Lembranças de Jesualdo e jogadores de eleição
1. Admito que Jesualdo Ferreira se canse de chamar a atenção para pormenores, mas convém que os lembre, mesmo correndo o risco de ser um chato. O mais importante deles ocorreu depois do F. C. Porto-Paços de Ferreira: estava descontente com a exibição relativamente banal da equipa. O resultado, 4-0, foi interessante: quatro golos saídos dos pés de Ricardo Quaresma e dois deles apontados por um defesa, Pe-pe. Houve quem pensasse que uma operação aritmética básica bastava para descansar Jesualdo (quatro golos à equipa que tinha ganho ao Sporting e empatado com o Benfica); felizmente, o treinador lançou o aviso para compensar a alegria instalada desde a semana anterior, quando tinha lembrado outra coisa básica - que é em jogos como aquele da Choupana, contra o Nacional, que se ganham campeonatos, e não apenas contra o Benfica e o Sporting.
Isso é bom de dizer, mas toda a gente sabe que não basta ganhar ao adversário; é preciso, dentro de certos limites, humilhá-lo um pouco para que não fique com um sorriso ao canto da boca. Adriaanse, o do molho holandês, não tinha percebido que era preciso ganhar ao Benfica no Dragão – e aqueles dois golos de Nuno Gomes foram "o sorriso ao canto da boca" até ao fim da época. Alguém, nessa altura, devia ter avisado Adriaanse; mas andavam ocupados com o processo disciplinar a Diego.
2. Devo desculpas a Pepe. Há três anos eu queria trocá-lo por outra coisa qualquer. Para se
vingar de fala-baratos como eu, Pepe revelou-se o melhor central a actuar em Portugal. Nada me impede de desejar que seja, mesmo, o melhor central português. Português, repito.
3. "Jogadores de eleição" é um tema recorrente, mas vale a pena lembrar enganos fatais. Durante urriEC. Porto-Braga, há uns anos, um comentador de serviço (na TSF) acabava de ver o mesmo que eu: Deco, esse português bravo, arrastava toda a defesa do então Estádio l.° de Maio para a direita e, num último momento, inflectiu, ficou diante de uma brecha por onde fuzilou o guarda-redes, Quim na época. Nunca esqueci esse golo nem o comentário ressentido do sujeito: "Manhoso, Deco: Mas isso não mascara o facto de ser um jogador banal." Não era. Um ano depois, num Belenenses-F. C. Porto, Deco toma a bola entre os pés na grande área e corre para a baliza adversária; faz o campo todo, suporta três cargas e, diante da baliza, cede a Alenichev, seu concorrente para o lugar, que faz o quarto golo. No Dragão, este ano, vi a mesma sequência de jogadas com Ricardo Quaresma e com Anderson. O comentador anda aí. O que disse de Deco, repetiu sobre Quaresma e de Anderson.
4. Ricardo Carvalho, Deco, Paulo Ferreira, Maniche, Derlei, Jorge Costa, Diego - todos saíram do F. C. Porto, tal como Mourinho. Em Fevereiro, o confronto com o Chelsea há-de fazer lembrar esse e outros pormenores. Mourinho não perdoa várias coisas e quer mostrar que o coração é um acidente na sua vida. Não é – mas ele quer mostrar. Fevereiro vai ser amargo.
in Topo Norte – Jornal de Notícias - 23 Dezembro 2006
Isso é bom de dizer, mas toda a gente sabe que não basta ganhar ao adversário; é preciso, dentro de certos limites, humilhá-lo um pouco para que não fique com um sorriso ao canto da boca. Adriaanse, o do molho holandês, não tinha percebido que era preciso ganhar ao Benfica no Dragão – e aqueles dois golos de Nuno Gomes foram "o sorriso ao canto da boca" até ao fim da época. Alguém, nessa altura, devia ter avisado Adriaanse; mas andavam ocupados com o processo disciplinar a Diego.
2. Devo desculpas a Pepe. Há três anos eu queria trocá-lo por outra coisa qualquer. Para se
vingar de fala-baratos como eu, Pepe revelou-se o melhor central a actuar em Portugal. Nada me impede de desejar que seja, mesmo, o melhor central português. Português, repito.
3. "Jogadores de eleição" é um tema recorrente, mas vale a pena lembrar enganos fatais. Durante urriEC. Porto-Braga, há uns anos, um comentador de serviço (na TSF) acabava de ver o mesmo que eu: Deco, esse português bravo, arrastava toda a defesa do então Estádio l.° de Maio para a direita e, num último momento, inflectiu, ficou diante de uma brecha por onde fuzilou o guarda-redes, Quim na época. Nunca esqueci esse golo nem o comentário ressentido do sujeito: "Manhoso, Deco: Mas isso não mascara o facto de ser um jogador banal." Não era. Um ano depois, num Belenenses-F. C. Porto, Deco toma a bola entre os pés na grande área e corre para a baliza adversária; faz o campo todo, suporta três cargas e, diante da baliza, cede a Alenichev, seu concorrente para o lugar, que faz o quarto golo. No Dragão, este ano, vi a mesma sequência de jogadas com Ricardo Quaresma e com Anderson. O comentador anda aí. O que disse de Deco, repetiu sobre Quaresma e de Anderson.
4. Ricardo Carvalho, Deco, Paulo Ferreira, Maniche, Derlei, Jorge Costa, Diego - todos saíram do F. C. Porto, tal como Mourinho. Em Fevereiro, o confronto com o Chelsea há-de fazer lembrar esse e outros pormenores. Mourinho não perdoa várias coisas e quer mostrar que o coração é um acidente na sua vida. Não é – mas ele quer mostrar. Fevereiro vai ser amargo.
in Topo Norte – Jornal de Notícias - 23 Dezembro 2006
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