O mar de lama
1. Eu esperava, nesta altura, comentar coisas simples e normais, como o esforço que Jesualdo Ferreira terá de fazer para se livrar do molho holandês que encontrou no F. C. Porto, ou a hipótese de Fernando Santos se adaptar à Luz sem formar uma equipa de trincos. O Sporting vai adiantado, confesso - joga bom futebol. Dos outros ainda não sei. Mas a vida é como é: estamos rodeados, por todos os lados, pelo "caso Mateus" - um mar de lama.
É comovente e fácil juntar todos os mares de lama que rolam pelo futebol português e dizer que o "caso Mateus" é apenas uma parte do todo. Desiludam-se, ingénuos. Essa é velha de mais, mas já os oiço pela imprensa: arbitragens, tentativas de corrupção, telefonemas, apito dourado, o "sistema", as comissões de justiça e de disciplina, tudo misturado com o "caso Mateus". Misturar é mais fácil: diante da avalancha de dados, quem não se impressiona? E é um bom método - enumerando os desastres, acumulando-os uns sobre os outros, a catástrofe tem uma explicação natural que nem impressiona assim tanto.
Mas o "caso Mateus" precisa de explicações a par e passo: quem permitiu que isto acontecesse (e até mais: quem permitiu que isto acontecesse com o Gil Vicente e impediu que acontecesse com o Paços de Ferreira?), quem se demitiu das suas responsabilidades e quem levanta o tapete para que a incompetência lá se esconda? É natural que encontremos gente a bradar contra "a velha Liga"; mas a rapaziada da "nova Liga" já lá esteve e é isto. Ela também se dá bem com o mar de lama. Por isso, eu teria pena se a FIFA pusesse esta gente na ordem - mas merecem. Custava a todos, mas era uma limpeza.
2. Mas uma pergunta não me sai da cabeça: o que estão a fazer, nessas comissões, tantos juízes, juristas, desembargadores, legisladores e comentadores de leis? Duas respostas céleres: l) a desprestigiar a justiça portuguesa, naturalmente; 2) a transformar o futebol numa república cheia de regulamentos onde eles nunca ficam fora-de-jogo.
3. Jardel começou a marcar. Espero que marque. Pessoalmente, espero que - com golos e juízo - se vingue de quem lhe destruiu a carreira (outro mar de lama) e de quem o impediu de jogar.
4. Deco foi considerado, por gente séria e bem cotada, o melhor médio da Champions League. Ou seja: o jogador português recebeu essa distinção mas a imprensa desportiva andava ocupada a jogar fora do campo. Viram algum destaque sobre o assunto?
5. Mas deixem-me voltar ao "molho holandês" que Adriaanse deixou no Dragão: Diego foi considerado o melhor jogador do mês na Alemanha.
in Topo Norte - Jornal de Notícias - 2 Setembro 2006
É comovente e fácil juntar todos os mares de lama que rolam pelo futebol português e dizer que o "caso Mateus" é apenas uma parte do todo. Desiludam-se, ingénuos. Essa é velha de mais, mas já os oiço pela imprensa: arbitragens, tentativas de corrupção, telefonemas, apito dourado, o "sistema", as comissões de justiça e de disciplina, tudo misturado com o "caso Mateus". Misturar é mais fácil: diante da avalancha de dados, quem não se impressiona? E é um bom método - enumerando os desastres, acumulando-os uns sobre os outros, a catástrofe tem uma explicação natural que nem impressiona assim tanto.
Mas o "caso Mateus" precisa de explicações a par e passo: quem permitiu que isto acontecesse (e até mais: quem permitiu que isto acontecesse com o Gil Vicente e impediu que acontecesse com o Paços de Ferreira?), quem se demitiu das suas responsabilidades e quem levanta o tapete para que a incompetência lá se esconda? É natural que encontremos gente a bradar contra "a velha Liga"; mas a rapaziada da "nova Liga" já lá esteve e é isto. Ela também se dá bem com o mar de lama. Por isso, eu teria pena se a FIFA pusesse esta gente na ordem - mas merecem. Custava a todos, mas era uma limpeza.
2. Mas uma pergunta não me sai da cabeça: o que estão a fazer, nessas comissões, tantos juízes, juristas, desembargadores, legisladores e comentadores de leis? Duas respostas céleres: l) a desprestigiar a justiça portuguesa, naturalmente; 2) a transformar o futebol numa república cheia de regulamentos onde eles nunca ficam fora-de-jogo.
3. Jardel começou a marcar. Espero que marque. Pessoalmente, espero que - com golos e juízo - se vingue de quem lhe destruiu a carreira (outro mar de lama) e de quem o impediu de jogar.
4. Deco foi considerado, por gente séria e bem cotada, o melhor médio da Champions League. Ou seja: o jogador português recebeu essa distinção mas a imprensa desportiva andava ocupada a jogar fora do campo. Viram algum destaque sobre o assunto?
5. Mas deixem-me voltar ao "molho holandês" que Adriaanse deixou no Dragão: Diego foi considerado o melhor jogador do mês na Alemanha.
in Topo Norte - Jornal de Notícias - 2 Setembro 2006
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