setembro 04, 2010

Betinhos

O «caso Queiroz», como é conhecida a trapalhada em que se meteram o governo, a federação, as autoridades da dopagem e, agora, o Instituto do Desporto, ficará para a posteridade como um epifenómeno de natureza cómica. Basicamente, as conclusões do processo não se afastam muito do que já se sabia. No entender do governo (porque o governo é neste processo representado pela autoridade da dopagem, pelo Instituto do Desporto, IDP, e pelo secretário de Estado), o seleccionador perturbou os senhores que recolhem – dos jogadores de futebol – fluidos e substâncias passíveis de serem enviadas aos laboratórios. O secretário de Estado (é evidente que me custa criticá-lo porque, em vários domínios, fez um trabalho exemplar) foi claro: «A questão fundamental é saber se houve ou não perturbação da acção antidoping.» A Federação disse que não e castigou o treinador por palavrões; insatisfeita, a autoridade da dopagem pediu de novo o processo e disse que sim – é o presidente do IDP, que depende do secretário de Estado, que o afirma – e acrescentou-o aos palavrões.

Numa coisa estamos de acordo: nos palavrões. Queiroz já reconheceu que disse palavrões, e as autoridades exigiram cavalheirismo, moral e decência na bola, porque um palavrão no futebol é, parece, uma novidade. Alguém já ouviu palavrões no mundo da bola? Nunca.

Para as autoridades governamentais, houve perturbação da recolha de fluidos. Como? Com a criação, corai de vergonha!, de um «ambiente hostil». As autoridades da dopagem não querem trabalhar num «ambiente hostil»; querem, antes, palmadas nas costas e genuflexão, tal como os betinhos querem ser bem recebidos nos lugares públicos. Como o assunto é grave (palavrões e ambiente hostil), pune-se o treinador com seis meses. Quem o decide? A autoridade da dopagem ou, por interposta pessoa, o IDP. Isto merece um palavrão.

2. O Marítimo, ai dele, pede que sejam retirados três pontos ao FC Porto por causa de um jogador que não quer jogar no Marítimo e parece que está no Atlético Mineiro. Faz bem. Enquanto pede três pontos, vai perdendo nove.

in A Bola - 4 Setembro 2010

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