Marcar golos é preciso
1. Thierry Henry foi considerado o melhor em campo no jogo de Londres com o F. C. Porto e Wenger não teve dúvidas: "Fomos os mais fortes." Foram. O Arsenal banalizou o E C. Porto. Desde a saída de Mourinho, aliás, que o F. C. Porto não consegue resultados internacionais visíveis. Não se trata de olhar de igual para igual para as equipas europeias, mas de resistir á ameaça de inferioridade. Há uma síndrome Artmedia a vaguear pelo Dragão e, igualmente, a evidência de que faltam pelo menos dois jogadores de grande qualidade em lugares essenciais do sistema de Jesualdo Ferreira (sempre que posso, insisto num avançado, mas há mais lacunas). Não vale a pena ter um meio-campo de boa qualidade se, lá à frente, não se marcam golos quando é preciso. Quem viu a primeira parte do F. C. Porto-Beira-Mar sabe do que falo.
2. Carlos Daniel é um dos melhores narradores de futebol em Portugal. Uma das pessoas que mais sabe de futebol, que eu conheça. Parece que a selecção não gostava de Daniel, o que já diz muito da selecção e dos asteróides que gravitam em seu redor. Ora, sejamos claros e directos: selecção não gosta de muita gente pela simples razão de que se julga a bandeira nacional – e não é. E, mesmo assim, eu posso dizer que não gosto da bandeira nacional. Mas não posso murmurar seja o que for sobre os métodos de Scolari ou sobre o resultado de um jogo, sem que saia ao caminho um pelotão de vigilantes, de sacerdotes e de censores encarregados de zelar pela unidade nacional. Esta gente delira. Tem a seu favor as televisões, a euforia das rádios, a quase totalidade dos editorialistas da imprensa desportiva (enfim, o negócio não pode colocar-se em risco, como se sabe), as massas. Que mais lhe falta? A selecção de Madail e Scolari é ambiciosa: quer tudo, quer toda a gente a tecer-lhe elogios, todas as vozes em uníssono, todos os joelhos a dobrarem-se. Para eles, o assunto não é futebol; só assim se explica a vontade de ter toda a gentinha a aplaudi-los, de quatro. Não lhes basta a imparcialidade; não: a imparcialidade deixa-os surpreendidos, estupefactos. Eles acham que, com a selecção, não há equidade, imparcialidade, sentido das proporções – quanto mais crítica ou desconfiança. Uma coisa de terceiro mundo. É por isso que eles não gostam de Carlos Daniel, por exemplo.
3. António Fiúza demite-se ou não se demite? Depois do entusiasmo das multidões, a ressaca adivinha-se triste, sobretudo para o Gil Vicente.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 30 Setembro 2006
2. Carlos Daniel é um dos melhores narradores de futebol em Portugal. Uma das pessoas que mais sabe de futebol, que eu conheça. Parece que a selecção não gostava de Daniel, o que já diz muito da selecção e dos asteróides que gravitam em seu redor. Ora, sejamos claros e directos: selecção não gosta de muita gente pela simples razão de que se julga a bandeira nacional – e não é. E, mesmo assim, eu posso dizer que não gosto da bandeira nacional. Mas não posso murmurar seja o que for sobre os métodos de Scolari ou sobre o resultado de um jogo, sem que saia ao caminho um pelotão de vigilantes, de sacerdotes e de censores encarregados de zelar pela unidade nacional. Esta gente delira. Tem a seu favor as televisões, a euforia das rádios, a quase totalidade dos editorialistas da imprensa desportiva (enfim, o negócio não pode colocar-se em risco, como se sabe), as massas. Que mais lhe falta? A selecção de Madail e Scolari é ambiciosa: quer tudo, quer toda a gente a tecer-lhe elogios, todas as vozes em uníssono, todos os joelhos a dobrarem-se. Para eles, o assunto não é futebol; só assim se explica a vontade de ter toda a gentinha a aplaudi-los, de quatro. Não lhes basta a imparcialidade; não: a imparcialidade deixa-os surpreendidos, estupefactos. Eles acham que, com a selecção, não há equidade, imparcialidade, sentido das proporções – quanto mais crítica ou desconfiança. Uma coisa de terceiro mundo. É por isso que eles não gostam de Carlos Daniel, por exemplo.
3. António Fiúza demite-se ou não se demite? Depois do entusiasmo das multidões, a ressaca adivinha-se triste, sobretudo para o Gil Vicente.
in Topo Norte – Jornal de Notícias – 30 Setembro 2006
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