março 31, 2010

Blog # 576

O CM anuncia que os Gothan Project vêm a Portugal em Maio, o que não é grande novidade exceto para mim. Esquecendo a mania de a banda cair frequentemente na tentação de fazer propaganda política (uma coisa que estava na moda, para imitar o betinho maltrapilho Manu Chao), é preciso dizer que os Gothan reinventaram a saúde do tango – em versão eletrónica. Em Buenos Aires são muito pouco conhecidos, mas na Europa conseguiram pôr meio mundo a dançar ao som do ‘bandoneon’, o que já é meritório. O tango é uma canção dramática, de taberna, de beco, entre homem e mulher, entre amor e morte – de navalha e sangue, como escrevia Borges; convertido à eletrónica, é pura música de dança, pura tentação. Perde um pouco da sua nobreza, mas ganha uma força bruta que não se pode desprezar.

***

Nunca é demais chamar a atenção para ‘Poesia Romântica Inglesa’, traduções de Byron, Shelley e Keats, por Fernando Guimarães (3.ª edição na Relógio d’Água): quando queremos poesia a sério temos de ir à fonte e aos grandes autores.

***

FRASES

"Passos Coelho saiu da Jota. Infelizmente, dá ideia de que a Jota nunca conseguiu sair dele." Constança Cunha e Sá, ontem, no CM.

"É interessante ver os inimigos do catolicismo opinar sobre a organização interna da Igreja." João Miranda, no blogue Blasfémias.

Etiquetas:

março 30, 2010

Blog # 575

O Eurobarómetro é uma fonte de surpresas para os distraídos. Desta vez, as estatísticas europeias dizem que 64 por cento dos portugueses nunca pratica desporto algum. Os gregos são mais preguiçosos do que nós: 67 por cento recusa mexer-se. Os italianos e os búlgaros, também mediterrânicos, está quieto. Pelo contrário, os países do norte da Europa (Suécia, Finlândia e Dinamarca) são os mais ativos – atribuo a coisa ao frio, que exige movimento e, ao mesmo tempo, fortalece as carnes. No sul, somos indecentes, preguiçosos, contemplativos, bebedores, contamos mais anedotas, temos barriguinha e inventamos desculpas por causa do clima. Os burocratas da UE chamam a isto “falta de atividade física” e devem ter alguma razão. Devíamos mudar um nadinha. Só para não os desiludir.

***

Com 740 páginas, está aí a biografia de António Spínola (Esfera dos Livros), do historiador Luís Nuno Rodrigues, autor da de Costa Gomes e de um estudo sobre as relações entre Kennedy e Salazar. Para compreender os anos setenta.

***

FRASES

"Tenho mesmo tudo de origem." Cristina Areia, actriz e capa da Playboy, ontem, no CM.

"O pecado é privado, mas o crime deve ser sempre público." Sérgio Lavos, sobre a pedofilia na Igreja Católica, no blogue Arrastão.

Etiquetas:

março 29, 2010

Blog # 574

Hoje confinados ao extremo ocidental, é natural que recordemos as “partes do Império”. Há autores que vão escrevendo sobre as suas (ou dos outros) memórias de Angola e Moçambique, por exemplo. O timorense Luís Cardoso trouxe-nos a sua ‘visão ultramarina’. Cabo Verde tem a sua literatura há muito, e os portugueses não têm memórias coloniais do arquipélago. Raquel Ochoa, em ‘A Casa-Comboio’ (Gradiva), recria a presença dos portugueses na Índia (Nagar-Aveli, Diu, Damão, Goa) durante 450 anos, através de uma história familiar e comovente. Para primeiro romance, é muito bom – e convinha que os seus leitores se dessem conta de que têm nas mãos um documento excecional que recupera para a nossa literatura um mapa que, desde o salazarismo, tem sido ignorado e maltratado. Muito bom.

***

Do grupo dos Gato Fedorento conhecíamos o talento para a escrita de Ricardo Araújo Pereira. O livro de Zé Diogo Quintela, ‘Falar É Fácil’ (Tinta da China) revela, aos mais distraídos, um extraordinário cronista a não perder.

***

FRASES

"Passos Coelho não se limitou a espantar as aves. Enfiou-as na gaiola para os próximos tempos." João Pereira Coutinho, ontem, no CM.

"O PSD «dotou-se» de Passos Coelho. Estava no catálogo da fábrica de primeiros-ministros." José Medeiros Ferreira, no blogue Córtex Frontal.

Etiquetas:

março 27, 2010

Para o futuro

A decisão do Conselho de Justiça da FPF não vem repor nenhuma justiça no «caso do túnel da Luz» (porque a grave injustiça é irreparável), embora confirme a pantomineirice em que se transformou o arremedo de sistema jurídico em que agonizam os donos da bola. O responsável pelo primeiro castigo aplicado a Hulk e Sapunaru não pode, de nenhuma forma, compensar os prejuízos causados aos jogadores e ao clube – fica-lhe, simplesmente, colado o rótulo mais conveniente e que não é lisonjeiro.

Já a demissão de Hermínio Loureiro de presidente da Liga me parece mais suspeita e, declaradamente, um tiro no próprio pé – que o próprio Hermínio Loureiro, não merecia ter desferido. Em primeiro lugar, devia existir uma separação clara entre os objectivos da presidência da Liga e as decisões tomadas por um órgão como o CD, que devia ser (mas não é) independente. Ao demitir-se na sequência de uma decisão contrária ao CD da Liga, o presidente reconhece que um dos seus objectivos seria a aplicação de um castigo ao FC Porto e aos jogadores do FC Porto, mesmo se aquele se revelasse inadequado. Ou seja, confirma por este meio que uma desautorização a Ricardo Costa e ao CD é uma desautorização à sua presidência. Hermínio Loureiro, que é um político, devia ter sabido reconhecer a armadilha.

Evidentemente que o FC Porto foi prejudicado – e gravemente prejudicado. O que não serve para justificar uma temporada anódina e desportivamente fraca. Enfraquecido por processos jurídicos duvidosos e por manobras escandalosas (ou, para ouvidos delicados, no mínimo, «suspeitas»), o FC Porto devia ter-se precavido devidamente no plano estritamente desportivo, à semelhança do que aconteceu na época passada. Infelizmente, isso não aconteceu – pelo que têm inteira razão os que falam do «fim de um ciclo». Isso tem de ser encarado sem drama. Ao fim de quatro anos de invencibilidade, é preciso reorganizar as tropas, desenhar uma estratégia e traçar novos objectivos sobre o mapa do futebol. Nada mais natural.

in A Bola - 27 Março 2010

Etiquetas:

março 26, 2010

Blog # 573

Neste domingo serão assinalados os 200 anos do nascimento de Alexandre Herculano. Para uma ou duas gerações de portugueses, o nome de Herculano estará sempre ligado a ‘Eurico, o Presbítero’, lido nas escolas e escondido nas estantes. É pena. Alexandre Herculano foi um dos mais importantes pensadores portugueses, um cético em matéria política, um talento extraordinário como historiador. A sua obra e a sua mensagem nunca foram muito populares – e o retiro de Vale de Lobos, onde se recolheu, acaba por ser uma imagem recorrente dos desiludidos da política e dos homens. A vida portuguesa repete os falhanços e as falsas esperanças de há dois séculos e, por isso, convém estudar o século XIX e a obra de Herculano. Mudámos muito desde então, mas a sensação de catástrofe mantém-se.

***

“Há quem traga dentro de si o ritmo da terra a tremer.” Assim começa o capítulo 28 de ‘O Miúdo que Pregava Pregos numa Tábua’, o novo livro de Manuel Alegre (D. Quixote). É um elogio da literatura e da arte da escrita.

***

FRASES

"PS e PSD são os dois responsáveis pelo estado a que isto chegou." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

"O direito a ser cientista e escritor não está reservado aos bons cientistas e bons escritores." Lourenço A. Cordeiro, no blogue Complexidade e Contradição.

Etiquetas:

março 25, 2010

Blog # 572

Volta a falar-se da privatização da RTP. Periodicamente, o assunto regressa e toda a gente sabe que não se avançará muito na discussão porque, tal como estão as coisas, interessa a todos os partidos manter um módico de controle sobre a informação da televisão pública. O problema não é esse. A questão está em ver se a RTP (supõe-se que seja a RTP1) oferece alguma coisa substancialmente diferente do que oferecem os outros canais – e se a sua (eventual) qualidade for uma marca distintiva. Não me parece, se bem que haja arremedos. Nesse sentido, a privatização da RTP faz sentido. O que o ministro das Finanças diz é outra coisa: primeiro põe-se a RTP com as contas em dia à conta do orçamento do Estado; depois, sim, vende-se. Exatamente ao contrário do que é preciso fazer.

***

No meio de títulos e títulos de romances desenhados pelo mesmo escantilhão, aí está, prestes a chegar às livrarias, o novo romance de Ian McEwan, ‘Solar’ (Gradiva). É uma das leituras (boas) para as férias da Páscoa.

***

FRASES

"Não se percebe quais os critérios que levam à privatização dos Correios e excluem a da RTP." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

"O carro ganhou vida própria [após um despiste]." Frase atribuída pelo MP a Maria Paula Dias, que atropelou três pessoas. Ontem, no CM.

Etiquetas:

março 24, 2010

Blog # 571

Várias almas se têm dedicado a tratar o tema ‘a violência no desporto’. Algumas delas estão no paraíso das chamadas ‘instituições do desporto’, o que é um erro clamoroso – devia ser caso para chamar juristas e polícias, além de professores de boas maneiras. Os juristas enumerariam as leis que já existem, os polícias tratariam de fazer aplicá-las e de reter os prevaricadores – e os professores de boas maneiras (que não abundam) exerceriam o seu mister junto dos, assim chamados, jogadores cujo comportamento merece reparo. Os estádios, que são um espaço público, deviam ser lugares onde as pessoas não corressem o risco de serem assaltadas por esses energúmenos. Uma coisa é jogar e ver jogar à bola, o que se aceita; outra, totalmente diferente, é estar à mercê da bandidagem.

***

Os Dias da Febre’, de João Pedro Marques (Porto Editora) é uma história de amor em tempo de peste – em meados do século XIX, numa Lisboa suja e enferma, minada pela intriga e pelo ruído. Romance histórico escrito por um historiador.

***

FRASES

"Como é um rapaz muito nervoso matou-a com o meu machado." Avô de Francisco Gomes, 26 anos, que assassinou a mulher. Ontem, no CM.

"Já estava farto de passear ao ar livre, ler livros, ir a concertos. Finalmente." Sobre a abertura dos hipermercados ao domingo, no blog Cocó, Ranheta e Facada.

Etiquetas:

março 23, 2010

Blog # 570

James Cameron, o fabricante de ‘Titanic’ (um pastelão) e de ‘Avatar’ bem tinha dito, com a alegria dos profetas banais, que “o futuro está no cinema 3D”. Temo, no entanto, que estejamos a confundir tudo – o cinema, propriamente dito, e a fabricação de filmes em 3D à maneira de um artefacto suplementar que é, sem dúvida, um avanço tecnológico. No entanto, um mau filme continua a ser um mau filme, venha ele em duas, três ou quatro dimensões. Antecipando-se aos grandes estúdios, como vanguarda da sétima arte, a indústria pornográfica adotou o princípio e já começou a rodar nesse formato; parece que o problema é o peso das câmaras, cujos 20 quilos, disse Tom Sridix, realizador (vem no CM de ontem), “dificulta alguns ângulos”. Compreende-se, mas nada que não se resolva.

***

Chegou às livrarias o novo romance histórico de Isabel Stilwell: ‘D. Amélia’ (Esfera dos Livros). Excelente oportunidade para conhecer uma personagem dramática e forte, incompreendida e vítima dos lugares-comuns do republicanismo.

***

FRASES

"Em economia, o caminho que parece mais óbvio é, de longe, o menos apropriado." Tiago Moreira Ramalho, no blogue Plomb du Cantal.

"O País merece oposição mais esclarecida. Já nem falo do Governo." Manuel Catarino, ontem, no CM.

Etiquetas:

março 22, 2010

Blog # 569

Akira Kurosawa, que morreu em Setembro de 1998, completaria amanhã 100 anos. É um centenário importante, o de Kurosawa – um dos mais importantes cineastas do século XX e um extraordinário poeta da tela. Além do cinema, Kurosawa teve uma paixão marcante para toda a sua vida (e obra): a pintura. Por isso ‘Ran, Os Senhores da Guerra’ é Shakespeare (‘Rei Lear’) elevado a um grau de beleza insuportável, tal como já o tinham sido ‘Dersu Uzala’ (‘A Águia da Estepe’) e ‘A Sombra do Guerreiro’. Uma tal beleza teria consequências dramáticas, acho eu: deprimido e cansado tentou suicidar-se várias vezes. Kurosawa tratou temas como a honra, a lealdade, a coragem, a culpa e a relação do homem com a natureza – e mostra como o cinema pode também ser um relâmpago no céu do entardecer.

***

Livro absolutamente urgente: ‘Livros e Cigarros’, de George Orwell (Antígona). Um conjunto de reflexões sobre bibliofilia, livrarias, liberdade. A atualidade é medonha; assusta a forma como os combates de Orwell são os de hoje.

***

FRASES

"O primeiro-ministro não quer cumprir o mandato e quer provocar um incidente." Francisco Louçã, ontem, no CM.

"Falar ou não falar acaba por ser toda uma arte partidária." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho Carpinteiro.

Etiquetas:

março 20, 2010

O regresso à bola

Tenho andado com a cabeça ocupada a fazer e a refazer o plantel do FC Porto para a próxima época, tendo em conta que há lesões caídas do céu e que há jogadores cujo talento desaparece no relvado sem que ninguém dê conta. Não vale a pena construir grandes metáforas nesse aspecto – não sei como estão as coisas em matéria de liderança, mas sei que o plantel tem de alterar-se, salvo erro.

Há treinadores que melhoram jogadores, evidentemente (e Jesualdo Ferreira é um deles, desde que não se chamem Tomás Costa, Guarín ou Mariano, por exemplo, e deus sabe como todos nos enganamos); mas os clubes também deviam entrar neste campeonato, servindo-se “do mercado” com parcimónia. O FC Porto fê-lo com notoriedade, valorizando a bolsa e a bolsa da SAD, mas a abundância alimenta distracções mais do que juízo. Sabem do que estou a falar.

Se, por hipótese (vejam a modéstia), o FC Porto não se classificar para a Champions, pode dizer-se que está aí uma oportunidade de ouro (ou várias), uma pérola que não convém desperdiçar. Explico porque são várias: em primeiro lugar, porque só deve merecer jogar no FC Porto quem for «um jogador do FC Porto», ou seja, se for capaz de assumir a tradição e os valores do clube, que não é apenas uma plataforma para saltar «para a Europa»; em segundo lugar, porque certa míngua de recursos financeiros serve para introduzir algum juízo na gestão do plantel, sem mencionar que a necessidade aguça o engenho – juízo e engenho, coisas que de que o FC Porto está precisado; em terceiro lugar porque, o clube não pode continuar a rodar fora de casa, eternamente, jogadores que fazem falta lá dentro e que não perdem em comparação com o clube de tango actual. Isto, para ficarmos por aqui.

Pode dizer-se que se trata de um regresso à bola, propriamente dita, aproveitando para deixar as contas limpas e em ordem. Está na altura de encerrar um ciclo e de iniciar um novo, esperando que o hiato seja curto (um Verão bastaria). É dos manuais da especialidade: não se joga bom futebol sem bons jogadores.

in A Bola - 20 março 2010

Etiquetas:

março 19, 2010

Blog # 568

Sempre que se fala de “dinheiro para a cultura” sinto um calafrio. Os pedidos são largos e a fila de espera é vastíssima, alimentando o número de clientes do orçamento, que depois se hão de tornar fiéis guardiães do seu ganha-pão e de quem o disponibiliza lá do alto. Por isso é tão acomodada essa fila de espera, e maneirinha, e esperta. Mas, olhando bem para os bónus que o Estado prodigaliza aos administradores de empresas mal geridas ou que são por si participadas, apetece voltar atrás. O Estado gasta quase tudo mal gasto e sem respeito pelos contribuintes, ou cidadãos, que hão de pagar mais impostos para alimentar o Leviatã. Havendo património em ruínas e escolas sujas e miseráveis, os bónus seriam bem-vindos. E se isso não é uma revolução cultural, não sei o que será.

***

É hoje, sexta-feira (às 18h30), a apresentação do novíssimo romance de Manuel da Silva Ramos, ‘Três Vidas ao Espelho’, na Livraria Barata/Leya (Av. Roma). E de luxo: para falar sobre o livro vai estar Miguel Real.

***

FRASES

"O último Congresso do PSD redundou em mais um presente para Sócrates." Paula Teixeira da Cruz, ontem, no CM.

"As mulheres também gostam de futebol, um dos maiores retrocessos civilizacionais." Lourenço Cordeiro, no blogue Complexidade e Contradição.

Etiquetas:

março 18, 2010

Blog # 567

São vinte e oito livros – as aventuras de Tarzan. Foram escritas por Edgar Rice Burroughs, que morreu há sessenta anos na Califórnia (cumprem-se amanhã, exatamente) sem ter ido a África. O herói era branco e devidamente depilado, como um ginasta americano, pronto a ser interpretado por Johnny Weissmuller ou Elmo Lincoln. Andar de liana em liana, namorar Jane, relacionar-se com os animais, proteger os desprotegidos – tal era o programa de Tarzan, o menino abandonado na selva, à semelhança do que os europeus do século XVI tinham também previsto para as suas utopias ultramarinas. Burroughs escreveu muito mais do que as histórias de Tarzan (sobretudo ficção científica), mas só essas atingiram a popularidade servida pelo cinema. Recordá-lo é prestar um favor à inocência.

***

As Notícias dos Telejornais’, de Nuno Goulart Brandão (Guerra e Paz) bem pode servir para debate nestes tempos de acusações sobre manipulação da informação televisiva. O livro chega esta semana às livrarias.

***

FRASES

"O PSD tem uma invulgar capacidade de gerar tralha política." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

"Confesso que começo a ficar cansado da palavra ‘populismo’." Pedro Correia, no blogue Delito de Opinião.

Etiquetas:

março 17, 2010

Blog # 566

Uma parte do segundo mandato do governo de José Sócrates está ocupada em corrigir patetices cometidas no primeiro. No caso da Educação, a ministra Isabel Alçada reagiu bem ao “caso Leandro”, mandando efetuar novo inquérito e declarando-se preocupada com a violência nas escolas, mais do que com as estatísticas e estatutos adquiridos. Mas a correção não abrange apenas os governos socialistas – ao longo dos últimos 30 anos houve demasiados sociólogos e pedagogos a tentar explicar o fenómeno e poucos políticos a tomar as decisões corretas. O que prova que a verdadeira revolução no ensino tem de começar pelos ‘corredores do Ministério’, onde se albergaram os técnicos que fizeram das nossas escolas vulgares laboratórios e, dos alunos, cobaias. O resultado é como se vê. Mau.

***

O novo romance de Filomena Marona Beja, prémio APE de 2007, leva o título ‘Bute Daí, Zé!’ (edição da Sextante). Está em leitura. Mas é estranho para quem tem um dos mais belos títulos da nossa ficção (‘A Duração dos Crepúsculos’).

***

FRASES

"Vivemos uma situação grave de asfixia crítica, para usar o vocabulário que está na moda." Jorge Silva Melo, encenador. Ontem, no CM.

"O Partido Socialista é socialista nos anos eleitorais, neoliberal nos restantes." João Miranda, no blogue Blasfémias.

Etiquetas:

março 16, 2010

Blog # 565

O ressentimento de Santana Lopes permitiu que um dos factos relevantes do recente congresso do PSD tivesse sido a “lei da rolha”, que suscitou indignação merecida e justificada. Todos os partidos têm fugas estatutárias que permitem outras rolhas. Cumpre no entanto dizer-se que a proposta foi aprovada por larga maioria, o que sintetiza bastante a opinião que “os portugueses” têm sobre “a liberdade” e a “asfixia democrática”. Durante a guerra civil do século XIX, D. Pedro IV sabia do que falava quando lançou o aviso: “Portugueses, não me obrigueis a libertar-vos pela força!” Claro que “os portugueses” não se deixaram impressionar com a ameaça, e preferiram a força. Parece que, no caso do PSD, as bases estão fartas de vozes dissonantes – mas, mesmo assim, causa impressão.

***

É o 1.º Volume de uma ‘História de Portugal’ e intitula-se ‘Donde Viemos’ (Caminho). Com simplicidade, expõe as nossas origens. Ou seja: quem ocupou este território antes da nacionalidade. E tem a nacionalidade algum sentido?

***

FRASES

"Vou pegar na calculadora e ver quantas vezes me poderiam expulsar do partido." António Manuel Venda, sobre a lei da rolha do PSD, no blogue Delito de Opinião.

"Finalmente, os traidores vão ser calados, em vez de ajudarem os adversários." Leitor V. Guerra, sobre a lei da rolha do PSD. Ontem, no CM Online.

Etiquetas:

março 15, 2010

Blog # 564

A Mesquita de Lisboa comemorou ontem 25 anos de existência. Desde o século XV, que nenhum templo muçulmano tinha sido construído em Lisboa. Um dia, depois do 11 de Setembro, levei o rabino de Lisboa à mesquita para tomarmos um café e, na semana seguinte, levei o xeique à sinagoga Shaare Tikvá para almoçar. Se há uma vantagem de que podemos usufruir em Portugal é o de sermos mais tolerantes em matéria religiosa. Temos razões para isso: a perseguição religiosa deixou Portugal mais pobre desde o século XVI. A sinagoga de Lisboa teve de esconder a sua porta até 1974. Os protestantes foram silenciados e marginalizados. Só com a descolonização Portugal descobriu que havia muçulmanos no seu território. São muitos anos de desconfiança e de maldade. Mas cada um já tem a sua casa.

***

Surpresa para Abril de onde menos se espera: o diretor de ‘A Bola’, Vítor Serpa, está cansado de bola e publica (na Dom Quixote) um romance: ‘Tanta Gente em Mim’, o retrato da sua geração no pós-25 de Abril.

***

FRASES

"Se é para receber Jesus, não importa quem o traz. Tanto vale ser um padre como um leigo." Paroquiano de Vilar do Monte, Barcelos. Ontem, no CM.

"Não estávamos, em Setembro de 2009, no melhor dos mundos, com cinco linhas de TGV?" Núncio, no blogue O Divã de Maquiavel.

Etiquetas:

março 13, 2010

Desilusão e desnorte

A melhor notícia da semana é de ontem: Ukra, que está no Olhanense, renovou com o FC Porto por quatro anos. A segunda melhor notícia da semana é a de que uma série de adeptos do clube esteve no aeroporto a receber a comitiva que vinha de Londres, depois do jogo com o Arsenal e da gripe contraída com o Olhanense. Explico em duas linhas: os adeptos têm o direito de manifestar o seu descontentamento com a actuação da equipa; aliás, penso mesmo que é um dever. Para que se perceba que não estão de acordo com a trapalhada.

Não é possível ser adepto do FC Porto e – simultaneamente – ficar em casa, adormecido, embalado, tranquilo e venerador, como se o respeitinho fosse muito bonito, depois de ter assistido a uma goleada destas, à antiga. Que perdêssemos com o Arsenal – estava, mais ou menos, escrito nas estrelas e nem me perguntem se havia sinais do que estava para acontecer. Até aí, um adepto chega. Levar cinco já não me parece, sobretudo quando se trata de uma equipa que tem esta série de presenças na Champions, além de quatro títulos nacionais consecutivos. O que implica uma história, uma memória, uma tradição, um currículo. E, como é evidente, a equipa que esteve na terça-feira em Londres não honrou essa memória (apesar das excepções e do esforço). A imagem derradeira que conservo é a da entrada de Guarín e de Mariano, com ar derrotado, como dois legumes indisponíveis para o combate. Onde é que isto se viu, nos últimos anos?

As desculpas são bem-vindas – mas sem subterfúgios. Não é possível, como aqui escrevi na semana passada, ganhar sempre. Há ciclos. Há temporadas. Há, até, estados de espírito. O que não pode haver é aquilo que se viu: um desnorte inclassificável que mereceu justíssimos apupos. Acredito que o diagnóstico já está feito no Dragão e não custa entender que a solução venha a caminho.

Por isso, a declaração de André Villas-Boas (a de que vai «querer os três pontos» contra o FC Porto, amanhã, em Coimbra) é um duplo desafio, mesmo sendo de algum despropósito.

in A Bola - 13 Março 2010

Etiquetas:

março 12, 2010

Blog # 563

Em Portugal toda a gente tem opiniões devastadoras. Sobre a tauromaquia, então, trata-se de questões de princípio, de fé e de direito. Eu não tenho. Atendo aos argumentos de um e de outro lado e vejo como os políticos reagiram com hipocrisia ao tema de Barrancos, encontrando a malandrice de lhe fazer uma lei de exceção. A matéria é controversa, e há quem pense que o mundo devia ser um lugar sem sangue, florido e pastoral. Mas não é. Repetindo cerimónias antigas, mesmo alterando tradições, a tauromaquia prolonga uma relação difícil com a natureza e o jogo de vida e morte. O ministério da Cultura quer ‘regular’ a tauromaquia. Há quem ache ‘inoportuno’. Tenho dúvidas. Regular o quê? O tratamento dos animais? Admito. Mais do que isto é um excesso que não faz muito sentido.

***

Sinto falta de livros que ainda não estão nas estantes. Acontece quando vejo Mário de Carvalho – e penso no que pode ser o seu próximo romance. Neste caso, tem o título ‘A Arte de Morrer Longe’, e sai na terceira semana de Abril.

***

FRASES

"Existe coisa mais bonita do que ler uma coisa que se sente que foi pensada? Não existe." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

"A liturgia do ‘achismo’ consiste na mania de o achista responder a tudo sem rigor." Rui Rangel, ontem, no CM.

Etiquetas:

março 11, 2010

Blog # 562

Os portugueses têm má relação com o clima, que é destemperado – e não moderado. Só assim se explicam tantos avisos das autoridades sobre as ameaças de frio e calor. Desta vez é um pavilhão gimnodesportivo acabado de construir em Beja. Pronuncia-se ‘Beja’, e o que pensam os arquitetos? Calor. Daí que tenham construído um pavilhão sem coberturas laterais por onde entra a chuva e que faz do inverno (já vivi no Alentejo e sei) um pavor. Resultado: o pavilhão, glória do Parque Escolar, não é frequentado. Durante uma visita das autoridades encontrou-se uma explicação, que foi dada aos alunos e professores descontentes: a culpa é do clima e, quem sabe, da humidade gerada pelo Alqueva. Podemos construir maus edifícios mas, quanto a justificações, é a nossa grande especialidade.

***

Preparem as estantes aí de casa: a Gradiva vai publicar um romance que vale a pena esperar para ler – ‘A Casa-Comboio’, da estreante Raquel Ochoa. Obteve o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís em 2009. Cenário: a Índia portuguesa.

***

FRASES

"Portugal tem dificuldade em fabricar gente normal. Homens e mulheres simples." Bernardo Pires de Lima, no blogue União de Facto.

"Provocar 'irritação' ao primeiro-ministro não é grande troféu." Domingos Amaral, ontem, no CM.

Etiquetas:

março 10, 2010

Blog # 561

Há prémios que nos deixam confiantes. O Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores atribuído a Maria Helena da Rocha Pereira distingue um nome ilustre e querido das Humanidades. Depois de o Estado e o seu bando de ignorantes terem praticamente banido os Estudos Clássicos das nossas escolas e universidades, aviltando-se e tentando humilhar-nos, o prémio da APE aponta um nome, elege uma paixão e escolhe uma trincheira: Maria Helena da Rocha Pereira contribuiu como ninguém para a sobrevivência dos estudos de cultura clássica em Portugal. Quando as autoridades forem chamadas ao palco, espero que corem de vergonha e não repitam as inanidades do costume sobre como estão contentes com este prémio. Ele é uma acusação contra a ignorância e a banalidade. Parabéns.

***

Raramente leio livros de gestão, que inventam coisas complicadas para falar do óbvio. Precisamente: ‘O Óbvio’, de James Dale (Caleidoscópio) é uma exceção bem-vinda contra os pantomineiros da linguagem dos gestores de pacotilha.

***

FRASES

"Fui beber café. Paguei com uma nota de 5 euros. Estou a pensar comprar a TAP com o troco." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

"Onde anda o Ministério da Educação? No Governo estão confortáveis com a situação?" Eduardo Dâmaso, sobre o caso Leandro. Ontem, no CM.

Etiquetas:

março 09, 2010

Blog # 560

Nascido há cem anos (cumprem-se hoje, 9), Samuel Barber é um nome pouco conhecido, mas, mesmo assim, merece que recordemos a efeméride. Um nome a mais não destrói o cérebro. Recordo a sua música em dias de chuva – em tempos comecei um livro com uma das suas composições, o notável e popular adágio do seu Quarteto n.º 1 para orquestra de cordas (1938). Se é verdade que Barber é considerado um dos grandes representantes da música e da ópera americanas, o facto não deve afastar-nos do essencial: a sua obra é de uma melancolia absorvente e definitiva, na contramão dos “fabulosos anos trinta e quarenta” – uma profecia sobre o abismo, uma melodia incessante e impossível de esquecer. Vantagens dos tempos modernos: podem ir ao You Tube e escutar o Adágio de Samuel Barber.

***

Começa com uma citação de Borges e todo o livro é diálogo e dramaturgia em torno de Teseu e do Minotauro; é isto ‘O Elmo do Horror’, de um dos mais modernos autores russos de hoje, Victor Pelevin (Teorema). Difícil e obscuro.

***

FRASES

"Ele é lindo e chega para todas. Nós não temos ciúmes." Fã do cantor Tony Carreira, ontem, no CM.

"O eleitorado prefere mentirosos e otimistas de pacotilha." Joana Carvalho Dias, no blogue Hole Horror.

Etiquetas:

março 08, 2010

Blog # 559

João de Deus, cujo nascimento (há 180 anos, em São Bartolomeu de Messines) se comemora hoje, não ficará na história nem por ‘Campo de Flores’, nem pelo seu teatro, nem pela sua passagem pelo parlamento (muito menos). Não sei se é a obra mais vezes reimpressa em Portugal, mas deve estar no topo da lista – a ‘Cartilha Materna ou Arte da Leitura’ foi publicada em 1876 e constituiu um instrumento fundamental na alfabetização portuguesa, elevando João de Deus à categoria de ‘pedagogo nacional’, elogiado no seu tempo e relembrado pela rede de escolas que aplicaram ‘o seu método’. Hoje, recordar João de Deus devia ser também uma oportunidade para falar do ensino do Português e das patetices que se fazem nessa matéria. Com tantos teóricos de serviço, temo que seja impossível.

***

Em Defesa da Comida’, de Michael Pollman (Dom Quixote) é um livro óbvio e, no entanto, fundamental – defende o direito e o dever de comer comida sem pressa e sem sentimentos de culpa. E previne contra o excesso de cuidados.

***

FRASES

"A mim interessa-me questionar a invenção do mito da mulher perfeita." Pedro Mexia, ontem, no CM.

"Há a quem o coração afete a vida sexual. Deus me livre e proteja de uma vida sexual." Mónica Marques, no blogue Sushi Leblon.

Etiquetas:

março 06, 2010

Explicações

Vejo que, com alegria tão indisfarçável como irreprimível, vários jornais assinalaram o «adeus» do FC Porto ao título, depois da justíssima derrota em Alvalade. Não sei. Há especialistas em teoria das catástrofes que, neste momento, alinham hipóteses de resultados até à última jornada. A ideia é mostrar que tudo é ainda possível, bem como o seu contrário.

Como tinha escrito na semana passada, essa é a frase que melhor vai com a «produtividade» do FC Porto durante a época: o mesmo conjunto de jogadores (talentosos ou simples abéculas) é capaz de tudo e de nada. Desta vez, em Alvalade, foram capazes de nada, exactamente como tinham sido capazes de tudo no jogo com o Braga: às vezes funciona; de outras vezes, não funciona. Esta teoria não comove os adeptos e não constitui uma explicação decente em futebol. Melhor falar da meteorologia; mas custa-me ver o dr. Anthímio de Azevedo, nos ecrãs da televisão, a anunciar que, por causa do anticiclone dos Açores, nem Bruno Alves nem Rolando são capazes de chutar uma bola dos limites da área, nem Varela é capaz de um drible, nem Falcão de um golo (não vale a pena tentar compreender Tomás Costa ou Guarín). Por isso, é preciso encontrar outra explicação convincente — voluntarismo divino, neblinas matinais e neve nas terras altas não me parece que funcionem.

Também há quem suspeite (mas não diga) que os maus resultados se devem aos €19,6 milhões de lucro da SAD (de que resultaram €3,2 milhões em comissões a empresários). Se contabilizarmos Lisandro, Lucho e Cissokho, há aí um fundo de verdade. Fazem falta, afinados e a dançar pelo campo fora. Compará-los com os Predigers que nos calharam só por masoquismo e falta de juízo (ou por julgarem que a falta de juízo é nossa). Funciona?

Outra tese é a de que isso se deve aos «processos», «métodos» e «sistemas» de Jesualdo — mas o treinador tem, a seu favor, três campeonatos ganhos aos rivais de outras épocas. O que também é uma explicação com mérito, se pensarmos que, ao fim de quatro anos a arrebatar títulos, devemos falar de «ciclos na vida das equipas». Funciona, não funciona?

in A Bola - 6 Março 2010

Etiquetas:

março 05, 2010

Blog # 558

Foi o idealismo dos seguidores de J. J. Rousseau que permitiu o suicídio de Leandro, um miúdo de 12 anos que se atirou às águas do Tua, em Mirandela, depois de ter sido humilhado e agredido por colegas seus. Para designar o fenómeno criou-se o conceito de ‘bullying’, que não é bastante nem ajuda a explicar por que razão a humilhação de colegas, na escola, se tornou tão preocupante. Os leitores de Rousseau, tal como o filósofo, acreditam na bondade dos ‘indivíduos’ e supõem que a sociedade os decompõe (os ‘indivíduos’ são sempre vítimas e, por isso, os agressores de Leandro já têm o correspondente apoio psicológico, que ele não teve). Não acreditaram que os ‘indivíduos’ eram capazes de aterrorizar de tal maneira um seu semelhante ao ponto de o levarem ao suicídio.

***

A Ulisseia reeditou, exatamente conforme a edição original de 1960 (tradução por Maria Lamas, capa dura com tela de linho, grafismo de Sebastião Rodrigues), ‘Memórias de Adriano’, de Marguerite Yourcenar. Uma viagem no tempo.

***

FRASES

"Os limites da privacidade de cada um só podem ser estabelecidos pelo próprio." Afonso Ferreira, no blogue Um Homem na Cidade.

"Confesso que nunca ouvi falar de um caso assim." José Garrucho, psicólogo, sobre o jovem violador de 14 anos, que frequenta o 6.º ano de escolaridade na Moita. Ontem, no CM.

Etiquetas:

março 04, 2010

Blog # 557

Alice encontra-se hoje connosco no cinema – é um enorme risco, porque o livro de Lewis Carroll, ‘Alice no País das Maravilhas’, é um dos grandes enigmas da modernidade, erradamente apresentado como ‘literatura infantil’. Longe disso. A obra, que sobreviveu a todas as leituras, tanto serve para explicar cálculos matemáticos como dificuldades da filosofia; tanto ilustra a vontade de rebeldia, como mostra o ridículo da tirania. Imaginar uma Alice de Tim Burton é um problema, porque o melhor, em clássicos tão importantes, é apresentá-los tal como são, literalmente. É a única maneira de não os empobrecer. Veja-se Shakespeare: depois de cada ‘adaptação moderna’, é preciso voltar ao original, para reencontrar a sua grandeza. A grandeza de Alice é, precisamente, o inexplicável.

***

Pequena e luminosa pérola: ‘Sobre o Flirt’, do psicanalista Adam Philips. O projeto de Philips é usar a psicanálise como poesia; o deste livro é mostrar como a nossa vida e a felicidade dependem de ter interesse pelos outros.

***

FRASES

"De 1974 até hoje, o país democratizou-se, sem dúvida, mas plebeizou-se também bastante." António Figueira, no blogue Albergue Espanhol.

"É um milagre que ainda me convidem depois de alguns filmes que eu fiz." Johnny Depp, ontem, no CM.

Etiquetas:

março 02, 2010

Blog # 556

D. H. Lawrence morreu há 80 anos. O autor de ‘A Serpente Emplumada’ teve a sorte de ser perseguido pelos seus textos mais “chocantes”, que lhe granjearam, além da fama, uma espécie de moral de tia moderna que gosta de conversar sobre a sua hiper-sexualidade frustrada. Além de "O Amante de Lady Chatterley" (de 1928) e de ‘Filhos e Amantes’, o seu génio está sobretudo na escrita de viagens e em alguns textos teóricos em que tenta mostrar que leu sobre psicanálise – além de uma poesia delicada e cheia de luz. Seja como for, a nossa vida seria diferente sem ‘Mulheres Apaixonadas’. Basicamente, e sem saber, escreveu para cinema: paisagens e lugares escolhidos a dedo e personagens em fuga, indefinidas e à procura de satisfação sexual. Lady Chatterley, hoje, está no poder.

***

Livro e publicação invejáveis: ‘Diário Volúvel’ é o registo, flutuante, de um escritor tão notável como poderoso – Enrique Vila-Matas (edição Teorema). Um diário sobre a escrita, a arte, a literatura e até sobre Vila-Matas.

***

FRASES

"Não sei se somos o nosso pior adversário, mas temo-nos esforçado pouco." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

"O espetáculo continua animado, embora os atores sejam de uma maneira geral inqualificáveis." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

Etiquetas:

março 01, 2010

Blog # 555

Sismos e tsunamis. Vendavais e tempestades. Todos buscam explicações científicas para o assunto, e decerto que as há, conforme lemos nos jornais. A humanidade moderna habituou-se a uma Natureza controlada e benévola; os ciclos de desastres são concebidos como exceções num mundo mais ou menos perfeito e harmónico. Não é assim: a nossa relação com a Natureza é, também, trágica e feita de inimizades. Antigamente, aceitávamos esse diálogo trágico e violento como uma condição do nosso destino – as tempestades e as cheias eram periódicas e pouco comentadas; com a ciência e a técnica evoluindo até aos níveis que sabemos, julgávamos que a Terra era um lugar pacificado. Não é. Corpo vivo e revoltado, ameaçado, acossado, a Natureza surpreende os mais distraídos. E desprotegidos.

***

Se é um leitor impenitente e compenetrado – recomendo uma ida à livraria para comprar ‘Substâncias Perigosas’, de Pedro Eiras (Livro do Dia). Livros são substâncias perigosas, exatamente, e nem sempre trazem a felicidade.

***

FRASES

"Quando se senta o primeiro-ministro no banco dos réus, a oposição também se senta com ele." J. Pereira Coutinho, ontem, no CM.

"Sócrates mentiu porque não lhe veio mais nada à cabeça senão aquela mentira." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

Etiquetas: