março 10, 2007

Depois do erro de Helton, salvemos Helton

1. No futebol, dizia Nelson Rodrigues, há uma glória desmedida no pequeno resultado. A goleada deixa o adversário humilhado e o vencedor convencido de uma im­portância que às vezes não tem; era, portanto, preferível ganhar pela margem mínima, que tinha a virtude de manterás equipas à beira do abismo e, portanto, em estado de alerta. Hoje todos queremos ga­nhar "de goleada". Num mundo perigoso e aborrecido, já não temos paciência para dispu­tas complicadas.

2. Paulo Bento, naturalmen­te, comentou e deitou água na fervura a propósito dos ordenados do Sporting, recente­mente tornados públicos. O treina­dor de Alvalade acha que os jogadores "não têm que se preocupar com o que os outros ga­nham", e devem man­ter "um comportamen­to social correcto, por­que estão ao serviço de um grande clube". Com­preende-se o discurso de Bento, que tresanda a inge­nuidade forçada. Na sua posi­ção, que poderia dizer? Mas não é fácil entendera discrepância entre Nani (12 mil) e Romagnoli (66 mil euros), ou Bueno (73 mil) e Moutinho (32 mil), por exem­plo. Paulo Bento diz que os jo­gadores devem, agora, justificar os ordenados. Perdão, mas, salvo erro, alguns deles já o fizeram. Tudo na vida é comparação.

3. Falemos ainda de Liedson, casti­gado por dois jogos depois do em­pate em Leiria. O Sporting reagiu como "virgem ofendida", surpreen­dido por alguém poder-sequer-imaginar que Liedson teria dado uma sapatada no jogador da União. Coisa mais fácil, se ele estava irrita­do. De resto, há uma série de joga­dores pouco confiáveis para os ár­bitros e para os espectadores (de Liedson a Postiga, passando por Nuno Gomes): uma das suas espe­cialidades é "conseguir penãltis". São bons jogadores, marcam golos - mas eu não confiaria neles. Flu­tuam como malandros.

4. Depois do erro de Helton, salve­mos Helton. Também Jesualdo não poderia fazer outra coisa, de­pois de um digno Vítor Baía ter dito o inevitável, ou seja, que não era necessário crucificar o guarda-redes brasileiro. Depende: salvamo-lo porque é nosso; fosse adversá­rio e teríamos o direito e o dever de inventar piadas sobre o assunto. Mas Helton, o Homem de Borra­cha, é um caso à parte, porque a sua percentagem de "frangos" é diminuta. Infelizmente, aconteceu logo ali, com Mourinho à vista. Já é preciso ter pontaria. Azar, queria eu dizer. Helton tem de salvar-se a si próprio.

5. Dizem as crónicas desta semana que "Diego fez a vida negra aos de­fesas do Celta" e que, como se sabe, "Hugo Almeida saltou do banco, aos 65 minutos, para mar­car, aos 86, o único golo do Werder Bremen frente ao Celta de Vigo". Diego foi vítima do molho holandês que Adriaanse deixou no Dragão; Hugo foi vítima da ressaca do mo­lho holandês. Se há indemnização a pagar a alguém, eu só conheço esta: a de Adriaanse aos adeptos. Só as contas de Diego já dão para desequilibrar o saldo. Até ao fim do ano, por cada sucesso de Diego e de Hugo Almeida, hei-de massa­crar os especialistas de transferências do F. C. Porto.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 10 Março 2007

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