Quaresma, Ronaldo e tetraidrocanabinol
1. Há duas hipóteses, qualquer delas credíveis. A primeira diz que o Brasil perdeu com Portugal porque jogou menos e porque, na fase final da partida, os portugueses não deram hipótese; a segunda diz que o Brasil porque Dunga vestia aquela inacreditável camisa de flores em branco e negro, com duas tiras suspensoriais à frente (desenhada pela sua filha). Escolham a hipótese que mais agradar. Eu também gosto da segunda hipótese.
2. Na verdade, Portugal ganhou porque jogou melhor e porque a dupla Quaresma-Ronaldo, funcionando daquela maneira, arrancou alguns dos melhores momentos do jogo. Ronaldo mostrou porque razão é uma estrela, detestada pela mediocridade portuguesa que não lhe perdoa o génio, nem o talento, nem a velocidade, nem o riso. Scolari chegou a dizer que preferia Nani a Ronaldo. Quaresma provou porque é o melhor ala do futebol lusitano, detestado pelos polícias de costumes e pelos moralistas de serviço. Foram duas grandes presenças, a par da boa entrada de Simão, do regresso de Jorge Andrade e do golo de Ricardo Carvalho.
3. Mas há outra verdade absoluta, sobretudo para quem está habituado a ver futebol brasileiro – os jogadores do Brasil têm vindo a banalizar a sua arte. Hoje, a concorrência é maior do que há vinte anos, quando aquela mistura explosiva de samba, pobreza, ambição e criatividade dava resultados espantosos. Se a melhor equipa do mundo a jogar futebol fosse aquela que esteve no Mundial da Alemanha, seria dramático. O Brasil está cheio de banalidades no futebol. E perder com Portugal faz sempre bem à pequenina arrogância de que está bem fornecido.
4. Mantenho, de resto, a minha posição: é a selecção – sobretudo Ronaldo, Quaresma e Simão, neste caso – que obriga Scolari a não jogar como Scolari gosta de jogar. Nada de ressentimentos.
5. José Mourinho disse ontem que tinha mais em que pensar. Referia-se ao jogo do Chelsea com o FC Porto. Vamos e venhamos, ele tem alguma razão e ninguém pode levar-lhe a mal. O FC Porto tem escorregado em todas as curvas. A imagem é má. Sabem porquê? Pela razão essencial: porque, nos jogos em que devia marcar golos, não houve ninguém a marcá-los. Poderia repetir isto até à insanidade, mas os especialistas em xadrez acham ridículo andar alguém a mostrar aquilo que é evidente: falta ataque (ataque explosivo, determinante, fatal, mortífero) ao FC Porto. Sem Quaresma, estrategicamente castigado, não há bolas que cheguem a Postiga. E é triste ver Postiga a fazer fitas de cada vez que falha uma bola.
6. Fernando Silva, o atleta do Maratona Clube de Portugal, confessou que “foi um erro”. Trata-se de doping. Fez bem em falar assim. Pelo contrário, o caso Nuno Assis continuará a desmoralizar o jogador, já prejudicado pela guerrilha que o seu clube manteve, servindo-se dele.
7. O meu caso preferido é o de Nilson Sergipano, que vi jogar no Bahia há uns anos. O Bahia está na terceira divisão (juntamente com o outro clube de Salvador, o Vitória). Parece que lhe detectaram tetraidrocanabinol. Quer dizer, maconha, marijuana. Nilson é o meu herói: não gosta de químicos; já a António Tavares, basquetebolista do Benfica, basta-lhe fazer tratamento para o cabelo.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 10 Fevereiro 2007
2. Na verdade, Portugal ganhou porque jogou melhor e porque a dupla Quaresma-Ronaldo, funcionando daquela maneira, arrancou alguns dos melhores momentos do jogo. Ronaldo mostrou porque razão é uma estrela, detestada pela mediocridade portuguesa que não lhe perdoa o génio, nem o talento, nem a velocidade, nem o riso. Scolari chegou a dizer que preferia Nani a Ronaldo. Quaresma provou porque é o melhor ala do futebol lusitano, detestado pelos polícias de costumes e pelos moralistas de serviço. Foram duas grandes presenças, a par da boa entrada de Simão, do regresso de Jorge Andrade e do golo de Ricardo Carvalho.
3. Mas há outra verdade absoluta, sobretudo para quem está habituado a ver futebol brasileiro – os jogadores do Brasil têm vindo a banalizar a sua arte. Hoje, a concorrência é maior do que há vinte anos, quando aquela mistura explosiva de samba, pobreza, ambição e criatividade dava resultados espantosos. Se a melhor equipa do mundo a jogar futebol fosse aquela que esteve no Mundial da Alemanha, seria dramático. O Brasil está cheio de banalidades no futebol. E perder com Portugal faz sempre bem à pequenina arrogância de que está bem fornecido.
4. Mantenho, de resto, a minha posição: é a selecção – sobretudo Ronaldo, Quaresma e Simão, neste caso – que obriga Scolari a não jogar como Scolari gosta de jogar. Nada de ressentimentos.
5. José Mourinho disse ontem que tinha mais em que pensar. Referia-se ao jogo do Chelsea com o FC Porto. Vamos e venhamos, ele tem alguma razão e ninguém pode levar-lhe a mal. O FC Porto tem escorregado em todas as curvas. A imagem é má. Sabem porquê? Pela razão essencial: porque, nos jogos em que devia marcar golos, não houve ninguém a marcá-los. Poderia repetir isto até à insanidade, mas os especialistas em xadrez acham ridículo andar alguém a mostrar aquilo que é evidente: falta ataque (ataque explosivo, determinante, fatal, mortífero) ao FC Porto. Sem Quaresma, estrategicamente castigado, não há bolas que cheguem a Postiga. E é triste ver Postiga a fazer fitas de cada vez que falha uma bola.
6. Fernando Silva, o atleta do Maratona Clube de Portugal, confessou que “foi um erro”. Trata-se de doping. Fez bem em falar assim. Pelo contrário, o caso Nuno Assis continuará a desmoralizar o jogador, já prejudicado pela guerrilha que o seu clube manteve, servindo-se dele.
7. O meu caso preferido é o de Nilson Sergipano, que vi jogar no Bahia há uns anos. O Bahia está na terceira divisão (juntamente com o outro clube de Salvador, o Vitória). Parece que lhe detectaram tetraidrocanabinol. Quer dizer, maconha, marijuana. Nilson é o meu herói: não gosta de químicos; já a António Tavares, basquetebolista do Benfica, basta-lhe fazer tratamento para o cabelo.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 10 Fevereiro 2007
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