Onze de cada lado e no fim Portugal ganha
1. A ideia, que se vai tornando vulgar pelo país fora, de que "os críticos" mereciam o degredo ou, no mínimo, que fossem enxovalhados na praça pública, é cruel para a selecção e para todos os que gostam de ver o jogo. O futebol sempre foi um desporto de bancada - e, na bancada, sempre sobraram críticas e faltou a unanimidade. Com o advento do ópio pela televisão e da febre patriótica, o futebol passou a ser uma ditadura que às vezes se torna indigesta e paranóica. Cidadãos falam em directo pela rádio, ao telemóvel, no meio dos festejos, e insultam Pacheco Pereira por este não gostar de futebol. Eu recebi mails de leitores indignados com a minha alegada falta de entusiasmo pela vitória contra a Holanda, mas lamento desiludi-los não tenho feitio de evangelizador nesta nova fase em que os adeptos fanáticos da pátria em chuteiras se tornam enjoativos e repetitivos. Também não compreendo que as televisões se entretenham a entrevistar adeptos que se limitam a gritar, enrouquecidos, "somos os maiores", "vamos comê-los" e outras originalidades. Mas talvez o defeito seja meu.
2. Nem Espanha nem o Gana continuam. Nem o futebol dos miúdos nem o futebol africano. Ficam o cálculo e o mata-mata. De todas as selecções que restam, a Alemanha garantiu até agora o futebol menos mau. O meu Brasil também desiludiu, vegetando na preguiça. Mas talvez o defeito seja meu. De resto, Portugal jogará à Scolari nos quartos-de-final e isso deixa-me menos intranquilo. No fundo, tenho viagem marcada a 10 de Julho e inventei uma regra tresloucada: o futebol é um jogo com onze jogadores de cada lado e no final Portugal ganha. Gostavam?
3. Passo estes dias no meio das florestas. Castanheiros, nogueiras, pinheiros verdes, olmos altíssimos, carvalhos que ainda restam nas serras do meu país - férias justas, adianto. Se vêm com a tontice da pátria futebolística, eu argumento com isto, o meu país de árvores que ainda não arderam. Até sábado, só até sábado, peço que esta tranquilidade permaneça.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 29 Junho 2006
2. Nem Espanha nem o Gana continuam. Nem o futebol dos miúdos nem o futebol africano. Ficam o cálculo e o mata-mata. De todas as selecções que restam, a Alemanha garantiu até agora o futebol menos mau. O meu Brasil também desiludiu, vegetando na preguiça. Mas talvez o defeito seja meu. De resto, Portugal jogará à Scolari nos quartos-de-final e isso deixa-me menos intranquilo. No fundo, tenho viagem marcada a 10 de Julho e inventei uma regra tresloucada: o futebol é um jogo com onze jogadores de cada lado e no final Portugal ganha. Gostavam?
3. Passo estes dias no meio das florestas. Castanheiros, nogueiras, pinheiros verdes, olmos altíssimos, carvalhos que ainda restam nas serras do meu país - férias justas, adianto. Se vêm com a tontice da pátria futebolística, eu argumento com isto, o meu país de árvores que ainda não arderam. Até sábado, só até sábado, peço que esta tranquilidade permaneça.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 29 Junho 2006
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