setembro 29, 2007

A semana do mau-carácter

1. A meio desta semana insul­tei os jogadores e o treinador do F. C. Porto no meu blogue "Origem das Espécies"; na altura chamei-lhes, passo a citar, "bando de avestruzes coxas", "uma equipa de bovinos esdrúxulos" ou "ban­do de repolhos". Acho que fiz bem. Milhares de adeptos portistas fizeram o mesmo e estão no seu pleno direito. O primeiro argumento contrário é o de que a Carlsberg Çup não tem importância nenhuma e, por­tanto, Jesualdo Ferreira teve mo­tivos para fazer alinhar aquele onze destinado à tragédia; se ga­nhasse, era uma pequena glória e, se perdesse, não era grave dado que o importante se pode reduzir ao campeonato e à Champions, competições para as quais haverá agora mais tem­po. Até admito, mas não concor­do. Perder com o C. D. Fátima não é irrelevante; a estratégia de "poupar a equipa". Jesualdo Fer­reira fala da vergonha que ele e o plantei sentiram: acho bem que a sintam, porque envergonharam os adeptos, sim. Não é coisa que se faça ao fim de 114 anos de his­tória, perder nos penáltis alinhando uma equipa desastrada. O próprio treinador assumiu: "Fo­mos incompetentes." Eles mere­cem o mau-carácter.

2. Dizem-me que insultar os jogado­res, chamando-lhes "bando de re­polhos" pode criar-lhes "um problema psicológico", porque eram joga­dores de estreia. Lamento muito, mas é irrelevante. Jesualdo Ferreira pode ser um bom mestre no tabu­leiro (de certeza que o é), mas tem de entusiasmar as hostes e fazer-lhes esquecer o que não tem remédio. Aliás, vem no contrato que as­sinou, de forma explícita e em letras garrafais: não se pode brincar em serviço. Ao fim de cinco jogos não é admis­sível nenhuma quebra psicológica. No ano passado, a célebre "para­gem de Inverno", uma idiotice cria­da para beneficiar o infractor, foi a principal quebra psicológica. Este ano, a rapaziada tem de com­preender que podem ser insulta­dos se cometerem actos de pura mariquice. Convenhamos: a derro­ta com o C. D. Fátima foi um acto de pura mariquice. Os adeptos desculpam, mas não esquecem tão cedo. A menos que esta sema­na entre tudo nos eixos.

3. Duarte Gomes pediu desculpa pelo erro que cometeu. Não foi bem um erro; tratou-se de uma bênção que pôs Camacho a rir, no banco do Benfica. O país inteiro ri manhoso, divertido, consolado. É o destino.

4. José Mourinho chegou a Portu­gal e interrompeu Santana Lopes, que estava na televisão a defender o adiamento das eleições internas no PSD, um puro dislate. O ex-primeiro-ministro ficou chocado e acabou logo ali a entrevista. Fez bem. Foi um acto de coragem muito bem calculado. Mas entre José Mourinho e as opiniões políticas de Pedro Santana Lopes, prefiro Mourinho.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 29 Setembro 2007

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