Agora, que descobriram Quaresma
1. Na verdade, como estava demonstrado antes, a entrada das equipas portuguesas no "negócio europeu" está reservada a poucas. Neste caso, ao F. C. Porto, que nem começou da melhor maneira – uma campanha iniciada com um Jesualdo que tentava livrar-se do molho holandês que Adriaanse deixara no Dragão. Era bom que Sporting e Benfica tivessem passado, sim; mas a Champions é para campeões.
2. É normal. Sabe-se, agora, lendo os jornais, que Quaresma ressuscitou – mesmo muito antes de ter fenecido. Os idólatras nacionais, muito ocupados a inventarem estrelas fabricadas em dois jogos, nutriam por Quaresma uma antipatia que rondava o pequeno e mal disfarçado racismo – murmuravam contra o seu feitio, porque, no caso de Quaresma, que é cigano, ele tinha mais a provar do que os outros. Que fosse preto, seria ainda absolvido, mas havia o feitio, esse pecado; nada como lançar a desconfiança sobre o número sete mais talentoso a jogar no futebol português. Nunca vi tamanha ginástica para encontrar defeitos em Ricardo Quaresma; se o F. C. Porto sofria de "Andersondependência", era má opção dedicar-se à "Quaresmodependência", porque o miúdo era egoísta, individualista, não trabalharia para a equipa. Jesualdo pô-lo a trabalhar para a equipa como antes ele já trabalhara; pô-lo a sorrir depois de cada golo; e Quaresma corria para Vítor Baía, mostrando a alegria de um miúdo, de um talento raro. Para entrar na selecção, tem o caminho quase cortado; Scolari inventará obstáculos e vai lançá-lo apenas se esgotar as hipóteses de ganhar com os seus sacristães – se queimar Quaresma não faz mal. Mas o miúdo está aí; duas bolas ao poste contra o Arsenal provocaram um ruído absurdo nessa má-consciência nacional dos comentadores. Certo que bola ao poste é, naturalmente, bola mal chutada – porque convém que ela entre. Mas entrará, há-de entrar. Nem que seja para que Quaresma se possa vingar do pequeno racismo lusitano.
3. O caso Nuno Assis e os seus desenvolvimentos mostram que, como convém, ninguém pode estar acima da lei. Doping é doping, até à última letra da palavra, que não honra ninguém – mas que se perdoa a um atleta, pelo menos por princípio. A manigância decretada pela Federação para arquivar o "caso Nuno Assis" contrasta com a mão pesada revelada noutros casos. "A Bola" de ontem gritava "Vingança!". É verdade. O prejudicado por estas manigâncias é Nuno Assis. Ele que procure saber porquê.
4. O Sporting entrou numa quebra de ritmo, que já se esperava. Dezembro é a primeira grande avaliação e o Sporting, que ainda não conseguiu construir uma equipa-tipo, mudando de semana para semana, revela algumas fragilidades tonitruantes, a principal das quais é a sua virtude essencial: a juventude da equipa. Curiosamente, Fernando Santos surpreendeu: onde se esperava uma equipa de trincos, construída à semelhança do que ele próprio fez no F. C. Porto e no Sporting, o Benfica tem atacado - embora não pelos seus atacantes. Katsouranis tem sido uma peça essencial, Simão mantém o ritmo. O próximo exame é no Carnaval. Longe, ou perto, vá o agoiro.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 9 Dezembro 2006
2. É normal. Sabe-se, agora, lendo os jornais, que Quaresma ressuscitou – mesmo muito antes de ter fenecido. Os idólatras nacionais, muito ocupados a inventarem estrelas fabricadas em dois jogos, nutriam por Quaresma uma antipatia que rondava o pequeno e mal disfarçado racismo – murmuravam contra o seu feitio, porque, no caso de Quaresma, que é cigano, ele tinha mais a provar do que os outros. Que fosse preto, seria ainda absolvido, mas havia o feitio, esse pecado; nada como lançar a desconfiança sobre o número sete mais talentoso a jogar no futebol português. Nunca vi tamanha ginástica para encontrar defeitos em Ricardo Quaresma; se o F. C. Porto sofria de "Andersondependência", era má opção dedicar-se à "Quaresmodependência", porque o miúdo era egoísta, individualista, não trabalharia para a equipa. Jesualdo pô-lo a trabalhar para a equipa como antes ele já trabalhara; pô-lo a sorrir depois de cada golo; e Quaresma corria para Vítor Baía, mostrando a alegria de um miúdo, de um talento raro. Para entrar na selecção, tem o caminho quase cortado; Scolari inventará obstáculos e vai lançá-lo apenas se esgotar as hipóteses de ganhar com os seus sacristães – se queimar Quaresma não faz mal. Mas o miúdo está aí; duas bolas ao poste contra o Arsenal provocaram um ruído absurdo nessa má-consciência nacional dos comentadores. Certo que bola ao poste é, naturalmente, bola mal chutada – porque convém que ela entre. Mas entrará, há-de entrar. Nem que seja para que Quaresma se possa vingar do pequeno racismo lusitano.
3. O caso Nuno Assis e os seus desenvolvimentos mostram que, como convém, ninguém pode estar acima da lei. Doping é doping, até à última letra da palavra, que não honra ninguém – mas que se perdoa a um atleta, pelo menos por princípio. A manigância decretada pela Federação para arquivar o "caso Nuno Assis" contrasta com a mão pesada revelada noutros casos. "A Bola" de ontem gritava "Vingança!". É verdade. O prejudicado por estas manigâncias é Nuno Assis. Ele que procure saber porquê.
4. O Sporting entrou numa quebra de ritmo, que já se esperava. Dezembro é a primeira grande avaliação e o Sporting, que ainda não conseguiu construir uma equipa-tipo, mudando de semana para semana, revela algumas fragilidades tonitruantes, a principal das quais é a sua virtude essencial: a juventude da equipa. Curiosamente, Fernando Santos surpreendeu: onde se esperava uma equipa de trincos, construída à semelhança do que ele próprio fez no F. C. Porto e no Sporting, o Benfica tem atacado - embora não pelos seus atacantes. Katsouranis tem sido uma peça essencial, Simão mantém o ritmo. O próximo exame é no Carnaval. Longe, ou perto, vá o agoiro.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 9 Dezembro 2006
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