Questões de fé
1. Jesualdo Ferreira diz que, na dúvida, os árbitros julgam contra o FC Porto. Tem razão. Já escrevi isso mesmo aqui; no entanto, a pressão exercida sobre os árbitros nos jogos do FC Porto é tão elevada como nos jogos do Benfica e do Sporting – mas em sentidos contrários. Veja-se o Benfica-FC Porto: porquê aquele amarelo a Bruno Alves e não, minutos depois, a Simão? Não se trata de má-fé do juiz; mas de aproveitar a fragilização do FC Porto para passar por “árbitro corajoso”. Males do império. Aguentar até ao fim é o remédio. Ter fé.
2. Mas, tirando isso, que é importante, há uma questão aflitiva: por que razão joga melhor o FC Porto, geralmente, nas primeiras do que nas segundas partes? Três hipóteses: 1) febre do controlo de bola depois de marcar o primeiro golo; 2) cansaço; 3) distracção. Voto pela última porque acho a segunda completamente ridícula se for verdadeira. O festival de falhas de passe nas segundas partes é assombroso; mas, para lhes fazer companhia, há outro festival nos dez minutos finais: o de golos perdidos. É preciso falta de fé.
3. O Espanyol, de Barcelona, não contava com a reacção do Benfica, que tem agora o caminho facilitado para a segunda mão. Ao contrário do FC Porto, o Benfica faz melhores as segundas partes do que as primeiras. Há um suplemento de energia ou substituições bem feitas? Há, sobretudo, alguns recursos vindos do banco, mas Simão (que marca nas segundas partes) joga desde o princípio. Digamos que regressam do balneário carregados de fé. Fernando Santos será bom catequista?
4. Paulo Bento foi nomeado “o Alex Fergusson do Sporting”. É cedo mas é uma boa notícia. Só que Bento não tem fé: “É uma realidade pouco ou nada usual no futebol português.” Tem razão. E veja-se o caso de Domingos Paciência na União de Leiria, que bateu com a porta depois de ter sido desautorizado a propósito de um jogador – o clube fez a escolha e preferiu o jogador a um treinador que tinha equilibrado as contas do campeonato. O caso do Braga ou, mais recente, o do Marítimo, também ajudam a confirmar os receios de Paulo Bento. O problema é o lugar do treinador no meio dos pequenos poderes que flutuam em cada clube. Entretanto, peço a vossa atenção para dois casos: o de Daúto Faquirá no Estrela e o de Jorge Jesus no Belenenses. Podem começar a fazer contas.
5. Em nenhum dos vídeos do Benfica-FC Porto pude ver a mão de Quaresma a tocar na bola dentro da área. Mas a grandiosidade da fé manifesta-se nestes pequenos momentos, quando o adepto vê a mão de Quaresma a travar a bola. Mas, melhor do que isso é quando o adepto nem precisa de ver a mão a tocar a bola; basta-lhe dizer que foi assim que aconteceu. É a fé.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 7 Abril 2007
2. Mas, tirando isso, que é importante, há uma questão aflitiva: por que razão joga melhor o FC Porto, geralmente, nas primeiras do que nas segundas partes? Três hipóteses: 1) febre do controlo de bola depois de marcar o primeiro golo; 2) cansaço; 3) distracção. Voto pela última porque acho a segunda completamente ridícula se for verdadeira. O festival de falhas de passe nas segundas partes é assombroso; mas, para lhes fazer companhia, há outro festival nos dez minutos finais: o de golos perdidos. É preciso falta de fé.
3. O Espanyol, de Barcelona, não contava com a reacção do Benfica, que tem agora o caminho facilitado para a segunda mão. Ao contrário do FC Porto, o Benfica faz melhores as segundas partes do que as primeiras. Há um suplemento de energia ou substituições bem feitas? Há, sobretudo, alguns recursos vindos do banco, mas Simão (que marca nas segundas partes) joga desde o princípio. Digamos que regressam do balneário carregados de fé. Fernando Santos será bom catequista?
4. Paulo Bento foi nomeado “o Alex Fergusson do Sporting”. É cedo mas é uma boa notícia. Só que Bento não tem fé: “É uma realidade pouco ou nada usual no futebol português.” Tem razão. E veja-se o caso de Domingos Paciência na União de Leiria, que bateu com a porta depois de ter sido desautorizado a propósito de um jogador – o clube fez a escolha e preferiu o jogador a um treinador que tinha equilibrado as contas do campeonato. O caso do Braga ou, mais recente, o do Marítimo, também ajudam a confirmar os receios de Paulo Bento. O problema é o lugar do treinador no meio dos pequenos poderes que flutuam em cada clube. Entretanto, peço a vossa atenção para dois casos: o de Daúto Faquirá no Estrela e o de Jorge Jesus no Belenenses. Podem começar a fazer contas.
5. Em nenhum dos vídeos do Benfica-FC Porto pude ver a mão de Quaresma a tocar na bola dentro da área. Mas a grandiosidade da fé manifesta-se nestes pequenos momentos, quando o adepto vê a mão de Quaresma a travar a bola. Mas, melhor do que isso é quando o adepto nem precisa de ver a mão a tocar a bola; basta-lhe dizer que foi assim que aconteceu. É a fé.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 7 Abril 2007
Etiquetas: Topo Norte
<< Home