dezembro 16, 2006

A bola não tem culpa

1. Agora, bola: duas assistências de Quaresma nos dois golos do FC Porto no Funchal. O que confirma aquilo que já era uma evidência da parte de Ricardo Quaresma – mas que também ajuda a compreender o estilo de jogo do campeão: submeter-se ao princípio da economia geral, ou seja, obter o máximo de resultados com o mínimo de esforço. Este quadro deixa os adeptos com os nervos em franja, mas compreende-se o desejo de equilíbrio e de poupança de energias. Agora, há dois meses para afinar o que há a afinar, se o FC Porto se limitar a vencer o Paços de Ferreira este fim-de-semana; porque em Fevereiro vem aí o Chelsea, o que será um teste duplo à equipa. Em primeiro lugar, é preciso continuar na Champions; em segundo lugar, Mourinho não esqueceu que perdeu por 2-1 no Dragão. O resultado fez pouca mossa na contagem final, mas Mourinho não esquece, não perdoa, não tem amigos e não vai em cantigas. Se a vantagem para o Manchester se mantiver na liga inglesa, o Chelsea vai apostar quase tudo na Champions. Para bom entendedor, não é apenas o FC Porto que se mete no caminho do Chelsea; é também o trajecto de Mourinho que estará em causa no seu clube. Ele vai querer juntar o útil ao agradável e ajustar contas em definitivo.

2. Maria José Morgado vai tomar conta do processo do Apito Dourado – a notícia é boa porque vai permitir, antes de mais, calar suspeitas sobre uma eventual paralisia na investigação, que é preciso concluir quanto antes. O que os flibusteiros do costume mais apreciariam seria que o processo se enrolasse até à eternidade para poderem grasnar à vontade. É preciso ser rápido e ser claro para que não se repitam as ingenuidades habituais. Salvo erro, depois de tudo o que disse – e bem – também se trata de um teste para Maria José Morgado.

3. Ouviram-se gritos de “Viva o Benfica!” no lançamento do livro que escreveram sob o título “Eu, Carolina”, o que dá bem ideia da coisa. Isso não deve impressionar-nos, porque guerra é guerra (o Benfica já tinha inventado um dossier “anónimo” e altamente comprometedor sobre a corrupção no futebol, ou seja, um dossier a que foi retirada a assinatura para poder ser “anónimo”). A bola não tem culpa. Se o FC Porto terminar a primeira volta do campeonato com esta vantagem, bem podem os amigos de D. Carolina gritar “viva o Benfica”. Até lhes agradeço, que eu gosto de gente satisfeita.

4. Não vale a pena chutar para o lado e tentar seguir em frente tapando os ouvidos. Deverá Pinto da Costa demitir-se? Por mais difícil que esteja a vida do presidente portista, os adeptos e o clube devem-lhe apoio e lealdade, e isso é uma questão de princípio. Seria feio e patético alguém pensar em livrar-se de Pinto da Costa para aproveitar a onda levantada por um livro abjecto e pelos interesses mais vastos e escabrosos que o produziram; mas ao presidente não basta dizer que responderá “em sede própria” porque o debate está na rua e é necessário que, nesta guerra, o clube não se transforme na sua garantia pessoal.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 16 Dezembro 2006