O que quer a direita
Mais coisa menos coisa, Lobo Xavier disse ontem que era um erro pedir a demissão de Ribeiro e Castro como líder do CDS-PP. Um erro, ou seja, nas suas palavras, “uma irresponsabilidade”. A afirmação tem alguma razão de ser, mas pelas razões inversas das apontadas por Lobo Xavier; é que uma das últimas sondagens atribui, ao CDS, uma subida de dois pontos. Não se percebe porquê, a não ser pelo facto de o eleitorado premiar quem anda desaparecido (como dizia Vasco Pulido Valente).
Ora, as razões invocadas por Lobo Xavier resumem-se fundamentalmente numa: porque não há ninguém disponível para se candidatar ao lugar de Ribeiro e Castro. É ele próprio quem o afirma: “Se o partido estivesse cheio de candidatos credíveis e com ideias capazes, que quisessem participar numa disputa aberta pela presidência, seria o primeiro a reclamar que a direcção se demitisse e que se realizasse um congresso que permitisse uma escolha.”
Vamos e venhamos, Lobo Xavier tem razão; obrigar Ribeiro e Castro a demitir-se para criar um vazio significa tempo perdido. Nos últimos tempos, o CDS desapareceu. Bom; não totalmente: há uma soma de “gaffes” interessantes e de excitações na bancada parlamentar, a somar às revoadas de nevoeiro que se acumulam para que Paulo Portas regresse. No resto, nada.
Custa a acreditar que a direita portuguesa se resigne a aceitar o PSD como seu partido natural (o que prejudica o PSD, valha a verdade) e que se contente em viver em função dos ciclos eleitorais.
Fazer política traz prejuízos consideráveis? Decerto. Só assim se explica que ninguém, dos históricos candidatos a dirigentes do CDS, se disponibilize para abandonar a vida empresarial ou académica para fazer política – veja-se o exemplo de Lobo Xavier, naturalmente. É legítimo, portanto, que nos perguntemos: o que quer, afinal, a direita portuguesa para além de ocupar um lugar pobre no parlamento e de querer participar numa aliança triste com o PSD?
Fundamentalmente, a direita anda contente com o “espírito reformista” de José Sócrates, que “não estraga os negócios” e tem desafiado aquilo que os dois últimos governos (o de Durão e o de Santana) não ousaram afrontar: o lugar do Estado, as leis laborais e o corporativismo na educação, na justiça e na administração pública. A direita agradece. Mas fica, em matéria política, manietada (tal como parte do Bloco de Esquerda vai ficar depois da vitória do “sim” no referendo do aborto) e sem grandes bandeiras.
Ora, isto é uma pena. Em primeiro lugar porque ficamos sem saber o que quer e pensa a direita, verdadeiramente. Em segundo lugar porque esta desertificação do CDS é traduzida – para quem não vê o PSD como pau para toda a obra –, por outro interessante parágrafo das declarações de Lobo Xavier: “Se eu quiser dizer em dez segundos cinco grandes linhas do pensamento do CDS, como partido de oposição, certamente que hesito muito e isso não deveria acontecer.”
Na verdade, a direita é ou está preguiçosa. Limita-se a vegetar. A seguir os acontecimentos com um lamentável sentido de oportunidade. A acompanhar e a alimentar a luta dos seus baronatos. Preguiça e baronatos. Foi isso que matou a Direita antes, durante os seus governos. É isso que ameaça liquidá-la agora, por alguns anos. Essa irrelevância vai custar caro ao país.
Há uns tempos escrevi que é importante saber se a Direita quer carregar consigo os seus “patrimónios genéticos” e os seus espartilhos – e falar para pessoas que já não existem – ou se admite abrir o seu cérebro para questões que a própria vida coloca hoje em dia.
Volto ao mesmo: há os que, à esquerda, têm medo de dizer alguma coisa de esquerda. E existe, à direita, o receio de dizer alguma coisa de direita. Dito isto, ficamos sem saber o que quer a direita.
in Jornal de Notícias - 29 Janeiro 2007
Ora, as razões invocadas por Lobo Xavier resumem-se fundamentalmente numa: porque não há ninguém disponível para se candidatar ao lugar de Ribeiro e Castro. É ele próprio quem o afirma: “Se o partido estivesse cheio de candidatos credíveis e com ideias capazes, que quisessem participar numa disputa aberta pela presidência, seria o primeiro a reclamar que a direcção se demitisse e que se realizasse um congresso que permitisse uma escolha.”
Vamos e venhamos, Lobo Xavier tem razão; obrigar Ribeiro e Castro a demitir-se para criar um vazio significa tempo perdido. Nos últimos tempos, o CDS desapareceu. Bom; não totalmente: há uma soma de “gaffes” interessantes e de excitações na bancada parlamentar, a somar às revoadas de nevoeiro que se acumulam para que Paulo Portas regresse. No resto, nada.
Custa a acreditar que a direita portuguesa se resigne a aceitar o PSD como seu partido natural (o que prejudica o PSD, valha a verdade) e que se contente em viver em função dos ciclos eleitorais.
Fazer política traz prejuízos consideráveis? Decerto. Só assim se explica que ninguém, dos históricos candidatos a dirigentes do CDS, se disponibilize para abandonar a vida empresarial ou académica para fazer política – veja-se o exemplo de Lobo Xavier, naturalmente. É legítimo, portanto, que nos perguntemos: o que quer, afinal, a direita portuguesa para além de ocupar um lugar pobre no parlamento e de querer participar numa aliança triste com o PSD?
Fundamentalmente, a direita anda contente com o “espírito reformista” de José Sócrates, que “não estraga os negócios” e tem desafiado aquilo que os dois últimos governos (o de Durão e o de Santana) não ousaram afrontar: o lugar do Estado, as leis laborais e o corporativismo na educação, na justiça e na administração pública. A direita agradece. Mas fica, em matéria política, manietada (tal como parte do Bloco de Esquerda vai ficar depois da vitória do “sim” no referendo do aborto) e sem grandes bandeiras.
Ora, isto é uma pena. Em primeiro lugar porque ficamos sem saber o que quer e pensa a direita, verdadeiramente. Em segundo lugar porque esta desertificação do CDS é traduzida – para quem não vê o PSD como pau para toda a obra –, por outro interessante parágrafo das declarações de Lobo Xavier: “Se eu quiser dizer em dez segundos cinco grandes linhas do pensamento do CDS, como partido de oposição, certamente que hesito muito e isso não deveria acontecer.”
Na verdade, a direita é ou está preguiçosa. Limita-se a vegetar. A seguir os acontecimentos com um lamentável sentido de oportunidade. A acompanhar e a alimentar a luta dos seus baronatos. Preguiça e baronatos. Foi isso que matou a Direita antes, durante os seus governos. É isso que ameaça liquidá-la agora, por alguns anos. Essa irrelevância vai custar caro ao país.
Há uns tempos escrevi que é importante saber se a Direita quer carregar consigo os seus “patrimónios genéticos” e os seus espartilhos – e falar para pessoas que já não existem – ou se admite abrir o seu cérebro para questões que a própria vida coloca hoje em dia.
Volto ao mesmo: há os que, à esquerda, têm medo de dizer alguma coisa de esquerda. E existe, à direita, o receio de dizer alguma coisa de direita. Dito isto, ficamos sem saber o que quer a direita.
in Jornal de Notícias - 29 Janeiro 2007
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