Um perfume do Oriente
O Aya é um bom restaurante japonês. Além disso, na zona de Sete Rios, nas Twin Towers, propõe ainda um Bistrô mais informal, mais simples - mas muito indicado para quem tem problemas de dicionário. Basta escolher com os olhos
VOLTO a um dos melhores escritores de cozinha publicados em Portugal, Anthony Bourdain, e ao seu 'A Cook's Tour' (a edição brasileira dá pelo título de 'Em Busca da Refeição Ideal', Companhia das Letras), autor de 'Cozinha Confidencial' (edição da Dom Quixote). Bourdain é mais do que o chef do nova-iorquino Le Bistrot, propriedade do português José Meireles - é um autor que escreve bem, que escreve maravilhosamente e que nos afasta do mundo das academias da cozinha para nos colocar no centro do furacão, ou seja, no universo das cozinhas (de restaurante) como elas são e no meio de uma peregrinação pela cozinha do mundo. Se há uma 'world music', provavelmente existirá uma "cozinha do mundo" - e essa aparece sobretudo no seu 'A Cook's Tour', viagem que tem o seu início em Portugal, no Minho, numa quinta nos arredores de Amarante. Compenetrai-vos, portanto, ó leitores: ide ler, tratai da vossa curiosidade.
No conjunto de lugares visitados por Bourdain, e na sua memória de noites passadas em restaurantes (com cozinheiros e cozinheiras admiráveis no País Basco ou em Inglaterra), barracas de cozinha ao ar livre (no Camboja, no Vietname, na Tailândia), fogões familiares (em Portugal, no México, na Rússia), o Japão é uma espécie de pausa. Na sua narração japonesa não encontramos as vastas ressacas do Vietname ou da Rússia, nem a euforia cordial de Espanha - mas, quase, poesia pura (tirando um pequeno-almoço cruel), sobretudo quando janta num restaurante de montanha e se deixa perder nos braços de gueixas que lhe preparam o caminho de cada prato, de cada pétala de flor que decora os cerca de vinte pratos do seu jantar. Poesia dessa só daí a uns dias (leiam o livro, se puderem) quando, no cais de um porto, vê retirar de um barco o dorso azul-cinza de um atum magnífico, de que comerá cerca de um quilo e meio de 'sashimi' - de madrugada, bem cedo.
A cozinha japonesa é para mim um mistério, essencialmente por razões linguísticas. Ou seja, compreendo a beleza profunda de pratos que me apetecem sempre, o significado de uma mistura ou de um laço de alga sobre um peixe fresco e cru, entendo a 'tempura' (fritinhos), mas as designações escapam-me. No Aya Twin Towers, quer no restaurante propriamente dito, quer no Bistrô, não tenho problemas: descrevo o prato, faço muitos gestos (apesar de os funcionários, simpáticos, falarem português) e acabo por comer o que quero. De 'sakê' a 'wasabi', passando por 'sushi', 'sashimi', 'sukiyaki', 'niguiri', ainda sou capaz de manejar - mas o resto é japonês puro. Puro e bom.
O Aya faz parte das minhas recomendações permanentes, tal como os seus menus completos de 'sushi' e 'sashimi', mais aquelas beringelas grelhadas, além dos fritos mistos, delicados de polme e de textura. No 'sashimi' (o peixe cru, propriamente dito, se me entendem), há salmão, atum (sempre muito bom), dourada, camarão, pargo, carapau (tente, tente!).
Agora, com o Bistrô, a escolha é muito mais informal e não é preciso dizer nomes nem sentir-se intimidado com o dicionário: basta apontar, escolher e retirar o prato do tapete onde eles circulam (os pratos têm cores diferentes e os preços são em conformidade). A escolha é muito, muito variada, sugestiva das possibilidades dessa cozinha cheia de delicadezas e de Ómega 3, coisa que sempre lembro quando penso no meu médico, essa alma gentil e esforçada que me mantém o espírito elevado.
Ao meu lado há sempre uns casais com ar entendido ou uns jovens arrogantes que bebem 'sakê' ou chá, mas não são coisas que me apeteçam à refeição, por princípio, embora seja tolerante com esse tom etnológico. Uma 'Sapporo' (não me lembro se 'Asahi') vai bem como cerveja - não é superlativa mas mantém-se no nível da aceitabilidade - e os vinhos brancos são recomendáveis. Neste restaurante não se espera grande carta de vinhos, e ainda bem. No geral, o Aya faz-nos estar absolutamente em casa, sem ademanes que afastam as pessoas como eu, incultas, bárbaras, mas curiosas e compreensivas. Compreensivas, é uma maneira de dizer.
À Lupa
Vinhos: *
Digestivos: *
Acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos Tintos: 34
Vinhos Brancos: 18
Portos & Madeiras: 8
Uísques: 15
Outros dados
Charutos: Não
Estacionamento: Muito fácil
Levar Crianças: Sim
Área Não Fumadores: Sim
Reserva: Muito aconselhável
Preço médio no Restaurante: 35 Euros
Preço médio no Bistrô: 17 Euros
Cartões: MB. V, D, M, AM
RESTAURANTE AYA
R. Campolide, 351 Galerias
Twin Towers Loja O-13
1070-034 Lisboa
Tel: 217271155
Aberto todos os dias
in Revista Notícias Sábado – 24 Junho 2006
VOLTO a um dos melhores escritores de cozinha publicados em Portugal, Anthony Bourdain, e ao seu 'A Cook's Tour' (a edição brasileira dá pelo título de 'Em Busca da Refeição Ideal', Companhia das Letras), autor de 'Cozinha Confidencial' (edição da Dom Quixote). Bourdain é mais do que o chef do nova-iorquino Le Bistrot, propriedade do português José Meireles - é um autor que escreve bem, que escreve maravilhosamente e que nos afasta do mundo das academias da cozinha para nos colocar no centro do furacão, ou seja, no universo das cozinhas (de restaurante) como elas são e no meio de uma peregrinação pela cozinha do mundo. Se há uma 'world music', provavelmente existirá uma "cozinha do mundo" - e essa aparece sobretudo no seu 'A Cook's Tour', viagem que tem o seu início em Portugal, no Minho, numa quinta nos arredores de Amarante. Compenetrai-vos, portanto, ó leitores: ide ler, tratai da vossa curiosidade.
No conjunto de lugares visitados por Bourdain, e na sua memória de noites passadas em restaurantes (com cozinheiros e cozinheiras admiráveis no País Basco ou em Inglaterra), barracas de cozinha ao ar livre (no Camboja, no Vietname, na Tailândia), fogões familiares (em Portugal, no México, na Rússia), o Japão é uma espécie de pausa. Na sua narração japonesa não encontramos as vastas ressacas do Vietname ou da Rússia, nem a euforia cordial de Espanha - mas, quase, poesia pura (tirando um pequeno-almoço cruel), sobretudo quando janta num restaurante de montanha e se deixa perder nos braços de gueixas que lhe preparam o caminho de cada prato, de cada pétala de flor que decora os cerca de vinte pratos do seu jantar. Poesia dessa só daí a uns dias (leiam o livro, se puderem) quando, no cais de um porto, vê retirar de um barco o dorso azul-cinza de um atum magnífico, de que comerá cerca de um quilo e meio de 'sashimi' - de madrugada, bem cedo.
A cozinha japonesa é para mim um mistério, essencialmente por razões linguísticas. Ou seja, compreendo a beleza profunda de pratos que me apetecem sempre, o significado de uma mistura ou de um laço de alga sobre um peixe fresco e cru, entendo a 'tempura' (fritinhos), mas as designações escapam-me. No Aya Twin Towers, quer no restaurante propriamente dito, quer no Bistrô, não tenho problemas: descrevo o prato, faço muitos gestos (apesar de os funcionários, simpáticos, falarem português) e acabo por comer o que quero. De 'sakê' a 'wasabi', passando por 'sushi', 'sashimi', 'sukiyaki', 'niguiri', ainda sou capaz de manejar - mas o resto é japonês puro. Puro e bom.
O Aya faz parte das minhas recomendações permanentes, tal como os seus menus completos de 'sushi' e 'sashimi', mais aquelas beringelas grelhadas, além dos fritos mistos, delicados de polme e de textura. No 'sashimi' (o peixe cru, propriamente dito, se me entendem), há salmão, atum (sempre muito bom), dourada, camarão, pargo, carapau (tente, tente!).
Agora, com o Bistrô, a escolha é muito mais informal e não é preciso dizer nomes nem sentir-se intimidado com o dicionário: basta apontar, escolher e retirar o prato do tapete onde eles circulam (os pratos têm cores diferentes e os preços são em conformidade). A escolha é muito, muito variada, sugestiva das possibilidades dessa cozinha cheia de delicadezas e de Ómega 3, coisa que sempre lembro quando penso no meu médico, essa alma gentil e esforçada que me mantém o espírito elevado.
Ao meu lado há sempre uns casais com ar entendido ou uns jovens arrogantes que bebem 'sakê' ou chá, mas não são coisas que me apeteçam à refeição, por princípio, embora seja tolerante com esse tom etnológico. Uma 'Sapporo' (não me lembro se 'Asahi') vai bem como cerveja - não é superlativa mas mantém-se no nível da aceitabilidade - e os vinhos brancos são recomendáveis. Neste restaurante não se espera grande carta de vinhos, e ainda bem. No geral, o Aya faz-nos estar absolutamente em casa, sem ademanes que afastam as pessoas como eu, incultas, bárbaras, mas curiosas e compreensivas. Compreensivas, é uma maneira de dizer.
À Lupa
Vinhos: *
Digestivos: *
Acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos Tintos: 34
Vinhos Brancos: 18
Portos & Madeiras: 8
Uísques: 15
Outros dados
Charutos: Não
Estacionamento: Muito fácil
Levar Crianças: Sim
Área Não Fumadores: Sim
Reserva: Muito aconselhável
Preço médio no Restaurante: 35 Euros
Preço médio no Bistrô: 17 Euros
Cartões: MB. V, D, M, AM
RESTAURANTE AYA
R. Campolide, 351 Galerias
Twin Towers Loja O-13
1070-034 Lisboa
Tel: 217271155
Aberto todos os dias
in Revista Notícias Sábado – 24 Junho 2006
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