Venga España, no te vengas abajo
1. Gosto de surpresas assim – e campeonatos –, capazes de destruir a ciência do futebol e, ainda por cima, a geometria das opiniões. A Ucrânia levou quatro da Espanha, não foi? Pois a Arábia Saudita, que tinha empatado a dois com a Tunísia, levou quatro dos ucranianos. Ninguém dava nada pela Tunísia e eles começaram por marcar contra a Espanha, que entrou debaixo de chuva. E o Gana, já falei do Gana? Já.
Estas coisas agradam-me. Às vezes apanho os comentadores, certamente bons especialistas, a desenhar os “esquemas de campo” – como uma fórmula perfeita: este para aqui, aquele para ali, 4x4x2, 4x3x3, 4x5x1, ou o “moderno” 3x4x3. Tudo funciona. Até a chuva está prevista, a profundidade da relva, a fricção dos pitões, a qualidade das camisolas – tudo. Ao mínimo deslize, a desculpa: “Ah, este fulano aqui desequilibrou.” Quer dizer – saltou do esquema, fintou onde não devia fintar, marcou como não estava previsto. Eles queriam tudo na geometria tradicional. Até Raul, ontem, não devia ter marcado aquele golo – porque usou o pé direito em vez do esquerdo. Mas, olha os do Equador, que estava escrito que baqueassem no primeiro quarto de hora. Como a França, por exemplo, que leva dois empates saborosos.
2. “Venga España, no te vengas abajo”, dizia um jornalista da rádio aqui do lado. A perder por um, com aquele golo de Joahar Mnari depois da monumental jogada de Jaziri, os espanhóis faziam “olas” apesar das jogadas de Trabelsi. Os idiotas. Deviam era voltar-se para trás, desatar em choro pegado, insultar Aragonés. E deviam ficar sentadinhos, encolher os ombros, maldizer a sorte. Era isso que os espanhóis deviam ter feito. Deviam ser mais portugas. Em vez disso diziam “Venga, que España llega y llega”. Palermas. Nem mereciam aquele miúdo Torres.
3. Por falar nisso: repararam no fantástico Cesc, no trabalho e na magia de Torres “el Niño”, na classe dos passes de Xabi Alonso (ele, que dizia onde era o meio-campo) e de Cesc, na suavidade de Raul, na visão de Xavi? Desculpem o entusiasmo. Mas o futebol faz mal ao coração, faz bem ao coração. E eu gosto.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 20 Junho 2006
Estas coisas agradam-me. Às vezes apanho os comentadores, certamente bons especialistas, a desenhar os “esquemas de campo” – como uma fórmula perfeita: este para aqui, aquele para ali, 4x4x2, 4x3x3, 4x5x1, ou o “moderno” 3x4x3. Tudo funciona. Até a chuva está prevista, a profundidade da relva, a fricção dos pitões, a qualidade das camisolas – tudo. Ao mínimo deslize, a desculpa: “Ah, este fulano aqui desequilibrou.” Quer dizer – saltou do esquema, fintou onde não devia fintar, marcou como não estava previsto. Eles queriam tudo na geometria tradicional. Até Raul, ontem, não devia ter marcado aquele golo – porque usou o pé direito em vez do esquerdo. Mas, olha os do Equador, que estava escrito que baqueassem no primeiro quarto de hora. Como a França, por exemplo, que leva dois empates saborosos.
2. “Venga España, no te vengas abajo”, dizia um jornalista da rádio aqui do lado. A perder por um, com aquele golo de Joahar Mnari depois da monumental jogada de Jaziri, os espanhóis faziam “olas” apesar das jogadas de Trabelsi. Os idiotas. Deviam era voltar-se para trás, desatar em choro pegado, insultar Aragonés. E deviam ficar sentadinhos, encolher os ombros, maldizer a sorte. Era isso que os espanhóis deviam ter feito. Deviam ser mais portugas. Em vez disso diziam “Venga, que España llega y llega”. Palermas. Nem mereciam aquele miúdo Torres.
3. Por falar nisso: repararam no fantástico Cesc, no trabalho e na magia de Torres “el Niño”, na classe dos passes de Xabi Alonso (ele, que dizia onde era o meio-campo) e de Cesc, na suavidade de Raul, na visão de Xavi? Desculpem o entusiasmo. Mas o futebol faz mal ao coração, faz bem ao coração. E eu gosto.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 20 Junho 2006
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