setembro 23, 2006

O treinador que não gosta de revoluções

1. Jesualdo Ferreira anun­ciou aquilo que muitos adep­tos do F. C. Porto esperavam ouvir há alguns anos: que está a treinar lances com "bola pa­rada" . É um défice natural do F. C. Porto. André Cruz no Sporting, talvez Simão no Benfica e alguns disparos de Doriva - todos lembram golos assim. Deco tinha lances, mas sujeitos a inspiração so­brenatural e, desde aí, rara­mente o F. C. Porto conseguia chegar à rede do inimigo com um tiro de canhão. Quando vejo um jogo pela televisão e o F. C. Porto beneficia de um li­vre directo, sei que posso le­vantar-me e regressar daí a pouco – não virá perigo. O pormenor pode passar por ser apenas um pormenor mas vale muito mais do que isso; vale por Jesualdo, o treinador que não gosta de revoluções nem de so­bressaltos. Quem joga assim tem mais hipóteses de conse­guir análises certeiras no tabu­leiro de xadrez; são os méritos do conservador face ao destrambeIhamento de Co Adriaanse, o do molho holandês.

2. Em redor de Luís Filipe Vieira vive uma equipa que tenta outros lances, mas que se adivinham com mais facili­dade – por exemplo, saber se o presidente benfiquista se recandidataria ou não. Claro que ia recandidatar-se; o po­der do Benfica vale muito, apesar de tudo. Mesmo assim criou-se a ideia do "tabu", o lance criado por Cavaco Silva em 1995. Mas para alimentar um tabu que valha a pena é preciso mais do que talento; é preciso valer a pena. E a candi­datura de Vieira não merece tan­to. Vale promessas – que em 2011 o Benfica será um colosso euro­peu, e que daqui a uns meses (mais uns) haverá mais uns milhares de kits distribuídos; e que a grandeza do Benfica se espalha pelos cinco continentes. Como sempre, o Benfica yale mais do que o seu futebol. É o destino.

3. A guerra dos "tabus" e dos "dossiês anónimos" (ou seja, dos dossiês de onde se retirou uma assinatura) continua a ilustrar a guerra dos pequenos de espírito. Santana Lopes falava de Canal Caveira e prometia provas. O Benfica entregou o seu dossiê e fala de provas. Há teorias da conspiração para todos os gos­tos, basta haver quem as compre ao preço a que está o pechisbe­que: em saldo.

4. Jardel regressou com dois go­los no campeonato e esta sema­na defrontou o F. C. Porto, que o criou verdadeiramente e onde teve direito a tudo - até a um trei­nador que o teve como o maior goleador do campeonato e que nem assim conseguiu o título.

5. O golo do Paços de Ferreira em Alvalade foi inequivocamente marcado com a mão. Já houve golos contabilizados que nunca entraram na baliza. E golos mar­cados que foram invalidados. Há quem pense que existe uma in­justiça futebolística que faz justi­ça pelas próprias mãos. Mãos, mesmo.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 23 Setembro 2006