como ‘E Depois do Adeus’, ‘Festa da Vida’ ou ‘Flor Sem Tempo’ – não foi apenas um dos maiores compositores do século xx português, mas serviu sobretudo composições de outros, cumprindo o destino daquilo que a música ligeira chama “arranjador”, que requer humildade, talento e disciplina. De uma maneira ou outra, toda a música ligeira lhe deve uma vénia. E mais do que isso, uma homenagem ao homem que soube traduzir ‘música nova’ em ‘música nossa’. Sem ele, os sons portugueses dos anos setenta e oitenta seriam perigosamente maus. Com ele, uma parte do nacional cançonetismo foi derrotada.

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O novo romance de Mia Couto, ‘Jerusalém’ (Caminho), espreita as livrarias já no final deste mês – Jerusalém é uma terra em África, onde ‘Jesus havia de se descrucificar’, como se diz no primeiro parágrafo. Guardai-vos, leitores.

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FRASES

"Ninguém pode certificar que Mousavi é muito melhor que Ahmadinejad." Fernanda Câncio, no blogue Jugular.

"Gastaste em seis meses o que juntei em dez anos." Isaltino de Morais, citado numa conversa com o seu sobrinho na Suíça, ontem, no CM.

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junho 17, 2009

Blog # 376

Fechou a Virgin Megastore, da Union Square, NY. Para quem não sabe, tratava-se do maior depósito mundial de discos, uma catedral da música gravada. Já antes fechado a cadeia Tower Records, 89 lojas, onde se podia encontrar qualquer disco. Quando se contarem as vantagens e os efeitos perniciosos da “nova era tecnológica”, hão-de aparecer os números de desempregados destas cadeias de música, alguns cultíssimos e educados, que sabiam tudo sobre os ‘singles’ dos anos cinquenta ou raridades de qualquer época. Hoje, a música; amanhã o cinema e depois os livros – as ‘plataformas tecnológicas’ devoram os seus filhos, criadores e utilizadores. As empresas dizem que vão adaptar-se, mas sentem um frio na espinha; elas sabem que as novas tecnologias tanto facilitam a vida como a morte.

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Não se vive apenas de política; Pedro Adão e Silva revela-nos esta preciosidade: o seu mundo como surfista está em ‘O Sal na Terra’ (Bertrand), crónicas que trazem inteligência e sensibilidade ao surf. Lançamento para a semana.

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FRASES

"Se educarmos os nossos filhos de forma democrática eles acabarão por se tornar ditadores." João Lourenço, encenador teatral, ontem, no CM.

"Tenho muitas saudades do tempo em que as pessoas se limitavam a tocar umas nas outras.! Manuel Jorge Marmelo, no blogue Teatro Anatómico.

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junho 16, 2009

Blog # 375

Eu lembro-me da chegada de Khomeiny a Teerão e de quem o apoiou, quando a urgência era expedir o Xá, fazer a vida negra aos americanos e entregar o poder aos sacerdotes. Mas não é a altura de pedir contas pelos crimes da teocracia iraniana. Mesmo metendo toda aquela gente na ordem, limpando as ruas e enchendo-as de Guardiães da Revolução, Ahmadinejad não sabe o que fazer para além do que é costume. Esse universo pode não implodir hoje nem explodir sob pressão, mas começou a ruir quando as mulheres, e não os ‘estudantes de teologia’ tomaram a dianteira dos protestos. No mundo islâmico, isto é uma novidade absoluta e configura uma verdadeira revolução. É um golpe duplo, apesar dos resultados eleitorais: no Corão dos barbudos e no regime que tem aprisionado os iranianos.

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Lembram-se de A. do Carmo Reis e dos seus manuais escolares? A Campo das Letras acaba de lançar a sua ‘Nova História Universal’: 220 páginas de síntese onde todo o leigo pode ver como o mundo chegou ao que é hoje. Útil e portátil.

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FRASES

"A patrulha não é o lixo da GNR." José Alho, Associação Sócio-Profissional Independente da GNR, ontem, no CM.

"Com o PS derrotado, os jornalistas da Lusa poderão voltar a escrever a palavra ‘estagnação’?" Pedro Correia, no blogue Corta-Fitas.

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junho 15, 2009

Blog # 374

Periodicamente, psicólogos e pedagogos mencionam a pressão que os adolescentes vivem durante os exames como se fosse um perigo a afastar ou uma maldade inútil a que é preciso pôr termo. Em outubro, aparecerão os mesmos a falar das ‘crises nervosas’ das crianças que enfrentam o primeiro dia de aulas. O ideal seria, suponho, que não existissem nem uma coisa nem outra. Ao contrário: a pressão é necessária ao amadurecimento. Não só a pressão; também as dificuldades e o trabalho. A época de exames (que começa amanhã) funciona como um período especial na vida das famílias e dos adolescentes, uma antecâmara de anos futuros e das férias do verão. De certa maneira, é também um rito de passagem, um desafio e uma fronteira que se ultrapassam – ou não. Não há calendário digno sem isto.

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E se o Holocausto fosse uma catástrofe previsível na cultura europeia do pós-iluminismo? Essa é uma das leituras de ‘Um Outro. Crónica de Uma Metamorfose’, de Imre Kertész (Presença), uma interrogação do totalitarismo e da maldade.

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FRASES

"O PS é hoje um partido suspenso do que a sua direção faz, do que a sua direção diz." Paulo Pedroso, ontem, no CM.

"À esquerda ou à direita, Sócrates é temido porque desejado, e desejado porque temido." Valupi, no blogue Aspirina B.

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junho 14, 2009

Humboldt redescobriu o mundo

Não sei se sabe mas são-lhe atribuídos nomes de plantas (entre elas, um carvalho sul-americano, belíssimo, e uma planta carnívora, a Utricularia), de animais (pinguins, imagine-se) de regiões terrestres (nomeadamente dois rios, uma cordilheira de montanhas, um parque no Ilinóis, um distrito do Iowa e outro da Califórnia) ou lunares (o Mare Humboldtianum), de acidentes estelares (um asteróide, o Alexandra, de 165 kilómetros de diâmetro) ou bem mais caseiros (como a que leva o seu nome mas é também chamada Corrente do Peru, e que se estende por uma grande área do Pacífico). Vi no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, pela primeira vez, um gerânio que leva o seu nome.

De resto, Alexandre Von Humboldt (1769-1859) estudou um pouco de tudo, como era costume no seu tempo. Comecei pelo seu irmão, Wilhelm, linguista e grande universitário europeu, cujo trabalho continua actualíssimo. E só depois regressei a este homem que escreveu e investigou sobre matérias tão diversas como vulcanologia, botânica, astronomia, física, filosofia, mineralogia, oceanografia, etnologia ou geografia e cartografia puras. Interessam-me almas assim, perdidas entre conhecimentos tão diferentes, capazes de se apaixonarem por espectros tão largos do que é suposto ser «o conhecimento humano». Humboldt seria uma espécie de sábio cosmopolita, como George Steiner gostaria de o designar. Por mim, limito-me a imaginá-lo e convido o leitor a deslocar-se ligeiramente na curva do tempo até aos finais do século XVIII, digamos que sete anos antes do Grande Terramoto de Lisboa, em 1755 – a data do seu nascimento. Na época, o Grande Terramoto foi lido oficialmente, pelos padres da Igreja, como um castigo divino. Voltaire escreveu sobre o assunto, rindo (o riso filosófico que fez o mundo andar para a frente) mas o leitor que imagine Humboldt, aos quinze anos, por exemplo, com vontade de viajar. Esses conhecimentos fatais e multiplicados, estendidos da botânica à cartografia (e, inclusive, à filosofia – estamos no período das Luzes), não poderiam ser adquiridos na sua Berlim natal, nem apenas nas universidades que frequentou (a de Frankfurt, antecessora da Goethe, ou as de Göttingem, Hamburgo ou Jena). Em 1789 (que é o ano da Revolução Francesa; o ano da legalização, através da eleição de George Washington, da revolução e independência dos Estados Unidos; o ano da morte do grande sultão otomano Abd-ul-Hamid I), fez a sua primeira grande viagem pelo litoral da Europa (poisando aqui e ali, na Holanda) e subindo o Reno. Dez anos depois, em 1799, e que durará cinco anos cheios de emoções e de descobertas, levá-lo-á a atravessar o Atlântico e a iniciar (curiosamente: com um passaporte espanhol, obtido depois de muitos acidentes que adiaram sucessivamente a partida) uma espantosa exploração da América, desde o novo país que entretanto fascinara tantos europeus, até às cordilheiras do Sul. Sendo certo que nunca se aproximou (conforme o desejo inicial) dos gelos próximos do Pólo, a viagem foi suficientemente aventurosa para o ter levado a Cuba, à Grande Colômbia, às cordilheiras andinas e aos vulcões adormecidos do Peru e do México, antes de chegar aos Estados Unidos.

Um homem assim levanta suspeitas – de loucura, de devassidão e de espionagem, para mencionar apenas três. Por isso mesmo, os portugueses recusaram-lhe a entrada no Brasil (ele seria espião ao serviço da Prússia). Imagino a cena e compreendo-a: Humboldt foi avistado naquele território-de-ninguém, situado naquilo que hoje é a fronteira com a Venezuela, e que um século antes tinha sido explorado por ums das maiores figuras da colonização portuguesa da América, o militar e geógrafo Pedro Teixeira, glória do Amazonas e do Pará. Foi recambiado para o norte e mandado fazer as suas explorações geológicas e observações meteorológicas (como os antigos Incas e Aztecas, verdadeiramente) na América Central. O que Alexandre Von Humboldt compreendeu do mundo eu não sei – apenas imagino: um complexo fantástico de medições e conclusões extraordinárias e inovadoras, tanto para as ciências naturais como para o que seriam mais tarde as ciências sociais (a antropologia e a etnologia à cabeça). Foi isso que o levou depois, quando a sua fama atravessava toda a Europa, a viajar pela Ásia e pela Rússia. Digamos que isso acontece após a publicação – em francês, pois viveu mais de uma dezena de anos em Paris – de um livro maravilhoso, Viagem Interminável pela América do Sul. Foi na estepe e na tundra, nos gelos quase eternos e então cristalinos da Sibéria, nas montanhas dos Urais, que Humboldt continuou a sua vocação na meteorologia e na mineralogia, atravessando rios e temendo a morte. As suas obras, escritas sempre na Alemanha, são monumentais; o Exame Crítico da História e da Geografia do Novo Continente é um resumo de ciência e história da América; e Cosmos (cinco extensos volumes), uma aproximação a todos os conhecimentos geográficos e naturais do seu tempo. Criador e estudioso, aventureiro e aristocrata, Alexandre Von Humboldt é a prova mais evidente da necessidade de viajar. É uma das minhas invejas.

in Outro Hemisfério - Revista Volta ao Mundo - Junho 2009

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junho 12, 2009

Blog # 373

Cumprem-se hoje oitenta anos sobre o nascimento de Anne Frank, cujo diário comoveu e dilacerou pelo menos duas gerações. O relato da clausura e dos tempos de medo antes da sua prisão (morreu de de tifo, no campo de concentração nazi de Bergen-Belsen) foram pela conhecidos em 1952, quando o diário teve a primeira edição em inglês. Passados trinta e tal anos sobre a sua primeira leitura, interrogo-me menos sobre a perversão nazi do que sobre a forma como a Europa – a velha Europa civilizada que hoje defendemos como um dogma e um bem absoluto – permitiu que tudo isso acontecesse. Tudo: o extermínio, o genocídio, a crueldade, o mal absoluto. E como, durante anos, o escondeu com desinteresse ou vergonha. Se pensarmos bem, foi há menos de oitenta anos que tudo isso aconteceu.

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Marcos Ana nasceu em 1920 e percorreu a via-sacra dos cárceres franquistas. O seu livro “Digam-me como É uma Árvore” (Guerra e Paz) não é apenas um livro de memórias: é um testemunho sobre a dignidade, o esforço e o desejo de viver.

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FRASES

"As pessoas são tão simpáticas que um rapaz pediu para namorar comigo." Inês Castel-Branco, actriz, em tournée em Ponte de Sor. Ontem, no CM.

"A substituição de um botão exige a perícia de um poeta alexandrino." No blogue Dias Felizes.

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junho 11, 2009

Blog # 372

O Dia de Portugal deu-nos dois bons discursos: o do Presidente e o de António Barreto. A coragem de Barreto foi notória e é notável, e o seu discurso devia ser lido com muita atenção – depois de traçar um diagnóstico da nossa memória do Dia de Portugal, apelou ao exemplo das elites, dos políticos, enfim, de quem tem de ‘dar o exemplo’. Mas não só: em todo o lado, devemos dar o exemplo – na rua, na escola, nos serviços públicos. Mas se o poder não der o exemplo, é o desastre que se vê. Vale mais isso do que os discursos de grande floreado, cheios de ditirambos e de promessas de eternidade. Os políticos presentes aplaudiram-no de rosto fechado e isso compreende-se: alguns estão em fim de ciclo e magoados pelo ressentimento. António Barreto anunciou-o com clareza e brilho.

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Sai em Julho e vale a pena – ó amantes de livros – lê-lo e anotá-lo: ‘No Bosque do Espelho’, de Alberto Manguel (o autor do ‘Dicionário de Lugares Imaginários’), uma aventura prodigiosa no meio da memória dos livros (na Dom Quixote).

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FRASES

"A felicidade pode ser uma ocupação a tempo inteiro, mas nunca para sempre. Piores dias virão." No blogue Ouriquense.

"Não sabia que as mulheres agora também têm próstata." Arminda Pais, a quem um médico do Hospital de Portalegre receitou comprimidos para a próstata. Ontem, no CM.

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junho 10, 2009

Grande Oficial

10 de Junho: Cavaco Silva distingue 36 personalidades de várias áreas de actividade

O antigo ministro Pedro Pires de Miranda, a artista plástica Joana Vasconcelos, o médico Gentil Martins e o criminalista Moita Flores são algumas das 36 personalidades que o Presidente da República vai agraciar, dia 10 de Junho, em Santarém.

As escolhas do Chefe do Estado recaíram este ano sobre personalidades da indústria, educação, artes,tendo contemplado escritores, maestros, músicos, escultores, artistas plásticos, ex-ministros, investigadores, empresários, numa escolha eclética que tenta reflectir o dinamismo da sociedade portuguesa.

No Dia de Portugal, Aníbal Cavaco Silva atribui a Grã-Cruz da Ordem de Cristo a Pedro Pires de Miranda, ministro dos Negócios Estrangeiros no décimo Governo constitucional e do Comércio e Turismo no terceiro Governo constitucional.

Com a Grã-Cruz da Ordem de Avis, o Presidente da República vai agraciar os militares António João Neves de Bettencourt, vice-almirante da Marinha, Francisco António Fialho da Rosa, tenente-general do Exército, e Artur Manuel Proença Prazeres, da Força Aérea.

O maestro Álvaro Cassuto e o escultor Artur Seixas vão receber a Ordem de Sant´Iago da Espada (Grande Oficial), equanto o divulgador de jazz José Duarte recebe a medalha de Grande Oficial da Ordem de Mérito.

O Chefe de Estado vai agraciar também nesta data com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique o médico Gentil Martins e o ex-ministro da Educação Roberto Carneiro.

Com a insígnia de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique vão ser agraciados a poetisa Ana Hatherly, o jornalista e ex-director do Jornal de Notícias António Freitas Cruz, o criminalista Francisco Moita Flores, o professor da Universidade Católica Luís Valadares Tavares, o penalista Manuel da Costa Andrade e a médica Maria Raquel Campos Seruca.

A artista plástica Joana Vasconcelos vai receber o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, enquanto ao recordista mundial de velocidade na neve e actual campeão do mundo de vela adoptada Bento Amaral será atribuído o grau de Oficial.

Cavaco Silva condecora igualmente com a insígnia de Grão-Cruz de Ordem de Mérito o presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Armando Leandro, e com Grande Oficial desta ordem o director do serviço de capelania prisional, padre Dâmaso Lambers, e o escritor Francisco José Viegas.

Com os graus de comendador foram distinguidos um dos fundadores do Serviço Nacional de Sangue Joaquim Moreira Alves e o antigo presidente da Associação Industrial Portuense Vasco Cerqueira de Faria.

No dia 10 de Junho, o chefe de Estado vai também agraciar o ex-ministro da Educação Júlio Pedrosa com a Grã-Cruz da Ordem de Instrução Pública e o professor da Universidade Católica Manuel Joaquim Pinho Moreira de Azevedo com a insígnia Grande Oficial da mesma ordem, além da antiga professora Maria do Céu Neves Roldão com o grau de comendador.

Finalmente, a Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial será atribuída, na Classe do Mérito Agrícola, com o grau de comendador à proprietária da Casa vinícola Ermelinda Freitas, Leonor Freitas.

Com o grau de comendador na classe de Mérito Industrial será agraciado Fernando Luís Simões, presidente do Grupo Luís Simões.

in Expresso on line - 2 Junho 2009

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Blog # 371

A nova esperança dos viciados em ‘gadgets’ é o Kindle DX, o leitor eletrónico de livros que a Amazon coloca hoje à venda em todo o mundo, a juntar às inovações do Sony Reader. Para que serve esta coisa? Para armazenar cerca de 3 mil livros em formato digital (e um sem número de revistas e jornais), até atingir 3,5 GB, além de permitir acesso a redes wi-fi e 3G. Estes números fazem as delícias da nossa época, cheia de maravilhas tecnológicas e de novidades que se devoram umas às outras. É uma nova época que nasce, promissora e digital. Nestas ocasiões tenho uma enorme nostalgia dos livros cuidados por encadernadores silenciosos e cultos, bem como dos livros onde a poeira adormeceu, das horas de leitura da adolescência. Os bons leitores são muito reacionários, é o que é.

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Regresso de Rui Cardoso Martins à ficção, depois da excelente estreia com ‘E Se eu Gostasse Muito de Morrer’ (de 2006): sairá no próximo mês o seu novo romance, ‘Deixem Passar o Homem Invisível’ (Dom Quixote). Aguarde-se com festa.

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FRASES

"Sócrates garantia que nada, mas mesmo nada, vai mudar. Não percebeu, portanto, que tudo mudou." Gonçalo Pistacchini Moita, no blogue Geração de 60.

"Tenho partes do corpo que fazem com que o público goste de mim." Vanessa Oliveira, do ‘Fama Show’ da SIC. Ontem no CM.

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junho 09, 2009

Blog # 370

As fotografias da casa de Berlusconi e dos seus excessos, onde umas damas e uns cavalheiros se passeiam, nus, fizeram as delícias dos moralistas e dos ‘voyeurs’. Para gáudio de várias classes, o ‘El Pais’ espanhol, muito socialista, publicou-as como uma denúncia sobre as poucas vergonhas de que o belzebu é capaz. O homem, ou “a coisa” – como escreve Saramago – organiza orgias e é capaz de fazer ainda pior (fica a suspeita, malévola e maliciosa). Uma onda de indignação percorre o mundo e a imprensa inglesa (o ‘Times’!) anunciou, risonha, “a impotência de Berlusconi”. O espetáculo é deprimente. O problema é que, se Berlusconi parece um funâmbulo arrancado a um filme de Fellini, a campanha denuncista parece encabeçada por viúvas de uma peça de Lorca, arrepelando os cabelos.

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Estrela Carvas foi confidente de Amália Rodrigues durante 30 anos – é esse testemunho memorialístico que Inês Almeida transcreve em ‘Os meus 30 anos com Amália’ (Guerra e Paz), uma coleção de revelações a reter pelos fãs e amantes.

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FRASES

"Agora é que as coisas se vão tornar difíceis." Rui Ramos, historiador, sobre o PSD. Ontem, no CM.

"Pense-se o que se pensar, as pessoas votam para confirmar governos ou derrubar governos." João Pinto e Castro, no blogue Jugular.

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junho 08, 2009

Blog # 369

De entre as várias disciplinas a que convém prestar atenção, há uma que parece estar na ordem do dia: trata-se da “sociologia do incerto” que estuda, por exemplo, o fluxo de trânsito nas cidades, a afluência de gente à praia ou a frequência com que os portugueses fazem sexo. Ontem, Durão Barroso revelou que também já começou a estudar a “sociologia do incerto”, ao referir que o lindo dia de sol “convidava ao exercício da democracia” e ao voto popular, em vez de referir a praia ou os passeios pelos parques. Cavaco Silva, mais terra-a-terra, pediu para os portugueses não aproveitarem os feriados nem o bom tempo; ele sabe como somos preguiçosos. Que influência tem a meteorologia no futuro da democracia? Se chovesse, teria havido menos abstenção? Problemas, só problemas.

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O século XIX é ainda um mistério hoje em dia. A historiografia oficial apresenta-nos retratos de heróis, mas convém conhecer os vilões. Comece-se por ‘Uma História de Violência Política’, de M. Fátima Bonifácio (Tribuna da História.)

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FRASES

"O mais importante não é a exibição. Tínhamos de jogar na aventura." Carlos Queirós, sobre o jogo com a Albânia, ontem, no CM.

"A abstenção não terá outra justificação do que a vontade do cidadão de se abster." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho-Carpinteiro.

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junho 05, 2009

Blog # 368

Kwai Chang Caine foi um dos meus gurus da segunda infância, creio que todos os domingos à noite. A série televisiva chamava-se ‘Kung Fu’ e foi a minha iniciação nos mistérios orientais. Poucos de nós sabiam o que era um monge ‘shaolin’ mas todos conhecíamos Kwai Chang Caine e sabíamos que ele era capaz de dançar sobre uma folha de papel de arroz sem rasgá-la, ou derrotar um bando de salteadores em poucos segundos e sem usar qualquer arma. Claro que era estranho que essas histórias se passassem no oeste americano do tempo dos ‘cowboys’ – mas quem iria preocupar-se com minudências quando tínhamos à disposição uma aventura semanal de Kwai Chang Caine, o homem que nos fez desejar sermos justos e treinar ‘kung fu’? Esse era David Carradine, que morreu ontem em Banguecoque.

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É mais do que um guia; trata-se de uma marosca divertida lançada por estes dias pela Lua de Papel: ‘Os Melhores Investimentos do Mundo em Tempo de Crise’, de Peregrino Santa Clara com José Vegar. Investimentos “alternativos”, claro.

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FRASES

"Talvez compre uma bicicleta." Arménio Vieira, novo Prémio Camões, sobre o que fará com os 100 mil euros. Ontem no CM.

"Houve um tempo em que o escritor se sentia inspirado e escrevia. Hoje faz pesquisa e produz." José Rentes de Carvalho, no blogue Tempo Contado.

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junho 04, 2009

Blog # 367

Arménio Vieira é um homem simples, bem-humorado e um poeta de eleição. Lamento ser pouco lido, porque os seus livros (poucos e difíceis de encontrar, como ‘O Eleito do Sol’ ou ‘No Inferno’) estão publicados de forma artesanal. Nada fazia prever que ganhasse o Prémio Camões, mas o júri entendeu homenagear a literatura de Cabo Verde – compreende-se, porque o país tem autores de primeira ordem, de Eugénio Tavares, Manuel Lopes e Jorge Barbosa até Corsino Fortes, Germano Almeida ou um poeta tão fabuloso como João Vário (que teria merecido o prémio há muito, antes de morrer). Durante anos, o Prémio Camões passeou-se pelos salões da ‘lusofonia’ sem ter descoberto Cabo Verde. Muitas vezes limitou-se a fazer política e diplomacia; se voltar para a literatura não é mal nenhum.

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É um dos livros mais saborosos da temporada: ‘Verão 2009. Selecção de Vinhos’, de João Paulo Martins (Livros d’Hoje); uma sinfonia de brancos, rosés, espumantes, verdes e colheitas tardias – tudo preparado para a nossa felicidade.

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FRASES

"Ela tem sido muito tesinha. De facto, tem dado o corpo ao manifesto." Marcelo Rebelo de Sousa, sobre Manuela Ferreira Leite, ontem no CM.

"Acho que se deve votar. O voto branco, nulo e a abstenção são ignorados pelo sistema político." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

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junho 03, 2009

Blog # 366

É muito fácil fazer museus em Portugal: basta declarar-se a intenção de abri-lo. Depois, legisla-se e encontra-se uma lei orgânica e até um quadro de pessoal. Pelo meio, pensa-se no que há de ter o museu como espólio. Se era bom termos um museu da Viagem ou das Descobertas, anuncia-se a sua necessidade pública. Também já se anunciou que estaria iminente a criação de um Museu da Língua e que o orçamento do Estado já tem lá os fundos para a sua criação. A ministra anterior fez o anúncio e o ministro atual insistiu anteontem em acelerar o processo. Num país que não está de acordo sobre o futuro da ortografia e onde o Ministério da Educação aceita e promove a desvalorização dos tesouros da nossa Língua, trata-se de um acontecimento que vai ter belas consequências, vai, vai.

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Leia um clássico. Neste caso, leia vários – estão todos reunidos numa edição de bolso, barata, e em grande, grande estilo: estão aí as ‘Novelas do Minho’, de Camilo Castelo Branco, histórias inesquecíveis (na 11/17, Bertrand).

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FRASES

"A GM está na falência porque faz maus carros. Se querem dar esmolas, que o façam às claras." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

"Ele diz que não tem namorada. Continua de coração livre. Aquilo são só amigas." Zezé Camarinha, sobre o cantor Angélico, ontem no CM.

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junho 02, 2009

Blog # 365

Por que se interessam as pessoas pelo sexo? Porque é bom e viciante – é a explicação mais sensata. E porque o sexo representa tudo o que é vital na existência: o prazer, o sofrimento, o gozo, a dominação, a proximidade. E até o amor. O estudo ontem divulgado pelo CM dá conta de outros pormenores (a perda de calorias) e de um dado essencial: que, apesar de serem “dos mais ativos da Europa”, os portugueses são, também, “dos mais insatisfeitos”. Isto pode ser perturbador mas explica-se: quem ‘mais fala’ de sexo não é, em regra, quem ‘mais pratica’ a modalidade. Com o espaço público cheio de referência a sexo, alguma coisa há de faltar. Falta o fruto proibido: a dissimulação, a clandestinidade, o segredo, a virtude pública que anuncia a devassidão privada. E até a hipocrisia.

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A Biblioteca Lobo Antunes reúne os livros preferidos do escritor. A D. Quixote lançará ‘A Letra Encarnada’, de Hawthorne, ‘O Coração das Trevas’, de Conrad, e ‘Ilusões Perdidas’, de Balzac. Um guia para a grande literatura.

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FRASES

"Vital Moreira fez mais pelo PSD em duas semanas que a direcção dos social-democratas num ano." Pedro Marques Lopes, no blogue União de Facto.

"Estou inaugurado e muito feliz por isso." José Saramago, na inauguração da sua estátua, na Azinhaga do Ribatejo. Ontem, no CM.

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junho 01, 2009

Blog # 364

Os 200 anos da morte de Joseph Haydn (assinalados ontem) podem também lembrar a chegada de Napoleão a Viena, durante cujos bombardeamentos morreu o compositor, aos 71 anos. Teve sorte, Haydn: a proteção dos príncipes Eszterházy permitiu-lhe estudar, compor, executar música e viver com conforto. Mozart, muito mais jovem, prezava-o como mestre, e reconheceu sempre a inspiração do músico de Viena, o “pai do quarteto de cordas”. 200 anos depois, a magia e o trabalho de Haydn podiam ser lembrados nas nossas escolas, se houvesse educação musical digna desse nome. Infelizmente, poucos reconheceriam o nome do músico e a dimensão da sua vasta obra: a educação moderna prefere o ruído à grandiosidade da música. Os príncipes de outrora eram mais cultos do que os democratas de hoje.

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Morte em Veneza’ sempre me irritou. A Tinta da China, na coleção de viagens coordenada por Carlos Vaz Marques, publica agora ‘Veneza’, de Jan Morris. Mais do que um guia (que não é), trata-se de uma belíssima biografia da cidade.

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FRASES

"Não há ninguém, na cultura, que se possa dizer que é verdadeiramente uma criação portuguesa." Vasco Pulido Valente, ontem no CM.

"Não há como um monstro para sublimar a virtude." Pedro Jordão, no blogue The Heart is a Lonely Hunter.

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