Não dizer o nome de Ricardo em vão
1. Não sei como começou o jogo - não me lembro. Provavelmente, o jogo não teve história por aí além. Nem história nem lances geniais, nem histeria nas bancadas, nem arrepios de frio. Um bom jogo deve ter esses arrepios, sim - quando está quase a ser golo da Inglaterra. Por isso não me lembro de como começou o jogo apenas uma imagem, a de Ricardo entre os postes segurando o primeiro dos remates de penálti. Aí começou o jogo verdadeiramente e prometi, no final, não dizer senão uma palavra sobre Ricardo nos próximos tempos. Apenas isto: obrigado, Ricardo. Mais nada. Não me ouvirão outra sobre o rapaz do Montijo. Nem que, contra a França, ele deixe a baliza esburacada. Está prometido.
2. Não foi um jogo exuberante; havia duas equipas que não queriam perder mas só uma que tinha Ricardo e só uma que teve sangue-frio. É uma característica nova, essa de Portugal a marcar penáltis, a de resistir à pressão, a de aguentar o confronto, a de olhar de frente para os ingleses, as estrelas Beckham ou Rooney ou Lampard. Foi essa novidade que nos deu a vitória.
3. Carlos Alberto Parreira, o cara de peixe, tinha erguido a sobrancelha há dias, como se recordam não, não, o Brasil não precisava do futebol de Scolari, não precisava da energia de Portugal (a do jogo contra a Holanda), não. O Brasil tinha outras armas, um jogo de grande classe, jogadores de outra categoria. Eu disse na altura, ao ver a cara de Parreira: pela boca morre o peixe. Morreu. Um treinador, mesmo assessorado pela múmia de Zagallo (já não Zagallo, mas a sua múmia arrogante), e com aqueles jogadores de classe, deveria ter feito mais - e não fez. Foi uma derrota merecida, a do Brasil. Paz à sua alma.
4. Aliás, repetindo o que escrevi há dois anos sobre a selecção portuguesa depois do jogo inaugural do Europeu, com a Grécia, poderei dizer isto do Brasil foi uma equipa sem vícios - não fuma, não bebe e não joga.
5. Depois dos penáltis, volto a Portugal. Regresso devagar porque a sensação é perigosa e nobre, deve ser um regresso cauteloso. Estaremos em Berlim no dia 9? É provável, é possível. Rendo-me.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 2 Julho 2006
2. Não foi um jogo exuberante; havia duas equipas que não queriam perder mas só uma que tinha Ricardo e só uma que teve sangue-frio. É uma característica nova, essa de Portugal a marcar penáltis, a de resistir à pressão, a de aguentar o confronto, a de olhar de frente para os ingleses, as estrelas Beckham ou Rooney ou Lampard. Foi essa novidade que nos deu a vitória.
3. Carlos Alberto Parreira, o cara de peixe, tinha erguido a sobrancelha há dias, como se recordam não, não, o Brasil não precisava do futebol de Scolari, não precisava da energia de Portugal (a do jogo contra a Holanda), não. O Brasil tinha outras armas, um jogo de grande classe, jogadores de outra categoria. Eu disse na altura, ao ver a cara de Parreira: pela boca morre o peixe. Morreu. Um treinador, mesmo assessorado pela múmia de Zagallo (já não Zagallo, mas a sua múmia arrogante), e com aqueles jogadores de classe, deveria ter feito mais - e não fez. Foi uma derrota merecida, a do Brasil. Paz à sua alma.
4. Aliás, repetindo o que escrevi há dois anos sobre a selecção portuguesa depois do jogo inaugural do Europeu, com a Grécia, poderei dizer isto do Brasil foi uma equipa sem vícios - não fuma, não bebe e não joga.
5. Depois dos penáltis, volto a Portugal. Regresso devagar porque a sensação é perigosa e nobre, deve ser um regresso cauteloso. Estaremos em Berlim no dia 9? É provável, é possível. Rendo-me.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 2 Julho 2006
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