junho 26, 2010

Glória e um desabafo

O jornal brasileiro O Globo da passada terça-feira era duplamente dedicado a Portugal. A primeira página mostrava o golo de Cristiano Ronaldo contra a Coreia do Norte; a capa do caderno de desporto era totalmente ocupada com a foto de Ronaldo, sorridente, e o título perverso: «À espera do Brasil.» Estamos todos à espera do Brasil.

Como a maior parte dos portugueses, a minha história de amante de futebol está ligada à sorte da selecção canarinha, e emociono-me sempre que leio os textos de Nelson Rodrigues sobre ela. Os primeiros jogos que vi foram os do Brasil no campeonato do mundo de 1970, no México, onde vi Pelé falhar golos mas descobri Tostão, Jairzinho e Rivelino. Desde essa altura, eu fui sócio do Brasil. Não chorei de tristeza com a derrota do time de Zico (sempre o achei um pé-frio, coisa que realmente ele é) e de Sócrates no Mundial de Espanha, mas festejei o título mal ganho nos EUA e a vitória no Coreia-Japão. Foi o bastante. No Brasil, fiz-me sócio de um clube. Mas, chegado aqui, é o limite. Hoje, o Brasil precisa de perder. E nós precisamos de ganhar. E para ganhar precisamos de entender Dunga e a sua cabeça estranha. Precisamos de ganhar com alegria.

2. E é isto: Dunga é um chato. Vê-se quando fala. Aliás, Dunga fala pouco – ele prega sermões. Moral, família, deveres, obrigações, ressentimento, sermões; é um chato. Scolari, apesar de também ser gaúcho (nada contra; pelo contrário), nunca conseguia ser tão aborrecido (não era; aliás, Felipão fazia rir e era divertido). Tem outros defeitos e um deles foi ter jogado no Internacional de Porto Alegre (um dos meus prazeres é o de recordar as vitórias do Grémio sobre o Internacional enquanto Dunga era colorado). Mais chato do que Dunga, sinceramente, só o futebol de Dunga. Dunga nasceu eu Ijuí, a terra de Paulo Bonamigo (treinou o Botafogo, o Palmeiras, o Marítimo ou o Atlético de Minas), que é a dois passos de Cruz Alta, a terra de Érico Veríssimo (o grande escritor), e a três de Passo Fundo, a terra de Felipão (já sabemos). Mas não precisava de ser assim. Hoje, à tarde, precisa de uma lição.

in A Bola - 25 Junho 2010

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