Ainda bem que o miúdo marcou o penalty
1. Duas frases pequenas de Scolari: “Jogamos melhor do que contra Angola” e “ainda queremos vencer o México para assegurar o primeiro lugar do grupo”. Só por isso valeu a pena. Não há como os bons resultados para acabar com a estratégia do meio golo de vantagem, que dá três gloriosos pontos, mas que nos deprime a nós, os loucos da bola que não são sequer treinadores de bancada. Jogar melhor do que contra Angola era o mínimo possível; querer ganhar ao México é indispensável – não para a classificação, mas para o futebol que Portugal ontem jogou, que é melhor do que o do México. O do México pode ter momentos de mariachis – mas, felizmente, o de Portugal não teve “viras” nem “fandangos”; foi muito razoável. Se fosse um “vira” estávamos hoje a choramingar.
2. Reparem numa equipa que tem Deco, Maniche, Costinha, Figo e Cristiano Ronaldo. O jogo é completamente diferente da que jogou com Angola e da que perdeu duas vezes contra a Grécia. E reparem nos movimentos da equipa depois de terem saído Figo, Deco e Maniche.
3. Ainda bem que deixaram marcar o penalty ao miúdo. O miúdo merecia. Ele chama-se Cristiano Ronaldo e é magnífico de pés, bom de bola, miúdo de cabeça. O Portugalinho queria um rapaz que não risse e “jogasse para a equipa”. Ninguém sabe explicar isso. Quando Ronaldo joga na selecção ou no Manchester, joga para quem? Ele tem a ambição do adolescente, o génio que arrasta a bola consigo, a audácia dos bons jogadores – mas metade dos adeptos queria-o fora dos convocados. Sabem porquê? Simples. As pessoas não gostam de tipos excepcionais nem de miúdos que namorem com loiras bonitas. E, dos excepcionais, preferem aqueles que nunca riem (como Figo). Deco era bom mas não era “português legítimo” e “não sabia cantar o hino com emoção”. Balelas – tudo inveja de um génio com os pés na bola, capaz de jogar vendo todo o campo. Ainda bem que ontem deixaram o miúdo marcar o penalty: ele merecia marcar um golo. E nós, que já tínhamos visto o golo fantástico de Deco, merecíamos que alguém risse daquela maneira, juvenil, deliciosa, feliz.
4. A Itália empatou. É sempre bom. Dá ânimo.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 18 Junho 2006
2. Reparem numa equipa que tem Deco, Maniche, Costinha, Figo e Cristiano Ronaldo. O jogo é completamente diferente da que jogou com Angola e da que perdeu duas vezes contra a Grécia. E reparem nos movimentos da equipa depois de terem saído Figo, Deco e Maniche.
3. Ainda bem que deixaram marcar o penalty ao miúdo. O miúdo merecia. Ele chama-se Cristiano Ronaldo e é magnífico de pés, bom de bola, miúdo de cabeça. O Portugalinho queria um rapaz que não risse e “jogasse para a equipa”. Ninguém sabe explicar isso. Quando Ronaldo joga na selecção ou no Manchester, joga para quem? Ele tem a ambição do adolescente, o génio que arrasta a bola consigo, a audácia dos bons jogadores – mas metade dos adeptos queria-o fora dos convocados. Sabem porquê? Simples. As pessoas não gostam de tipos excepcionais nem de miúdos que namorem com loiras bonitas. E, dos excepcionais, preferem aqueles que nunca riem (como Figo). Deco era bom mas não era “português legítimo” e “não sabia cantar o hino com emoção”. Balelas – tudo inveja de um génio com os pés na bola, capaz de jogar vendo todo o campo. Ainda bem que ontem deixaram o miúdo marcar o penalty: ele merecia marcar um golo. E nós, que já tínhamos visto o golo fantástico de Deco, merecíamos que alguém risse daquela maneira, juvenil, deliciosa, feliz.
4. A Itália empatou. É sempre bom. Dá ânimo.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 18 Junho 2006
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