O mau perder por causa deles
1. Queriam, portanto, que eu dissesse "que lindo que foi a vitória da França", "que feliz que fiquei com o golo de Zidane" e outras frases do género. Fiquem desiludidos. Eu perdi - queria que a Espanha ganhasse, que Torres fizesse o seu futebol, que Cesc exercesse as suas prerrogativas e fizesse aqueles passes de mágica. Infelizmente, estamos na fase do "mata-mata", como gosta de dizer Scolari. Aquela fase que não conta com o bom futebol e apenas com a eficácia frontal do contra-ataque, dos golos obtidos depois de esgotar o adversário com o "brilhante quarteto defensivo". Tenho mau perder - perdi mal. Espanha foi derrotada e bem derrotada. Mas não digo "ah, que bonito esse golo de Zidane" nem lamento que Cesc se tivesse transformado, ao longo do jogo - como Xavi - num jogador inoperante. A Espanha perdeu, já não vai derrotar o Brasil. Eu perdi. Tenho mau perder.
2. A Itália passou em frente com o favor do árbitro; Adriano marcou o segundo do Brasil com a cegueira do árbitro. Tenho mau perder, custa-me aceitar essa tristíssima realidade.
3. Uma coisa é ter mau perder; outra é ter mau ganhar. Ganhar um jogo e viver a vitória, cada vitória, como uma vingança, é suficientemente mau para poder ser visto como questão de carácter. Assusta-me que aos jogadores portugueses não lhes baste ouvir multidões a gritar pelo país fora, a quase generalidade da imprensa domada e domesticada, as autoridades embevecidas. Devia bastar - e acostumarem-se com as críticas e as evidências. O país vive em alta, submetido à tempestade da vitória, à promessa de redenção. Estamos com os oito finalistas; tamanha glória emudece os críticos. Temo bastante que a devassidão da vitória continue, mas apetece ganhar à Inglaterra. Confesso o hooliganismo apetece-me ganhar sobretudo por causa deles. A humilhação faz parte do futebol. Tenho mau perder e uma indignação que vem desde 1966. Ganhar-lhes em 1986, em 2000 e em 2004 não bastou. É preciso mais. Nem que o preço seja metade dos portugueses ficarem a bater mal da bola.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 28 Junho 2006
2. A Itália passou em frente com o favor do árbitro; Adriano marcou o segundo do Brasil com a cegueira do árbitro. Tenho mau perder, custa-me aceitar essa tristíssima realidade.
3. Uma coisa é ter mau perder; outra é ter mau ganhar. Ganhar um jogo e viver a vitória, cada vitória, como uma vingança, é suficientemente mau para poder ser visto como questão de carácter. Assusta-me que aos jogadores portugueses não lhes baste ouvir multidões a gritar pelo país fora, a quase generalidade da imprensa domada e domesticada, as autoridades embevecidas. Devia bastar - e acostumarem-se com as críticas e as evidências. O país vive em alta, submetido à tempestade da vitória, à promessa de redenção. Estamos com os oito finalistas; tamanha glória emudece os críticos. Temo bastante que a devassidão da vitória continue, mas apetece ganhar à Inglaterra. Confesso o hooliganismo apetece-me ganhar sobretudo por causa deles. A humilhação faz parte do futebol. Tenho mau perder e uma indignação que vem desde 1966. Ganhar-lhes em 1986, em 2000 e em 2004 não bastou. É preciso mais. Nem que o preço seja metade dos portugueses ficarem a bater mal da bola.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 28 Junho 2006
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