março 31, 2008

Blog # 61

Apetecia-me falar sobre o "regresso da alma" ao corpo primeiro-ministro, anunciado em Viseu, mas fica para depois. O fim-de-semana não conseguiu fazer-me esquecer aquela frase que apanhei, discreta, escondida no meio de mais uma notícia sobre "o caso Carolina Michaëlis": parece que a professora tinha "autorizado os seus alunos a manterem os telemóveis ligados, permitindo-lhes que ouvissem música". A frase foi pouco citada porque, na verdade, altera tudo e merece deixar-nos de boca aberta. A minha primeira tentação é encerrar professora e alunos numa loja de telemóveis a tocar ininterruptamente até recuperarem o juízo. Recordo-lhes que a professora andou uns tempos a animar o "parlamento dos jovens", onde se dá a palavra às hordas de "jovens". Estão bem uns para os outros: a professora autoriza a rapaziada a ouvir música nas aulas, desde que tenham saldo no telemóvel; para compensar, eles podem tratá-la por tu e dar-lhe beliscões nas bochechas. Parabéns a todos.

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Depois de uns dias de ausência, descubro que o Bloco de Esquerda se junta aos puritanos e dietistas que pretendem banir a publicidade da cerveja das camisolas da selecção. Por mim, protesto. Não há como um bom jogo de futebol com cerveja; o problema é, mesmo, com a porcaria de jogo da selecção. Esse é que devia ser banido.

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Parabéns à Casa Fernando Pessoa: assinou um protocolo de colaboração com o grupo LeYa, que passa a apoiar a realização de ciclos de conferências.

É amanhã apresentado o novo livro de Fernando Venâncio (professor em Amesterdão e um dos nossos melhores críticos). É sobre literatura (naturalmente) e chama-se 'O Último Minuete em Lisboa' (Assírio & Alvim).

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FRASES

"Um político tem o dever de disfarçar os seus estados de alma e apresentar boa cara." José Sócrates, ontem no CM.

"Agora que Scolari já experimentou os jogadores que queria, está na altura dos jogadores poderem experimentar outro seleccionador." Bruno Sena Martins, no blogue Avatares de Desejo.

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março 28, 2008

Blog # 60

O presidente da República esteve quatro dias em Moçambique. Hoje, África já não nos comove nem nos espanta como nos anos setenta, o que é bom sinal. Para muitos é um território de negócios, para outros é um mapa de viagens em férias – mas a velha "África portuguesa", com os seus traumas, foi desaparecendo aos poucos, ao longo dos últimos trinta anos. Fica apenas o passado, que não se apagará. No último dia da visita, o Presidente foi à Ilha de Moçambique, que foi capital da colónia e um reduto emocional da nossa presença em África, onde coexistiram todas as religiões, os seus vivos e os seus mortos – e teve a coragem de invocar o seu próprio passado pessoal, para justificar a sua ligação ao país que hoje é Moçambique. Algumas pessoas esperavam outra coisa: que ele falasse da culpa e da guerra. Pode dizer-se que ele teve coragem de olhar em frente. Os moçambicanos gostaram mais deste discurso do que do arrependimento mariquinhas. Gostam de quem os olha de frente.

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O caso do telemóvel na escola do Porto deu pano para mangas. No fundo, trata-se de um problema de indisciplina que deve ser resolvido pela própria escola. Mas o ruído provocado foi bom: pode ser que, antes de saltar para cima dos professores e de ligar o telemóvel durante a aula, a rapaziada pense duas vezes. Ou só uma.

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Para lembrar o Maio de 68, a Antígona lança o livro de Anselm Jappe dedicado ao pai do Situacionismo, 'Guy Debord'. Oportunidade para recordar Debord, um dos rebeldes da nossa vida.

O novo livro de Maria Antonieta Preto (a de 'Chovem Cabelos na Fotografia') é 'A Ressurreição da Água' (Quid Novi) e será lançado no próximo dia 8 de Abril.

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FRASES

"Sócrates sabe mais a dormir do que Menezes acordado."Paulo Gorjão, no blogue Cachimbo de Magritte.

"Ele andava sempre a bater na miúda e eu devia era ter acabado com ele, ao menos isto não acontecia."Pai de jovem baleada pelo namorado, ontem no CM

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março 27, 2008

Blog # 59

O secretário de Estado da Educação Valter Lemos acha que o problema da violência nas escolas não é das escolas – mas "de lá de fora". Ou seja, casos de desrespeito aos professores, de 'bullying', de indisciplina e de agressões a professores e alunos não têm a ver com a escola propriamente dita mas são 'importação de fora'. É uma deriva interessante que dá conta do estado de espírito dos seguidores de Jean-Jacques Rousseau: não, a escola não está mal – o problema é o 'lá fora'. A mesma coisa no original de Rousseau: o mal não são as pessoas, naturalmente boas e puríssimas, mas a sociedade, que é a fonte de todos os vícios e da maldade que geralmente deixa em fanicos os género humano. Santíssima ideia. Infelizmente, 'a sociedade' (conceito parecido com o ovo estrelado), ou seja, 'o lá fora', é a única coisa que existe. Mas, de acordo com a nova teoria, a ideia de abrir a escola 'à sociedade' tem os dias contados. Basta pôr detectores de metais à entrada.

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março 26, 2008

Blog # 58

O PCP organizou uma marcha em Lisboa, protestando contra as "ameaças à liberdade". Seria legítimo que estranhássemos, porque o PCP esteve sempre ligado ao apoio a regimes e países onde não existia nem existe liberdade de imprensa. Mas compreende-se porque, na sua linguagem feita de artimanhas, tratava-se de desvalorizar a 'democracia burguesa' que em 1975 Álvaro Cunhal combateu. Já com o Tibete é outra história. Jerónimo de Sousa aconselha 'prudência' na questão e o PCP acha que estes protestos têm como objectivo tramar os Jogos Olímpicos de Pequim – um fabuloso degrau no avanço para o socialismo, como se sabe. Só quem não conhece a história do comunismo e do maoísmo pode achar graça ao tema. Cuba, Coreia do Norte e China são agora, parece, a coroa de resistência, o que não deixa de ser triste em pessoas de inteligência. O PCP acha que o Dalai Lama é um agente do imperialismo e que o regime chinês, ao prender e matar, apenas defende o que resta do socialismo.

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março 25, 2008

Blog # 57

Parece que a Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) está a enviar cartas a contribuintes recém-casados pedindo-lhes que prestem informações de natureza fiscal sobre o copo-d’água, o número de convidados, a quantidade de crianças presentes, quanto custou e quem pagou o vestido de noiva ou as flores, entre outras matérias. Um dia, para alimentar o Estado, há-de querer taxar os presentes oferecidos aos noivos. A terminar as circulares enviadas aos contribuintes em idade casadoira, depois de fazer pedagogia, as repartições ameaçavam com penalidades e multas caso não obtivessem respostas. Porém, isto aconteceu durante a manhã. À tarde, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais reconheceu que os pedidos de informação eram 'excessivos' e que ia haver uma 'correcção'. Alguém lembrou que não podia ser assim. Que há ou deve haver um mínimo de decência e de inteligência. Ou seja: os cidadãos devem estar alerta para o facto de o Estado nem sempre ter os neurónios no lugar certo.

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março 24, 2008

Blog # 56

O Vitória de Setúbal ganhou a Taça da Liga; foi uma vitória contra o "destino português". Recuei no tempo e lembrei-me de Nandinho, o capitão do Vitória de Setúbal em Dezembro de 2005, a assumir "a corrida ao título". Evidentemente que era um excesso. Ninguém compreendia uma equipa que estava em terceiro lugar, a dois pontos do FC Porto, com salários de quatro meses em atraso. Um jornalista perguntou-lhe então: 'Mas sente que têm condições para correr para o título?' Nandinho nem sorriu: 'Não. Condições não temos.' A isto chama-se contornar o destino num País em que 'as condições' nunca estão reunidas. A carreira do Vitória de Setúbal (o clube com orçamento mais baixo no campeonato português) e a história do trabalho de Carlos Carvalhal e daqueles jogadores deviam reconfortar-nos e servir-nos de lição. Nem tudo se vence com dinheiro e 'condições'. Há um brilho de vontade e de desafio nesta vitória do Setúbal. Assim se portasse a pátria, mesmo sem chuteiras. Uma lição.

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A cena da escola Carolina Michäelis ocupou todo o fim-de-semana político da Páscoa. A ministra da Educação achou que a Oposição se portou mal e acusou-a de oportunismo por invocar o Estatuto do Aluno. Tem razão. O problema é que a ministra tem razão porque casos destes acontecem há anos, humilhando os professores. Em silêncio.

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Pedro Paixão regressa ao romance com ‘Rosa Vermelha em Quarto Escuro’ (Bertrand): intensidade, erotismo, tristeza. Uma trilogia maldita.

A editora Plátano acaba de lançar uma nova marca: Livros de Seda, de e para mulheres. A Antígona já lançou o segundo livro da sua nova marca, a Orfeu Negro.

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FRASES

'Ela exigia-lhe dinheiro e ele já tinha falado em matá-la.' Testemunha de um crime, ontem no CM'

O que tem feito mal à Educação são estes anos de impunidade das ‘novas psicologias’, ‘metodolo-gias’ e ‘grupos’ masturba-tórios de ‘trabalho’ para nada.' João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos

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março 21, 2008

Palco das palavras


Depois dos 'milagres' na Casa Fernando Pessoa, onde, malgrado o magro orçamento, conseguiu manter uma programação dinâmica quase graciosa, Francisco José Viegas, o jornalista, escritor, andarilho, gourmet, radialista, bloguista, poeta (aqui, de mão rara e feliz), literato omnívoro e dos mais fecundos promotores culturais, retorna à «Ler» «para fazer uma revista para os tempos que correm», isto é, saudáveis para a edição. Uma conversa, justamente, sobre estes tempos de hoje.

Quais as razões que a razão conheceu para deixar a Casa Fernan­do Pessoa?
Razões simples, com cer­teza, e nem vale a pena – como geralmente se faz — alimentar teorias conspirativas. Foi uma proposta do Círculo de Leitores para regressar e retomar a Revista «Ler». É um projecto ao qual estive ligado durante catorze anos, sinto-me muito ligado a ele ainda hoje, e achei a proposta muito convincente e honesta. Hoje em dia há muitas propostas convincentes e fascinantes mas poucas se­rão honestas. Honestas, francas e amáveis.

Sai com uma impressão negativa do funcionalismo público e da gestão autárquica?
Da forma de funcionamento das autarquias, sim. Do funcionalismo, não. Pelo contrário. A minha equipa, que era toda de funcionários públicos, era fabulosa, de gente empenhada e muito entusiástica. As pessoas precisam de apoio, de serem ouvidas, de serem chamadas à elaboração de projectos, de participar. Foi isso que se fez na Casa Fernando Pessoa, e acho que se conseguiu. O que foi um bálsamo, no meio das dificuldades naturais com que se debate a Câmara de Lisboa...

Ainda assim, o Francisco conseguiu ter uma programação regular sem dinheiro...
Porque conseguimos um bom espírito de equipa, porque houve boa-vontade de muita gente e porque nem tudo se consegue com dinheiro. Dinheiro não é tudo; é preciso entusiasmo, criatividade e abertura de espírito. Por outro lado, estar na Casa Fernando Pessoa tem de ser encarado como "serviço público" - eu sempre o disse. A Inês Pedrosa, que dirige hoje a Casa, é uma pessoa com esse perfil e acho que vai fazer um bom trabalho.

Esta passagem da «Ler» a mensal é um indício feliz da popularidade do objecto-cultura ou uma opção de risco?
Ambas as coisas. É um risco, naturalmente. Mas o mercado mudou muito nos últimos cinco ou seis anos, e neste último ano sobretudo, e precisa de uma revista como a «Ler». Pelo menos, como a «Ler» que vamos publicar.

Haverá concorrência directa com publicações e suplementos culturais ou vão manter os anteriores conteúdos para elites?

Vamos fazer uma «Ler» para os tempos que correm. Não temos problema com a concorrência, porque acho que há espaço para todos, para mais publicações até.

Que se passou realmente na sua chefia de edição fracassada na ASA? Foi vítima do fenómeno canibal das editoras?
Não. Foi um projecto que teve a sua história e que precisa de mais tempo para se desenvolver, para crescer, talvez de outra maneira, com outras condições. Eu nem sempre acerto, mas acho que tenho a virtude de reconhecer rapidamente os erros.

Esta aparente opulência do meio editorial encobre a realidade penosa do que é a cultura inculta em Portugal?
Às vezes penso isso, mas depois comparo os nossos dados com os da edição estrangeira, e verifico que nos estamos a aproximar bastante de alguns níveis de qualidade. O problema é o da tradição, o das elites, o dos hábitos. Quando chegamos à Feira de Frankfurt vemos que os políticos vão lá. Os políticos, os ricos, o star system brasileiro frequentam a FLIP de Paraty ou o festival de Ouro Preto. As feiras de Barcelona recebem visitas da população inteira e das elites catalãs. Em Portugal é muito raro isso acontecer. Temos falta de exemplos vindos do alto. Isto (isto, o país) às vezes é um desconsolo. Que livros lêem os deputados? Como se formou a classe dirigente? Que gostos eles possuem e divulgam? Interessam-se por música (não falo de ir a um espectáculo num casino ou uma coisa pop, falo mesmo de música)? Duvido muito. Se há culpas a atribuir, elas
recaem nessas pequenas elites, promovidas como figuras de televisão ou da imprensa cor-de-rosa, mas que não deram nada ao país, não contribuíram com uma ideia sobre a nossa vida cultural. É uma pena.

Continua a ser válida a imagem de disfunção cultural do português de cultura média?
O português de cultura média é uma personagem interessante e capaz de algum esforço. Ia à Festa da Música, interessa-se pêlos livros que saem, preocupa-se com o estado de degradação do ensino humanístico e científico em Portugal, vai ao cinema... Eu acho que teremos de reabilitar essa imagem do "português de cultura média", as pequenas e médias burguesias com algum interesse pelas letras e pelas artes. No final do século XIX, o português de cultura média sabia línguas, lia os clássicos, ia ao teatro, lia a imprensa. A democracia popularizou a indigência. Volto aos exemplos dos políticos: já reparou como são os seus discursos? Já comparou o grau de instrução efectiva dos políticos portugueses do século XIX com os de hoje? Acho que há uma diferença abissal. Esta gente, quando envelhecer, não vai escrever as suas memórias, pela simples razão de que não sabe escrever... Há excepções, que são saborosas, naturalmente, mas a média é muito fraquinha. E há políticos de uma cultura notável, como o Medeiros Ferreira, o Mota Amaral... E uma nova geração, claro, tanto à direita como à esquerda...

Como se explica, por exemplo, o paradoxo do cancelamento da Festa da Música quando terá sido dos maiores fenómenos culturais do pós-25 de Abril (a Festa do Avante não conta)?
Não sei, mas foi uma pena. A Festa da Música era um momento de beleza pura.

Acha que foi uma complacência administrativa com o todo-poderoso comendador Berardo, sendo esta ideia do incómodo Dr. Mega Ferreira?
Não faço a mínima ideia.

Enquanto raça, o medo é o nosso pior defeito genético (a par da inveja)?
É bem capaz de ser. O medo, sim, no sentido em que o respeitinho nos impede de afrontar, de dizer o que pensamos, de entrarmos no debate...

Já lhe contaram a anedota do pescador indiano de caranguejos portugueses? [O homem estava a pescar na praia de Anjuna, Goa, e punha os caranguejos num balde sem tampa. Quando passou alguém e disse: «Ó homem, tape o balde senão os caranguejos fogem», ele respondeu: «Não há problema, são caranguejos portugueses. Quando um estiver a chegar lá acima, vem outro e puxa-lhe as patas»]. Há muito de verdade nisto?
Bastante. Mas temos de procurar as excepções. Temos sempre de procurar as excepções, senão entramos em depressão. Eu não sou um optimista - sou um céptico que acredita vagamente. Fico orgulhoso quando um português consegue fazer qualquer coisa que o distingue. Fico orgulhoso pelo Gonçalo M.Tavares, fico muito orgulhoso pelo sucesso do José Eduardo Agualusa (que é angolano, eu sei), fico orgulhoso com o bom trabalho reconhecido. Fico muito orgulhoso com o trabalho do Pedro Mexia, da Dulce Cardoso... Fico muito orgulhoso com os emigrantes que tiveram êxito, com os portugueses que são felizes por terem trabalhado. Mas esse é um hábito portuga, sim. Sabe porquê? Porque há demasiada gente preguiçosa, que vive na sombra do trabalho dos outros e explora o mérito dos outros. Esses nomes que citei, os do Pedro Mexia, a Dulce, o Gonçalo, o Zé Eduardo, por aí fora, são pessoas que se esforçaram e que trabalharam muito, que merecem o nosso respeito até só por isso. As pessoas invejam tudo. Até invejam o êxito dos livros da Margarida Rebelo Pinto, mesmo sem terem lido uma linha do que ela escreveu. Acho graça à Margarida, ao escândalo que ela provoca, àquele ar de tempestade que leva para onde vai...

Tem ideia de um livro recente que tenha mexido com as consciências (o ensaio do José Gil não conta)?
Vários. Olhe, a autobiografia da Maria Filomena Mónica, que afrontou o provincianismo português, a pequena moral. Ela foi muito corajosa, pôs muita gente a pensar nas suas experiências de vida. Veja o caso das memórias do Raul Miguel Rosado Fernandes, um personagem fantástico, sempre detestado pelas pequenas burocracias da esquerda e da direita, um cavalheiro que viveu intensamente. Mas não sei se mexeram com as consciências, isso não sei. O livro do José Gil é um retrato do medo banal, que é aquele que leva os portugueses a serem invejosos, medrosos e caricatos.

Leu «A Ponte Submersa», do Ma­nuel da Silva Ramos?
Li. O Manuel é um tipo com coragem. Este ano vai ser publicado de novo Os «Três Seios de Novélia», que era o anúncio de um tipo especial de narrativa em finais dos anos sessenta.

O Saramago dos últimos anos perdeu o viço?
Não faço a mínima ideia. Para mim, basta-me ele ter escrito o «Memorial do Convento», o «Manual de Pintura e Caligrafia» e «O Ano da Morte de Ricardo Reis».

E o Lobo Antunes, ainda anda a es­crever o grande livro-terapia?
Também não faço ideia. Ele é o autor do «Manual dos Inquisidores», um grande livro. E é um cronista exemplar, um género em que temos pouca gente. Gosto dele, gosto daquele ar melancólico, que é muito profissional.

Quando este (LA) diz que é o maior escritor português (vivo) é para ser levado a sério?
É. Se calhar é o que ele pensa.

Concorda com o Lobo Antunes quando este diz que a maioria dos «romances» que se publicam em Portugal são abjectos e intrinsecamente desonestos?
Não fiz as contas. Há muitos romances que não me interessam absolutamente nada e paro a leitura a meio, são uma chatice. Há outros que gosto de ler. Mas nem todos têm de ser geniais. Nem tudo o que lemos tem de ser comparável a Camilo.

Ainda é actual a frase do ilustre vate Camilo quando este dizia que «os portugueses não se ajeitam com o romance»?
Acho que há uma herança confessional na ficção que é capaz de atrapalhar um pouco, sim. Mas o José Cardoso Pires não tem nada a ver com isso, nem o Nuno Bragança, a Maria Velho da Costa, o Mário de Carvalho, a Hélia Correia... Sim, o Mário de Carvalho é um dos nossos melhores escritores. «Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde» é uma obra-prima.

José Luís Peixoto é um exemplar honroso da nova geração de escritores?
É. E eu gosto que ele tenha sucesso. Ele é um tipo muito profissional, muito atento, sério naquilo que faz. Com uma dedicação extraordinária à literatura, ou ao seu trabalho. Isso acho comovente.

E o Senhor Gonçalo M.Tavares: entra na categoria dos génios ou é apenas um metro-criador, um rei em terra de manetas?
É o Gonçalo. Puramente, é o Gonçalo, o que já não é pouco. As pessoas hoje dizem: ah, ele descobriu uma receita e tal... E depois? O que fizeram essas pessoas de tão original para se porem em bicos de pés e criticarem o Gonçalo na base da pura inveja? Que ele é um escritor obsessivo? Sim, e depois? É um coleccionador de obsessões, como diria o Herberto Helder, e isso é bom. Tenho uma grande ternura pelo Gonçalo, como pessoa, acho que é um tipo muito simpático, e alguns dos seus livros são muito, muito bons. Têm inveja dele, da sua capacidade de trabalho? Puta que pariu. Trabalhem, esforcem-se, passem noites em branco.

O Francisco leva a Literatura a sério, como ofício, ou é apenas um executante lúdico?
Sou um profissional. Conto histórias nos meus livros. É esse o meu trabalho. Escrevo.

Lisonjeia-o chamarem-lhe o Montálban português?
Muito. Gostava muito do Manolo, que era um homem culto, livre e trabalhador.

Qual foi a crítica mais bem metida que lhe fizeram?
Bem metida, não sei, mas nunca a esqueci. Um dia perguntaram ao Vicente Jorge Silva que livro ele tinha abandonado a meio. Ele disse um dos meus. Ele pensou que eu tinha ficado melindrado e acho que me evitou por isso. Mas até lhe agradeço, porque às vezes precisamos de levar para trás. Tem efeitos benéficos para o carácter.

E a mais injusta e traiçoeira?
Deve ter havido, mas não me lembro e estou a ser completamente sincero.

Tem inimigos (e agradece-lhes por o ajudarem na carreira)?
Tenho inimigos, claro que sim. Mas não me ajudaram.

Nunca teve ambições políticas e estadistas?
Não. Dar-me-ia mal com o papel. Há gente mais talhada, gente mais disciplinada. Para isso é preciso gente disciplinada, muito rigorosa, muito fria. Eu não sou disciplinado, frequentemente admito que não tenho razão, não teria paciência para me levantar cedo todos os dias.

Acha esse território do incurável?
Não. Devia ser um território nobre, respeitado e honrado. Infelizmente, faltam-nos pessoas decentes. Temos ambiciosos, furões, desenrascados, geniais, etc. Mas precisamos de gente decente na política. Não é pedir muito. Gente decente. Damo-nos mal com isso. Gostamos muito de pantomineiros na política.

A passagem pela Grande Reportagem também lhe criou embaraços públicos como a Miguel Sousa Tavares, que por cada editorial fazia um novo inimigo?
Também ganhei alguns inimigos, sim, mas o Miguel tinha o seu próprio estilo...

Como se explica o fecho da GR (com morte lenta) quando era uma das publicações mais acarinhadas (e rentáveis)?
Pergunte à PT. Sempre achei que era um erro passar a revista a semanal (e saí na altura), mas a teimosia é de quem pode...

Leu a crónica do MST no «Expresso» passado? Revê o país naquela catástrofe?
Vejo alguma catástrofe, sim. Ao contrário do que pensa muita opinião satisfeitinha, que anda a pensar nos empregos do governo e na simpatia pelo poder, acho que os retratos das ruínas e das catástrofes têm um efeito positivo sobre nós. Essas vozes são úteis e importantes num momento em que anda tudo satisfeito: o governo, os editores, os políticos, os futebolistas. Precisamos de retratos feios do país, para que possamos mudar as coisas.

E leu o MST romancista? Apreciou?
Li. O Miguel tem um talento inato, que é o de contar histórias, o de as contar muito bem, o de escrever com velocidade, com ritmo. Isso é agradável.

Reconhece-lhe parecenças com o Raul Brandão (e vagamente um Eça tardio), como disse o Vasco Graça Moura na apresentação de «Rio das Flores» ou essa comparação é uma boutade?
Não faço ideia. Mas não vejo Raul Brandão lá.

Precisamos de um motim, uns O'Neill, uns Zeca Afonso, uns Pachecos (Luizes) para agitar a barca?
Vamos dar tempo ao tempo. Se calhar nós havemos de ser capazes de agitar alguma coisa. Não com aquele brilho do O'Neill, mas enfim, alguma coisa se há-de arranjar. Eu acho, volto a repetir, que precisamos de gente decente. De economistas decentes, de professores decentes, de arquitectos decentes, de gente normal que acredite na importância e no valor do que faz. E que sejam atrevidos.

Acha que a sua geração fracassou?
Não me parece. Ainda é cedo para avaliar - mas não sei bem quem é a minha geração porque me sinto mais perto dos mais novos do que eu. Mas a geração da blogosfera, esta que está aí, tem gente notável, que escreve bem, que tem ideias, que perdeu o medo. Espero que não se deixe instrumentalizar pela política imediata, porque há lá gente interessante e atrevida.

Entrevista de Tiago Salazar
in Revista Magazine Artes, n.º60 – Março 2008


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Blog # 55

Ontem de manhã circulava no YouTube um vídeo que mostrava a agressão de uma aluna a uma professora na ES Carolina Michäelis, no Porto; segundo entendi, ela tinha retido o telemóvel da estudante, que protestava, gritava e sacudia com violência a professora. Os alunos (sobretudo elas, mais sensatas, mas poucas) demoraram 1m20s a reagir, tentando convencer a colega e largar a professora. À tarde, o autor do vídeo retirou-o do YouTube; enquanto gravava a agressão e a gritaria, ia dizendo “altamente” e pedindo aos colegas para saírem da frente – ele queria gravar e estava deliciado com “as cenas”. Intitulou o seu filme “9.º C – Altamente”. Esta rapaziada do 9.º C forma uma grande turma que não tem vergonha na cara porque o País inteiro também não tem, desculpando os coitadinhos dos adolescentes, que não podem ser contrariados nem sujeitos às mais elementares regras de disciplina e civilização. Gostaria de saber quanto tempo que vai demorar o processo disciplinar.

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março 20, 2008

Blog # 54

Ninguém pediu a José Sócrates para reformar o País, é verdade. Lembrem-se da campanha eleitoral de há três anos e enumerem os apelos reformistas do actual primeiro-ministro. Quantos? Muito poucos. Não era despropositado – na altura, Barroso e Santana Lopes tinham destroçado o ânimo aos portugueses com o discurso sobre a tanga, cheio de ameaças e de promessas de castigo, com efeitos desastrosos. Sócrates limitou-se a prometer o essencial: que iria governar com competência, que as escolas abriam a horas e que o lixo seria recolhido. Coisas elementares. Para retomar a classificação de Agustina Bessa-Luís, ele seria o ‘homem comum no poder’. Mas Sócrates não contava com o País neste estado. Ao meter mãos à obra, teve de fazer o que se vê; para efeitos políticos, a Direita ficou de mãos a abanar: tudo o que defendera, Sócrates fez. Resta-lhe muito pouca margem de manobra, mas falta-lhe sobretudo inteligência para não parecer órfã de si mesma, abandonada à má-sorte.

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março 19, 2008

Blog # 53

Hoje, 19 de Março, a partir das 18.30, vai realizar-se uma vigília diante da embaixada da China. O objectivo é o de chamar a atenção para as “violações sistemáticas dos direitos humanos” – dito assim, não faço mais do que repetir os textos das agências noticiosas, encarando o problema como uma relativa anormalidade. Não é. É uma anormalidade de base, profunda e brutal, que não tem a ver apenas com a repressão e a violência agora usada no Tibete – o historial é enorme, vasto, perde-se na história do império e do comunismo chinês. Dirão que se trata de uma “questão cultural” que deve ser resolvida pelos próprios chineses, o que é de uma hipocrisia insustentável. O capitalismo perdoa aos chineses todas as perversões cometidas, em nome do mercado; alguma esquerda perdoa à China todos os desvios em nome de um realismo incalculável. Os Jogos Olímpicos, até agora, têm sido cenário de grandes cedências e de grandes hipocrisias – mas nenhuma ultrapassa as de Pequim.

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março 18, 2008

Blog # 52

O governador de Nova Iorque demitiu-se do cargo por ter "requisitado" (é este o termo, parece, como se fosse uma questão de almoxarifado ou economato) "os serviços de uma prostituta". Não é novidade. Bill Clinton foi perseguido por causa da sala oval, e uma notável série de senadores e políticos americanos ficou já presa pelas virilhas em episódios mais redundantes do que o facto de haver homens e mulheres no mundo. A vida sexual dos políticos é uma questão pessoal e privada e os políticos têm o direito de mentir ou de não falar sobre essa matéria, como qualquer outra pessoa, a menos que incorram em crimes puníveis pela lei geral. Não sei se governador incorreu em algum dos crimes previstos pela lei geral, mas decerto conhecia as regras (escritas e orais) do sistema. Já há algum problema quando uma pessoa se põe em bicos dos pés numa cruzada moral contra a pornografia e a prostituição e depois é apanhado na contramão. Nesses casos, dá gozo assistir ao espectáculo.

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Medeiros Ferreira diz no seu blogue que "os franceses acabam de avisar Sarkozy de que não foi para isto que o elegeram há um ano". É verdade. Com Sócrates passa-se o mesmo. Em 2005 ele não foi eleito para mudar Portugal mas para dar paz de espírito e bom viver às pessoas, aterradas com Santana Lopes. Mas a tentação é grande.

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Andámos na guerra? Isabel Pestana Marques relembra, em 'Das Trincheiras, com Saudade' (Esfera dos Livros) a vida dos militares portugueses durante a I Guerra Mundial.

Para tirar dúvidas: chama-se 'Atual: O Novo Acordo Ortográfico', o livrinho de Malaca Casteleiro e Pedro Dinis Correia, e diz, linha a linha, o que vai mudar na nossa ortografia. Fundamental.

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FRASES

"A segurança tem uma dimensão objectiva e uma dimensão subjectiva." Rui Pereira, ministro da Administração Interna, ontem no CM.

"Qualquer pessoa pode dizer o que pensa, desde que pense nos limites do permitido. Caso contrário, será banida dos media."J. Pinto e Castro no blogue 5 Dias.

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março 17, 2008

Blog # 51

Parece que o PS vai tentar meter-se com os 'piercings', proibindo o seu uso, bem como o de tatuagens, por menores de 18 anos. É uma bela tentativa, digo-vos eu, que detesto 'piercings' e acho o excesso de tatuagens uma infantilidade grotesca. Mas, se eu fosse interpretar o "bem comum" ('piercings' e tatuagens podem ser perigosos e são esteticamente questionáveis) e transformar "os princípios" em lei, não havia código civil que bastasse. Isto não assusta os que pensam que a sociedade precisa de regras que nos levem ao paraíso na terra. O mundo andaria "melhor" – estaríamos vigiados e haveria sempre gente para nos obrigar a escolher o caminho da vida saudável. Nas utopias e nas repúblicas utópicas, havia disso: horas de rezar, de trabalhar e de gozar. No papel, esse mundo era quase maravilhoso – mas na "vida real" era uma antecâmara do horror. Curiosamente, não por causa dos "maus" – mas por causa dos "bons", que se transformaram em déspotas grotescos e tiranos.

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O problema das quotas do PSD ameaça passar de um episódio da intendência partidária para se transformar numa batalha de trincheiras. Não se pense que tudo se pode reduzir a um euro por mês – à razão de uns milhares de militantes. Ninguém suspeitaria que ficava tão barato gerir um partido. Por isso Menezes quer acabar com elas.

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No dia do primeiro concerto em Lisboa, o livro de Tony Carreira, 'A Vida que Eu Escolhi' (textos de Rui Miguel Brás, edição Bertrand), já tinha registado 45.000 exemplares encomendados.

Pode ser que através do romance nos chegue outra visão da vida dos portugueses em África. Acaba de sair 'O Último Ano de Luanda', de Tiago Rebelo (edição Presença).

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FRASES

"Como as coisas estão no Benfica, mais vale um departamento médico do que uma bola de futebol." Rui Rangel, ontem no CM.

"Toda a gente mente sobre a sua vida sexual. Os motivos são louváveis, discutíveis, mas sempre compreensíveis." Pedro Mexia, no blogue Estado Civil.

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março 14, 2008

Blog # 50

Não é difícil estar de acordo com as declarações do bastonário dos Advogados, Marinho Pinto, sobre o novo mapa judiciário português: os tribunais são órgãos de soberania e a sua presença deve ser reforçada e não abandonada, seja onde for. O ideal seria que houvesse um tribunal por cada sede de concelho, apesar da tentativa de economizar meios e fundos, agregando várias comarcas. Já é outra coisa a sua explicação sobre o regresso a "formas muito primitivas de administrar a justiça" – a "justiça pelas próprias mãos". Para Marinho Pinto, a tendência para fechar tribunais leva a que "as pessoas fiquem desprotegidas e com tendência a fazer justiça pelas próprias mãos". Pode parecer ridículo, mas tem um fundo de verdade. Não em relação aos tribunais, em geral, mas em relação ao Estado, que abdica das suas funções. Ou seja, o Estado começa a tratar o país com a argúcia de um gestor de salvados: cortar aqui e ali, para salvar a pele. A sua, que é fina, não a dos cidadãos.

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A ninguém escapou a tentativa de o Ministério das Finanças ganhar tempo e juros com a dilatação dos prazos de reembolsos de impostos. Há um mês, outro ministério teve a tentação de fazer o mesmo em relação às pensões dos reformados, pagas em prestações. O Ministério desmente. Mas não se importaria nada, se não fosse apanhado.

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Título sedutor, certamente, mas não levem à letra: 'O Último Minuete em Lisboa', de Fernando Venâncio (Assírio & Alvim) reúne ensaios sobre literatura portuguesa e é lançado ainda este mês.

Comedia negra, verdadeiramente: 'A Loja de Suicídios', de Jean Teulé (Guerra & Paz), um romance sobre uma loja que vende tudo para as pessoas cometerem suicídios. Divertido e inusual.

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FRASES

"O facto de existirem prazos-limite para o pagamento de reembolsos não significa que esses prazos sejam esgotados."Ministério das Finanças, ontem no CM

"A esquizofrenia dos avanços e dos recuos existe, mas é o próprio PS um dos grandes responsáveis por este estado psicótico."Sofia Loureiro dos Santos, no blogue Defender o Quadrado

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março 13, 2008

Blog # 49

O porta-voz do PS, Vitalino Canas, descobriu um princípio que, a ser seguido por todos os portugueses, aumentaria a nossa auto-estima até níveis de grande esplendor. Cito da imprensa as suas doutas palavras: "Quando se fazem balanços é, certamente, para realçar aquilo que se fez bem. E, foram tantas as coisas que fizemos bem, que não temos de perder tempo com o que fizermos mal." Vitalino Canas, que há tempos se declarou uma espécie de George Smiley, o personagem silencioso, discreto e amargurado de John Le Carré, vai chegar longe na vida e há-de registar êxito atrás de êxito, até não caber mais em si. É certo que o seu papel é precisamente esse: o de anunciar a salvação do mundo e as boas notícias para os socialistas – e o de reduzir as críticas à dimensão mínima. Tão bem cumpre o seu papel que a sua credibilidade está reduzida a quase nada – ele diz uma coisa, seja sobre o que for, e ninguém acredita. Esse é o motor do seu sucesso. John Le Carré ia adorar.

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O Vaticano aumentou o número de pecados mortais: 13, um número susceptível. É um esforço de actualização ou de especialização? No judaísmo há 613 mandamentos, uma lista longa. Ora, tudo se devia reduzir à frase do rabino Hillel, do séc. I: "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti, o resto são comentários."

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Sai ainda esta semana o admirável romance do chileno José Donoso, 'Casa de Campo' (edição Cavalo de Ferro). Não perca.

Carlos Leone interroga a esquerda e a tentação antidemocrática em 'O Socialismo Nunca Existiu?' (edição Tinta da China). A esquerda para lá da revolução.

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FRASES

"Os pecados tradicionais, apesar dos seus mais de quinze séculos, continuam actuais."D. Carlos Azevedo, porta-voz dos bispos, ontem no CM

"Afinal, a liberdade em Portugal não deve nada a Álvaro Cunhal? Diga lá, Jerónimo. Surpreenda-
nos, vá."Fernanda Câncio, no blogue Cinco Dias.

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março 12, 2008

Blog # 48

"Chegou, empurrou a porta com força e deitou o meu irmão [José Torres] ao chão." Ele tinha sido "um pouco bruto", diz a crónica do crime de Boticas, publicada ontem neste jornal. O que fez então José Torres, de 78 anos? Conta a própria irmã: "Com os nervos foi buscar a pistola e disparou." Atingiu o outro com dois tiros no coração. O leitor passa por esta história e não lhe encontra o sabor da "criminalidade urbana" que atinge os subúrbios e as noites de Lisboa e do Porto; é um homicídio de vinganças antigas, no intervalo de um jogo de futebol – mas hoje mata-se mais, mais friamente, com o sentido da banalidade muito apurado. Há umas semanas, depois de ter disparado por duas vezes um revólver contra o peito de um antigo amigo com quem andara a jogar à bola da vizinhança (depois, as namoradas separaram-nos), o rapaz olhou à sua volta e perguntou: "Queriam que eu fizesse o quê?" Não é a imagem de um país, mas ajuda a compor o retrato com cores vivas. Ou mortas.

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O ministério da Educação quer disciplina, clareza e rigor na avaliação dos professores. Faz bem. Pode começar por explicar por que razão numas escolas se ensina a TLEBS, noutras se abandonou a TLEBS e noutras, ainda, se fala na TLEBS com intervalos. Chama-se a isto ensinar mal. Podíamos começar a avaliação pelo ministério?

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É uma das novidades da temporada. Quem vai assinar o prefácio do livro de Yasmin Reza sobre Nicolas Sarkozy (edição Quasi)? Tremam de comoção. É Luís Filipe Menezes, que já está a ler o livro.

Não percam, não percam: 'Ela e Outras Mulheres', de Rubem Fonseca (edição Campo das Letras), o melhor da língua portuguesa.

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FRASES

"A divulgação de rendimentos não fere a privacidade das pessoas."Ana Drago, deputada do BE, ontem no CM.

"As declarações de Paulo Bento, depois da saída de Camacho, só tornam mais risível a sua continuidade no Sporting."Pedro Sales, no blogue Zero de Conduta.

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março 11, 2008

Blog # 47

É certo que se trata de futebol, assunto a que se deve dar um crédito de noventa minutos. Mas a forma como José Antonio Camacho se despediu na noite de domingo foi honesta e serena; além disso, foi também uma lição de dignidade. Poucos poderiam fazê-lo desta forma, sem atirar culpas para cima de outros ou sem mencionar “as condições” (que, como se sabe, quase nunca estão reunidas no nosso país). Camacho já tinha estreado uma nova forma de justificar alguns resultados do seu clube ao mencionar que “a bola não entra”, uma evidência indesmentível que não era apenas candura – era também verdade. Desta vez, no seu adeus ao Benfica, Camacho disse mais coisas evidentes: que não conseguiu entusiasmar os jogadores, que eles andavam desanimados e que era melhor contratarem outro treinador. Dito assim, o assunto deixa de ser futebol e passa a ser matéria de carácter. Comparando com o que se diz nestas ocasiões nos nossos estádios, resulta que Camacho é um cavalheiro.

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Luís Filipe Menezes tem uma tese curiosa sobre o seu lugar na política e no coração dos portugueses: o povo ama-o e votará nele, na proporção inversa à crítica que recebe das “elites” e da imprensa. Mas convém não confundir coisas que são distintas. Um exemplo? O povo aprecia pantomineiros, mas não gosta deles no Governo.

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março 10, 2008

Blog # 46

O passado é uma armadilha e invocá-lo como garantia de pureza democrática é porta aberta para a desgraça. Parece que uns arruaceiros chamaram “fascista” ao ministro Santos Silva. Coisa imbecil. Mas o ex-sociólogo Santos Silva, o mesmo que anunciava um golpe de estado caso Cavaco ganhasse as eleições, tentou ali separar as águas, falando dos heróis da liberdade em 1975, como Soares, Alegre ou Zenha. Nesses anos, Santos Silva queria com toda a certeza uma ditadura do proletariado e, quanto a esses homens, deve tê-los insultado, como era da regra. Maria de Lurdes Rodrigues, a actual ministra da Educação, era, nos finais da década de oitenta, redactora da revista ‘A Ideia’, de “cultura e pensamento anarquista”, e na época devia pensar o contrário daquilo que hoje propõe. Os arquivos estão cheios desses textos. Não vem daí grande mal; as pessoas evoluem, às vezes melhoram, ou basta que mudem. Mas é pena que conservem, lá no fundo, os tiques da época.

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Nada contra a linguagem especializada ou académica, mas custa a acreditar que o prof. Mário Pinto, da Universidade Fernando Pessoa, não tenha encontrado melhor título para um estudo sobre Agustina Bessa-Luís do que ‘Da Plurivocidade Vocabular em Agustina aos Galimatias do Medialecto’. O livro é lançado por estes dias.

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Até 2028, o espólio literário de António Lobo Antunes estará em Torres Novas, num "contrato de comodato" com a Câmara local. Daqui a vinte anos se verá.

'O Código do Alquimista', de Philip Kerr (edição Asa), é uma das boas novidades na ficção de fim-de-semana. Um romance a escolher para o próximo sábado.

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FRASES

"Vou deixar as pessoas completamente perplexas." José Sá Fernandes, vereador da CML, ontem no ‘CM’

"Não tirar a lição política devida para não ceder à ‘rua’ é alimentar a ‘rua’..." João Tunes, no blogue Água Lusa

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março 07, 2008

Blog # 45

A UE pretende cercar o Liechtenstein, o Mónaco, Andorra ou a Suíça. Não com militares, mas com “medidas fiscais”, porque parece que há muita gente que coloca lá o seu dinheiro, fora do alcance dos caçadores de impostos. A Europa pensa, ainda, que é o centro do Mundo e que pode controlar o resto do universo a partir de Bruxelas. Em questão estão os impostos sobre a poupança, e haverá mais uma directiva europeia. Os cavalheiros esquecem o essencial: é da natureza humana fugir-lhes. Que cerquem a Suíça ou o Liechtenstein e aparecerão outras ilhas no meio do deserto: em Singapura, em Hong Kong, na Tailândia ou na Indonésia, onde o mundo do dinheiro está a mudar-se a uma velocidade maior do que em Bruxelas. Claro que há “grandes fortunas” e “grandes negócios”, mas um dia os europeus – quando se lhes acabar o “estado social” – vão perguntar-se o que faz a Europa com os seus impostos. Com os meus e os seus. Para onde vai esse dinheiro? Não haverá directiva que os salve.

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Rajoy e Zapatero devolveram a Espanha à Guerra Civil. Ou seja, à sua memória, às suas exclusões e aos seus traumas. O sorriso acrílico de Zapatero e a falta de senso de Rajoy parecem fascinar os apostadores de sondagens mas deixam atrás de si um deserto. Estão bem um para o outro e fazem ter saudades de Felipe ou até de Aznar.

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Literaturas de África: veja-se ‘Hinyambaan’, do moçambicano João P. B. Coelho, uma ‘novela burlesca’ (edição Caminho) com sul-africanos a viajar em Moçambique.

Mário Beja Santos recorda a sua guerra em ‘Diário da Guiné, 1968-1969’ (Temas e Debates). Para quem esteve lá, é um documento. E para quem não, é um retrato.

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FRASES

"Um assassinato em Lisboa ‘é um caso isolado’ e um acidente no Porto é uma ‘suspeita de crime’" Rogério Gomes, ontem no CM

"Um suicida suicida-se e depois de suicidado continua a suicidar-se. Tudo num total de três facadas" Joana Carvalho Dias no blogue Hole Horror

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março 06, 2008

Blog # 44

Basta atravessarmos uma ‘onda de crimes’ para logo aparecerem estudos que garantem que a criminalidade não aumentou. Tiro e queda, salvo seja. Anteontem, como se esperava, lá foram apresentados os números de mais um ‘observatório’ que tem ‘acompanhado a situação’. A fase seguinte seria, logicamente, encabeçada por uma douta reflexão sobre a necessidade de não reagir ‘a quente’. Foi por isso que o ministro da Justiça anunciou que confia na Polícia Judiciária e que se prepara mais legislação. Esse é um golpe baixo, caro Alberto Costa. Mais legislação? Os bandidos estão encurralados. Com essa novidade, eles tremem, do Minho ao Algarve. Mas há uma terceira reacção; ainda não apareceu à luz do dia, mas calculo que se prepara: um sociólogo, ou equiparado, virá dizer que a culpa deve ser atribuída à imprensa, que dá espaço a mais aos crimes que têm vindo a correr. Nessa perspectiva, a imprensa não deve pingar sangue; devia, para proteger as instituições, pingar mentira.

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Apesar de tudo, o líder do PSD declarou isto com ar sério: “O PSD ainda não merece ser Governo, o PS já não merece ser Governo.” Entre uma coisa e outra, fica ali um espaço para preencher. É aquilo que Menezes chama “um vazio complicado”. Está a ser optimista. Na verdade, é esse o estado geral do País desde há uns tempos.

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A jornalista Anabela Natário começou a publicar (no Círculo de Leitores) a série ‘Portuguesas com História’ – retratos de mulheres ilustres. Muito bem escrita. Já saíram os dois primeiros volumes.

Fundamental: ‘Os Homens do Terror’, de H. Magnus Enzensberger (Sextante), ensaio sobre o terrorismo contemporâneo.

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FRASES

"Não temos carros-patrulha para nos deslocarmos aí." Agente da PSP depois de um assalto, ontem no ‘CM’

"Ou o PS faz uma demonstração de rua que deixa o País de boca aberta ou é o PS que fica de boca aberta." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas

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março 05, 2008

Blog # 43

Parece que vai nascer um novo partido “entre o PS e o PSD”, “humanista” e que “quer estar ao centro”. O seu líder, Rui Marques, diz que quer oferecer aos portugueses uma “política da esperança”. Convenhamos que não é muito original – a ideia é baralhar o ‘centro’, que já anda confuso e espatifado e cheio de patifes. O projecto do Movimento Esperança Portugal integra-se naquele conjunto de iniciativas cheias de boa vontade e de ingenuidade que todos os cardiologistas gostariam de ver a contaminar a sociedade. Felizmente, a política não se fez para quem quer conciliar os portugueses e fazer-lhes ver o caminho da alegria – para isso existem o futebol, a psicanálise, o sexo e até a religião, entre outras coisas. A política é um mundo complexo cheio de compromissos, descaramento e gente de mau-feitio. É nessas coisas que acreditamos. Quando ofereceram o poder ao Mestre de Avis, explicaram-lhe: prometa o que não pode, ofereça o que não tem e perdoe a quem não o ofendeu. Aprendam.

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Há uma sensação de perda com a morte de Maria Gabriela Llansol. Pelos seus textos, pelo seu afastamento, pela sua distância em relação ao mundo. Não sendo ficcionista nem romancista, Gabriela Llansol era prosadora. Tinha uma ideia da prosa, do sentido e da escrita. Estava para lá do romance. Quis transformar a prosa em poesia.

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Livros para o próximo fim-de-semana: para já, o romance de Jonathan Coe, ‘O Círculo Fechado’ (edição ASA), um retrato da Inglaterra de hoje.

E o novo livro do espanhol Antonio Muñoz Molina, ‘O Vento da Lua’ (edição Casa das Letras), uma visitação à adolescência dos anos 60.

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FRASES

"Muitas vezes até há pessoas próximas que se matam." João de Sousa, ex-PJ, ontem no CM

"Qualquer pessoa que dê pontapezinhos em Don DeLillo podia facilmente ser meu amigo" Rogério Casanova, no blogue Pastoral Portuguesa

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março 04, 2008

Blog # 42

O estado do PSD começa a dar pena – não é que ele não se mova; o problema é que quase tudo se encaminha para a catástrofe, repetindo a desgraça que foi a penosa campanha de Santana Lopes contra José Sócrates. Outros tempos. O primeiro passo foi a guerra contra as ‘elites’; o tema era justificável porque as ‘elites’ estavam amodorradas, tinham empregos e preparavam-se para assassinar Marques Mendes quando lhes desse mais jeito e houvesse oportunidade de regressar ao poder. Até aí, compreendia-se. O segundo passo foi entrar na sede do partido e concluir que não bastava ganhar as directas e matar ‘as elites’; surpreendentemente, era preciso mais, mas Santana Lopes não é o suplemento vitamínico de que Menezes precisava. Como em muitas outras crises, o remédio são ideias, projectos, objectivos. Ouvindo bem o PSD, não se descortina um. Há umas frases. Algumas delas têm sujeito, predicado e complemento directo. Mas vendo bem, referem-se sempre a coisas diferentes.

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D. José Policarpo acaba de provocar uma revolução, mas poucos o ouviram: o cardeal-patriarca de Lisboa pede que a Bíblia passe a ser lida nas igrejas e deixe de ser encarada como “um exercício individual”. Até ao século XVIII a Igreja queimava os leitores da Bíblia, culpando-os de heresia; talvez venha atrasada, mas enfim.

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O livro chama-se ‘Boris Bajanov e a Condenação de Estaline’ (ed. Guerra e Paz) – fundamentalmente, são as memórias do secretário do ditador até 1928, quando fugiu para o Ocidente.

Para quem gosta de James Ellroy, vale a pena ler ‘A Cidade Inquieta’, de Brian Freeman (ed. Presença): um policial frio, cruel, cheio de crime.

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FRASES

“Queria fazer de filho da mãe” Ricardo Carriço, ontem no CM

"Rui Costa e Camacho festejaram ontem o empate com o quinto classificado do campeonato” Rodrigo M. de Deus, no blogue 31 da Armada

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março 03, 2008

Livrarias, essas ilhas de sossego

A mais bela biblioteca que conheço é a Athenaum, em Providence, nos Estados Unidos. A preferência não tem a ver com o espaço arquitectónico, com o acervo de livros, com a grandiosi­dade — que, aliás, não tem. A Athenaum era a biblioteca de Edgar Allan Poe, que a procurava para, nas horas de tristeza, se refugiar na leitura e na sombra das estan­tes de madeira, num dos recantos do cor­redor do segundo andar. Há outro moti­vo, eu sei: a Athenaum (que é uma das primeiras bibliotecas americanas) não de­pende de subvenções públicas, do apoio do Estado ou da generosidade dos políti­cos – sobrevive graças ao entusiasmo dos seus membros, que pagam uma quota anual que permite fazer dela uma das mais fascinantes bibliotecas do mundo.

Mas não era de bibliotecas que eu gostaria de falar — embora, em viagem, eu visite algumas por curiosidade e por pra­zer e, até, por necessidade. Desta vez, lembro um dos locais que sempre pro­curo em cada viagem: as livrarias.

O jornal inglês The Guardian elabo­rou, no princípio do ano, a lista das dez mais belas livrarias de todo o mundo. Quase todas merecem visita, como a Selexyz Dominicanen, em Maastricht, na Holanda - instalada na grande nave de uma igreja dominicana. Em segundo lu­gar, evidentemente, a grandiosa e belís­sima Ateneo, uma das minhas livrarias de eleição, em Buenos Aires, a meio da Avenida Santa Fe, instalada num antigo teatro, cuja pla­teia, palco, camarotes e tribunas manti­veram o esplendor de glória dos seus dou­rados e veludos, mas agora atravessados de estantes onde se circula livremente à procura de um romance, de um livro de versos, de um guia de viagem. A lista tem preciosidades como a Secret Headquarters, em Hollywood; a maravilhosa Borders, em Glasgow, instalada num edifício monumental; a minúscula Scrathin, em Cromford, no Derbyshire inglês, muito campestre, numa casa de campo, prati­camente; a Posada, em Bruxelas, paredes-meias com a Igreja de Santa Madalena, num dos mais encantadores percursos históricos da capital belga; a fantástica Pêndulo, na Cidade do México, onde me perdi várias vezes entre livros, plan­tas, aromas de café, conversas com os seus excelentes livreiros. Estão também na lista a Hatchards, de Londres, e a Keibunsya, em Tóquio.

Omiti deliberadamente a Livraria Lello, do Porto, que o jornal classifica em terceiro lugar na lista – com as suas esca­darias monumentais, os seus tapetes e es­tantes, a sua tranquilidade, o seu magnífi­co fundo editorial e a gentileza do seu atendimento. A presença portuguesa nessa lista apenas nos honra e devia em­prestar-nos um pouco de orgulho e de en­tusiasmo no gosto por livrarias.

Geral­mente, perco-me em várias delas, em Madrid, Nova Iorque, Dublin (a inesque­cível Books Upstairs), Casablanca, Bue­nos Aires, São Paulo (a Cultura), Jerusa­lém, Londres, ou no Rio de Janeiro, onde (além dos alfarrabistas do Flamengo) sou cliente certo da Livraria da Travessa, em Ipanema – que além de possuir um catá­logo surpreendente, tem um restaurante que funciona, praticamente, como meu escritório. Almoço, janto e marco lá os meus encontros e reuniões para aquelas mesas civilizadas e de excelente cozinha.

Costumo dizer que viajar é ganhar sempre uma nova identidade, coisa que se consegue entrando nos mercados e cafés de bairro das cidades que se visi­tam, comprando os jornais locais - e vi­sitando as suas livrarias. São expositores de um país, uma espécie de exemplo de como nós seríamos se lêssemos os livros que ali se lêem. Experimente. Mesmo que não saiba a língua local, um livro nunca faz mal. •

in Outro Hemisfério - Revista Volta ao Mundo - Março 2008

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Blog # 41

Aestação de serviço onde ontem à tarde meti gasolina tinha sido palco de tiroteio durante a noite. Um fulano vai tomar café e leva um tiro. Há tiroteios a mais, começa a haver homicídios a mais? Nisto, como em outras coisas, Portugal não tem estatísticas que no minuto seguinte não se desmintam – basta seguir a novela dos ‘números do crime’. Começam a ser preocupantes, mas as autoridades pensam que ficamos mais descansados quando relativizam a sua frieza. Ou não estavam incluídos os de carjacking, ou porque a PJ mudou de carrossel, ou porque a ‘pequena criminalidade’ era da PSP – há sempre um grão de areia a atraiçoar a estatística. Mesmo assim, de cada vez que uma onda de crimes sobe à primeira página dos jornais, aparece alguém a pedir “acção firme” ou uma “audição parlamentar”. Ou alguém a dizer que “isto é pior do que o Brasil”. A ideia de que Portugal era um paraíso com melros a cantar nas oliveiras já se foi. Resta pouco desse retrato. Tenham cuidado.

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Uma das características desta ‘revolta dos professores’ é a sua origem fora da órbita sindical. Seria uma pena se os sindicatos e o PSD passassem como promotores da onda de protesto. É que os sindicatos não querem dar um passo em frente; e o PSD é responsável por vários passos atrás. Ambos estiveram no poder. Deixaram marcas.

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Quinta-feira, na Casa Fernando Pessoa, é lançado o livro de Luís Carmelo, ‘A Expressão na Rede: O Caso dos Blogues’ (Magna Editora) com apresentação de Eduardo Pitta. A seguir, há debate sobre blogues com Carla Hilário Quevedo, Isabel Almeida Santos, Pedro Rolo Duarte e Vasco M. Barreto. É às 18h30. E promete.

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FRASES

- "Como ministro da Comunicação Social é um incompetente, não sabe o que anda ali a fazer" Emídio Rangel, sobre A. Santos Silva, ontem no CM

- "A lésbica inteligente passou o tempo a explicar à lésbica burra as minudências do filme. Até lhe explicou que Teerão era a capital do Irão" Ana, no blogue Ana de Amsterdam

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