junho 26, 2006

Portugal jogou com 13

1. Assim vale a pena, mes­mo que os holandeses protes­tem o jogo pelo facto de Portu­gal ter jogado sempre com dois jogadores a mais - Scolari aos berros em Nuremberga e Na Sa do Caravaggio a fazer figas em Farroupilha, lá na serra gaúcha. Portugal jogou com 13. Eu gostei: um jogo em que Petit é agredido constitui para mim novidade (só estava habituado ao contrário) e Simão a dar quatro voltas sobre a bola an­tes de marcar uma falta é um espectáculo para se ver.

Compreendam-me: enquanto se trata de jogar, muito bem, eu sou um espectador civilizado; quando se trata de ganhar e de eliminar a Holanda ou a Ingla­terra, convoco as armas que me apetecer. Pelo menos não fico com aquela camiseta justinha e irritante vestida pelo Van Basten. Na verdade, fizemos bastante antijogo de forma ta­lentosa, o árbitro foi uma abécula, o Deco foi expulso injustamente por aquele Ivanov as­sustadiço, Miguel esteve bem, Figo foi um valente, o golo de Maniche fez-me insultar o F.C. Porto por tê-lo deixado partir (bem como a Costinha, claro), e gostei de ver Scolari aos ber­ros – nada daquele ar civiliza­do do Van Basten, hirto e ge­nial, vendo a Holanda ser infe­rior em campo.

Há muito tempo que não me divertia tanto a ver um jogo. To­dos os meus piores instintos vieram à tona, do riso escarni­nho até à gargalhada diante de eventuais fracturas expostas.

2. Imagem perfeita: Deco e Gio, expulsos, sentados a par­lamentar. Quando Tiago fa­lhou o golo, Deco levanta-se, de um pulo; Gio ficou sentado, preso ao banco. É isso o fute­bol: uns ganham, outros ficam naquele limbo da humilhação, coisa que acontece frequente­mente quando os holandeses jogam com Portugal.

in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 26 Junho 2006