março 17, 2007

Ganhar por meio golo de vantagem

1. Volto ao mesmo: não me im­porto de ganhar por meio golo de vantagem. Por um golo de nada, até um miserável golo que faça mais pela corrida ao campeonato do que uma exibição daquelas, fantástica, com sujeito, predicado & complemento directo. Prefiro isso aos lamentos. Mas gostava de ver um belo jogo, mesmo assim. Um jogo leal, aberto, mas com meio golo de vantagem – pelo me­nos – para o meu lado (desculpa, Manuel António Pina, mas tu farias o mesmo, ou "melhor" até, para sermos francos).

2. No clima de ressentimento em que andamos, cheio de vira-latas, há outra coisa que me daria jeito: que a habitual meia-dúzia de paler­mas não provocasse desacatos de um ou de outro lado. Que seja futebol, mesmo: nada de amiguinhos, de palmadas nas costas e de "o que importa é que seja um belo es­pectáculo". Como dizia o Artur Semedo, quando lhe perguntaram se esperava que o jogo fosse "um belo espectáculo": "Quando quero um belo espectáculo vou à ópera. Aqui, quero que o meu clube ga­nhe." Portanto, nada de opera – mas que seja uma guerra leal entre gente decente. Berraria, insultos habituais, gargalhadas para humi­lhar o adversário, sim senhor. Mas deixem que seja o futebol a falar.

3. Há uma coisa que me surpreen­de cada vez mais nos programas de televisão sobre futebol (tirando o "Trio d 'ataque"): o ar enfastiado dos especialistas e comentadores. Todos muito enjoados e zangados com o futebol, permanentemente a fazer doutrina sobre o que não se jogou, e a pedir o fim do futebol que não seja jogado em "replay" ou ocu­pado a perder-se em conversas so­bre "os dirigentes" e as "estratégias da direcção". Não compreendo como tanta gente junta é incapaz de sorrir sequer. Sinceramente, o futebol sem humor não vale a pena. A gente vê o" Prós e contras" e ape­tece mandá-los jogar matraquilhos. Mas amordaçados.

4. O presidente do Sporting diz que o jogo de hoje é uma "fi­nal para o título de campeão". Não me parece. As finais são com a Académica, o Belenenses, o Boavista, o Nacional e o Paços de Ferreira, com quem o F. C. Porto vai jogar de­pois.

5. Simão tem sido o jogador fundamental do Benfica. Não direi que gosto dele, mas reconheço que tem sido a alma do Benfi­ca – faço-o com uma certa inveja porque, se Simão tivesse ou­tra camisola, seria um prazer vê-lo traçar as linhas de golo diante da baliza adversária. Ele equilibra o ataque e procura marcar golos do lugar certo. Não é tudo, claro, mas é o fundamen­tal para ganhar nem que seja com meio golo de vantagem.

6. Pedro Mantorras declarou em tribunal que ganha 10 000 euros mensais. Por esse valor, o Benfica devia ser obrigado a pagar-lhe uma carta de condução novinha, em folha. É o mínimo.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 17 Março 2007

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