maio 05, 2007

Merecer a confiança

1. O FC Porto já esteve com uma vantagem mais curta sobre o segundo classificado, como afirmou Jesualdo Ferreira. Mas nunca tinha jogado como jogou contra o Boavista, daquela maneira extravagante. Há jogos onde se suspeita um halo de tragédia e de hecatombe. A hecatombe tem a ver com as consequências; mas a tragédia, no caso, teve a ver com a impotência para mudar o tom de jogo, para chegar à baliza do adversário, para mostrar vontade de ganhar. Que me lembre, isso só aconteceu quando Raul Meireles se irritou e – depois – quando Anderson deixou o banco e trouxe alguma esperança.

2. Será que o FC Porto tinha a obrigação de vencer o Boavista (onde naquele dia se viu um grupo de jogadores com manha, fibra e inteligência)? Não. Mas tinha a obrigação de não jogar daquela maneira. Porque uma coisa é aplaudir o nosso clube nas derrotas e outra é aplaudir o adversário que nos vence. Uma e outra são plausíveis. Mas outra ainda, diferente, é ter de vaiar os nossos jogadores; não por terem perdido um jogo, mas por terem esquecido que são jogadores do FC Porto, que têm sobre os ombros essa responsabilidade, e que não há explicação para a forma como se comportaram em campo. Foi um grupo de bonecos de um tabuleiro de matraquilhos. Por isso, na semana passada, nesta coluna, enganei-me e induzi o leitor em erro ao supor que o jogo da Segunda Circular seria pouco decisivo. O FC Porto tudo fez para me desmentir. E eu não o merecia.

3. Dito isto, gostaria de dizer, ainda, o seguinte: este fim-de-semana é necessário ganhar, e no próximo fim-de-semana é preciso igualmente ganhar. Ganha-se quando se marcam golos e só se é campeão depois de terem sido ganhos jogos essenciais. Só por desleixo vosso o FC Porto está nesta situação, quando poderia ter sido campeão na semana passada. Os adeptos estarão em todo o estádio e não vos assobiarão, por elegância, por receio de vos intimidar – e por pudor. Não sei se vós mereceis tamanha prova de respeito. Mas tereis de fazer por merecer essa confiança.

4. O presidente da FPF diz, em relação à eventual saída de Scolari do cargo de seleccionador nacional, que “é para o lado que dorme melhor”. Não devia. Há, aliás, uma coisa que não se entende, por mais que os scolarinianos de sacristia se mexam nas cadeiras, bufando de indignação: ao aproximar-se uma fase final, fala-se da saída de Sua Excelência. Foi assim no Mundial, é assim no Europeu. Se o presidente da FPF não consegue um mínimo de decoro nas notícias que escapam de Sua Excelência, não pode queixar-se, depois, de anti-patriotismo. Como se sabe, o patriotismo é o último refúgio dos canalhas.

in Topo Norte - Jornal de Notícias - 5 Maio 2007

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