Cantar o hino na perfeição
1. Uma amiga disse-me que, ao ver Figo e Beckham lerem as suas mensagens anti-racistas, no início do Portugal-Inglaterra, suspeitou logo sobre quem ganharia o jogo - que um jogador que se preze não vai à manicure no dia anterior. Eu tentei, quando as câmaras de TV mostravam o pé do marido de Victoria Beckham, ver se havia ali sinalzinho de verniz - ou não. Na verdade ele anunciara que pedia sempre unha pintada. Eu queria repetir o que aqui escrevi há dois anos, no Euro 2004 os metrossexuais foram para casa. Não pude, mas a intenção fica: os metrossexuais foram para casa.
2. Os franceses vêm aí agora. Jean-Marie Le Pen diz que a França foi prejudicada pelo treinador nas suas escolhas para a selecção - onde diz que há muitos jogadores pretos ou, pelo menos, não "genuinamente franceses". Thierry Henry é um deles, tal como Zidane, Thuram, Makelele. Em Portugal também tivemos um treinador que falava de "portugueses legítimos", a quem preferia largamente para efeitos futebolísticos. O resultado foi a condizer. Também Figo, na sua fase mais triste, dizia que para jogar bem na selecção era preciso cantar o hino com convicção. Conversa de idiotas, como se sabe. Para Le Pen, eu gostava que a vitória portuguesa fosse conseguida por Miguel, Costinha ou Boa Morte. Com Deco ainda - para festejar Zagallo que, há três anos, disse que jogadores como Deco tinha ele com fartura no Brasil. Não tinha. Ou não os pôs a jogar.
3. O Brasil regressou ao Brasil, e faz-lhe bem. Ontem, a imprensa descobriu que, enquanto Henry marcava o golo solitário e eficaz da França, Roberto Carlos estava "a ajeitar a meia". A imagem não engana ninguém - na verdade, lá está o gesto técnico, preciso, elegante, de Roberto Carlos a puxar as meias. Não sei exactamente o que fez do Brasil uma equipa tão destreinada (além de Parreira, com o seu futebol sem graça), mas suponho que foi a arrogância e o estrelato. De certa maneira, a derrota do Brasil foi o epílogo de uma geração de futebolistas destinados à estratosfera - mas não ao trabalho. E eles cantavam o hino na perfeição.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 3 Julho 2006
2. Os franceses vêm aí agora. Jean-Marie Le Pen diz que a França foi prejudicada pelo treinador nas suas escolhas para a selecção - onde diz que há muitos jogadores pretos ou, pelo menos, não "genuinamente franceses". Thierry Henry é um deles, tal como Zidane, Thuram, Makelele. Em Portugal também tivemos um treinador que falava de "portugueses legítimos", a quem preferia largamente para efeitos futebolísticos. O resultado foi a condizer. Também Figo, na sua fase mais triste, dizia que para jogar bem na selecção era preciso cantar o hino com convicção. Conversa de idiotas, como se sabe. Para Le Pen, eu gostava que a vitória portuguesa fosse conseguida por Miguel, Costinha ou Boa Morte. Com Deco ainda - para festejar Zagallo que, há três anos, disse que jogadores como Deco tinha ele com fartura no Brasil. Não tinha. Ou não os pôs a jogar.
3. O Brasil regressou ao Brasil, e faz-lhe bem. Ontem, a imprensa descobriu que, enquanto Henry marcava o golo solitário e eficaz da França, Roberto Carlos estava "a ajeitar a meia". A imagem não engana ninguém - na verdade, lá está o gesto técnico, preciso, elegante, de Roberto Carlos a puxar as meias. Não sei exactamente o que fez do Brasil uma equipa tão destreinada (além de Parreira, com o seu futebol sem graça), mas suponho que foi a arrogância e o estrelato. De certa maneira, a derrota do Brasil foi o epílogo de uma geração de futebolistas destinados à estratosfera - mas não ao trabalho. E eles cantavam o hino na perfeição.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 3 Julho 2006
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