Camacho, Deco e as pessoas normais
1. José António Camacho deu uma entrevista enigmática ao "Mais Futebol" para tentar esclarecer as massas sobre as intenções e as incógnitas do Benfica, ou seja, a sua participação na Champions e a conquista do campeonato. No fundo, Camacho é uma das principais vítimas do Benfica e merece que tenhamos alguma pena dele. Ou que tentemos compreender a sua angústia: regressado ao Benfica depois de um período feliz (ganhou uma Taça, o que não foi mau para o clube), nunca se viu tão pouco entusiasmo e tão pouca fé. A prova é que ele não consegue explicar desaires nem justificar empates senão com o argumento mais conveniente a qualquer clube de bairro: "A bola não entrou." Há muito tempo que ninguém era tão honesto no futebol português porque, como se sabe, só se ganham jogos quando há golos, e só há golos quando a bola entra na baliza dos adversários. Por isso, quando Luís Filipe Vieira apareceu a manifestar apoio a Camacho, este quase se indignou e esclareceu que não precisava de apoios de ninguém. Como o compreendo. Não é ele a precisar de apoio: é a bola que precisa de solidariedade. Essa bola nefanda e orgulhosa que não entra na baliza. Aí está como tudo se explica, afinal. Apoiem a bola, e ela acabará por entrar.
2. Porque é que Camacho é vítima do Benfica? Porque, habituado a ser campeão em Julho e Agosto, antes de o campeonato começar, o Benfica estranha que a bola não cumpra logo a sua obrigação desde a primeira jornada, confirmando o seu direito natural a obter o troféu sob os aplausos da pátria inteira. Isto, como qualquer "pessoa normal", Camacho não entende. Ele julgava que era preciso trabalhar, formar uma equipa, jogar bem. Mas não. Parece que agora a estratégia é fazer filmes, queixar-se na Imprensa, pôr-se em bicos de pés, evocar as glórias e ocupar as primeiras páginas do "Record" e de "A Bola" (o que é facílimo); isso dá direito ao campeonato. Camacho não entende esta evidência. Em Portugal, parece um marciano.
3. Deco, afirmou anteontem que os jogadores de futebol tinham o direito de sair à noite e de se divertirem "como as pessoas normais". Que, como quaisquer funcionários de uma empresa, tinham o direito de andar pela noite desde que, às nove da manhã, estivessem no seu local de trabalho. Tenho muitas dúvidas. Quando uma equipa ganha os jogos, nenhum adepto no seu pleno juízo está disponível para protestar; ao primeiro empate, todos são testemunhas do desvario dos noitibós. Portanto, Deco tem razão no essencial e falha redondamente no essencial, ao mesmo tempo. Aliás, jogador com juízo não devia comentar o assunto. Eles não são "como as pessoas normais".
In Topo Norte – Jornal de Notícias – 20 Outubro 2007
2. Porque é que Camacho é vítima do Benfica? Porque, habituado a ser campeão em Julho e Agosto, antes de o campeonato começar, o Benfica estranha que a bola não cumpra logo a sua obrigação desde a primeira jornada, confirmando o seu direito natural a obter o troféu sob os aplausos da pátria inteira. Isto, como qualquer "pessoa normal", Camacho não entende. Ele julgava que era preciso trabalhar, formar uma equipa, jogar bem. Mas não. Parece que agora a estratégia é fazer filmes, queixar-se na Imprensa, pôr-se em bicos de pés, evocar as glórias e ocupar as primeiras páginas do "Record" e de "A Bola" (o que é facílimo); isso dá direito ao campeonato. Camacho não entende esta evidência. Em Portugal, parece um marciano.
3. Deco, afirmou anteontem que os jogadores de futebol tinham o direito de sair à noite e de se divertirem "como as pessoas normais". Que, como quaisquer funcionários de uma empresa, tinham o direito de andar pela noite desde que, às nove da manhã, estivessem no seu local de trabalho. Tenho muitas dúvidas. Quando uma equipa ganha os jogos, nenhum adepto no seu pleno juízo está disponível para protestar; ao primeiro empate, todos são testemunhas do desvario dos noitibós. Portanto, Deco tem razão no essencial e falha redondamente no essencial, ao mesmo tempo. Aliás, jogador com juízo não devia comentar o assunto. Eles não são "como as pessoas normais".
In Topo Norte – Jornal de Notícias – 20 Outubro 2007
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