Depois do erro de Helton, salvemos Helton
1. No futebol, dizia Nelson Rodrigues, há uma glória desmedida no pequeno resultado. A goleada deixa o adversário humilhado e o vencedor convencido de uma importância que às vezes não tem; era, portanto, preferível ganhar pela margem mínima, que tinha a virtude de manterás equipas à beira do abismo e, portanto, em estado de alerta. Hoje todos queremos ganhar "de goleada". Num mundo perigoso e aborrecido, já não temos paciência para disputas complicadas.
2. Paulo Bento, naturalmente, comentou e deitou água na fervura a propósito dos ordenados do Sporting, recentemente tornados públicos. O treinador de Alvalade acha que os jogadores "não têm que se preocupar com o que os outros ganham", e devem manter "um comportamento social correcto, porque estão ao serviço de um grande clube". Compreende-se o discurso de Bento, que tresanda a ingenuidade forçada. Na sua posição, que poderia dizer? Mas não é fácil entendera discrepância entre Nani (12 mil) e Romagnoli (66 mil euros), ou Bueno (73 mil) e Moutinho (32 mil), por exemplo. Paulo Bento diz que os jogadores devem, agora, justificar os ordenados. Perdão, mas, salvo erro, alguns deles já o fizeram. Tudo na vida é comparação.
3. Falemos ainda de Liedson, castigado por dois jogos depois do empate em Leiria. O Sporting reagiu como "virgem ofendida", surpreendido por alguém poder-sequer-imaginar que Liedson teria dado uma sapatada no jogador da União. Coisa mais fácil, se ele estava irritado. De resto, há uma série de jogadores pouco confiáveis para os árbitros e para os espectadores (de Liedson a Postiga, passando por Nuno Gomes): uma das suas especialidades é "conseguir penãltis". São bons jogadores, marcam golos - mas eu não confiaria neles. Flutuam como malandros.
4. Depois do erro de Helton, salvemos Helton. Também Jesualdo não poderia fazer outra coisa, depois de um digno Vítor Baía ter dito o inevitável, ou seja, que não era necessário crucificar o guarda-redes brasileiro. Depende: salvamo-lo porque é nosso; fosse adversário e teríamos o direito e o dever de inventar piadas sobre o assunto. Mas Helton, o Homem de Borracha, é um caso à parte, porque a sua percentagem de "frangos" é diminuta. Infelizmente, aconteceu logo ali, com Mourinho à vista. Já é preciso ter pontaria. Azar, queria eu dizer. Helton tem de salvar-se a si próprio.
5. Dizem as crónicas desta semana que "Diego fez a vida negra aos defesas do Celta" e que, como se sabe, "Hugo Almeida saltou do banco, aos 65 minutos, para marcar, aos 86, o único golo do Werder Bremen frente ao Celta de Vigo". Diego foi vítima do molho holandês que Adriaanse deixou no Dragão; Hugo foi vítima da ressaca do molho holandês. Se há indemnização a pagar a alguém, eu só conheço esta: a de Adriaanse aos adeptos. Só as contas de Diego já dão para desequilibrar o saldo. Até ao fim do ano, por cada sucesso de Diego e de Hugo Almeida, hei-de massacrar os especialistas de transferências do F. C. Porto.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 10 Março 2007
2. Paulo Bento, naturalmente, comentou e deitou água na fervura a propósito dos ordenados do Sporting, recentemente tornados públicos. O treinador de Alvalade acha que os jogadores "não têm que se preocupar com o que os outros ganham", e devem manter "um comportamento social correcto, porque estão ao serviço de um grande clube". Compreende-se o discurso de Bento, que tresanda a ingenuidade forçada. Na sua posição, que poderia dizer? Mas não é fácil entendera discrepância entre Nani (12 mil) e Romagnoli (66 mil euros), ou Bueno (73 mil) e Moutinho (32 mil), por exemplo. Paulo Bento diz que os jogadores devem, agora, justificar os ordenados. Perdão, mas, salvo erro, alguns deles já o fizeram. Tudo na vida é comparação.
3. Falemos ainda de Liedson, castigado por dois jogos depois do empate em Leiria. O Sporting reagiu como "virgem ofendida", surpreendido por alguém poder-sequer-imaginar que Liedson teria dado uma sapatada no jogador da União. Coisa mais fácil, se ele estava irritado. De resto, há uma série de jogadores pouco confiáveis para os árbitros e para os espectadores (de Liedson a Postiga, passando por Nuno Gomes): uma das suas especialidades é "conseguir penãltis". São bons jogadores, marcam golos - mas eu não confiaria neles. Flutuam como malandros.
4. Depois do erro de Helton, salvemos Helton. Também Jesualdo não poderia fazer outra coisa, depois de um digno Vítor Baía ter dito o inevitável, ou seja, que não era necessário crucificar o guarda-redes brasileiro. Depende: salvamo-lo porque é nosso; fosse adversário e teríamos o direito e o dever de inventar piadas sobre o assunto. Mas Helton, o Homem de Borracha, é um caso à parte, porque a sua percentagem de "frangos" é diminuta. Infelizmente, aconteceu logo ali, com Mourinho à vista. Já é preciso ter pontaria. Azar, queria eu dizer. Helton tem de salvar-se a si próprio.
5. Dizem as crónicas desta semana que "Diego fez a vida negra aos defesas do Celta" e que, como se sabe, "Hugo Almeida saltou do banco, aos 65 minutos, para marcar, aos 86, o único golo do Werder Bremen frente ao Celta de Vigo". Diego foi vítima do molho holandês que Adriaanse deixou no Dragão; Hugo foi vítima da ressaca do molho holandês. Se há indemnização a pagar a alguém, eu só conheço esta: a de Adriaanse aos adeptos. Só as contas de Diego já dão para desequilibrar o saldo. Até ao fim do ano, por cada sucesso de Diego e de Hugo Almeida, hei-de massacrar os especialistas de transferências do F. C. Porto.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 10 Março 2007
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