setembro 29, 2009

Blog # 450

A notícia é dada na 'Publishing Perspectives', uma revista especializada: a Venezuela avança para o seu Plano de Leitura Revolucionária, concebido como "ato coletivo sob os valores e princípios fundamentais do socialismo revolucionário". Como é que isto se faz? Através dos Esquadrões Revolucionários da Leitura que atuarão nas escolas, nos sindicatos, nos serviços públicos, e que promoverão a leitura de uma lista de 100 livros escolhidos pelo governo com base no "fortalecimento da identidade latino-americana e anti-imperialista" e desenvolvendo "uma ética baseada na cultura e educação socialistas". Entre os textos está a epistolografia amorosa de Bolívar, mas também obras de Romulo Gallegos Rubén Darío, José Martí, Guevara, Fidel Castro e teóricos do chavismo. Ainda bem.

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Esta sexta-feira, na sua edição de Outubro, a revista LER revela os heterónimos de Eduardo Lourenço: Tristão Bernardo, Tristão Georges, Tristão Nadal, entre outros. Além disso, há uma visita à arca de inéditos do autor.

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FRASES

"Nunca na minha vida pensei vir a ter saudades do Marques Mendes." Ana Cássia Rebelo, no blogue Ana de Amsterdam.

"Somos vistos como ladrões." António Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados. Ontem, no CM.

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Blog # 449

Cerca de dez milhões de europeus podem ficar surdos se continuarem a ouvir música com o volume demasiado alto nos “fones”. Considerando que há cerca de 100 milhões de europeus que diariamente ouvem música em leitores de mp3, e que se venderam cerca de 240 milhões desses aparelhos no ano passado, os números nem são muito aterradores. De qualquer modo, a União Europeia prepara legislação sobre o assunto para obrigar os fabricantes a reduzir a os decibéis à partida e para impedir que sejamos agredidos diariamente pelo som dos outros. Por um lado, parece uma preocupação justificada; por outro, não sei, não sei: a ideia de esses 10 milhões de patetas ficarem surdos é muito atraente. Pode ser perverso e cruel (e é), mas seria uma maneira de os impedir de ouvir aquela gritaria.

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Alberto Manguel é celebrado como ensaísta e especialista em história da leitura. Mas também romancista. A Teorema acaba de publicar ‘O Regresso’, a história de um homem que regressa à sua cidade (Buenos Aires?) 30 anos depois.

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FRASES

"Aquilo que eu tinha de especial na GNR continuo a ter agora." Fernando Lopes, ex-militar da GNR, licenciado em teologia e agora ordenado diácono. Ontem, no CM.

"Legislativas: do mal o menos, assim pensam todos." F. Guerra, no blog O Vermelho e o Negro.

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setembro 28, 2009

Blog # 448

Parece que o primeiro-ministro Zapatero tinha feito um acordo com a imprensa para que não fossem publicadas fotografias das suas filhas. Legítimo. Porém, Zapatero foi a Nova Iorque e levou-as, juntando toda a prole num retrato com Obama e mulher. A fotografia foi parar à net e disponibilizada no sítio oficial da Casa Branca. Zapatero não gostou e pediu para retirarem a foto quando ela já andava pela net, mostrando a família, incluindo as duas filhas, góticas e com botas Doc Martens. Uma coisa é proteger a família, e o primeiro-ministro espanhol tem todo o direito de o fazer; outra, diferente, é ser fotografado com Obama e impedir que a imprensa transcreva o ato público. As raparigas ficam bem: góticas, de negro, limpam a imagem de boneco de plástico de Zapatero.

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Aí está: a Assírio & Alvim promove, na sua livraria (Rua Passos Manuel, Lisboa) uma feira do livro manuseado: livros “vendidos a preços tão baixos que nem a crise será uma desculpa para não os ler”. Estava a juntar moedas para isto.

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FRASES

"As praxes são fixes. Ajoelhei, fiz vénias, fiz de cabide e puseram-me ovos e farinha na cabeça." Ricardo Faria, 18 anos. Ontem, no CM.

"A esquerda é qualquer coisa em que é impossível acreditar. Como um amor que dure para sempre." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

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setembro 26, 2009

Factos & argumentos

Percebe-se o que Jesualdo Ferreira quer dizer quando afirma que «o clube, os jogadores e os treinadores não convivem bem com as derrotas». Ele próprio não o consegue. Por exemplo, no final do jogo com o Sporting de Braga, Jesualdo foi mais demolidor com o FC Porto do que Domingos Paciência a elogiar a sua equipa. Também se percebe: Jesualdo preparava, estrategicamente, a defesa. Ou seja, se alguém podia punir o plantel seria ele. O problema é que, com mais ou menos pedagogia, o resultado do jogo com o Braga foi inteiramente justo. E, justo ou injusto, não podia ter sido aquele, depois da derrota em Londres.

Outro problema que nasceu das declarações de Jesualdo foi a sua tentativa (conseguida) de separar a campanha da Champions da carreira na I Liga. Portanto, segundo Jesualdo, não houve duas derrotas consecutivas; houve, pelo contrário, uma derrota na Champions e, na semana seguinte, uma derrota na I Liga. Faz toda a diferença, não faz? Faz alguma. Por isso, será que pode perguntar-se por que razão o FC Porto jogou com o Sporting de Braga com uma linha parcialmente semelhante à que defrontou o Chelsea?

Contra estes argumentos, não há factos que resistam. Mesmo que sejam «bons factos», como aqueles que se esperam para este fim-de-semana, no Dragão. Sobre isso não vale a pena fazer futurologia, sondagens ou previsões. O Sporting leu Jesualdo. Esperemos, no nosso caso, que os jogadores tenham sobrevivido à pedagogia.

Volto a Hulk, para dizer que é cada vez mais fácil pespegar-lhe cartões amarelos e, em consequência, pô-lo fora de jogo. O epifenómeno conhecido por Apito Dourado (um julgamento popular e feito à medida) inaugurou um campeonato paralelo e original apenas aberto a árbitros: saber quem assinala mais faltas duvidosas contra o FC Porto e quem mostra mais cartões a jogadores da equipa. Quanto mais prejudicarem o FC Porto, mais pontos acumulam. No final, têm direito a aplauso e, quem sabe, a promoção na carreira. Para esta gente, os campeonatos de futebol deviam ganhar-se por televoto.

in A Bola - 26 Setembro 2009

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setembro 25, 2009

Blog # 447

Marion Zimmer Bradley morreu há dez anos. Não era uma escritora condenada ao Olimpo da literatura; longe disso. Teve, no entanto, uma virtude rara – foi graças aos seus livros (e, claramente, ao seu “ciclo de Avalon”) que milhões de leitores em todo o mundo compreenderam que não havia apenas uma tradição cultural e religiosa na Europa. Por detrás do brilho e do rasto de luz dos vencedores, no trono e no altar, outras tradições e maneiras de ver tinham existido, coexistido e – quase – desaparecido. O ciclo das “brumas de Avalon”, que Marion Zimmer Bradley explorou até ao osso, recuperou esse cenário mítico de um mundo em que as mulheres tinham mais poder do que hoje e em que havia simpatia pelo mistério e pelos enigmas. Ou seja: obrigou-nos a sonhar, o que já não é pouco.

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Este fim de semana já estará à venda, finalmente, o novo romance de Roberto Bolaño, ‘2666’ (Quetzal). São 1032 páginas sobre a loucura, a literatura e a vida que não termina. Não consegui resistir a falar dele. É uma obra de arte.

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FRASES

"Sócrates terá de negociar. Aplacar a sede absolutista de boas notícias. Domar o animal feroz." Octávio Ribeiro, ontem, no CM.

"Os bloggers obsessivos transformam-se em jornalistas. São mais um elemento da paisagem." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

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setembro 24, 2009

Blog # 446

O governo português decidiu, certamente por razões elevadas, apoiar Farouk Hosni para diretor-geral da Unesco. Esperava-se isso de toda a gente menos de Luís Amado, embora também não se esperasse de Luís Amado que fosse à Líbia abraçar um protetor e financiador do terrorismo. Os negócios a isso obrigam. Mas convinha sabermos que razões levam o nosso governo a apoiar para tão alto cargo de cultura um homem que prometeu queimar livros na biblioteca de Alexandria, censor encartado, mentiroso, além de cúmplice em várias prisões arbitrárias e ilegais. Enquanto o chefe da nossa diplomacia não prestar esclarecimentos públicos sobre as misteriosas razões deste surpreendente apoio a Farouk Hosni, temos não apenas o direito mas o dever de desconfiar dele. Há limites para quase tudo.

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A Dom Quixote prepara, para o fim deste mês, a reedição das primeiras obras de António Lobo Antunes (‘Os Cus de Judas’ e ‘Memória de Elefante’), assinalando os trinta anos de vida literária do escritor. Datas para reviver, claro.

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FRASES

"Parem tudo. Está a dar um filme do Chuck Norris no Hollywood." Henrique Raposo, no blogue Clube das Repúblicas Mortas.

"Sócrates governou demasiado à direita, e vai perder a maioria absoluta à esquerda." Domingos Amaral, ontem, no CM.

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setembro 23, 2009

Blog # 445

Sigmund Freud morreu há setenta anos, a 23 de Setembro de 1939. O pai da psicanálise não pode ficar reduzido à psicanálise – além disso, Freud foi um notável escritor. E, além de notável escritor, viu como poucos o que se escondia atrás dos nossos medos e dos nossos sonhos. A simplificação da sua obra não faz justiça ao seu génio, que também se dedicou a explicar como adoecemos quando nos falta amor. O Ocidente, que precisava de uma desculpa, tentou reduzir quase tudo ao sexo – mas Freud sustentava, como um profeta, que às vezes um uma palavra era só uma palavra. Grande parte dos seus argumentos têm a ver com a literatura, com os clássicos (dos gregos a Shakespeare, passando pelos sábios do judaísmo) e com o nosso desejo de felicidade. Não era um cientista. Era um poeta.

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Notícia a guardar e a festejar: ‘Underworld’, de Don DeLillo (originalmente publicada nos EUA em 1997, com mais de oitocentas páginas), terá tradução portuguesa na Primavera de 2010. Edição da Sextante. Parabéns a João Rodrigues.

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FRASES

"Ninguém de bom senso pode desejar os pilares do regime enfraquecidos." Octávio Ribeiro, ontem, no CM.

"Ainda a procissão vai no adro e os apressados vão ter de esperar." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

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setembro 22, 2009

Blog # 444

A propósito do Acordo Ortográfico, Miguel Sousa Tavares diz que “o Brasil é o único país que recebeu a língua de fora e que impõe uma revisão da língua ao país matriz”. Sinceramente, não vem daí grande mal ao mundo. Portugal maltratou a sua língua durante anos e anos, desinteressando-se da sua gramática, do seu ensino e da sua correção – além de pensar que se tratava de uma espécie de “doação” concessionada ao resto do mundo. Não é. A língua (ortografia incluída) é de quem a fala, de quem a usa e de quem a transforma diariamente. Se o Brasil tomou a dianteira, pergunte-se o que Portugal fez em prol da Língua, que agora parece ser “um bem estratégico”. E os escritores? Não lhes cabe defender acordos ortográficos, evidentemente. Cabe-lhes escrever – bem, se possível.

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Fundamental e instrutivo: “O Ressentimento na História”, de Marc Ferro (Teorema) – uma análise da violência, da agressividade e do ódio como motores da História e do comportamento das sociedades. Absolutamente indispensável.

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FRASES

"Quem será o candidato da direita nas próximas presidenciais?" Pedro Marques Lopes, no blogue União de Facto.

"Não faz sentido admitir uma coligação com quem nos odeia." Vital Moreira, sobre a aliança PS-BE. Ontem, no CM.

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setembro 21, 2009

Blog # 443

Hans Magnus Enzensberger escreveu um livro intitulado ‘O Labirinto da Inteligência. Guia para Idiotas’. A primeira parte trata de analisar como a palavra ‘inteligência’ deixou de significar uma virtude humana para se transformar num termo relacionado com espionagem (de ‘intelligence’). Vale a pena ler todo o livro, que bem nos ajudará a compreender como as multidões podem ser ludibriadas – desde que com ‘inteligência’. Essa ‘inteligência’ é hoje mais valorizada do que a sensatez ou a honestidade, coisas da Idade Média e dos romances de cavalaria, anteriores ao D. Quixote. As campanhas eleitorais são um período especialmente fértil para recolher exemplos de distorção da inteligência. Qualquer burlão de antigamente seria mais apresentável do que um palrador em campanha.

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A Casa das Letras acaba de publicar o primeiro dos romances de William Boyd, o autor de ‘A Praia de Brazaville’ ou ‘Inquietude’. Trata-se de ‘No Coração de África’, uma história de política, chantagem – e belos cenários em África.

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FRASES

"Vou casar e não mudar de sexo. Estavam à espera de quê, que passasse a chamar-me António?" Laura Abreu Cravo, no blogue Mel com Cicuta.

"Entre os erros de Bernard Madoff, há um que foi fatal: não se naturalizou português." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

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setembro 19, 2009

Marcar golos

1. Este fim-de-semana, o FC Porto joga em Braga depois de uma presença especialmente importante na Liga dos Campeões; poder-se-ia pensar que a equipa iria desmoralizada para Braga, mas convém fazer contas. Que são estas: a derrota com o Chelsea não pesou no ânimo da equipa (já lá vamos – não falemos de finanças por agora), com o Braga só contará realmente uma vitória. É uma situação estranha mas compreensível: na Champions, o FC Porto mostrou que joga de igual para igual com qualquer equipa, e ainda há jogos para o apuramento; na Liga, a corrida começou e cada fim-de-semana é uma etapa crucial até que aconteça uma de duas coisas – ou o mais directo competidor acusar o esforço ou o Braga ser ultrapassado. Leiam Sun Tzu, o da Arte da Guerra. Vem lá o essencial sobre estratégia, sobre táctica, sobre delegados da Liga e sobre política. Mas uma coisa não vem: como marcar golos.

2. Eu volto ao meu pecado original: vale a pena valorizar Hulk e deixar-lhe caminho aberto para a baliza? Vale. Hulk é peso bruto, velocidade e oportunidade. Teve, até agora, todas as coisas; mais uma, notável: no jogo com o Leixões, fez o passe que deu um golo depois de dois dribles e de uma corrida em pontas, o que significa que foi bem treinado para avaliar o seu próprio egoísmo. Mas às vezes o melhor perde-se em matéria de concretização. Um amigo referiu, durante o jogo do Chelsea, que ele tem pernas. Tem pernas. Mas, confesso, se eu procuro pernas, penso em Sharon Stone, não preciso das de Hulk. E é isso que todos nós, sentados no estádio, precisamos de Hulk: um passo em frente depois do fantástico jogo de pernas.

3. Beluschi e Falcao merecem o lugar (há quem diga que Guarín, mas só depois do jogo com o Chelsea). Mas entre um e outro há uma diferença: Beluschi usa a milonga (não o tango, que tem volteio, graça e uma história de arrependimento,); Falcao corre como um gaúcho em busca do prémio. Lisandro faz-me falta, porque tenho memória (ainda hoje choro Diego); mas Falcao procura a oportunidade como o vento no pampa.

in A Bola - 19 Setembro 2009

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setembro 18, 2009

Blog # 442

O novo livro de Dan Brown, ‘O Símbolo Perdido’ (a publicar em Portugal em finais de Outubro), conseguiu estabelecer um novo recorde: um milhão de exemplares vendidos num só dia, nos EUA. É um número animador e ainda não entrou em cena a polémica que, certamente, virá a caminho, uma vez que o tema é uma sociedade secreta, a Maçonaria. Mas é necessária uma informação adicional – a maior parte dos exemplares vendidos não se refere ao exemplar em papel mas em formato digital, o ‘e-book’. É a primeira vez que isso acontece num livro com este impacte, o que inaugura uma nova era nas nossas vidas. Daqui a dez anos, tanto o mercado como o mundo do livro estarão irreconhecíveis. Isso não é uma boa notícia para os que têm transformado o mercado do livro numa feira de misérias.

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Atenção, viciados de todas as condições: sai ainda este mês o indispensável ‘Grande Livro do Poker, Texas Hold’em e Outras Variantes’ (Arte Plural). Regras, truques, malabarismos, sugestões e estratégias para os serões da temporada.

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FRASES

"Esta é uma campanha elétrica." Paulo Portas, ontem, no CM.

"Tarantino fez uma obra-prima, Almodóvar um filme terminado às cegas." Manuel Jorge Marmelo, no blogue Teatro Anatómico.

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setembro 17, 2009

Blog # 442

Como vivi junto da fronteira durante anos, comecei a falar espanhol desde cedo. Em Espanha comprávamos jeans, Coca Cola (proibida no salazarismo) e a ‘Playboy’, além de outras utilidades que não vêm para o caso, como cigarros mais baratos e bons vinhos. Além disso, havia a arte, as universidades, o estilo de vida – tudo melhor do que aqui. Grande passado, grande literatura. Quando Espanha nos interessava, íamos a Espanha. Quando deixava de nos interessar, eles que viessem. Foi assim durante anos. A verdade é que, desde há muito tempo, precisamos de Espanha para nos compararmos com alguém e para mantermos a nossa desconfiança histórica. Espanha é picante. Espanha separou-nos da Europa e aproximou-nos dela. Está ali, ao lado. É bom, por isso, que se mantenha ali, ao lado.

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A D. Quixote não está para brincadeiras: vai lançar uma luxuosíssima edição da poesia completa de Manuel Alegre, numa caixa vermelha, com gravação a verniz, lindíssima. Estão lá toda a poesia, mesmo a anterior a ‘Praça da Canção’.

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FRASES

"Espera o desastre e, aconteça o que acontecer, terás uma agradável surpresa." Rui Zink, no blogue Rui Zink versos livro.

"Como uma mulher a mudar de marido, ou um marido de mulher, os portugueses andam irritados." Domingos Amaral, ontem, no CM.

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setembro 16, 2009

Blog # 441

O trágico regressa à nossa vida; esperamos por ele com o Outono e damos-lhe um nome: Gripe A. Podem reler-se as páginas de ‘A Peste’, de Albert Camus, para compreender como a ameaça é real – tanto para o corpo como para a relação com os outros. Lavar as mãos, usar desinfetantes e arejar as casas são recomendações que soam a pouco, mas inevitáveis. O perigo é mais autêntico a partir desta semana, com o regresso às escolas e a “normalização” da vida das famílias, que não podem deixar de evitar nem o vírus nem o medo, que ainda são invisíveis a olho nu. Nestas circunstâncias, o debate sobre o pessimismo e o otimismo não tem razão de ser; vivemos debaixo da ameaça, do risco iminente. A nossa civilização desconhece a ideia de “perigo iminente”; aprende a viver com o trágico.

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A Presença começou a publicar as obras de Florbela Espanca em quatro volumes. O primeiro deles acaba de sair, dedicado à poesia (tal como o segundo), com introdução e organização de José Carlos Seabra Pereira. Boa oportunidade.

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FRASES

"Vamos ter um stress." Francisco George, Diretor-Geral da Saúde, sobre a epidemia da Gripe A.
Ontem, no CM.

"É hora da algazarra das claques, das moscas-jornaleiras e dos blogues oficiais." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

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setembro 15, 2009

Blog # 440

O espólio de Fernando Pessoa passou à categoria de “tesouro nacional” (para evitar “o risco de dispersão, deterioração ou perecimento”), como nos informa o Diário da República de ontem. Pouco há a obstar, creio eu, a esta decisão do governo – a não ser ao preâmbulo do diploma, que determina que “é essencialmente no espólio que a obra de Pessoa se materializa”. Pessoa é um dos emblemas do nosso património cultural e devia ser – e é – motivo de orgulho de todos. Um orgulho a dois tempos, uma vez que não se pode transformar Pessoa no poeta público e anódino que a sua classificação como tesouro pode supor (ou “feliz”, o que seria pior). Mesmo que seja apenas uma decisão “técnica” (para proteger o espólio), não se pode proteger Pessoa da inquietação e da perdição que o marcam.

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A Planeta lança ainda este mês Passageiros da Neblina’, de Montserrat Rico Góngora, que recupera a visita de Aleister Crowley a Lisboa, em 1930, para visitar Fernando Pessoa. E – diz a autora – Sintra. Mais mistérios sobre Crowley.

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FRASES

"Fica-se com a sensação de que andamos a prender os mesmos criminosos." Paulo Rodrigues, presidente da ASPP da PSP. Ontem, no CM.

"Não cito nomes. Mantenho a minha regra de não imortalizar medíocres." Alexandre Brandão da Veiga, no blogue Geração de 60.

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setembro 14, 2009

Blog # 439

José Sócrates tem um problema com as citações. A de Abel Salazar, usada durante o debate com Manuela Ferreira Leite, não era exatamente assim, embora viesse a despropósito. Quanto ao poema de Pessoa na série “intimista” da SIC, também há manifesta confusão entre Pessoa, Campos e Ricardo Reis. O primeiro-ministro não estava à vontade nem ao falar de poesia nem dos “seus poetas” – aos quais “recorre com alguma frequência”, a acreditar na sua palavra. Uma canção dos anos setenta perguntava muito simplesmente “pode alguém ser quem não é?” a este e outros propósitos. Ninguém pede a um candidato a primeiro-ministro que cite os mestres e tenha biblioteca. Pede-se-lhe, antes, que tenha mundo. O deslumbramento é mau caminho, sobretudo se soa a falso e é encenado com defeitos.

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Em Outubro, a Dom Quixote relança ‘Conversa na Catedral’, o mais belo e mais importante dos romances de Mario Vargas Llosa, para comemorar os 40 anos da sua primeira edição. É Llosa no seu melhor: limpo, cru, perto da perfeição.

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FRASES

"Dia 27 Portugal não vota; adia. Em 2011 há mais." João Pereira Coutinho, ontem, no CM.

"Mas uma coisa é ganhar debates, outra é ganhar as pessoas." Daniel Oliveira, no blogue Arrastão.

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setembro 12, 2009

Ditosa pátria a jogar à bola

A pátria, sensata e matreira (estas coisas aprendem-se com o tempo) não festejou a vitória sobre a Hungria. Primeiro, porque não se rende a argumentos que tentam explorar a sua boa-fé, falando em «mau futebol e bom resultado» para o opor ao «bom futebol e mau resultado». Trata-se de um manifesto descaramento, a roçar a imoralidade e que pretende vender a ideia de que a um jogo praticado por um bando de repolhos há-de corresponder um resultado positivo, enquanto o talento só produz miséria. Em segundo lugar, porque não se pode esconder o sol com a peneira – e a peneira é isto: o futebol da selecção não convenceu, em nenhum dos casos, nem contra a Dinamarca, nem contra a Hungria.

Se a ideia é festejarmos o resultado global desta semana, só se andássemos de quatro. Não andamos.

Outro pormenor essencial, de que há lições a retirar: os jogadores mais influentes dos dois jogos foram Pepe, Liedson e Deco – aqueles a quem o patriotismo mais exigente nega emprestar a bandeira. Pensem bem nisso, agora que eu vi Pepe – em formatura, alinhado com os seus colegas – a cantar o hino. Lembro-me disto depois de ter lido os reparos de uma sra. Deputada (repetindo os argumentos estapafúrdios sobre a distinção entre ‘portugueses legítimos’ e os outros, de segunda categoria) e dirigente partidária à inclusão de Liedson no onze português. Dizia a D. Marta que conceder a nacionalidade portuguesa a estrangeiros, tudo bem, mas deixá-los jogar na selecção, nem pensar; de outra forma: se quiserem ser portugueses para pagar impostos, trabalhar nas obras e lavar a nossa roupa, tudo bem – mas jogar à bola em nosso nome, isso não. Pois foi com Liedson que Portugal marcou logo a seguir. Bem feito. Ditosa pátria que tais talentos abriga.

Finalmente, regressamos este fim-de-semana ao campeonato-campeonato. O Leixões deste ano pode não ser o Leixões absolutamente imperturbável das primeiras jornadas da época passada, mas convém o FC Porto precaver-se e preparar-se – primeiro para o jogo com os valentes de Matosinhos; depois, para o confronto com o Chelsea. Uma coisa de cada vez.

in A Bola - 12 Setembro 2009

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setembro 11, 2009

Blog # 438

A zona da Ribeira, no Porto, está agora sob videovigilância. Esta notícia enche de júbilo os fanáticos do progresso tecnológico, e pode deixar mais tranquilos os especialistas em segurança, preocupados com “a noite do Porto”. George Orwell desenhou este cenário de Big Brother. O cinema ampliou-o. A realidade esconde-o. A verdade é que, nas cidades em que a videovigilância está montada, como em Barcelona, por exemplo, três em cada quatro habitantes não querem dispensá-la. A liberdade ou o direito à privacidade já não são valores intangíveis e defendidos a todo o custo – e as multidões dispensam-nos com o alívio de quem se contenta com uma “vida sem autonomia”: uma vida vigiada, escrutinada, mas relativamente segura. No fundo, a conclusão não devia deixar-nos felizes.

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Augusto Cid faz o seu balanço de quatro anos de Sócrates em ‘Porreiro, Pá’ (edição Guerra e Paz), onde se reúnem os seus “cartoons da legislatura”. O livro tem prefácio de João Pereira Coutinho e sai é lançado a 18 de Setembro.

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FRASES

"Sou o sexto homem mais elegante do mundo." José Sócrates, no vídeo divulgado pelo CM online.

"Picanha abafa goulash." Pedro Vieira sobre o golo de Pepe à Hungria, no blogue Irmão Lúcia.

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setembro 10, 2009

Blog # 437

Um tribunal decidiu que o editor Guerra e Paz tem de retirar do mercado todos os exemplares de ‘Maddie: A Verdade da Mentira’ e que não pode vender os direitos para o estrangeiro. Que o tribunal decida, um ano depois, que o livro não pode vender-se entre a ilha do Corvo e a fronteira do Gerês – pode ser estranho, mas está nas suas atribuições. Impedir a venda do livro para o estrangeiro é não apenas um excesso mas também uma decisão que ultrapassa a sua competência. Segundo algumas interpretações, significa que estão também proibidos livros que defendam a mesma tese do autor – ou seja, estabelece-se a censura prévia. O dinheiro dos contribuintes não serviu, até agora, para fazer uma investigação definitiva do caso. Mas, pelo sim, pelo não, fica mais barata a censura.

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Vai ser explosivo, contém revelações picantes sobre sexo, a noite lisboeta e até futebol: trata-se da biografia de José Castelo Branco, escrita pelo jornalista Ricardo Santos – a publicação está prevista para Outubro e promete ruído.

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FRASES

"A menos que alguém altere a natureza humana, tenderemos para mais crise." Allan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal norte-americana, ontem no CM.

"Ainda hei-de ver o deputado Vale de Almeida abraçado ao soba do Funchal." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

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setembro 09, 2009

Blog # 436

A seleção nacional vai jogar hoje na Hungria, no estádio que leva o nome de um génio da bola, Ferenc Puskas. Parece que é um jogo decisivo em que não se pode falhar e, mesmo assim, olha lá. Há cinco anos éramos uma das dez potências do futebol; hoje, estamos na iminência de não ir ao Mundial de 2010, o que também teria as suas vantagens. Portanto, é preciso ganhar. Mas isso, acabo de o saber por Pepe, um dos nossos jogadores, não depende apenas de nós. Diz ele no CM de ontem: «Não depende só do nosso trabalho e vontade. Há coisas que estão fora do nosso alcance ou além das nossas forças.» Ora, está aí explicado o insucesso desta campanha do Mundial – o resultado não depende apenas dos jogadores. Se queriam uma prova do portuguesismo do naturalizado Pepe, ele aí está.

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São boas notícias: de 2001 até hoje, ‘Crime e Castigo’, o grande clássico de Fiodor Dostoievski (edição Presença), traduzido do russo por Nina Guerra e Filipe Guerra, já vai em sete edições. Acaba de sair a mais recente. Parabéns.

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FRASES

"Até ver, o acordo ortográfico só serve para a gente escrever com erro à vontadinha." G.A.F., no blogue O Vermelho e o Negro.

"Não estou virada para namoricos." Lúcia Garcia, apresentadora da Benfica TV, ontem no CM.

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setembro 08, 2009

Blog # 435

Discute-se bastante sobre quem ganha os debates durante esta campanha eleitoral. Depois de cada um deles, vários comentadores discutem na televisão acerca do provável vencedor, do derrotado e dos deslizes cometidos para gáudio do povo, que aprecia o género. Não se trata de debates propriamente ditos, mas de encontros em que cada candidato esboça o essencial do seu programa e, depois, há uma troca de galhardetes sobre minudências que ficam soltas. A opinião desses comentadores varia muito. Ora sublinha “o que foi dito” (que devia contar mais) ora salienta a “inteligência” (ou seja, a capacidade de piscar ambos os olhos ao mesmo tempo). Mas há uma coisa que o eleitor também preza: o olhar. É um fragmento de luz, mas o gene da confiança nasceu aí, exatamente aí. Mistérios.

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Já cá canta: com tradução de Francisco Agarez, o novo livro de Philip Roth, ‘Indignação’, será lançado a 28 deste mês (edição da Dom Quixote). Tudo começa em 1950, durante o início das operações militares da Guerra da Coreia.

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FRASES

"Mas os eleitores, quase todos, olham para o carácter." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

"Como achava que seria o último filme que me deixariam fazer, decidi não ter limites." Michael Moore, realizador. Ontem, no CM.

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setembro 07, 2009

Blog # 434

O pintor João Vieira (1934) morreu este fim-de-semana; com ele desaparece alguma memória da sua geração e um dos nomes da arte moderna portuguesa – e fica cancelada, para já, a retrospectiva que estava em preparação. Feita de profundíssimas cores, a pintura de João Vieira evoca – em mim – a memória da sua terra natal, Vidago, com os seus bosques cerrados, os seus crepúsculos ardentes e alaranjados, a ondulação das montanhas. É provável que nada disso tivesse existido na sua pintura, que teve mais seguidores do que devedores. Ficará naturlamente registado como um dos grandes mestres das nossas artes plásticas, o que é pouco para a intensidade do seu trabalho e para a generosidade que dedicava aos outros. Por esta altura do ano, os crepúsculos do Vidago ardem em sua memória.

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Está a sair, pela Tinta da China (na colecção dirigida por Carlos Vaz Marques), o livro de viagens de Alexandra Lucas Coelho no Oriente: ‘Caderno Afegão’. Uma visitação ao Afeganistão em chamas, em cinza, em turbulência. A não perder.

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FRASES

"Não é credível que a Prisa [dona da TVI] decidisse, fosse o que fosse, à revelia do PS." Henrique Neto, ex-deputado do PS. Ontem, no CM.

"Os sonhos na literatura costumam ter má imprensa." Rogério Casanova, no blogue Pastoral Portuguesa.

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setembro 05, 2009

Ganhar aos Vikings

Este fim-de-semana somos todos portugueses, a começar em mim, que sou céptico, e a acabar em Liedson, que tem o dever de ser entusiasta. Digo-lhes porque sou céptico – são razões marginais e gostava de me enganar. Primeiro: os rapazes estão confiantes para o jogo com a Dinamarca. Se é verdade, é grave. Podiam dizê-lo porque faz jeito, mas deviam estar caladinhos. Tanta confiança de sobra o que fizeram até agora foi «isto». E «isto», os leitores sabem, não foi famoso. Segundo: alguns acharam que o estágio sueco foi «aborrecido» e que aquele isolamento todo, aquela concentração toda até podia ser prejudicial. Não: o estágio sueco foi bom, devia ser usado sempre para evitar que aquele grupinho se desintegrasse em malabarismos extra-futebolísticos antes dos jogos. Fechados à chave, eu recomendo. Terceiro: pelas declarações que eu li, todos acham que o Mundial de 2010 não se realiza sem Portugal (lembrem-se de frases como «nem me passa pela cabeça Portugal não ir à África do Sul»). Lamento informá-los, mas o Mundial de 2010 realiza-se mesmo que Portugal não cumpra os mínimos e fique a ver os jogos no sofá. Portugal, por mais gracinhas que os jogadores façam, não faz falta pela excepcional beleza dos penteados seus jogadores ou pela quantidade de dislates que produzem. O que faz falta é futebol e o problema é que Portugal jogou mal, não fez golos, não respondeu à chamada – e pode perfeitamente não ir ao Mundial. Quarto: Queirós comparou a Dinamarca com o Liechtenstein. É grave. É ter-nos por fraquinhos de memória e de juízo. Só de lembrar os 45 minutos finais do jogo com o Liechtenstein deixo de ser céptico e passo a derrotado.

Estes quatro factores, mais do que a eterna dúvida sobre o ponta-de-lança da selecção (uma coisa que já vem do tempo de D. Afonso Henriques), são decisivos. São eles o maior perigo. Porque, além do campo, o futebol joga-se também na cabeça.

Portugal tem todas as condições para derrotar a Dinamarca. Tem jogadores de boa técnica; só lhes falta isso: cabeça, para que a vaidade e o estrelato não estraguem o jogo, e dioptrias, para saberem onde está a baliza.

in A Bola - 5 Setembro 2009

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setembro 04, 2009

O mar em Casablanca


Novo romance de Francisco José Viegas será publicado
no próximo dia 8 de Outubro de 2009

"(...) é o regresso de Francisco José Viegas ao romance depois de ser distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela, em 2006, com «Longe de Manaus», «o que cria sempre uma certa expectativa», defendeu Manuel Alberto Valente, que qualificou a nova obra do escritor de «magnífica», recordando ao mesmo tempo que José Viegas foi o primeiro autor nacional que editou na ASA. «Mais uma vez é um livro que vai além do policial. Aliás, não considero que ele escreva policiais. José Viegas utiliza o género para ir mais além do que é normal num policial»."

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Blog # 433

Não vale a pena organizar uma competição pela qualidade do mal, um pódio que ninguém quer ocupar. Frequentemente nos espantamos com a crueldade dos outros e com as "ocorrências policiais". Por isso, lembro-lhes a notícia, simples: em Coruche, uma senhora de 66 anos e o seu filho, portador de deficiência profunda, encontravam-se em cativeiro (um pardieiro sem janelas) desde Julho de 2008, em condições de subnutrição e sujeitos a maus tratos físicos. A polícia resgatou--os e apresentou a tribunal os responsáveis, dois familiares que desviavam mensalmente as pensões de reforma e invalidez de mãe e filho. O cenário é chocante? Certamente. A crueldade e o mal vivem demasiado perto de nós. Temos-lhes horror e fechamos os olhos – o Mundo não é um paraíso. O retrato fica-nos mal.

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setembro 03, 2009

Blog # 432

Filomena é uma heroína de romance. A história foi contada na edição de ontem do CM e merece guião à altura: primeiro, foi agredida com um cutelo pelo ex-marido. Quinze golpes, diz o auto – esteve às portas da morte. O homem, José Pinto de Sousa evadiu-se da prisão de Custóias para completar o trabalho – ou seja, para assassiná-la. Uma obsessão. Mas o destino dá voltas rápidas e ele acabou por morrer no Douro, depois da fuga. Ainda assim, Filomena não quis esquivar-se ao funeral, onde se apresentou com os ex-sogros. O que pensaria ela durante o funeral pertence ao silêncio que guardou durante a cerimónia e a acompanhou depois. O filme é este, trágico – e absurdo. Mais do que uma heroína de romance, aliás, Filomena é uma personagem que merece a atenção da literatura.

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No final do Verão, aí está uma estreia para ler: a de Raquel Serejo Martins e do romance ‘A Solidão dos Inconstantes’ (edição Estampa). Uma história de amor e dúvida com Lisboa e Buenos Aires em música de fundo. Na próxima semana.

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FRASES

"Na campanha, José Sócrates não irá lutar por valores ou políticas, mas pela sua sobrevivência." Domingos Amaral, ontem, no CM.

"Ao ver a comunicação social, e muitos blogues, sonho com a chegada do mês de Outubro..." José Medeiros Ferreira, no blogue Bicho Carpinteiro.

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setembro 02, 2009

Blog # 431

Duarte Cordeiro, que é o líder da JS, tem uma pontaria duvidosa. Ontem acusou Manuela Ferreira Leite de lhe lembrar “uma professora primária conservadora do antigamente, que passa raspanetes a quem dela discorda”. Duvido (basta ver a sua idade) que Cordeiro se lembre de alguma professora primária do antigamente – sem desprimor para a sua infância moderna e progressista. Ele deve ter conhecido uma caricatura, leviana e indigente, injusta para uma classe que fez muito mais pelo país do que a pobre casta de dirigentes das ‘jotas’, que nunca trabalhou, estudou ou foi repreendida pelos seus disparates. O que confere com o modo como constrói a sua imagem de mau gosto. Assim, indicou a alguma gente onde é que teria de votar – ou, pelo menos, mostrou em quem não se pode confiar.

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Argentina, Buenos Aires, literatura: ‘Quem Ama, Odeia’, é o título suspeito desta novela meticulosa e em permanente tensão, escrita a quatro mãos por dois autores maravilhosos: Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo (Oficina do Livro).

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FRASES

"[As conferências de líderes partidários] são centros de emprego em altura de crise." Bernardo Pires de Lima, no blogue União de Facto.

"Os alunos sentiam a obrigação de provar que tinham lido os livros." D. Januário T. Ferreira, bispo, sobre os seus tempos de estudante. Ontem, no CM.

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setembro 01, 2009

Blog # 430

José Sócrates decidiu, com efeitos dramáticos e para entrada imediata em vigor, dividir Portugal ao meio: do seu lado estaria a “modernidade”; do outro, na oposição (em toda ela), uma mundividência atrasadinha, incapaz de reconhecer o cosmopolitismo e o progresso, fontes de felicidade verdadeira, de prosperidade e de honesta sabedoria. O “progresso”, como “a modernidade”, são palavras fáceis para gente fácil, uma espécie de ideologia do momento, muito em conta no mercado. Sócrates pode magoar-se na brincadeira; a tentativa de dividir o país entre “nós” e os “maus” nunca deu bons resultados. Nem eleitorais. No século XIX, o melhor que este discurso produziu foram duas figuras inocentes e bisonhas: Júlio Dinis, pelo lado romântico; o Conde de Abranhos, pelo lado cómico.

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A Relógio d’Água fez-me a vontade: estava a faltar uma edição de ‘Crime e Castigo’, de Dostoievski. Está aí e tem tradução diretamente do russo – de António Pescada. Para vivermos de perto o drama de Rodion Romanovitch Raskolnikov.

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FRASES

"Dá gosto de ver a sinceridade com que Camões fala da sua dor de corno." Bruno Sena Martins, no blogue Avatares de um Desejo.

"Nos homens gosto de apreciar o tronco." Cláudia Jacques, modelo, ontem no CM.

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