fevereiro 03, 2007

Sem irritações, paciência

1. Não me lixem. Há muito boa gente que se vê, naquela pose de queixo bem assente e reflexivo, a perorar sobre as razões de queixa do F. C. Porto em relação às arbitragens que não, que há "ali" uma agressão de Quaresma (e logo com Tixier, com quem Quaresma teria contas a ajustar), que não se pode duvidar da boa-fé dos árbitros. É gente com sentido de humor. São os mesmos que não viram exagero nos cartões a Sougou e a Ivanildo. Conveniências pardas. A verdade é que, na dúvida, não é preciso ser-se Lucíiio de Baptista para se fazerem "arbitragens inteli­gentes" - desde o ano passado que, na dúvida, se penaliza o F.C. Porto. Pode ser-se ligeiramente medri­cas como Elmano Santos. Por pressão da "opinião pública", da "imprensa", dos do costume e da "necessidade de lim­peza". É de gargalhadas ver esta gente covarde a reagir como se o futebol estivesse sujeito a plebisci­to. Nos bons tempos de João Vale Azevedo, o presidente do Benfica chegou a dizer que as vitórias do F. C. Porto não eram boas para a competi­tividade do futebol português. Tretas, como se viu – eles querem futebol por televoto: há tantos benfiquistas, logo tantas vitórias do Benfi­ca; tantos sportinguistas, tan­tas cabazadas do Sporting; tantos portistas, logo uma certa quota de vitórias do F.C. Porto. E por aí fora. O "equilíbrio" dessa gente chama-se "equilibrismo", afinal. Até caírem.

2. O presidente do Benfica e o séquito do costume anda­ram a visitar os partidos polí­ticos. Levaram consigo uma sacolinha de queixas e de provas de que há corrupção no futebol. Tamanha jogada merecia a vitória no campeonato – e sem direito a discussão. Nos tempos do regime anterior, o Benfica era o clube do regime e não tinha nada a temer; agora, o "ex-clube do regime" visita os comícios (Vilarinho agradecendo favores de Durão Barroso, lembram-se?) e as sedes " dos partidos para denunciar coisas graves e imorais (o CDS e o PSD caíram na esparrela e mostraram-se chocados). Parece a história da Dona Pombinha da telenovela: muita moralidade e bons costumes. Vê-se pela cara. Mas estamos no tempo das "denúncias anónimas" e da "literatu­ra confessional". Nada de surpresas.

3. Contra o que dizem as primeiras páginas, o Sporting foi prudente em matéria de contratações. Prudente, sensato e sério. No festival de chega­das e partidas, é necessário conser­var algum bom senso. Se o Sporting não tem, imediatamente, compro­missos europeus, e se o plantei dis­ponível é também o plantei possível, não vejo razão para fazer "compras de Janeiro" apenas para alimentar as primeiras páginas.

4. Quaresma tem má imprensa, mas isso não é surpreendente. Há sempre abutres disponíveis para atacar quem não se junta ao "beautiful people". Às vezes, a má-fé contra Ricar­do Quaresma aproxima-se exageradamente do racismo, mas não vale a pena levantar suspeitas. Há as que bastam. No restante, parece que ele tem mau feitio. Parece que fica zangado quan­do perde uma bola ou não completa a jogada. Estas coisas (ter mau feitio e ficar zangado) ainda não são consi­deradas crime pelos nossos códigos. De resto, ao contrário do que querem fazer crer, Quaresma não é um agressor. Nenhum jogador (como aconteceu com Anderson ou Derlei) foi para o estaleiro por causa de uma jogada sua. Ele irrita-os, ape­nas. Paciência.

In Topo Norte – Jornal de Notícias – 3 Fevereiro 2007