setembro 22, 2007

Crime e castigo

1. Saber se o castigo a Scolari foi leve ou pesado é um debate inútil. Quatro jogos não me parecem um exagero. Em relação a Ivica Dragutinovic, foi pesado, porque o sérvio de­via ter levado outros quatro; em rela­ção aos miúdos punidos recentemen­te pela FPF, foi levíssimo. O presidente da FPF diz que não se compara o cas­tigo aplicado a Scolari e aquele que impede um miúdo de jogar durante um ano na selecção – porque este ra­paz está "em formação". No caso de Scolari, portanto, há misteriosas ate­nuantes que convém recordar: primeiro, eleja não está "em formação" e permitem-se-lhe falsos murros nos sérvios; depois, parece que agiu em defesa das cores nacionais. Foi uma péssima defesa: nunca vi um sopapo tão ridículo. De resto, há aqui um erro de perspec­tiva: actuar em defesa das cores na­cionais são por a selecção a jogar bem e a ganhar. Ora, mesmo acreditando no apuramento para o Europeu, quero saber quem nos paga o Xanax.

2. Scolari, relembro, não faz nada de novo. Limita-se a reeditar a sua estra­tégia enquanto treinador do Grémio: cotovelaço, joelhaço, gritaria, comer a relva e ganhar por um, mesmo no limi­te. Ele nunca saiu de Passo Fundo.

3. A história do futebol faz-se, tam­bém, de frases que não se esquecem. Por isso, Mourinho tinha razão quan­do previu este quadro: o Chelsea des­pede-o, ele fica milionário e vai treinar outro clube. "That’s business." É ele o único que não chora, porque ó o único vencedor. Em três anos mudou o futebol inglês; trouxe o Chelsea para a cena mundial; melhorou substancial­mente as páginas de desporto dos jornais ingleses, que agora lhe fazem justiça; transformou o modo de ver o futebol em Inglaterra; pôs o primeiro-ministro inglês a comentar a sua saída. Abramovich merece uma classifica­ção miserável.

4. OF. C. Porto podia ter obtido uma vitória histórica sobre o Liverpool e fi­cou-se pelo empate. O Benfica podia ter sido goleado pelo Milão e ficou-se por uma derrota (uma grande oportu­nidade perdida). O Sporting podia ter empatado com o Manchester e per­deu. O Braga estava confiante por jogar com o Hammerby e, afinal, trouxe uma derrota. O Paços de Ferreira po­dia ter conseguido um empate e per­deu em casa. O União de Leiria não percebi. Mas o Belenenses podia ter sido cilindrado pelo Bayern de Munique e pô-los em sentido. Foi uma se­mana de desilusões; tirando o Belenenses, todas negativas.

5. Clóvis Rossi, na "Folha de São Pau­lo" de quarta-feira passada, chamava a atenção para um facto significativo: há 102 jogadores brasileiros na Liga dos Campeões europeia. Façam as contas: dá para nove equipas.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 22 Setembro 2007

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