Vejo que, com alegria tão indisfarçável como irreprimível, vários jornais assinalaram o «adeus» do FC Porto ao título, depois da justíssima derrota em Alvalade. Não sei. Há especialistas em teoria das catástrofes que, neste momento, alinham hipóteses de resultados até à última jornada. A ideia é mostrar que tudo é ainda possível, bem como o seu contrário.
Como tinha escrito na semana passada, essa é a frase que melhor vai com a «produtividade» do FC Porto durante a época: o mesmo conjunto de jogadores (talentosos ou simples abéculas) é capaz de tudo e de nada. Desta vez, em Alvalade, foram capazes de nada, exactamente como tinham sido capazes de tudo no jogo com o Braga: às vezes funciona; de outras vezes, não funciona. Esta teoria não comove os adeptos e não constitui uma explicação decente em futebol. Melhor falar da meteorologia; mas custa-me ver o dr. Anthímio de Azevedo, nos ecrãs da televisão, a anunciar que, por causa do anticiclone dos Açores, nem Bruno Alves nem Rolando são capazes de chutar uma bola dos limites da área, nem Varela é capaz de um drible, nem Falcão de um golo (não vale a pena tentar compreender Tomás Costa ou Guarín). Por isso, é preciso encontrar outra explicação convincente — voluntarismo divino, neblinas matinais e neve nas terras altas não me parece que funcionem.
Também há quem suspeite (mas não diga) que os maus resultados se devem aos €19,6 milhões de lucro da SAD (de que resultaram €3,2 milhões em comissões a empresários). Se contabilizarmos Lisandro, Lucho e Cissokho, há aí um fundo de verdade. Fazem falta, afinados e a dançar pelo campo fora. Compará-los com os Predigers que nos calharam só por masoquismo e falta de juízo (ou por julgarem que a falta de juízo é nossa). Funciona?
Outra tese é a de que isso se deve aos «processos», «métodos» e «sistemas» de Jesualdo — mas o treinador tem, a seu favor, três campeonatos ganhos aos rivais de outras épocas. O que também é uma explicação com mérito, se pensarmos que, ao fim de quatro anos a arrebatar títulos, devemos falar de «ciclos na vida das equipas». Funciona, não funciona?
in A Bola - 6 Março 2010Etiquetas: A Bola