abril 30, 2008

Blog # 83

Para Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite tem de estar precavida: não basta ganhar o partido, é preciso ganhar o país. Este aviso de Marcelo devia ter sido dado ao próprio Marcelo quando tomou conta do PSD. A razão é simples: tanto em Marcelo como em Manuela Ferreira Leite, o problema não é o da relação com o país mas, antes, o da vida difícil no próprio partido. Tanto um como o outro valem mais do que o PSD – coisa que não acontece com eventuais líderes (como Passos Coelho) ou epifenómenos de época (como Menezes, Jardim ou Santana). O problema de Manuela Ferreira Leite, justamente, não é o de se atrever a lutar pelo país, mas o de não conseguir chegar a esse combate depois de lutar com gente que não teria qualquer tipo de projecção pública se não fosse o carreirismo e o caciquismo dentro dos partidos. No restante, a candidatura de Manuela Ferreira Leite é uma das últimas hipóteses de credibilizar o PSD depois destes assaltos que o descaracterizaram.

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O objectivo do Estado não é a criação da felicidade, mas o de permitir a sua conquista. Por isso, o alcaide de Prado, uma pequena cidade chilena, nos mares do Sul, resolveu distribuir mensalmente quatro comprimidos de Viagra aos homens com mais de 60 anos. A ideia é melhorar "a qualidade de vida". Fazes bem, excelente alcaide.

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Stefan Klein, físico, biofísico e filósofo escreveu um livro no mínimo curioso: 'Como o Acaso Comanda as Nossas Vidas?' (edição Lua de Papel) Mais do que auto-ajuda, é um discurso sobre o destino e a matemática.

Depois de 'O Caminho da Serpente', que revelou Torgny Lindgren, acaba de sair 'A Última Receita' (edição Cavalo de Ferro). Lindgren é um extraordinário mágico da literatura.

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FRASES

"Aquando das autópsias, já os cadáveres se encontravam trocados." Juíza do Tribunal Administrativo de Coimbra, ontem no CM.

"A profusão de dispositivos de proximidade tecnológica roubou à vida o medo do adeus." Bruno Sena Martins, no blogue Avatares de Desejo.

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abril 29, 2008

Blog # 82

Parece que, em Moscavide, aconteceu o absurdo: um homem de 20 anos dirige-se à esquadra da polícia para queixar-se de uma agressão de que fora vítima. Uma pessoa espera sentir-se a salvo dentro de uma esquadra. Não foi o caso – os agressores entraram na esquadra e completaram o serviço com mais pancada à discrição. A ser verdade que isto aconteceu às portas de Lisboa, trata-se de uma bela encenação que merece uma explicação do ministro da Administração. Escrevo "a ser verdade" porque não me parece crível que dentro da esquadra estivesse apenas um agente, um solitário agente da polícia, incapaz de repelir o assalto de um bando de energúmenos. O comando da PSP de Lisboa explica que havia muitas pessoas na rua e que as temperaturas estavam elevadas – de modo que ficou apenas um agente na esquadra. É uma explicação confortável e aceitável. Quando chegar o Verão e houver ainda mais gente nas ruas de Moscavide, a esquadra vai ser entregue a um grupo de baile. Está na cara.

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António Cunha Vaz deu uma entrevista ao 'Público'. Diz que só iria para a política para mandar. O homem que ganhou o PSD para Menezes, e que a seguir desbaratou tudo, é apresentado como alguém que "os jornalistas temem". Temem? Desde quando? Porquê? Com que motivos? Quem são esses jornalistas que envergonham a profissão?

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É uma enciclopédia com listas de dez coisas: chama-se, por isso, 'Deciclopédia' (Tinta da China). Comprimentos de 10 pénis, 10 piratas famosos, 10 lugares mórbidos, 10 citações de Nietzsche, etc.

Saiu 'Rayuela. O Jogo do Mundo', de Julio Cortázar (Cavalo de Ferro). Não é preciso dizer mais nada.

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FRASES

"Insuficiência de acusação (...) Nem sequer se fez um despiste do contacto telefónico, para saber da utilização do mesmo."Tribunal da Relação sobre o processo de Franquelim Lobo, ontem no CM.

"Incrível como o Guimarães se deixou golear por 0-5, facilitando a vida ao Sporting e ao Benfica. Alguém devia investigar." Pedro Caeiro, no blogue Mar Salgado.

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abril 28, 2008

Blog # 81

Os liberais que desembarcaram na Praia dos Ladrões, na Areosa do Pampelido (ficaram para a história como ‘os bravos do Mindelo’), vinham dos Açores para ‘libertar Portugal’. Nas páginas da historiografia liberal, as ilhas permaneceram como uma espécie de reduto heróico de onde viria a redenção em momentos de crise. Depois da guerra civil e da ida de D. Miguel para o exílio, também os absolutistas encararam a hipótese de formar um exército para invadir o país a partir das ilhas; a dúvida é se o quartel-general seria nos Açores ou na Madeira. Para Alberto João Jardim não há lugar a dúvidas: é da Madeira que deve partir o exército para lutar contra a ‘candidatura do regime’ de Manuela Ferreira Leite. Para o efeito, como acontecia a cada passo com os generais, os príncipes proscritos e até os sargentos de milícias, o líder madeirense já dirigiu uma exortação ‘às bases do partido e aos dirigentes patriotas’. É certo que ainda lhe falta o exército, mas o discurso é de graça.

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O presidente do Comité Olímpico Português defende que um boicote aos Jogos de Pequim é prejudicial para a China, para o povo chinês e para os atletas. Pode ser. Ontem, Vicente de Moura dizia que não haverá restrições à liberdade de expressão dos atletas em Pequim, "excepto na Aldeia Olímpica". Vão falar na Praça Tianamen?

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Hoje, a partir das 17h00, a UEP decide se participa na Feira do Livro de Lisboa. A APEL admite mudar o regulamento de stands.

Poesia holandesa: de René Huigen, ‘Esteves!’, traduzido por Fernando Venâncio – é o ‘Esteves sem metafísica’, de Álvaro de Campos (edição Assírio & Alvim).

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FRASES

"Normalmente somos bem qualificados a produzir legislação, por vezes muita, muitas vezes boa." Vieira da Silva, ministro do Trabalho e da Solidariedade, ontem no CM.

"A preocupação dos partidos com a questão dos jovens é essencialmente preocupação com a cacicagem." João Miranda, no blogue Blasfémias.

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abril 24, 2008

Blog # 79

Enquanto o País segue em frente, o PSD dilui-se numa pequena série de bluffs para nos alegrar a semana. Neto da Silva e Patinha Antão? Conhece-os? Alberto João Jardim, conhece-o? Uns por não serem conhecidos, outros por o serem de mais, não dão para candidatos a não ser neste ‘teatro cómico’ em que se transformou o partido. Ontem, os chefes do PSD do Porto e de Lisboa puseram A. J. Jardim na lista de hipóteses para a chefia do partido, lançando o isco às bases. Não vale a pena lembrar que arrebatar votos na Camacha ou em Porto Moniz não é a mesma coisa que ir buscá-los a Almada ou a Ermesinde. Começa a ser preocupante o suicídio desta gente, que se prepara para – se pudesse – destruir o PSD e transformá-lo num saco de gatos ou numa ninharia irrelevante, preparada para um cowboy vir tomá-la ao cair do pano. Infelizmente, o bom senso não se mete nos neurónios destes cavalheiros. Às vezes é preciso descer aos infernos para regressar renovado; mas descer até este ponto?

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abril 23, 2008

Blog # 78

Para todos os efeitos, o anúncio da candidatura de Manuela Ferreira Leite à presidência do PSD é um marco importante na história recente do partido, embora não lhe garanta nem a vitória antecipada, nem a vitória no dia das directas. Durante alguns anos o partido andou entregue ou a personagens menores ou a questões irrelevantes, desde o pagamento das quotas até às manigâncias das concelhias e ao atoleiro que representou a câmara de Lisboa. Comparada com Menezes, Ribau, Gomes da Silva ou Santana, Ferreira Leite é um clássico – e uma mulher, pormenor não menosprezável. Se Manuela Ferreira Leite ganhar a presidência do PSD esse pormenor deve ser valorizado, porque é um elemento transformador na política portuguesa, entregue a homens, cada vez mais aborrecidos, cinzentos e iguais na patetice. Até lá, no entanto, há várias etapas essenciais. A primeira é convencer o PSD de que o conglomerado das suas concelhias, ao pé do que pode ser o seu eleitorado, vale muito pouco.

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Há uma nova categoria profissional aí à solta: o especialista em corrupção. O assunto merece estudo, debate e tratamento. Convinha ler tudo o que se escreveu em Portugal sobre corrupção desde há dez anos – é material bastante para as polícias, está claro, mas também para os romancistas, para os psicólogos e para os humoristas.

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'As Têmporas das Cinzas' é o mais belo e o mais recente livro de poemas de A.M. Pires Cabral, publicado pela Cotovia. Oxalá saibamos merecer estes versos de excepção.

Imagine-se: Hélio Loureiro, o 'chef' portuense, publica um romance que chega às livrarias ainda esta semana: 'O Cozinheiro do Rei D. João VI' (edição Esfera dos Livros).

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FRASES

"Ferreira Leite é candidata com o apoio dos barrosistas [...] que não a deixaram ser líder quando o chefe foi para Bruxelas." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

"Falta o essencial: o corruptor também devia ser protegido se denunciasse o corrompido." Saldanha Sanches, ontem no CM.

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abril 22, 2008

Blog # 77

A ministra espanhola da Defesa, Carme Chacón, está grávida de sete meses e passa revista aos soldados, alinhados e em sentido. A imagem é nova e parece que serve de propaganda aos dotes fracturantes de Zapatero. Há quem se pergunte se a imagem faria sentido em Portugal, para rematar com um ‘não’ vivo e brutal, como se viéssemos das cavernas ou como se a Espanha tivesse criado a luz da civilização. O que não aconteceu, porque antes destas senhoras de Zapatero apareceram Margaret Thatcher ou Michele Bachelet. Suponho que, a haver uma ministra a fazer continência em Tancos, iríamos achar graça, como os espanhóis acham, e ficaríamos orgulhosos da nossa ministra. Seria uma revolução? Sim, mas a maior revolução seria reconhecer que depois de os socialistas aprovarem as quotas femininas, o Governo de Sócrates tem apenas duas ministras em 16 ministérios. Em França, com Sarkozy, há sete em 15. Na Finlândia, há 12 em 20. Somos um país de machos. Socialistas, mas machos.

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China mandou um navio para Luanda mas ordenou-lhe que, de caminho, parasse em Maputo ou em Durban para descarregar armamento ligeiro e ofensivo destinado ao Zimbabwe ainda de Mugabe, o nazi de Harare. Moçambique e a África do Sul recusaram-se a deixar entrar o barco, que há-de ficar em Angola, onde há eleições em breve.

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A Oficina do Livro ressuscita Enid Blyton, a autora dos Cinco e dos Sete, e publica ‘Regresso à Escola' numa série intitulada ‘Uma Rapariga Rebelde’.

Excelente reedição: a de ‘Expansão Quatrocentista Portuguesa’, de Vitorino Magalhães Godinho, em dois volumes (edição D. Quixote).

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FRASES

"Pacheco Pereira atéjá levou a banda filarmónica da terra ao Parlamento Europeu." - Habitante da freguesia da Marmeleira ontem no ‘CM’.

"No PSD prevalece o entendimento de que o partido não precisa de um líder, necessita de um messias." - J.M. Ferreira de Almeidano blogue Quarta República.

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abril 21, 2008

Blog # 76

Estava escrito que a direcção do PSD iria cair por causa de uma gota de água. Mas, ao contrário do que quer fazer crer uma parte dos comentadores e da própria direcção do partido, a culpa não deve ser atribuída às ‘elites’ ou aos ‘elitistas, sulistas e liberais’. Eles trataram o partido como um organismo fechado, voltado para dentro e para os azares internos, esquecendo-se de que o PSD verdadeiro não está nas concelhias e nas estruturas de baronatos – mas no eleitorado. Por mais agências de comunicação que contratassem, essa ideia não lhes entrou na cabeça. Mas há uma diferença entre uns milhares de militantes e vários milhões de eleitores. O PSD de Menezes preferiu falar para os seus militantes, inscritos para carambolas eleitorais internas, e não para os cidadãos que vivem pelo País fora. Não aprenderam nada com a campanha eleitoral de Sócrates, que pôs o partido na ordem mas sempre a falar para um auditório mais alto: os eleitores. É a diferença.

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No mundo do futebol, as piadas são cada vez mais fáceis. Veja-se a mais citada ultimamente, quando Luís Filipe Vieira pediu que chamassem a PJ para garantir a defesa do Benfica. Este fim-de-semana foi preciso chamar a PSP para defender a equipa dos adeptos do Benfica. Ou seja, Vieira enganou-se na corporação e nos agressores.

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FRASES

"Um general só deve ir à batalha se tiver tropas no Continente. Eu não tenho tropas no Continente." Alberto João Jardim, ontem no CM.

"Por este andar, o porteiro da sede do PSD vai ser candidato. Sócrates até já se dá ao luxo de aparecer mais socialista." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos

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abril 18, 2008

Blog # 75

O julgamento de Ferreira Torres, antigo presidente da câmara de Marco de Canaveses, promete cenas de comédia. A quantidade de factos relatados pela imprensa também promete desenlace adequado. É natural, diante desses relatos, que a opinião pública desconfie da inocência protestada por Ferreira Torres com aquela convicção feita de ardis, de ameaças e de apartes, de piadas e de insinuações. Para sermos justos, o tribunal ainda não julgou o autarca e a condenação antecipada, na rua, por mais indícios que estejam acumulados e por mais cenas de truculência de Ferreira Torres, é sempre prematura. Veja-se o caso de Fátima Felgueiras, que ainda está para durar – e que há-de contar com depoimentos de Sócrates e de outras figuras públicas. Os casos são diferentes: Fátima Felgueiras é uma dirigente política, Torres é um actor de bairro que maltrata a inteligência dos outros em espectáculos de segunda ordem. A história do "progresso da democracia" pela nossa província é um mistério.

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O Sporting-Benfica não foi um jogo português. Em 25 minutos de glória (quando o Sporting acelerou) foi explosivo. Os jogadores reabilitaram a magia do futebol e a sua dimensão metafísica: bastou que se elevassem um nadinha e já não era apenas a meia-final. Era um jogo de vida e morte. Belo e perigoso, como deve ser o futebol.

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A Guerra e Paz lança 'Os Meus Primeiros Anos', de Winston Churchill, uma autobiografia de Churchill entre 1874 e 1908. Do nascimento ao casamento.

O nome é 'Os Dias do Livro na Biblioteca Pública de Évora' – neste sábado, maratona de leitura entre as 14h00 e as 24h00. E no domingo, das 10.00 às 18.00 horas.

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FRASES

"Os corretores quando sujeitos a imagens eróticas arriscam muito. A culpa é das gajas. A crise do 'subprime' está explicada." Nuno Ramos de Almeida no blogue 5 Dias.

"O corpo [cadáver] esteve nas nossas instalações duas horas porque tivemos de cumprir preceitos legais."Comandante da GNR da Régua, ontem no CM.

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abril 17, 2008

Blog # 74

Parte do país que dá erros ortográficos em rol anda preocupado com o Acordo Ortográfico. Faz bem. É preciso que haja um choque para que acorde. O Ministério da Educação, há não muito tempo, publicava as mais estapafúrdias regras de correcção de um teste de Português, pedindo aos professores que não tivessem em conta os erros ortográficos (não sei como ninguém morreu de apoplexia). A televisão pública passa rodapés com erros de ortografia e sintaxe (tantos altos-comissários e altas-entidades e não aparece nenhuma a vigiar a ortografia na tv?). Há manuais escolares, autorizados pelo Ministério da Educação, com erros ortográficos. Os programas de português hostilizam ou menosprezam a literatura nas aulas. Se tivessem de ler todos os romances portugueses de hoje, os portugueses medianamente cultos do século XX corariam de vergonha – e só por causa da ortografia. É este país que hoje protesta por causa do Acordo Ortográfico. Digam lá se não há razões para desconfiar.

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A morte de Pedro Bandeira Freire deixa-nos mais tristes. Não apenas por ter sido o fundador do Quarteto, a mais emblemática sala de cinema do país, ou por ter sido argumentista de cinema. Pedro Bandeira Freire era, ele próprio, um personagem de filme – amável, divertido, cheio de histórias. A vida é assim, deixa-nos lembranças.

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São cinco-volumes-cinco: Joaquim Vieira coordena, com edição do Círculo de Leitores, uma grande fotobiografia do futebol. Sai a 12 de Maio próximo.

Diogo Mainardi, o mais plémico cronista brasileiro (na 'Veja') terá o seu não menos polémico romance 'Contra o Brasil' publicado em Portugal durante o próximo mês (edição Bertrand)

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FRASES

"Bush reúne-se com Bento XVI. Carter reúne-se com o Hammas. Faz sentido." Henrique Burnay, no blogue 31 da Armada.

"Quando passei na morgue e vi que lá estava grande parte do Benfica, melhorei e fui-me embora." Pinto da Costa, no CM de ontem.

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abril 16, 2008

Blog # 73

Não se compreende que tão pouca gente proteste, no PSD, contra o despautério em que andam os seus líderes. É uma acumulação de dislates sobre dislates, desde o carácter errático das suas propostas até aos ziguezagues sobre a comunicação social. No fundo, a história repete-se, mas de forma triste e, mais uma vez, sem glória. A primeira vez aconteceu com Santana Lopes, que teve a mais penosa campanha eleitoral de que há memória no PSD, com gripe, solitário e falando sobre "os colos" de Sócrates. Foi severamente punido pelo eleitorado. Luís Filipe Menezes acredita que está a remar contra as adversidades, que confunde com os "barões" do partido – mas não está. Está, sim, a remar contra o melhor do que podia ser o eleitorado do PSD, acreditando que os banhos de "popularidade" nas festas do partido valem mais do que a ponderação e a conquista de quem não milita nas concelhias dos aliados. Quando perceber que errou, será tarde demais. Já aconteceu, voltará a acontecer.

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Berlusconi ganhou as eleições em Itália e conseguiu maioria absoluta. O homem é um pouco tresloucado e tem tiques de circo italiano. Mas tem razão em muitas coisas. O que eu estranho é que a imprensa, desiludida, não tenha dado destaque ao assunto. Querem ver que não deixaram os jornalistas portugueses votar em Itália? Pode?

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Empreendimento no mínimo volumoso, acaba de sair 'Possessão. Uma História de Amor', Booker Prize de 1990 (edição Sextante) – com tradução de António Pescada.

A Teorema lançará em Maio a tradução portuguesa de 'Wild Ginger', de Anchee Min, a autora de 'Madame Mao'. Reserve o exemplar.

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FRASES

"É uma advertência deste tribunal, porque a bondade não se ensina." Juiz do caso Gisberta, ontem no CM.

"Estou sinceramente preocupado com o nosso Presidente. A esta hora está a jantar com um 'bando de doidos' na Madeira. "Carlos Botelho, no blogue Cachimbo de Magritte.

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abril 15, 2008

Blog # 72

O juiz do Tribunal de São João Novo, no Porto, deu uma reprimenda a Vítor S., um dos rapazes envolvidos no "caso Gisberta". Na época, Vítor teria 15 ou 16 anos e, segundo o tribunal, assistiu a tudo – não só à agressão como à lenta morte de Gisberta, ou Gisberto (o género pouco me importa) – pelo que foi condenado a oito meses de prisão efectiva. Vamos e venhamos: o caso é que o tribunal não provou o envolvimento de Vítor nas agressões; apenas sabe que assistiu; por isso, cobrará oito meses e, dos oito meses, retira quase dois, relativos a prisão preventiva já cumprida. Ficam seis. Eu não quero que Vítor seja injustamente encarcerado. Mas aflige-me que tenham agredido Gisberta, ou Gisberto, e a tenham deixado morrer e partam para outra. Rindo. O grau de desumanização e de violência é tão grande que não devíamos contar piadas sobre o assunto. Tem a ver com o grau de indiferença e frieza de que os rapazes foram capazes. Oito meses é capaz de soar a pouco, é.

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Lamento, mas quando leio coisas como "acordo ortográfico nunca", apetece-me rir. Às vezes, acrescentam coisas sobre "a nossa língua" ou "a nossa pátria". Nem uma coisa nem outra existem em estado puro. A luta contra "os brasileiros", então, é ridícula e mesquinha. Os portugueses escreverão como lhes disserem que escrevam. Ou não.

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Stefan Zweig de novo, e publicado pela Esfera dos Livros: 'Carta de Uma Desconhecida' e 'Vinte e Quatro Horas na Vida de Uma Mulher'. Aproveitemos a oportunidade.

É no final do mês de Maio, a 20, que será publicado 'Praça de Londres', o novo livro de contos de Lídia Jorge (edição Dom Quixote).

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FRASES

"Dêem-me um professor despedido por incompetência e façam de mim uma pessoa feliz."Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada

"Vi a cadela sair disparada do quintal e vir direito aos meus testículos. Mordeu-me e fiquei em pânico ao ver o sangue entre as pernas."Carlos Bragança, vítima de pit bull, ontem no CM.

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abril 14, 2008

Blog # 71

Mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Há pouco mais de uma semana, o PSD, pela voz do deputado Agostinho Branquinho, protestava pelo gasto de dinheiros públicos que representaria a contratação da jornalista Fernanda Câncio para um programa da RTP. Achámos melindre a mais. Tamanha preocupação ficava registada, mas devíamos desconfiar. E por que razão não se poderia contratar Fernanda Câncio, se é uma boa jornalista, com experiência na área temática do programa? Porque fica caro. Este fim-de-semana, Agostinho Branquinho foi desmentido pelo seu par Gomes da Silva, que garantiu que o argumento contra Fernanda Câncio assentava no facto de a jornalista "ter um relacionamento com o primeiro-ministro". Tamanho desvio na argumentação do PSD é grave. Mas mais grave do que isso é invocar esse "relacionamento" como motivo para os melindres do partido. É que Fernanda Câncio é mil vezes melhor como jornalista do que será alguma vez Gomes da Silva como político.

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Afinal, parece que a Procuradoria vai investigar o processo de Ricardo Bexiga, ex-vereador de Gondomar. Trata-se de uma notícia explosiva. As teorias da conspiração lembram que ao colocar no banco dos réus uma das testemunhas de acusação de um outro processo, estariam a desvalorizar essa acusação. Malhas que o império tece.

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Absolutamente fascinante – lê-se de um fôlego: 'A Ferver', de Bill Buford (edição Sextante), uma história deslumbrante e eufórica sobre o mundo da cozinha e da gastronomia. Leia já.

Viagens pelo melhor dos escritores de viagem: 'Viagem por África', de Paul Theroux (edição Quetzal), o autor de 'A Costa de Mosquito'.

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FRASES

"Hoje em dia a comunicação social e a opinião pública mostram forma transparente, de forma clara ao grande público quais são verdadeiramente as questões." Laurentino Dias, secretario de Estado do Desporto, ontem no CM.

"Um homem de 101 anos, Buster Martin, vai hoje correr a Maratona de Londres. Fuma, bebe, tem 17 filhos e ainda trabalha."Manuel Jorge Marmelo, no blogue Teatro Anatómico

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abril 11, 2008

Blog # 70

O Presidente da República acha que há uma "obsessão" das empresas "sobre o contínuo rejuvenescimento dos seus trabalhadores". A declaração merece ser retida – e aplaudida. Na verdade, não se trata apenas das empresas, em sentido geral. A ideia de "juventude" transfigura toda a gente mas ainda ninguém teve a coragem de dizer o óbvio, e o óbvio é isto: à juventude falta idade, bom senso e muito conhecimento e experiência. A "ideologia da juventude", ensinada desde cedo e difundida como se fosse uma obrigação inevitável, tem conduzido a erros de perspectiva pouco saudáveis. A sociedade portuguesa corre o risco de se transformar num jardim-de-infância onde nunca se passa da adolescência, enquanto se esconde os velhos e se desvaloriza a sua palavra. Daqui a alguns anos voltaremos à Idade Média, onde a esperança média de vida andava pelos 40 anos; a partir dessa altura devemos desaparecer por decreto para dar lugar a bandos de adolescentes decorados de piercings.

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A leitura do projecto da lei do divórcio do PS permite tirar uma conclusão: a partir de agora vai tudo andar direitinho, desde o casamento (os noivos já têm de informar o Fisco) até ao divórcio (a lei vai criminalizar desleixos e arbitrariedades e definir o que é cada uma das coisas). Só falta legislar sobre a vida conjugal.

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Não perca a exposição ‘Os Lugares de Pessoa’, que inaugurou anteontem na Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, Lisboa.

O livro já saiu mas merece nota: ‘Crónica de Brites’, de Júlia Nery, uma ficção em redor da Padeira de Aljubarrota (edição Sextante).

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FRASES

"Quer os militantes do PSD quer os adeptos do Benfica exigem sempre a vitória e quando os resultados não surgem pedem a cabeça do treinador." Armando Esteves Pereira ontem no ‘CM’

"Agora sim, Ângelo Correia regressou à actividade política. A era post-Menezes vem aí." José Medeiros Ferreira no blogue Bicho-Carpinteiro

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abril 10, 2008

Blog # 69

Levante o dedo o primeiro português que confesse, aberta ou veladamente, que é a favor da corrupção, esse monstro que tudo devora (basta deixar) e que reúne cidadãos de todas as condições em guerra aberta. Não há, do Minho ao Algarve (e fazendo um desvio pela ilha do Corvo) um único português que não brade contra a corrupção. O sistema de justiça português, tirando os casos de pequenos ou grandes crimes contra pessoas, mais os tribunais administrativos e os de menores, dedicam-se a fundo à corrupção. O País inteiro vibra, aplaude, contorce-se e tem cãibras à custa da corrupção. Se um árbitro se equivoca num fora-de-jogo, mandemos-lhe uma brigada anticorrupção da PJ. Um professor dá má nota a um aluno? Pois que os pais o acusem de corrupção. Acusemos de corrupção o empregado de café que nos dá uma tosta mista quando tínhamos pedido um pastel de nata. Esgotemos a palavra corrupção, fartemo-nos dela. Invoquemo-la diariamente. Daqui a uns tempos ninguém liga. Viva Portugal.

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Desde há dez anos, que me lembre, que são sistematicamente denunciados os crimes do nazi de Harare, Robert Mugabe. A opinião da esquerda europeia era a de que se tratava de um vil ataque à "linha da frente". Quando os escombros do Zimbabwe ficarem à mostra, ver-se-á o preço da colaboração com os crimes e a loucura de Mugabe.

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O novo livro de José Manuel Saraiva, ‘Aos Olhos de Deus’, é lançado hoje à tarde em Lisboa. É uma aposta da Oficina do Livro.

E começam hoje as Letras de Lisboa, com organização de Inês Pedrosa, directora da Casa Fernando Pessoa, e Guiomar de Grammont, a organizadora do Festival de Ouro Preto, Brasil.

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FRASES

"O PS (em 1997) era uma organização bem desorganizada." Armando Vara, ontem no CM

"Estes cómicos que governam o PSD. Não se livrem deles a tempo, não." João Gonçalves no blogue Portugal dos Pequeninos

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abril 09, 2008

Blog # 68

Conheci Ramos-Horta em Timor, conversámos sobre ninharias e gostei dele. Uma pessoa gosta dos outros sobretudo numa conversa deste género – sobre ninharias. Mas ser presidente da República de Timor não é uma ninharia; supõe uma responsabilidade institucional, uma missão de sacrifício e um projecto nacional. O atentado contra Ramos-Horta a 10 de Fevereiro passado pode ter sido um golpe cruel na boa-fé de um homem que foi eleito e que assumiu um compromisso com o seu povo – mas, por muito que compreenda as suas razões pessoais, não é aceitável que tenha escolhido a véspera de regressar a Díli para dizer que gostaria de abandonar a presidência e escrever os seus livros. Ele é um homem honrado, corajoso e tenaz – mas não pode ficar para a história como 'o presidente que abandonou o seu mandato' ou por causa de pressões que não conhecemos ou por causa das balas covardes que o atingiram. Como se sabe, em combate os heróis não têm direito a repouso. É injusto, mas é assim.

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Independentemente do seu valor como árbitros de futebol, temo que muitos dos seus juízos no Tribunal de Gondomar sejam nulos ou desprovidos de autoridade. Não porque não sejam honestos ou rigorosos – mas pelo vídeo. No seu tempo, cometeram erros idênticos e foram acusados do que Luís Filipe Vieira acusa os de agora. É a vida.

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Continua de pé a hipótese de o grupo LeYa não participar na Feira do Livro de Lisboa caso não consiga alterar o regulamento, de modo a montar os seus stands. A CML lavou daí as suas mãos.

‘Educação para a Morte’, de Filipe Nunes Vicente, sairá em Maio, pela Bertrand.

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FRASES

"Fiz o meu dever, não deixei que matasse mais ninguém." António Almeida, 62 anos, que desarmou um homicida, ontem no CM

"Basta seguir meia dúzia de pessoas, afirmou Luís Filipe Vieira. Estou de acordo. Por exemplo, os avançados das equipas adversárias". João Vilallobos, no blogue Corta-Fitas

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abril 08, 2008

Blog # 67

Em entrevista ao jornal ‘Angolense’, José Eduardo Agualusa afirmou que "Agostinho Neto foi um poeta medíocre". Não foi o primeiro a dizê-lo, mas a polémica está ao rubro em Luanda. O problema é que a obra de Neto é uma questão de regime – a ideia é que ele é 'inatacável' do ponto de vista literário porque é 'inatacável' do ponto de vista político. Não sou eu a dizê-lo; é um estimável professor de Direito Público em Luanda, que este fim-de-semana escreveu um artigo sobre a questão, no oficial ‘Jornal de Angola’. Não foi o primeiro a dizê-lo, mas a polémica está ao rubro em Luanda. O problema é que a obra de Neto é uma questão de regime – a ideia é que ele é 'inatacável' do ponto de vista literário porque é 'inatacável' do ponto de vista político. Não sou eu a dizê-lo; é um estimável professor de Direito Público em Luanda, que este fim-de-semana escreveu um artigo sobre a questão, no oficial ‘Jornal de Angola’. Para o jurista do regime estão 'reunidos todos os requisitos do ultraje à moral pública (ofendeu a moral cultural ou intelectual dos angolanos), previsto e punido no Artigo 420.º do Código Penal. É preciso moralizar [...].' Esta ideia não é peregrina mas é bom retê--la: um reparo literário a Neto é uma ofensa à Pátria, porque 'quem o ataca, ataca a Independência de Angola'. Ou seja, pode dar direito à detenção de José Eduardo Agualusa. Leiam e aprendam. E calem.

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O presidente do Comité Olímpico Português acha que o boicote às cerimónias festivas dos jogos de Pequim 'só prejudica os atletas'. Claro que não se pede a Vicente de Moura apoio ao boicote e aos protestos pela repressão no Tibete. Mas, assim triste, parece-se com um bebé a quem querem tirar o barquinho de plástico da banheira.

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O novo romance de José Manuel Saraiva, o autor de ‘Rosa Brava’ (sobre Leonor Teles) é ‘Aos Olhos de Deus’ – e a Oficina do Livro aposta fortemente na sua promoção. Lançamento esta semana.

Saiu ‘O Padre António Vieira e as Mulheres’, de José Eduardo Franco e Maria Isabel Morán Cabanas (Campo das Letras).

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FRASES

"Os militares também sentem o problema da falta de vocações sacerdotais". Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, ontem no CM

"Com a gestão que tem feito, Luís Filipe Vieira devia comer e calar. Para refilar – em português razoável – estamos cá nós". Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado

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abril 07, 2008

Blog # 66

O Arts Council britânico, que entre outras coisas canaliza financiamento público para as artes, acaba de decidir que todas as candidaturas aos apoios e subsídios devem mencionar a orientação sexual dos responsáveis pelas companhias de teatro. Assim, terão de indicar se se trata de gente gay, heterossexual, lésbica ou, ainda, de género desconhecido. É uma forma muito curiosa de assinalar a pluralidade de opções sexuais nas artes e nos dinheiros públicos. Poderão objectar que se trata de um assunto interno inglês – e que não temos nada com isso. É falso: o assunto interessa-nos. Se a moda pega, um dia teremos a palermice à perna, porque é fácil adoptá-la. Pior do que palermice, trata-se de uma ingerência perigosa na vida dos cidadãos e na própria ideia de diversidade (que pede recato, respeito e até indiferença). Já sabíamos que os idiotas andam à solta, mas tínhamos alguma esperança de que não tomassem o poder com tanto à-vontade. Engano: já lá estão.

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abril 05, 2008

A respiração das florestas

Não sei se o leitor conhece Finlandia (o Poema Sinfónico, Opus 26, de 1899), de Sibelius – mas é uma das minhas peças preferidas. Ouço-a mais vezes porque redescubro nela a respira­ção das florestas.

Se há uma coisa que me assusta na biografia de Sibelius, mais do que em outros compositores, é o grande silêncio dos seus últimos trinta anos de vida (morreu em 1957). Durante esse perío­do compôs pouco, tocou sofrivelmente e escutou muita música. Mas o brilho ir­reversível de Finlândia permanece na minha vida como uma recordação da madrugada, no meio de uma viagem de comboio entre Helsínquia e Rovaniemi. Uma música no meio da madruga­da explica-se bem, sobretudo se há ne­voeiro, aquele que poisa sobre todas as árvores ao longo do caminho que leva ao Norte e ao círculo polar.

Rovaniemi, na verdade, é uma es­pécie de fronteira com a proximidade do Árctico, uma cidade desenhada a ré­gua, esquadro e transferidor pelo génio de Alvar Aalto, o seu arquitecto (que nasceu um ano antes de Sibelius com­por Finlandia) - mas muito distante do ambiente pacificador da Finlândia que o leitor encontra noutras páginas [48-61] desta edição da Volta ao Mundo, entre lagos e enseadas ocultas. Rovaniemi é o coração da Lapónia finlande­sa, com as suas estradas onde é quase sempre Inverno ou Primavera (a ruska é muito breve aqui: trata-se de um pe­ríodo fugaz de uma a duas semanas du­rante as quais as folhas das árvores ficam douradas e avermelhadas antes de caí­rem e desaparecerem com o vento do Norte), as suas breves colinas, as casas de madeira, as pistas de terra no meio das florestas.

Tudo na Finlândia, sem excepção, me lembra as florestas. Entrei na Fin­lândia pelo Báltico, de barco; entrei pe­lo Norte, vindo da Noruega (de boleia com Jimmy Burns, um canadiano que andava a pesquisar ouro no cabo Norte, nas imediações de Honningsväg); entrei pelo pequeno golfo da Suécia, depois de uma viagem que queria imitar o voo dos patos de Selma Lagerlöf (em A Viagem de Nils Holgersson). De todas as vezes deparei com as grandes florestas, com aquela tranquilidade das ár­vores que resistem ao tempo e aos ho­mens — acho que foi o país onde aprendi a amar as florestas, nos bosques que le­vam a Kuopio, a Joensuu e à Carélia, na fronteira de Muonio ou nas manchas de água de Tampere.

O que hoje conhecemos da Finlân­dia deve-se (além da sua indústria e tecnologia) ao famoso «milagre finlandês», uma soma de dados que inclui o facto de o país ocupar o primeiro lugar nos es­tudos de matemática, de ser a nação menos corrupta do mundo ou de se si­tuar no topo do índice de desenvolvi­mento humano das Nações Unidas. Po­rém, antes de cobiçar a Finlândia do «milagre finlandês» – essa miragem que leva alguns idiotas do Sul da Europa a pensar que basta copiar o sistema de en­sino finlandês —, o leitor deve pensar na complexidade da geografia: eles têm frio, têm neve, têm noites fatais e quase eternas, têm uma disciplina luterana que os leva a poupar, a serem modera­dos nos gastos e honestos nas relações humanas. Eles pagaram esse preço, jun­tamente com o da guerra, o da invasão nazi, o da privação e o do isolamento: o de terem pertencido à coroa sueca e ao império russo. Admiro-os muito, aos finlandeses – são o povo das florestas.

Quando ouço Finlandia, de Sibelius, não ouço nenhum «milagre finlandês»: é a pura respiração das florestas que atra­vessa o espaço. Faça essa experiência, quando chegar lá.

in Outro Hemisférios – Revista Volta ao Mundo - Abril 2008

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abril 04, 2008

Blog # 65

Foi séria e indignada a reacção dos dirigentes, técnicos e jogadores da A.S. Roma contra Cristiano Ronaldo. Sentiram-se humilhados e ofendidos porque Ronaldo não só lhes marcou um golo fantástico como, além disso, mostrou classe, talento – e se divertiu. Isto, os italianos não acham bem. Que o seu futebol seja chato, maldoso e piroso – que vá. Mas o que eles não suportam, tão sérios e hirsutos quando se empertigam, é que alguém se divirta à sua custa. Ora, precisamente, humilhar "o outro clube" é uma das atribuições do bom futebol. Não basta ganhar-lhe, goleá-lo, ser claramente superior; é essencial deixar um nadinha de humilhação do outro lado. Um director da A.S. Roma diz que Ronaldo fez "truques desnecessários". Desnecessários? Não me parece. Foram fundamentais. Viram aqueles italianos de olhinhos trocados? Viram-nos irritados e desesperados? Todos vimos. Só isso é um grande espectáculo. Eles trataram Ronaldo como um palhaço. Até pode ser; mas é sublime.

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O ministro dos Estrangeiros da Finlândia, Ilkka Kanerva, foi despedido por ter enviado mensagens picantes e eróticas do seu telemóvel para o de uma concidadã. Uma das mais picantes era "Tens cuidado bem do teu jardim?" Abençoada Natureza que fez o Norte e o Sul e nos colocou à beira do Mediterrâneo, longe do milagre finlandês.

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Chama-se 'Prolegómenos', o volume de crónicas de Bento da Cruz, o mais transmontano de todos os autores (edição Âncora), e publicadas no belíssimo 'Correio do Planalto'.

É um acontecimento: uma edição fac-similada (da edição funchalense de 1873) das 'Saudades da Terra', o clássico do século XVI sobre as ilhas do Atlântico, de Gaspar Frutuoso. Edição da Funchal 500 Anos.

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FRASES

"Tal como a guerra representa a continuação da política por outros meios, também a construção civil tem idêntica finalidade neste regime." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos

"Tenho elementos seguros de que há alunos que vão armados para as escolas." Pinto Monteiro, Procurador-Geral da República, ontem no CM

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abril 03, 2008

Blog # 64

Muita gente anda por aí muito chocada por causa da indignação da igreja católica. Liberais de sempre ou liberais de agora, agnósticos, ateus, indiferentes, maçons e anti-clericais militantes, todos acham muito aborrecido que a igreja proteste contra aquilo que chama a "ateização" da vida portuguesa e contra o "divórcio simplex" agora decretado pelo PS e pelo governo.
Lamento, mas a igreja católica cumpre o seu papel e está a mostrar que não abdica das suas ideias. Muita gente gostaria de ter uma igreja mais saltitante, muito da ‘esquerda festiva’, capaz de distribuir preservativos nos adros e de celebrar festas de divórcio – como um partido político que manda fazer estudos de mercado antes de se lançar ao assalto dos eleitores. Lamento, mas a igreja católica cumpre o seu papel e está a mostrar que não abdica das suas ideias. Muita gente gostaria de ter uma igreja mais saltitante, muito da ‘esquerda festiva’, capaz de distribuir preservativos nos adros e de celebrar festas de divórcio – como um partido político que manda fazer estudos de mercado antes de se lançar ao assalto dos eleitores. Ora, o que a igreja faz é assumir o seu lugar na vida portuguesa, mostrando o que pensa e dizendo-o da melhor forma: com clareza, reafirmando a sua fé e os seus princípios. Por mim, que não sou crente, acho isto corajoso e digno. Aplaudo.

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Em Luanda, José Eduardo Agualusa está a ser crucificado pela imprensa oficial, por ter declarado que Agostinho Neto foi, de facto, um poeta medíocre. Os ataques invocam a defesa da honra, da pátria e da independência nacional, como se os versos do ex-presidente tivessem descido do Olimpo. Só lhe falta a publicação por decreto.

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Em Maio, Eduardo Lourenço festeja os seus 85 anos. A Fnac organiza um ciclo de conferências sobre o filósofo.

Zadie Smith estará em Lisboa a 12 de Abril para o lançamento de ‘Uma Questão de Beleza’, o seu segundo romance publicado em Portugal pela Dom Quixote. E se ela é bonita...

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FRASES

"Se o tribunal achar que sou um perigo para a sociedade, pois terei de ser preso." Sargento Luís Gomes, ontem no ‘CM’

"Há ricos e pobres? Há. Há ‘corruptos’? Há. A riqueza é má? Não. A ‘corrupção’ é má? Não". J. P. Teixeira, no blogue Ma-Schamba

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abril 02, 2008

Blog # 63

Os portugueses reservam apenas 14% do seu orçamento familiar para a alimentação, contra os 18,7% contabilizados em 2000. No entanto, a ‘Plataforma contra a Obesidade’ escusa de deitar foguetes – a razão não é dietética; e não se pense que essa descida aconteceu porque os bens de consumo essenciais baixaram os preços. O motivo é simples: os portugueses passaram a gastar mais dinheiro com outras coisas, além de reservaremlogo 25% dos seus ordenados para a casa, propriamente dita – o que não lhes deixa muitas opções. Ruy Belo, um dos nossos melhores poetas, escreveu um livro intitulado ‘O Problema da Habitação’ – mas, como se sabe, os poetas não entendem nada. Os economistas sim, porque lhes foi atribuído o dom de fazerem previsões erradas. Não há profissão tão inimputável e tão capaz de falhar sem que se lhes peçam satisfações. Pelas previsões dos anos oitenta, hoje viveríamos na abundância. Afinal, os portugueses limitam-se a fazer dieta. Comer é supérfluo.

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abril 01, 2008

Blog # 62

Os socialistas madeirenses estão zangados com Jaime Gama e têm razão para isso, porque um partido não é, propriamente, um fórum de debate para filósofos (muito menos o PS, apesar de o seu líder se chamar Sócrates), mas um corredor que dá ou devia dar acesso ao poder. Os socialistas madeirenses lembram que Jaime Gama chamou Bokassa (o ditador africano) a Alberto João Jardim há dezasseis anos, e que agora lhe elogia a obra e o trajecto; ora, dezasseis anos são uma eternidade que pode ter mudado quer Jardim quer Jaime Gama. Pelo que conheço de Jardim, não parece que se tivesse alterado muito do perfil e da substância da sua figura política; já de Jaime Gama não sei, mas tenho as minhas impressões – e uma delas é a de que o presidente do Parlamento (e segunda figura do Estado) não costuma dar ponto sem nó, ou seja, nunca é inocente num deslize, se se trata de um deslize. Jaime Gama a elogiar Jardim significa que ignora o partido – e que Jardim deve ser reanalisado.

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Os sociais-democratas, que há pouco elegeram Menezes para presidente, acham que este é mau candidato a primeiro-ministro, ficando atrás de Marcelo (o preferido), de Santana ou de Rui Rio. Normal; não espanta. Agora, precisam de ter cautela, porque Menezes, despeitado e magoado, pode demitir os militantes do PSD e eleger outros.

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Poesia fundamental e, infelizmente, pouco divulgada: a de Gil de Carvalho, com 30 anos de versos reunidos em 'Viagens' (edição Assírio & Alvim)

Hoje, em Lisboa, na Fnac/Chiado (18h30), Duarte Belo e José Tolentino Mendonça evocam a obra e a figura de Ruy Belo. Oportunidade a não falhar.

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FRASES

"Jardim também quer assumir uma governação de 'face humana' após 'trinta anos a disfarçar estados de alma'."Ana Matos Pires no blogue 5 Dias

"Ou os militantes partem derrotados para as eleições ou encontramos alguém que se confronte com Sócrates."Castro Almeida, dirigente do PSD, ontem no CM

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