Última lição: o futebol é o terreno do possível
1. A Alemanha, naturalmente. Quando vi a Argentina retirar-se para o seu meio campo, perguntei-me se um general sensato alguma vez se retiraria para o "pampa" a fim de conservar a vitória. Não. Nunca - e conheço um pouco de história argentina. O mal da Argentina, como dizia um dos seus pais fundadores, Domingo Faustino Sarmiento, é o deserto que lhe nasce das entranhas. Ele escreveu isso já não me recordo a que propósito, mas vem na biografia que dedicou a Facundo Quiroga, um dos caudilhos históricos da Argentina. Sarmiento foi presidente da República mas, para mim, o seu feito mais nobre foi essa frase que explica o país. Pois foi também o deserto que a Argentina entregou aos alemães que provocou o que se sabe - aquele passe de Balack e a entrada de Klose, eu vejo-os como consequência do recuo para as linhas de defesa e do deserto entregue aos prussianos (eu escrevi "prussianos"?). Mesmo quando vi que Júlio Cruz ia entrar em campo, não me pareceu convincente, Ah, como vejo maus presságios naqueles tangos à beira do precipício. Mas a Alemanha, de qualquer modo, apresentou um futebol convincente e amável, alegre e positivo. Pelo menos, eu gostei de ver Angela Merkel na tribuna - por instantes, ao vê-la rodar, naquele fatinho rosa, temi que fosse dançar. Mas não. Há limites para tudo.
2. Não vi o Itália-Ucrânia. Não queria ver italianos. Há limites para tudo.
3. Só o Brasil garante, pelo menos até domingo, que o Mundial não se restringe à Europa -embora a larga maioria dos seleccionados do escrete joguem no "velho continente". Gosto destas metáforas rezingas: "velho continente", o "escrete", a selecção "canarinha", "a pérfida Albion", "a velha senhora", a "squadra azzura". Não querem dizer absolutamente nada. Tal, como não quer dizer nada o facto de todo os semi-finalistas, excepto o Brasil, serem europeus. Eu só tenho pena. Gostava de ver o Gana, o Equador e até a Austrália, a disputar ainda um lugar. Mas o futebol é o terreno do possível, não é?
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 1 Julho 2006
2. Não vi o Itália-Ucrânia. Não queria ver italianos. Há limites para tudo.
3. Só o Brasil garante, pelo menos até domingo, que o Mundial não se restringe à Europa -embora a larga maioria dos seleccionados do escrete joguem no "velho continente". Gosto destas metáforas rezingas: "velho continente", o "escrete", a selecção "canarinha", "a pérfida Albion", "a velha senhora", a "squadra azzura". Não querem dizer absolutamente nada. Tal, como não quer dizer nada o facto de todo os semi-finalistas, excepto o Brasil, serem europeus. Eu só tenho pena. Gostava de ver o Gana, o Equador e até a Austrália, a disputar ainda um lugar. Mas o futebol é o terreno do possível, não é?
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 1 Julho 2006
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