Lina e António
Em Leça da Palmeira, o Arquinho do Castelo, que recentemente mudou de sala, tem aquela suavidade branca que abre o meu apetite e a vontade de pecar abundantemente.
A tradição dos restaurantes de Leça e Matosinhos leva-me ("transporta-me", como dizem os autores) à minha infância. O meu pai gostava deles e visitámos alguns nesses anos em que eu não prestava grande atenção ao assunto – a falar verdade, eu deveria ter acondicionado e congelado toda a comida que recusei na altura. Estaria hoje mais reconfortado e verdadeiramente alimentado por muitos dias. Enfim, não voltes ao passado – é a lição que nunca se aprende.
Eram, às vezes, restaurantes ruidosos, onde peixes e mariscos se acotovelavam para chegar às mesas – em doses triunfais, vastíssimas e apetitosas. De vez em quando volto lá, aos clássicos de Leça e Matosinhos, para saborear essas memórias – e trazer outras, mais de agora, que se aconchegam com perfeição na maior parte das vezes. O meu problema é que vou com apetite aos restaurantes. Às vezes, esfaimado. Outras, em pânico, elaborando listas do que se vai comer. A generalidade das pessoas decentes não faz isso: algumas entram num restaurante já com aquela displicência bem-comportada, preparadas para mordiscar mas não para encontrar a salvação. Ora, para mim – que gosto bastante de comer em casa –, ir a um restaurante é uma tarefa que encaro com a satisfação de um caçador em dia de (finalmente!) ir à caça. E, portanto, prepara-se psicologicamente. Olha-se ao espelho para tentar imaginar as papilas, desentorpecidas, saltitando - e expectantes. Escolhe a camisa. Penteia-se. Finalmente, entremos no restaurante.
O Arquinho do Castelo, que existe há uns bons anos e que recentemente mudou de sala, tem aquela suavidade branca (das suas toalhas imaculadas) que abre o meu apetite e a vontade de pecar abundantemente. Passam pratinhos de morcela assada, de enchidos ou de salada de polvo e rissóis – e de uns bolinhos de bacalhau bem feitos, na hora, estaladiços, convenientes. Há quem desde logo trinque uns camarões ou percebes. Eu sou, o leitor sabe, fanático por percebes; os do Arquinho eram superlativos, carnudos, trazendo o mar para a mesa. Como era à noite, houve quem preferisse um cremezinho de camarão em vez da sopa de feijão que estava anunciada na ementa; mas o leitor sabe o que foi a minha escolha – estava muito, muito boa. Comecei, ali, a ver que tínhamos uma cozinheira com mão séria: a D. Lina iria ser uma bênção para o meu estômago, dos bolinhos de bacalhau até à aletria final, ou ao leite-creme queimado (mas a aletria é boa, boa, vão por mim). Entre essas entradinhas e a sobremesa final, o olho cobiçoso do caçador de restaurantes viu passar o tradicional polvo assado no forno, negro, escurinho, cheio de odores pecaminosos; provou o arroz de tamboril - uma garfada saborosa; o peixe ao sal avançava por entre as mesas (robalinho no sal, sim), à mistura com peixes frescos (rodovalho, carapau, goraz, salmonete, lulas, cherne...) e com uns filetes de pescada fresca com arroz de camarão, antecedendo uns saborosos filetes de sardinha – abertos em rigor, panadinhos, muito frescos, que se pediram com arroz malandrinho de camarão. E então vieram os filetes de polvo "com arroz do mesmo": que dizer-te, leitor? Tu sabes. Há coisas que não preciso de escrever, basta enumerar, relembrar, citar de memória. O resto é dispensável. Está ali, ao canto da sala, o sr. António (Toni) que não nos deixa mentir.
Para quem prefira a carne, as opções são honestas, dentro desta medida: bife do lombo, vitelinha assada no forno (com batatinhas no forno e legumes salteados), arroz de pato – e o que houver no dia, como iscas de fígado, tripas à moda do Porto, panadinhos com arroz de tomate. Ao fim-de-semana o Arquinho tem sempre um desses pratos especiais que convém reservar, desde arroz de cabidela até um fantástico cabritinho no forno ou arroz de polvo seco. Tentativas de nos fazer pecar não faltam, como se vê. O sr. António e a D. Lina são responsáveis por este quilo e meio a mais que já abati, mas que tentarei recuperar em breve, em próxima visita. E sempre assim.
À Lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * * *
Acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * * *
Ruído da sala: * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos Tintos: 72
Vinhos Brancos: 31
Portos & Madeiras: 20
Uísques: 22
Aguardentes & Conhaques: 12
Champanhes & Espumantes: 10
Outros dados
Charutos: Sim
Estacionamento: Parque nas proximidades
Levar Crianças: Sim
Área Não Fumadores: Não
Reserva: Muito conveniente
Preço médio: 25 Euros
ARQUINHO DO CASTELO
Rua de Fuzelhas, 192
4450-683 Leça da Palmeira
Tel: 22 995 15 06
Encerra ao domingo
A tradição dos restaurantes de Leça e Matosinhos leva-me ("transporta-me", como dizem os autores) à minha infância. O meu pai gostava deles e visitámos alguns nesses anos em que eu não prestava grande atenção ao assunto – a falar verdade, eu deveria ter acondicionado e congelado toda a comida que recusei na altura. Estaria hoje mais reconfortado e verdadeiramente alimentado por muitos dias. Enfim, não voltes ao passado – é a lição que nunca se aprende.
Eram, às vezes, restaurantes ruidosos, onde peixes e mariscos se acotovelavam para chegar às mesas – em doses triunfais, vastíssimas e apetitosas. De vez em quando volto lá, aos clássicos de Leça e Matosinhos, para saborear essas memórias – e trazer outras, mais de agora, que se aconchegam com perfeição na maior parte das vezes. O meu problema é que vou com apetite aos restaurantes. Às vezes, esfaimado. Outras, em pânico, elaborando listas do que se vai comer. A generalidade das pessoas decentes não faz isso: algumas entram num restaurante já com aquela displicência bem-comportada, preparadas para mordiscar mas não para encontrar a salvação. Ora, para mim – que gosto bastante de comer em casa –, ir a um restaurante é uma tarefa que encaro com a satisfação de um caçador em dia de (finalmente!) ir à caça. E, portanto, prepara-se psicologicamente. Olha-se ao espelho para tentar imaginar as papilas, desentorpecidas, saltitando - e expectantes. Escolhe a camisa. Penteia-se. Finalmente, entremos no restaurante.
O Arquinho do Castelo, que existe há uns bons anos e que recentemente mudou de sala, tem aquela suavidade branca (das suas toalhas imaculadas) que abre o meu apetite e a vontade de pecar abundantemente. Passam pratinhos de morcela assada, de enchidos ou de salada de polvo e rissóis – e de uns bolinhos de bacalhau bem feitos, na hora, estaladiços, convenientes. Há quem desde logo trinque uns camarões ou percebes. Eu sou, o leitor sabe, fanático por percebes; os do Arquinho eram superlativos, carnudos, trazendo o mar para a mesa. Como era à noite, houve quem preferisse um cremezinho de camarão em vez da sopa de feijão que estava anunciada na ementa; mas o leitor sabe o que foi a minha escolha – estava muito, muito boa. Comecei, ali, a ver que tínhamos uma cozinheira com mão séria: a D. Lina iria ser uma bênção para o meu estômago, dos bolinhos de bacalhau até à aletria final, ou ao leite-creme queimado (mas a aletria é boa, boa, vão por mim). Entre essas entradinhas e a sobremesa final, o olho cobiçoso do caçador de restaurantes viu passar o tradicional polvo assado no forno, negro, escurinho, cheio de odores pecaminosos; provou o arroz de tamboril - uma garfada saborosa; o peixe ao sal avançava por entre as mesas (robalinho no sal, sim), à mistura com peixes frescos (rodovalho, carapau, goraz, salmonete, lulas, cherne...) e com uns filetes de pescada fresca com arroz de camarão, antecedendo uns saborosos filetes de sardinha – abertos em rigor, panadinhos, muito frescos, que se pediram com arroz malandrinho de camarão. E então vieram os filetes de polvo "com arroz do mesmo": que dizer-te, leitor? Tu sabes. Há coisas que não preciso de escrever, basta enumerar, relembrar, citar de memória. O resto é dispensável. Está ali, ao canto da sala, o sr. António (Toni) que não nos deixa mentir.
Para quem prefira a carne, as opções são honestas, dentro desta medida: bife do lombo, vitelinha assada no forno (com batatinhas no forno e legumes salteados), arroz de pato – e o que houver no dia, como iscas de fígado, tripas à moda do Porto, panadinhos com arroz de tomate. Ao fim-de-semana o Arquinho tem sempre um desses pratos especiais que convém reservar, desde arroz de cabidela até um fantástico cabritinho no forno ou arroz de polvo seco. Tentativas de nos fazer pecar não faltam, como se vê. O sr. António e a D. Lina são responsáveis por este quilo e meio a mais que já abati, mas que tentarei recuperar em breve, em próxima visita. E sempre assim.
À Lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * * *
Acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * * *
Ruído da sala: * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos Tintos: 72
Vinhos Brancos: 31
Portos & Madeiras: 20
Uísques: 22
Aguardentes & Conhaques: 12
Champanhes & Espumantes: 10
Outros dados
Charutos: Sim
Estacionamento: Parque nas proximidades
Levar Crianças: Sim
Área Não Fumadores: Não
Reserva: Muito conveniente
Preço médio: 25 Euros
ARQUINHO DO CASTELO
Rua de Fuzelhas, 192
4450-683 Leça da Palmeira
Tel: 22 995 15 06
Encerra ao domingo
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