Selecção e o resto
Hoje, a selecção joga quase tudo. O tornozelo de Ronaldo, a birra de Nani, a esperança com folga a mais, o excesso de entusiasmo – joga quase tudo. Joga contra a Bósnia e isso é uma miragem (ai de nós!) depois de a eliminação ter estado à vista por duas ou três vezes, e termos saltado por cima. Nestas condições, estamos todos com a selecção, como um coro de selvagens desafinados, que é isso que somos a ver futebol, sem dar espaços ao adversário. Vão pelas alas, vão pelo miolo, vão por todo o lado – mas marquem e joguem melhor. Hoje tem de ser.
Gosto de ouvir o treinador do FC Porto porque, tirando as fases de obnubilamento téorico, é dos melhores técnicos a ler o jogo, a interpretá-lo e a tirar as ilações necessárias. Por isso, estranhei que, em vez de pôr a equipa a rodar (coisa que ele sabe fazer, como se comprova pelos três títulos consecutivos), rezingasse contra os que falam de «mau futebol». É um assunto permanente que acompanha os ciclos negativos do FCP. E eu pensei: bom, vamos sofrer no Funchal. Dispus-me, de coração à mostra. Pois nem de propósito, Jesualdo Ferreira avisou antes do jogo com o Marítimo que se tratava de sofrer – ou de prolongar o sofrimento. Há uns tempos, escrevi que «Jesualdo tem de entender o sofrimento dos outros – de nós, que não sabemos de arquitectura e de sistema tirado à esquadria, mas que estamos sentados em redor do relvado a contar os minutos de jogo». Agora, é um ponto sem retorno: o Marítimo ganhou bem e mostrou que há ciclos que terminam. Já disse.
Mas o que me aflige (de aflição duradoura e sem diplomacia) é o tom entristecido das declarações de Jesualdo no final do jogo do Funchal: que a equipa, quando despertou e «percebeu» as suas indicações, já era tarde. Tarde? Uma equipa de profissionais que joga na Champions, que devia ter atrás de si um lastro de memória a honrar quatro campeonatos ganhos sem mácula – e é tarde? Não, não é tarde. É, antes, caso de arrumar a casa e de começar de novo. Para isso ainda não é tarde.
Uma pergunta: quanto tempo dura o efeito do Orangeblast? Há cada pergunta.
in A Bola - 14 Novembro 2009
Gosto de ouvir o treinador do FC Porto porque, tirando as fases de obnubilamento téorico, é dos melhores técnicos a ler o jogo, a interpretá-lo e a tirar as ilações necessárias. Por isso, estranhei que, em vez de pôr a equipa a rodar (coisa que ele sabe fazer, como se comprova pelos três títulos consecutivos), rezingasse contra os que falam de «mau futebol». É um assunto permanente que acompanha os ciclos negativos do FCP. E eu pensei: bom, vamos sofrer no Funchal. Dispus-me, de coração à mostra. Pois nem de propósito, Jesualdo Ferreira avisou antes do jogo com o Marítimo que se tratava de sofrer – ou de prolongar o sofrimento. Há uns tempos, escrevi que «Jesualdo tem de entender o sofrimento dos outros – de nós, que não sabemos de arquitectura e de sistema tirado à esquadria, mas que estamos sentados em redor do relvado a contar os minutos de jogo». Agora, é um ponto sem retorno: o Marítimo ganhou bem e mostrou que há ciclos que terminam. Já disse.
Mas o que me aflige (de aflição duradoura e sem diplomacia) é o tom entristecido das declarações de Jesualdo no final do jogo do Funchal: que a equipa, quando despertou e «percebeu» as suas indicações, já era tarde. Tarde? Uma equipa de profissionais que joga na Champions, que devia ter atrás de si um lastro de memória a honrar quatro campeonatos ganhos sem mácula – e é tarde? Não, não é tarde. É, antes, caso de arrumar a casa e de começar de novo. Para isso ainda não é tarde.
Uma pergunta: quanto tempo dura o efeito do Orangeblast? Há cada pergunta.
in A Bola - 14 Novembro 2009
Etiquetas: A Bola
<< Home