dezembro 19, 2009

A vida é como é

1. O mundo não vai parar este fim-de-semana, a menos que se corra para o título de «campeão de Inverno». A imprensa atribuirá o título se o Benfica ganhar o jogo de domingo e irá colorir as suas primeiras páginas com a paleta da glória e alguns pontos de exclamação; se o FC Porto ganhar, como espero, o ceptro não será atribuído e o destaque será dado às novas contratações do Benfica — contratações que, como se sabe, têm como finalidade retirar o clube da sua grave situação financeira, diminuir o passivo acumulado e mostrar ao mundo como são grandes e fartos os clubes portugueses. A vida é como é. Manda quem pode.

2. Nos tempos de Co Adriaanse, o treinador que ganhou o campeonato sem saber ler nem escrever, o FC Porto perdeu no confronto directo com o Benfica. Na altura, o treinador do molho holandês (um homem que conseguiu dizer, sem rir, que Diego não tinha talento especial) garantiu que não imaginava que era importante ganhar ao Benfica. Se calhar não é — mas ajuda um pouco, porque sempre são seis pontos a favor, juntando as duas voltas. Mas enfim, nestas contas nunca se sabe; diante dos tetracampeões, há equipas que se agigantam...

3. Sim, eu gosto de piadas sobre o Benfica. Ajuda, como diz David Luís a outro propósito qualquer, a manter a pressão sobre o adversário. Lucílio Baptista também tem esse efeito, não tem?

4. O mundo seria mais tranquilo e os estádios bons para dormirmos a sesta, se reagíssemos como Carlos Carvalhal depois da derrota da sua equipa em Berlim, frente ao Hertha: «Em termos de qualidade de jogo acho que demos um salto em frente.» Isto equivaleria a dizer, depois de uma derrota categórica (o Hertha está em último na Bundesliga), que «até nem jogámos mal» ou «fiquei apenas ligeiramente insatisfeito». Rui Patrício também é um homem generoso e candidato ao prémio do optimista do ano: «Fizemos um excelente jogo, uma excelente exibição.» O resto da frase é: «Mas infelizmente perdemos.»

in A Bola - 19 Dezembro 2009

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