O Quinta dos Frades, em Lisboa, com luz clara e cadeiras confortáveis, é fundamentalmente um restaurante para almoçar.
O mundo não é mundo sem descanso, e o descanso não é descanso sem aquelas trivialidades que se passam à mesa – conversa fiada, uma comida, uma memória, um vinho. Muitos escritores falam do assunto sem que se dê conta (a literatura portuguesa é pouco dada, a partir de meados do século XX, às questões de estômago – mas olhem para Camilo, vejam Eça, lembrem Fialho), e o Quinta dos Frades faz disso um elemento fundamental da sua decoração.
Nas paredes, fotos de escritores e, volantes, frases que eles deixaram. Não tem marca de excesso literário, no entanto, o Quinta dos Frades: tem luz clara, tons suaves de pastel aqui e ali, chão brilhante de madeiras, cadeiras confortáveis, um ar quase sempre primaveril. Houve um tempo em que era “um dos restaurantes” onde havia imprensa, políticos, empresários, gente conhecida do futebol. Não desapareceram, mas a densidade diminuiu – sem diminuir o interesse que continuo a ter pela casa, sobretudo indo cedo, o que permite tomar uma bebida à entrada e demorar-se noutra à saída (as possibilidades do bar são vastíssimas, com whiskies bem escolhidos, conhaques de eleição e algumas aguardentes a reter).
O mundo – repito – não é mundo sem esta simplicidade e sem uma espécie de meridiano gastronómico que assinala a leveza do cardápio. Não me refiro a economia em calorias e colesterol, mas numa certa mediania da escolha. A comida, no Quinta dos Frades, é bem preparada, há um indício de razoabilidade na sua elaboração, não nos mata de prodigiosa imaginação nem nos fere de ausência absoluta dela. Digamos que se trata, fundamentalmente, de um restaurante de almoço, o que não tem nada de mal.
Nos peixes, além de uma lista acolhedora de peixes grelhados, registemos que convém dar uma olhadela na lista das espécies do dia – para, imaginemos, pensar se não estaria bem uma posta cozida ou grelhada, a gosto. Mas já lá pairaram o arroz de garoupa, os lombos de garoupa à provençal, o naco de cherne grelhado, cuja denominação suculenta é uma marca da casa. Nos pratos do dia, é aos peixes, aliás, que cabe o lugar de honra, com a açorda à marinheiro (com cherne, camarões e garoupa – às sextas), os lombinhos de cherne com arroz de berbigão (sábados), os filetes de pescada com arroz de grelos (terças) ou o polvo assado à portuguesa com batatinhas (quartas), sem deixar passar o bacalhau à Narcisa (ou à bracarense – às segundas, para cumprir a regra). Recomendo muito os lombinhos de cherne, frescos e com gotas de limão além da (para apreciadores) açorda de peixe e marisco com o seu volúvel ovo pairando. O bacalhau à Narcisa é elegante, de posta alta e completa, bem frito e ligeiramente envolvido em polme, com as tradicionais batatinhas fritas às rodelas, vigiando em redor.
Já nas carnes, é à quinta-feira que se apresenta o lombo de novilho à Wellington (em massa folhada, naturalmente, com batatinha dourada e esparregado razoável, num corte muito bom). Há depois um bife à Abade (num molho de pickles), um naco à hortelão, com ervas aromáticas, batata a murro e legumes, uma espetada de lombo, um arroz de pato (que estava muito bom mesmo sem cumprir as regras), presuntinhos de pato estufados, maminha de alcatra à moda de Lafões, perna de novilho assada à Florentina ou – tremei agora de indignação! – no Outono e no Inverno, na secção de pratos do dia, sábados, um cozido à portuguesa completo. Como estamos na Primavera, teremos de esperar mais um tempo.
Entre as opções de sobremesa contam-se cerca de vinte propostas de doces e semi-frios, como o pudim à casa, a musse de chocolate, a musse amendoada, o arroz doce, simpáticas e nunca por demais lembradas farófias – e cerca de dez queijos, entre eles um Nisa, dois serras (curado e amanteigado), um seco de Torres Vedras e um bom Serpa que às vezes se esquece, todos eles a pedir um Porto Vintage que colabore na digestão. Nisto esquecia-me: a lista de vinhos, sendo tradicionalista, com poucos arroubos e sem correr riscos, é também eclética e não exagera nos preços, para que os frades não corem.
À LupaVinhos: * * *
Digestivos: * * *
Acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * * *
GarrafeiraVinhos tintos: 80
Vinhos brancos: 80
Vinhos verdes: 11
Aguardentes & Conhaques: 24
Portos & Madeiras: 12
Uísques: 28
Espumantes & Conhaques: 10
Outros dados
Charutos: sim
Estacionamento: simples
Levar crianças: sim
Área de não fumadores: não
Reserva: aconselhável
Preço médio: 28 euros
Restaurante Quinta dos FradesR. Luís de Freitas Branco, 5 D (Lumiar)1600-488 Lisboa
Telefone: 21 759 89 80
Encerra aos feriados, domingos e jantares de sábado
in Revista Notícias Sábado – 19 Maio 2007
Etiquetas: Restaurantes