fevereiro 17, 2007

O futebol ao pé da mesquita

1 - Os meus amigos de Casablan­ca estão humilhados com o tratamento dado a José Romão, que se demitiu do seu clube marroquino de­pois de, no ano passado, se ter sa­grado campeão nacional. Este ano, estava ainda em posição de discutir o título, em terceiro lugar. Na verdade, lendo os textos do "Le Matin", princi­pal jornal do país, temos a impressão de que José Romão partiu com todo o ouro do país, ingrato depois de ter ganho o caminho para ganhar o título. Segundo o "L'Opinion", no entanto, José Romão é um "gentleman" que é preciso respeitar. No fundo, Romão conquistou um título e, farto das querelas com a Direcção do clube, partiu. Devemos, por isso, diz mais ou me­nos o "L’Opinion", conservar as me­mórias dos bons momentos e das vi­tórias.
O caso é importante para os marro­quinos e não apenas para os adeptos do clube. Ao ler este exemplo na Im­prensa marroquina nos cafés de Ca­sablanca, penso no destino do fute­bol, uma espécie de furacão onde não contam apenas as vitórias, nem o sucesso, nem o destino. O futebol é mais do que os golos marcados. Factores imprevisíveis como o humor e o mau humor também contam.

2. O procurador-geral da República acha que a Justiça se interessa finalmente pelo futebol. Se Pinto Monteiro não estivesse já relacionado com o futebol, seria caso para lhe darmos as boas-vindas. Visitando as listas dos chamados órgãos dirigentes da Liga ou da Federação, há no­mes bastantes que vêm da magistratura. O que acontece sempre nestes casos é uma espécie de ressen­timento contra o pai. E a uma velocidade que é ace­lerada por factores que deviam ser mais ponderados. Portugal estará transformado não numa república de juízes, mas numa espécie de protecto­rado de magistrados e de juristas. Sinceramente, isso é mau.

3 - Esperavam, portanto, que eu reju­bilasse com a derrota do Benfica diante do Varzim, no estádio onde vi os pri­meiros jogos de futebol da velha 1.ª Di­visão? Estão enganados. Fiquei con­tente por o Benfica ter ultrapassado o Dínamo no último minuto, como con­vém a uma vitória passional.

4 - Estou longe de Portugal, a sul de Casablanca. Os rumores do futebol chegam aqui como em toda a parte. Sentado no muro, junto de um café, ouço os golos do campeonato do Qatar numa televisão instalada ao pé da mesquita.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 17 Fevereiro 2007

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