Perguntas
O eng.º Sócrates anda a propor ao país que o Inglês seja ensinado às crianças portuguesas desde o Ensino Básico. É uma ideia generosa, suponho. Eu não acho mal. Ensinar Inglês aos alunos do Básico não lhes desarruma os neurónios nem danifica partes essenciais do cérebro. Pelo contrário, prepara-os para enfrentar o choque tecnológico.
Eu também colocaria outras coisas no cartaz, mas não vale a pena insistir por agora mais aplicação no ensino do Português e da Matemática, mais investimento no apetrechamento das escolas na área das ciências, substituição gradual da mentalidade literária dominante nas nossas escolas por uma cultura mais científica e mais exigente, menos poder para as corporações pedagógicas e mais atenção prestada aos professores propriamente ditos.
Ao contrário de muito boas almas que andam preocupadas com aquilo que o eng.º Sócrates poderá fazer na economia, caso venha a ganhar as eleições, eu acho que existem outras áreas muito mais sensíveis.Nomeadamente, a educação.
Neste domínio, a experiência do PS no Governo não é muito positiva. À paixão do eng.º Guterres pela educação não correspondeu um esforço prático para alterar o panorama geral. Mais investimento na educação (ou seja, mais dinheiro) não significa, precisamente, decisões mais correctas ou mais bom senso. Se na economia vai acontecer o previsível - gerir orçamentos, cortes na despesa pública, captação de receitas extraordinárias para aliviar o défice e tapar buracos agora revelados - a educação e a cultura podem trazer desilusões ou desastres.
Também aí não são necessárias revoluções. Houve avanços consideráveis nos últimos anos (dos quais a publicação dos rankings das escolas não é a menos interessante), num ciclo infelizmente interrompido pela desgraça dos tristes episódios da colocação dos professores. É preciso continuar a fazer as coisas difíceis que assustam as corporações e a mediania, a cedência. É legítimo que os portugueses queiram saber o que os partidos, entretidos a discutir números em que não confiam, pensam sobre a educação ou o papel do Estado na cultura. É verdade que isto interessa a pouca gente, mas é um aspecto decisivo para caracterizar a "ideologia" que aí vem e o eleitorado precisa de ser informado sobre o assunto. Tanto da parte de Sócrates como da parte de Santana Lopes.
2. António Vitorino deu uma inteligente entrevista ao diário espanhol "El Pais". Nela diz algumas dessas coisas difíceis que raramente se ouvem nas campanhas eleitorais. Vitorino não pode ser o inimputável que, de longe, diz coisas desagradáveis de ouvir. Nem podemos imaginar que Sócrates, quando é necessário dizer essas frases que deviam ser ditas por si, chama sempre alguém para substituí-lo - sobre economia, sobre educação, sobre o estado social, sobre a segurança social. Isso faria dele um boneco de ventríloquo.
3. Francisco Louçã revelou novamente, num debate com Paulo Portas, a sua face de moralista que vem redimir a política portuguesa. Depois da ideia da "superioridade moral da Esquerda", Louçã defende a superioridade moral do discurso kitsch.
Jornal de Notícias, 27 de Janeiro de 2005
Eu também colocaria outras coisas no cartaz, mas não vale a pena insistir por agora mais aplicação no ensino do Português e da Matemática, mais investimento no apetrechamento das escolas na área das ciências, substituição gradual da mentalidade literária dominante nas nossas escolas por uma cultura mais científica e mais exigente, menos poder para as corporações pedagógicas e mais atenção prestada aos professores propriamente ditos.
Ao contrário de muito boas almas que andam preocupadas com aquilo que o eng.º Sócrates poderá fazer na economia, caso venha a ganhar as eleições, eu acho que existem outras áreas muito mais sensíveis.Nomeadamente, a educação.
Neste domínio, a experiência do PS no Governo não é muito positiva. À paixão do eng.º Guterres pela educação não correspondeu um esforço prático para alterar o panorama geral. Mais investimento na educação (ou seja, mais dinheiro) não significa, precisamente, decisões mais correctas ou mais bom senso. Se na economia vai acontecer o previsível - gerir orçamentos, cortes na despesa pública, captação de receitas extraordinárias para aliviar o défice e tapar buracos agora revelados - a educação e a cultura podem trazer desilusões ou desastres.
Também aí não são necessárias revoluções. Houve avanços consideráveis nos últimos anos (dos quais a publicação dos rankings das escolas não é a menos interessante), num ciclo infelizmente interrompido pela desgraça dos tristes episódios da colocação dos professores. É preciso continuar a fazer as coisas difíceis que assustam as corporações e a mediania, a cedência. É legítimo que os portugueses queiram saber o que os partidos, entretidos a discutir números em que não confiam, pensam sobre a educação ou o papel do Estado na cultura. É verdade que isto interessa a pouca gente, mas é um aspecto decisivo para caracterizar a "ideologia" que aí vem e o eleitorado precisa de ser informado sobre o assunto. Tanto da parte de Sócrates como da parte de Santana Lopes.
2. António Vitorino deu uma inteligente entrevista ao diário espanhol "El Pais". Nela diz algumas dessas coisas difíceis que raramente se ouvem nas campanhas eleitorais. Vitorino não pode ser o inimputável que, de longe, diz coisas desagradáveis de ouvir. Nem podemos imaginar que Sócrates, quando é necessário dizer essas frases que deviam ser ditas por si, chama sempre alguém para substituí-lo - sobre economia, sobre educação, sobre o estado social, sobre a segurança social. Isso faria dele um boneco de ventríloquo.
3. Francisco Louçã revelou novamente, num debate com Paulo Portas, a sua face de moralista que vem redimir a política portuguesa. Depois da ideia da "superioridade moral da Esquerda", Louçã defende a superioridade moral do discurso kitsch.
Jornal de Notícias, 27 de Janeiro de 2005