setembro 30, 2010

Blog # 706

Um pouco de comoção patriótica: amanhã, devíamos ouvir ‘Stars and Stripes Forever’, uma marcha militar dos Estados Unidos – mas, mais do que isso, porque tem mão portuguesa. De fato, cumprem-se amanhã 130 anos sobre a data em que John Philip de Sousa (1854-1932) tomou posse do lugar de maestro da marinha americana; um pouco de cinema e de história facilmente explicam a sua importância. ‘Stars and Stripes’ é de 1897 e é a composição mais conhecida deste neto e filho de portugueses dos Açores (e de mãe alemã) cujo nome pertence à história americana, como muitos outros que hoje ignoramos. Gerações de portugueses perdidos ou estabelecidos na América recordam J. Philip de Sousa como um dos seus. ‘Stars and Stripes’ podia ser, afinal, uma marchinha, vá lá, da Ribeira Grande.

***

Traduzido por José Colaço Barreiros, a Teorema vai publicar ‘A Especulação Imobiliária’, de Italo Calvino – é a primeira edição portuguesa e Calvino achava-o, talvez injustamente, o melhor que tinha escrito. Sai para a semana.

***

FRASES

"Realmente já só falta experimentar o Francisco Louçã." Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

"A realidade portuguesa mostra que pior é possível." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 29, 2010

Blog # 705

‘Freedom’, de Jonhathan Franzen, foi anunciado como o grande romance americano da década. Comecei a folheá-lo num voo sobre o Atlântico que nos separa da América, mais do que da sua cultura – o retrato não é assim tão genial, mas é conhecido: uma classe média triste, desiludida ou apenas pantomineira e imatura, a viver nos subúrbios, como nos livros de Updike ou Yates. O que é curiosa é a sua, digamos, “mensagem”: os grandes valores americanos foram sendo destruídos e falta “espiritualidade” (visível na crítica de Franzen aos seus próprios personagens) à vida dionísiaca dessa classe média. É um retrato da geração que toma comprimidos para impedir o caos da sua vida, ou que sucumbe diante da necessidade de fazer escolhas. Lá como em outro lado, a vida não esta fácil.

***

“Tudo tem a sua lei onde adormece./ Ainda hoje assino/ Esta sentença simples sobre essa Natureza”, lê-se no novo livro de Armando Silva Carvalho, ‘Anthero Areia & Água’ (edição Assírio & Alvim), poesia no gume de uma lâmina.

***

FRASES

"Somos lavradores ao volante de um SLK, pastores num spa e peixeiras em qualquer discussão." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

"Estamos a viver numa bolha de consumo. Pelo menos nos EUA e na Europa." Oliver Stone, ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 28, 2010

Blog # 704

No fim de semana passado, num alfarrabista, comprei ‘Três Soldados’, um romance 500 páginas em muito bom estado e por apenas 6€. Faltava-me esse livro à lista dos títulos de John Dos Passos (1896-1970), que amanhã completaria 40 anos. Dos Passos (além de ficcionista, foi jornalista, pintor e poeta) não faz parte da nossa galeria de leituras hoje em dia – o que é uma pena. Não apenas pela sua origem portuguesa (ele era um dos descendentes dos madeirenses do Ilinóis), mas também por ser um dos grandes nomes da Geração Perdida americana (com o pormenor de não ter caído nas armadilhas políticas de que Hemingway padeceu), e autor de ‘Manhattan Transfer’ ou ‘Paralelo 42’ (publicados pela Presença), entre mais de cinquenta livros. A sua raiz portuguesa devia interessar-nos.

***

O novíssimo romance de Mário Zambujal, ‘A Dama de Espadas’, sai já a 7 de outubro na nova editora Clube do Autor – que reagrupa várias pessoas que passaram pela Oficina do Livro. Estão preparadas várias surpresas.

***

FRASES

"Portugal corre o risco de ser palco da demonstração prática da Lei de Murphy." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Com aquele sorriso de quem não parte um prato, M. Soares apoiou Cavaco e destruiu Alegre." Henrique Raposo, no blogue Clube das Repúblicas Mortas.

Etiquetas:

setembro 27, 2010

Blog # 703

O Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa atribuiu o seu maior prémio ao filme argentino ‘El Último Verano de la Boyita’, de Julia Solomonoff. E houve um gesto de coragem: uma menção especial para ‘I Shot My Love’, do israelita Tomer Heymann. Algumas organizações gay vagamente políticas, além de um cineasta ou outro, retiraram-se ou criticaram o festival por ele ter aceite, entre os patrocinadores, a Embaixada de Israel. O problema é que os críticos são ‘apoiantes da Palestina’, o que, na sua pobre língua (a inteligência não vai mais longe), significa alimentar a histeria contra Israel. Da próxima vez espero que apresentem os seus filmes em Gaza, onde os homossexuais são punidos com prisão, tortura e pena de morte. Ou peçam apoio à embaixada do Irão, está claro.

***

Em resumo: muito, muito bom. O romance de José Eduardo Agualusa, ‘Milagrário Pessoal’ (Dom Quixote), é uma brilhante alegoria sobre o destino da Língua, o cruzamento de destinos – e o que não pode dizer-se por palavras. Não perder.

***

FRASES

"Estou aqui a falar, mas não sabem quem eu sou. Eu sou o Manoel de Oliveira." Manoel de Oliveira em Famalicão, ontem, no CM.

"Cuba, após meio século de construção do socialismo, começou a desmontar os andaimes." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

Etiquetas:

setembro 25, 2010

Guerra total

Uma das características da «guerra total» é precisamente essa e o Benfica tem revelado uma excelente forma ao praticá-la: nada fica sem resposta. Mais: o Benfica, até pela sua natureza, não sabe gerir o silêncio – mas é eficaz na forma como administra o ruído. André Villas-Boas respondeu de forma certeira: a «pressão», invocada por Jorge Jesus, é uma arma de dois bicos, até porque nove pontos não são nada – podem, com bastante naturalidade, transformar-se em doze ou quinze, ou reduzir-se para seis ou três. Ao contrário do Benfica, que conta com o beneplácito anual dos adivinhos e estrategas que atribuem o título de campeão antes de a época começar (é o chamado «campeão de Agosto», normalmente ganho pela equipa da Luz), o FC Porto esteve sob pressão nos últimos dois anos; e, no último, sucumbiu à pressão, ao (excelente) futebol do Benfica, e à encenação disciplinar da Liga.

É preciso elogiar a forma como o Benfica «administra o ruído». A sua forma de pressão é tão eficaz que conseguiu que Vítor Pereira abrisse um precedente notável ao fazer «um balanço da arbitragem» depois da «emergência» decretada pelo Benfica. O mesmo não aconteceu quando o Sporting, por exemplo, foi vítima de um golo de Ronny marcado com a mão, num jogo com o Paços de Ferreira. Quem pode, pode. Os órgãos da Liga estão lá para as ocasiões. O próximo passo é pedir a repetição de jogos, o que nem espantaria os mais avisados – mas seria uma novidade para quem viu o Guimarães-Benfica.

Essa estratégia de «nada ficar sem resposta» dá os seus frutos. Primeiro, com a invenção de Roberto como bode expiatório para a falta de futebol da equipa; depois, com erros de arbitragem que servem para explicar derrotas que ocorreriam de qualquer maneira. Trata-se de uma hábil gestão da imagem e da marca comercial – pode haver culpados em todos os lados, excepto, naturalmente, no Benfica propriamente dito.

2. A selecção entrou numa nova fase. Depois das estrelas contratadas a prestações ou para meios horários, Paulo Bento – pode acontecer – é uma solução agradável. Cuidem-se.

in A Bola - 25 Setembro 2101

Etiquetas:

setembro 24, 2010

Blog # 702

Houve um tempo em que os livros de Erich Maria Remarque eram um sucesso em Portugal. De alguma forma, os seus romances, sobretudo ‘A Oeste Nada de Novo’ (Europa-América), reconstruíam a história da II Guerra Mundial, os seus horrores, alguns dramas e as biografias de gente anónima. Um pouco à maneira do próprio Remarque – um escritor da classe operária alemã, que sofreu a I Guerra e conheceu o sabor da derrota e do cativeiro. ‘Uma Noite em Lisboa’ teve algum sucesso, tal como muitos outros dos seus romances. Nessa altura, a II Guerra e o fim da Alemanha estavam ainda próximos e eram vividos como uma epopeia do género humano, mais do que uma plataforma para discussões ideológicas. Remarque morreu há quarenta anos, cumpridos amanhã. Foi uma das vozes do século passado.

***

Daniel Defoe não escreveu apenas ‘Robinson Crusoe’ – a Guerra e Paz acaba de publicar a ‘História Política do Diabo’ (uma bela e cuidada edição), sobre o papel de Satã na história e mostrando que do Inferno não vem só maldade.

***

FRASES

"Que concordâncias unirão Cavaco e Soares? Faz mais o ódio num dia do que o amor numa semana." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

"Este outono não promete nada de bom." Paula Teixeira da Cruz, ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 23, 2010

Blog # 701

Ray Charles (1930-2004) completaria hoje oitenta anos. Mas é como se os festejasse mesmo, tão presente está a voz do cantor e do músico de exceção. Antes, muito antes de se falar de ‘fusão’ e de a palavra se aplicar a qualquer pantomineirice, Ray Charles percebera que os géneros são comunicantes e que a música serve para abrir esses caminhos, geralmente desconhecidos – por isso, ‘blues’, ‘gospel’, ‘rock’, ‘r&b’, ‘jazz’, ‘soul’, ‘country’, o que quiserem incluir na lista, ele fez e tentou como ninguém. A sua voz ergue-se, às vezes como um lamento, outras vezes como uma celebração, mas sempre com uma ironia doce que se desprendia do seu sorriso, do seu riso, do seu rosto. Ray Charles, por isso, não cabe num catálogo bem comportado. Parece que a sua vida também não coube.

***

‘O Seminarista’, de Rubem Fonseca (publicado pela Sextante), é uma história tão densa como divertida. É uma recriação de todas as galerias de personagens e de temas do maior escritor vivo de língua portuguesa. Assim mesmo.

***

FRASES

"Querer que pessoas idosas utilizem a internet como quem toma a bica, é não ter ideia do País." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

"Salto lógico: contratar Mourinho para dois jogos, contratar Paulo Bento para dois anos." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

Etiquetas:

setembro 22, 2010

Blog # 700

O livro de Leonor Xavier, ‘Casas Contadas’ (edição Asa), ganhou o Prémio Máxima de Literatura – é bem visto. Não por o prémio ser atribuído a mulheres, mas porque o livro de Leonor Xavier é um momento muito singular, superior, da narrativa portuguesa. Longe da apoteose mais recente dos livros das burguesinhas da política e da literatura (ou, pior, “dos afetos”, como elas dizem), ‘Casas Contadas’ é a travessia de uma aventureira deliciosa e madura, um ‘on the road’ cheio de cor e de amabilidade para com a vida. Leonor tem o que falta a grande parte das escritoras portuguesas: esse sentido da amabilidade, da inocência que se perde sem se esquecer, e o picante de uma escrita que não quer dar lições de moral nem pedir desculpa. Há muito que um prémio não era tão merecido.

***

Com tudo isto, em redor do afastamento de Manuel Maria Carrilho, não posso senão recomendar o seu livro, ‘E Agora? Por Uma Nova República’, publicado pela Sextante. Vale a pena ler alguém que pensa — e que é despedido por isso.

***

FRASES

"Os contribuintes portugueses já pagam quase três vezes mais juros do que os alemães." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Carrilho está em processo de centrifugação. Depois queixem-se da qualidade dos políticos..." José Medeiros Ferreira, no blogue Córtex Frontal.

Etiquetas:

setembro 21, 2010

Blog # 699

Houve aí um debate sobre “o progresso”. Foi durante a última campanha eleitoral. Cito: “O PS vai construir o TGV; o PSD vai parar o TGV. Quem quiser viver no século XXI vota PS; quem quiser ficar no século XIX vota PSD. É Simplex.” Foi escrito na altura e ainda está online. Camilo Castelo Branco, tal como Gustave Flaubert e Zola, tinha dúvidas sobre os comboios da época. No seu último livro (‘The Uses of Pessimism’), o filósofo Roger Scrutton aborda a questão, citando Ruskin, que temia o perigo do otimismo ferroviário. Não são os comboios que estão em questão; é o otimismo bailarino e provinciano. Parece que o concurso do TGV foi anulado; quererá o governo regressar ao século XIX? Não. Foi apenas vítima de si próprio; o progresso não é um bailarico de pacóvios.

***

Saiu ontem para as livrarias, em edição de bolso, um dos grandes livros do nosso tempo — ‘O Deus das Pequenas Coisas’, da indiana Arundhati Roy (edição BisLeya): se não leu na altura, corra e comece a ler agora.

***

FRASES

"Não há TGV? Comam croissants." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

"A Constituição, coitada, nem imagina o que os seus amantes lhe fazem todos os dias." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 20, 2010

Blog # 698

Nada de miserabilismos. O Estoril Film Festival é um acontecimento e tanto. John Malkovich vem como desenhador de roupa. Sophie Auster como música (o que está certo). Laurie Anderson como membro do júri. Lou Reed como fotógrafo. Elia Suleiman, Kathryn Bigelow, Otar Iosseliani, Abbas Kiarostami e Stephen Frears estão a caminho ou mandam filmes – e é bom. Koji Wakamatsu (um tonto) e Roman Polanski são homenageados. O juiz Baltasar Garzón deve vir na qualidade de juiz Baltazar Garzón. O cozinheiro basco Juan Mari Arzak vem na qualidade de três estrelas Michelin. Vai ser um Novembro em cheio. Entretanto, especula-se sobre a vinda de George Clooney (por causa de ‘The American’, de Anton Corbijn), o que é um melodrama apetitoso para seguir com atenção. Não parece cá.

***

O novo livro de Laurentino Gomes, o autor do best-seller ‘1808’ (sobre a ida da família real para o Brasil), leva o título ‘1822’ (Porto Editora), sobre a independência do Brasil, onde já vendeu mais de 100 mil. É só números.

***

FRASES

"Às vezes tenho vontade de pedir demissão de ser português." Nicolau Breyner, ontem, no CM.

"Tendo em conta a agenda do sr. primeiro ministro, quando são as eleições?" Ana Margarida Craveiro, no blogue Delito de Opinião.

Etiquetas:

setembro 18, 2010

Combates fatais

Longe de Portugal, em viagem, de aeroporto em aeroporto à hora a que o FC Porto jogou. Não vi o jogo contra o Rapid de Viena — e escrevo, aliás, antes de o jogo decorrer. Não me parece indispensável, depois de ter visto o jogo com o Sporting de Braga, no sábado passado: um momento fantástico de futebol, que trouxe ao FC Porto uma tranquilidade indiscutível e confortável na mesma semana em que uma campanha extremamente bem organizada punha o país em sobressalto. Entre gritos de virgindade ofendida (e muito bem encenados), o Benfica queixou-se aos quatro ventos de arbitragens malvadas e de injustiças que foram demorada e minuciosamente preparadas pelos seus adversários. E onde estão eles? No campo? No campeonato? Não. Julga o Benfica que eles estão em todo o lado. A começar, na Liga de Clubes que, de instituição amiga que albergava um Conselho de Disciplina coroado de virtudes, passou a covil de bandidagem. Depois, nos árbitros, telecomandados à distância por génios do mal que conspiram, mancomunados, na semi-clandestinidade, para eliminar o Benfica. Finalmente, na secretaria de Estado do Desporto, que teve o desplante de não se juntar à gritaria indignada e pluricontinental que se ergueu para chorar em coro.

Reunindo os exércitos («O Benfica lutará contra tudo e contra todos», lembra Nuno Gomes), não ficou nada de pé. Regimentos de lanceiros encarnados atravessam as províncias para se juntar a porta-vozes que ameaçam queimar bandeiras nacionais. Uma onda impressionante de cidadãos enfurecidos e munidos de cartão de sócio prepara-se para o combate. Esquece-se o Benfica, no entanto, de um pormenor: o clube ganhou o passado campeonato porque tinha bom futebol. Este ano, os seus adversários estão, como é costume, nas suas trincheiras.

2. O jogo do FC Porto com o Braga devolveu-nos uma equipa moralizada e mentalmente (psicologicamente, como diz Villas-Boas) forte. Essa fortaleza ficou visível no comportamento do FC Porto em campo. E com este pormenor: Hulk está lá. No ano passado não esteve.

Etiquetas:

setembro 17, 2010

Blog # 697

Na história da cultura inglesa não haverá nomes tão desconhecidos ou tão pouco tratados entre nós como Samuel Johnson (um personagem invulgar), Samuel Pepys, Robert Burton ou William Hazlitt. Deste último assinalam-se hoje os 180 anos da sua morte. Hazlitt (1778-1830) foi filósofo e um dos grandes críticos e ensaístas literários, na esteira de Johnson. O seu trabalho era o de um leitor exigente, culto, rigoroso, inventivo e livre, só possível num país onde as letras não fossem perseguidas, onde os escritores não fossem malvistos e onde a inteligência humanística fosse valorizada (como não aconteceu em Portugal). Hazlitt foi o maior leitor do seu tempo. A sua herança pode traduzir-se pelo título de um dos seus ensaios: ‘Sobre o prazer de ler livros antigos’. Um génio.

***

O novo romance de António Lobo Antunes leva o título ‘Sôbolos Rios Que Vão’ (Dom Quixote) e estará disponível nas livrarias a 18 de Outubro próximo. Próximo da autobiografia, diz-se; um livro sobre o tempo que passa.

***

FRASES

"Uma das razões pelas quais somos periféricos reside na justiça." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

"Não me parece que alimentar esta situação me traga algum benefício." Paulo Bento, sobre o cargo de selecionador nacional. Ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 16, 2010

Blog # 696

Morreu Francisco Ribeiro, o violoncelista fundador dos Madredeus. O som original da banda (e aquilo que foi a sua maravilhosa contribuição para mudar a música portuguesa) não seria o mesmo sem a sua presença. ‘Os Dias da Madredeus’, ‘Existir’, ‘O Espírito da Paz’ ou ‘Ainda’ marcaram essa mudança – e o seu violoncelo era uma intromissão que, além de talento, trazia também doçura, beleza, harmonia, tranquilidade, ritmo, volatilidade, melancolia. São elementos essenciais da música; foram os sinais trazidos pelos Madredeus. O seu último projeto, ‘Desiderata: A Junção do Bem’, continuava e aprofundava esse som harmonioso e essa natureza melancólica que nunca o abandonou e que nunca nos abandonou depois de termos escutado a sua música uma vez que fosse. Obrigado, Francisco.

***

Isabel Fonseca é casada com o escritor Martin Amis – a Teorema acaba de publicar o seu segundo livro em Portugal, um romance (o primeiro, ‘Enterrem-me de Pé’, é uma homenagem aos ciganos), ‘Attachment’. O tema? O casamento.

***

FRASES

"Não há cerimónias porque nos últimos 15 anos as propinas aumentaram 400 por cento." Estudantes do Instituto de Engenharia do Porto, ao primeiro-ministro. Ontem, no CM.

"A insistência do PSD na revisão constitucional é [...] como se tivesse ligado o complicómetro." Luís Naves, no blogue Albergue Espanhol.

Etiquetas:

setembro 15, 2010

Blog # 695

Bonito. As coisas vêm de onde menos se espera – por exemplo, do Ministério da Cultura. Ontem, a ministra Gabriela Canavilhas admitiu que “o Estado social encontrou o seu limite”, anunciou mesmo o “colapso iminente do Estado social” nos países Europeus – e que a cultura não pode repetir “os anos dourados” contemporâneos da distribuição de fundos europeus. Ou seja: há, mesmo, menos dinheiro para a cultura. Gabriela Canavilhas tem razão – mais uma vez, chega mais cedo a conclusões que os seus pares no governo negam com falta de pudor. Os apoios estatais à cultura diminuíram 40% na Europa. Para efeitos eleitorais, a política do governo vai ser a de negar a realidade, porque “a cultura” é uma clientela que ocupa bastante espaço nos média. Deixando a ministra mais solitária.

***

Caso não tenha tomado nota, eu repito: leia ‘Deixem Passar o Homem Invisível’, de Rui Cardoso Martins, o novo prémio APE. É uma história comovente que nos devolve a luz da escuridão, numa viagem belíssima por Lisboa.

***

FRASES

"Acontece que este Orçamento é o último que passa sem a prévia autorização de Bruxelas." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

"O mundo virtual não é diferente de (…). Ninguém é outro por ter banda larga." Carla Hilário Quevedo, no blogue Bomba Inteligente.

Etiquetas:

setembro 14, 2010

Blog # 694

O Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores foi ontem atribuído a Rui Cardoso Martins e ao livro ‘Deixem Passar o Homem Invisível’ (D. Quixote). É uma decisão justa. Rui Cardoso Martins é um escritor de primeira linha, um grande contador de histórias e não faz parte do mundo da pequenina literatura que se compraz consigo mesma. O seu romance anterior, ‘E Se Eu Gostasse Muito de Morrer’, anunciava este momento, se Rui Cardoso Martins trabalhasse, apurasse e mantivesse acordado o seu talento – o que aconteceu, para a nossa felicidade de leitores. Muita gente ficou invejosa? É bem feito e é bom para a saúde; não é todos os dias que um o maior prémio literário português é atribuído sem preconceitos e sem medo de ferir suscetibilidades.

***

Está publicado mais um número da ‘Colóquio/Letras’ (o 175), a revista da Fundação Gulbenkian (dirigida por Nuno Júdice). Além das críticas e comentários, um dossiê sobre a I República e os seus laços lierários.

***

FRASES

"A contestação, como já disse e repito, é natural. É um direito que as pessoas têm." António Mendonça, ministro das Obras Públicas, ontem, no CM.

"Gostava tanto de compreender o mundo, Portugal e assim." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

Etiquetas:

setembro 13, 2010

Blog # 693

O meu primeiro filme de Claude Chabrol, que morreu ontem, foi ‘Violette Noizière’ (com Isabelle Huppert). Tinha o fundamental: um olhar. Ou seja, aquilo que, nos seus filmes, escurecia o ecrã até o transformar num registo de movimentos em falso – só um grande leitor de romances policiais poderia fazê-lo (veja-se a adaptação de Ruth Rendell, com Sandrine Bonnaire, Huppert e Jacqueline Bisset). Admirador e estudioso de Hitchcock, foi com Rohmer, Godard e Truffaut que reinventou o cinema francês, nunca esquecendo a literatura (adaptou Flaubert, ‘Madame Bovary’ , e Maupassant, ‘Bel Ami’) nem “a vida francesa”, que nos seus filmes é uma obsessão entre o cómico e o cínico. Foi também (na vida e na arte) um gastrónomo de eleição, o que o salva de todos os erros de perspetiva.

***

Em 1923, ao cumprir 66 anos, Freud descobre que está doente e que provavelmente morrerá. É este o ponto de partida para um romance enternecedor, ‘Onde Três Estradas se Encontram’, de Salley Vickers (Teorema), a ler tranquilamente.

***

FRASES

"A estabilidade é sempre muito importante. Sobretudo, para quem quer manter o poder que já tem." Pedro Froufe, no blogue Blasfémias.

"As famílias entendem, e bem, que não há futuro sem educação." Mariano Gago, ministro da Ciência. Ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 10, 2010

Blog # 692

Guida Maria estreou no Estoril a peça “Sexo? Sim, mas com Orgasmo” e em Oeiras, no Teatro Independente, sobe ao palco “Sexo? Sim, Obrigada”. Uma das atrizes da segunda peça diz que o sexo “ainda é tabu mas, aqui, é tratado com abertura e naturalidade”. Não sei onde inventou essa história do tabu, porque há sexo “com abertura e naturalidade” em todas as páginas, em todos os ecrãs e, supõe-se, em todas as cabeças. O Estado e a nação querem também mais educação sexual para que o sexo seja encarado ainda “com mais naturalidade”. Por mim, que sou pela devassidão, acho incómoda tanta “naturalidade”, além de que o tabu tem certas vantagens operacionais e estratégicas, libertando a imaginação. Um dia acabaremos, espero, a defender a existência de uma educação para o pudor.

***

A Assírio & Alvim lançou um álbum extraordinário: ‘Subway Life’, de António Jorge Gonçalves. São desenhos de pessoas sentadas no metro, em 10 cidades diferentes. São apenas 1.000 exemplares, e vale a pena a corrida à livraria.

***

FRASES

"O amor é hoje o rei. Uma pessoa fica a pensar onde será fabricada tal quantidade de amor." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

"Carlos Cruz ainda domina a arte. Ponham-lhe uma câmara de tv à frente – ele sabe o que fazer." Manuel Catarino, ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 09, 2010

Blog # 691

Uns patuscos religiosos americanos (da Florida), certamente tocados pela febre do final do Verão, programaram para este fim de semana uma jornada destinada a “queimar o Corão”. O ato, em si mesmo, é patético – apenas folclore. Um pouco por toda a parte a religião é, ao contrário das boas almas que a mencionam como “fator de paz”, usada para incendiar seja o que for. Queimar livros é um reação clássica dos idiotas ao longo dos séculos. A Inquisição queimou-os, os nazis queimaram-nos, os fascistas e os comunistas imitaram-nos, festejando bastante a sensação. O egípcio que o governo português queria ver a dirigir a Unesco (uma história por explicar) também experimentou a volúpia do incendiário de livros. Em cada esquina há um louco a repetir o gesto. Estão vivos. Cuidado.

***

A Teorema está a reeditar os livros de Bret Easton Ellis, como ‘Menos que Zero’ e de ‘Regras da Atração’, os primeiros romances do (em 1985) delfim do ‘dirty-realism’. Uma oportunidade para reler a forma como tudo aconteceu.

***

FRASES

"Os jogadores deram a entender que temos futuro com esta equipa." Agostinho Oliveira, treinador da seleção depois da derrota com a Noruega. Ontem, no CM.

"Quanto tudo é futebol, então nada é futebol. Foi o que aconteceu. Nada." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

Etiquetas:

setembro 08, 2010

Blog # 690

Jean-Luc Godard anunciou que não vai a Hollywood receber o Óscar honorário (nesta edição também atribuído a Coppola e a esse extraordinário actor que é Eli Wallach). Há um pouco de arrogância francesa na sua decisão, mas compreende-se que aos 79 anos Godard pode decidir onde vai e onde não vai. Acontece que a Academia decidiu que havia duas cerimónias – a dos Óscares e a dos Óscares Honorários, atribuídos a figuras incontornáveis do cinema; ou seja: para não “atrapalhar” a atribuição televisiva dos Óscares, realiza um jantar, discreto e onde não aborrece a indústria, onde homenageia as “figuras do cinema”. Ao ‘show business’, tudo; ao cinema, um jantar sem televisão em direto. Godard faz bem em torcer o nariz. Ou é Óscar ou não é Óscar. Ou é cinema ou não é cinema.

***

O irlandês Colum McCann escreveu ‘Deixa o Grande Mundo Girar’ (Civilização) recorda as Torres Gémeas de Nova Iorque – para depois escrever aquilo que pode ser um guia romanesco e romântico da cidade. Uma bela história.

***

FRASES

"O Presidente, em grande forma, exigiu aos meninos rabinos que falassem verdade aos indígenas." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM

"Ser contra o progresso é ser conservador? Não. É ter juízo. É ter cautela." João Villalobos, no blogue Albergue Espanhol.

Etiquetas:

setembro 07, 2010

Blog # 689

Tony Blair não teve tempo de visitar os Açores mas, no seu livro ‘The Journey’ (‘A Viagem’), uma autobiografia dos anos do poder, refere-se à Terceira como “uma linda ilha”. Era preferível que tivesse ido aos Açores em visita de férias em vez de ter colaborado na irrisória mistificação que hoje se conhece. De qualquer modo, a imprensa inglesa deliciou-se, na semana passada, com a referência de Blair ao álcool. Os tabloides coloriram, mas o ‘Telegraph’ centrou o debate na dose requerida pelo stresse de Blair: um uísque e meia garrafa de vinho tinto. Não é muito, desde que acautelado com qualquer coisa no estômago. O jornal perguntava na primeira página, à gargalhada: “E para quem ia o resto da garrafa?” Como se perguntasse: “E onde está a outra parte da verdade?”

***

Durante o verão, a Imprensa Nacional (com o Centro de Estudos de Filosofia) publicou o segundo volume dos ‘Sermões’, do Pe. António Vieira, coordenação de Arnaldo do Espírito Santo. 600 páginas da melhor parte da nossa Língua.

***

FRASES

"Sempre tive muitos amigos homens, mas agora direcionei-me para as mulheres." Liliana Queiroz, Miss Playboy, ontem, no CM.

"O bom gosto existe, mas é uma categoria especialmente desinteressante." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

Etiquetas:

setembro 06, 2010

Blog # 688

O roubo da carrinha dos Xutos & Pontapés é uma história de rock’n roll, boa para ser contada por Nick Hornby ou Tony Bellotto. Transformar-se-ia num verdadeiro delírio: horas antes de um concerto, a banda de rock mais popular fica, de repente, sem guitarras, bateria, material de som. O argumento poderia, aqui, seguir vários caminhos: os ladrões poderiam ser fãs de Julio Iglésias ou fadistas de Santarém, com motivações estéticas; mas também poderiam ser ‘groupies’ invejosas (fanáticas dos Delfins), ou, melhor ainda, ecologistas radicais de Montemor-o-Velho. A guitarra de Zé Pedro apareceria, desmontada, no Museu de Arte Antiga – e a bateria seria oferecida, aos pedaços, a uma filarmónica de Ponte de Lima. Salvavam-se o cachecol de Kalu, evidentemente, e os óculos de Tim.

***

Vai com atraso? Nunca vai com atraso: o novo romance de João Tordo, ‘O Bom Inverno’ (Dom Quixote), é uma história fantástica, um delírio cheio de elementos do “policial”, um livro muito, muito bem escrito. Não procure mais.

***

FRASES

"Notei falhas no processo Casa Pia: a ausência de um trapezista e de um engolidor de espadas." João Pereira Coutinho, ontem, no CM

"Estamos tão embrenhados no mundo digital que vamos perdendo a atenção pelo que nos rodeia." Luís Naves, no blogue Emoções Básicas

Etiquetas:

setembro 04, 2010

Betinhos

O «caso Queiroz», como é conhecida a trapalhada em que se meteram o governo, a federação, as autoridades da dopagem e, agora, o Instituto do Desporto, ficará para a posteridade como um epifenómeno de natureza cómica. Basicamente, as conclusões do processo não se afastam muito do que já se sabia. No entender do governo (porque o governo é neste processo representado pela autoridade da dopagem, pelo Instituto do Desporto, IDP, e pelo secretário de Estado), o seleccionador perturbou os senhores que recolhem – dos jogadores de futebol – fluidos e substâncias passíveis de serem enviadas aos laboratórios. O secretário de Estado (é evidente que me custa criticá-lo porque, em vários domínios, fez um trabalho exemplar) foi claro: «A questão fundamental é saber se houve ou não perturbação da acção antidoping.» A Federação disse que não e castigou o treinador por palavrões; insatisfeita, a autoridade da dopagem pediu de novo o processo e disse que sim – é o presidente do IDP, que depende do secretário de Estado, que o afirma – e acrescentou-o aos palavrões.

Numa coisa estamos de acordo: nos palavrões. Queiroz já reconheceu que disse palavrões, e as autoridades exigiram cavalheirismo, moral e decência na bola, porque um palavrão no futebol é, parece, uma novidade. Alguém já ouviu palavrões no mundo da bola? Nunca.

Para as autoridades governamentais, houve perturbação da recolha de fluidos. Como? Com a criação, corai de vergonha!, de um «ambiente hostil». As autoridades da dopagem não querem trabalhar num «ambiente hostil»; querem, antes, palmadas nas costas e genuflexão, tal como os betinhos querem ser bem recebidos nos lugares públicos. Como o assunto é grave (palavrões e ambiente hostil), pune-se o treinador com seis meses. Quem o decide? A autoridade da dopagem ou, por interposta pessoa, o IDP. Isto merece um palavrão.

2. O Marítimo, ai dele, pede que sejam retirados três pontos ao FC Porto por causa de um jogador que não quer jogar no Marítimo e parece que está no Atlético Mineiro. Faz bem. Enquanto pede três pontos, vai perdendo nove.

in A Bola - 4 Setembro 2010

Etiquetas:

setembro 03, 2010

Blog # 687

Em ‘Um Eléctrico Chamado Desejo’, de Tennessee Williams (1911-1983), Blanche DuBois é muito mais do que o desejo, o desespero e o desafio à solidão desconhecida – ela (no cinema com o rosto de Vivien Leigh contracenando com Marlon Brando, na versão de Elia Kazan) povoou grande parte dos nossos sonhos daí em diante. Bastava olhar. Bastava ouvir para saber que era mentira. Quem não passou por essa etapa devia ser obrigado a voltar atrás e a experimentar a sensação: uma mulher que esconde o seu passado, que procura proteção, que sonha com um amor tranquilo, que tenta esconder a sua fragilidade e o seu desejo. Alexandra Lencastre será, agora, a Blanche DuBois portuguesa. Alexandra, que já é parte da nossa memória do teatro e do cinema, vai interpretar o papel da sua vida.

Etiquetas:

setembro 02, 2010

Blog # 686

Como as coisas estão, Carlos Queiroz não deveria abandonar o cargo de selecionador; lugar para que foi contratado e cargo que não o deixam exercer. O imbróglio é vergonhoso e diz respeito a uma caça ao homem, indecorosa e indigna, e que inclui tribunais políticos plenários, proibição de um acusado se defender, delitos de opinião, perseguição permanente, etc. Queiroz pode não ser o treinador ideal para a seleção e pode ter dito palavrões (curiosos ouvidos estes, que se chocam ao ponto de levarem o assunto a tribunal – como se nós não os tivéssemos ouvido antes); mas o processo sujo que lhe armaram obriga-nos a suspeitar da honorabilidade desta gente e das instituições que a alberga por vício. Chegámos a um ponto em que damos por nós a apoiar Carlos Queiroz. Quem diria?

***

Catherine Clément, a autora de ‘A Senhora’, vai de novo ser publicada em Portugal. O título? ‘Dez Mil Guitarras’ (Porto Editora), mais um romance histórico que atravessa a memória portuguesa – neste caso, a de Alcácer-Quibir.

***

FRASES

"Ninguém sai limpo, por muito que Queiroz deseje lavar a honra." Sérgio Lavos, no blogue Arrastão.

"35 anos vividos em Portugal é muito tempo, qualquer um se farta. Até uma tartaruga." Domingos Amaral, ontem, no CM.

Etiquetas:

setembro 01, 2010

Blog # 685

O país faz contas e faz bem. É preciso cortar na despesa – uma evidência que o governo evita sempre que pode. Mas veja-se o caso das escolas: as autoridades andam felizes porque poupam com o encerramento de escolas. Não deviam. Encerrar uma escola devia ser uma decisão muito séria e nunca deixada aos que se ocupam da engenharia social do governo, um misto de autoritários e burocratas que decidem tudo em Lisboa. Portugal não está apenas a perder as aldeias e a desregular a vida do interior – faz experiências educativas com crianças que, em alguns casos, saem prejudicadas do processo. Gastar nas autoestradas, nas grandes obras e nos computadores é negócio e investimento; tratar do ensino com o cuidado que ele merece já é uma despesa. Esta gente está a destruir o país.

***

Sai durante este mês, dia 27 – o novo romance de José Eduardo Agualusa leva o título de ‘Milagrário Pessoal’ (Dom Quixote) e trata, imagine-se, da Língua Portuguesa. Uma aventura prodigiosa, sensual e divertida.

***

FRASES

"Ela chegou ao meu café a gritar que o marido a queria matar." Florinda Veiga, sobre uma vizinha que o marido tentou incendiar. Ontem, no CM.

"Visto a partir da Europa Central, Portugal é uma pequena anomalia." Luís Naves, no blogue Albergue Espanhol.

Etiquetas: