janeiro 06, 2007

Eles passam-se frequentemente

1. O chamado mercado de In­verno reedita as romarias de contratações por confirmar. Não se pode pedir mais: quem não tem dinheiro não pode manter vícios e o foguetório de contratações falhadas é sem­pre muito mais barato. Convi­nha que nos entendêssemos: no futebol português o dinhei­ro não abunda (ao contrário do parlapié) e, para os devidos efeitos, ainda bem. Resta a propaganda.

2. Houve um mini-debate so­bre a paragem de Natal e Ano Novo; de facto, a paragem é prejudicial para toda a gente, a começar pelo próprio futebol, que tem dois arranques sucessivos – um, até Outubro, para afinar a pontaria; outro até ao Carnaval para voltar a afiná-la. Só se compreenderia este festi­val de paragens absurdas se nevasse abundantemente nos estádios (como no Leste euro­peu), ou se todos os jogadores multiplicassem a Missa do Galo durante a quadra. Como isso não acontece, pelo menos vêem-se os jogos da Liga inglesa durante "a quadra" – o que constitui uma vantagem, vá lá.

3. Lamento confirmar o que ti­nha aqui escrito: o principal prejudicado pelo "caso Nuno Assis" foi o próprio jogador. O Benfica conduziu-o a esta si­tuação: desacreditou-o publi­camente, servindo-se dele para os seus jogos de política; não impediu a suspensão que era inevitável. E a Federação devia ser também interrogada pelo pre­juízo causado ao jogador e por se ter feito cúmplice disto tudo.

4. O presidente do Benfica acha que há uma conspiração socialis­ta contra o clube; parece que a de­tenção de Vale e Azevedo ocorreu durante um governo do PS (se bem que um dos juízes fosse benfiquista). Infelizmente, para contrariar, Sócrates é benfiquista como Guterres era benfiquista. Acresce dizer que Marques Mendes é benfiquista e Jerónimo de Sousa tam­bém. Mais: Ribeiro e Castro é benfiquista e Francisco Louçã tam­bém. O regime é benfiquista, tal como o Benfica já foi "o clube do regime". De qualquer modo, o anterior presidente da agremiação, para dar razão a esta guerra, foi em tempos apresentar-se a um co­mício do PSD jurando fidelidade a Durão Barroso em nome do Benfi­ca. Eles passam-se frequente­mente, lá pela Luz.

5. Uma lição, "o caso José Veiga". Na altura escrevi aqui que o perso­nagem não me era simpático e que a sua gramática era defeituo­sa – mas que nada permitia o ar­raial televisivo sobre o arresto dos seus bens nem o julgamento na praça pública pelos moralistas do costume. E chamei a atenção para o facto de o caso estar mal explica­do. Continua, aliás, mal explicado – mas há contornos grotescos a desenharem-se à volta das saídas e entradas de João Vieira Pinto.

6. Continua a minha campanha pessoal a propósito de Diego, o que veio do Brasil, estagiou no F. C. Porto e, graças a Co Adriaanse, rumou para Bremen: foi conside­rado o jogador mais decisivo da equipa. Será difícil esquecer o "molho holandês" – continuo a dizer que Adriaanse deveria in­demnizar os adeptos do F. C. Por­to, que agora se vão contentar com o Diego que vem do Penafiel. Oxalá compense.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 6 Janeiro 2007