junho 16, 2006

Confiança, talento e alegria

1. O Equador primeiro, naturalmente. O de Kaviedes, o de Tenório, o de Delgado, o de Valencia. Só lhe falta ganhar à Alemanha para ser considerado a revelação da primeira fase deste Mundial. Segundo as estatísticas, a sua eficácia é de 50%, ou seja, metade dos lances para a baliza resultaram em golo – se pensarmos que o Brasil está em 14º lugar nesta tabela, dá que pensar. Em Quito, há quatro anos e meio, a estatística foi semelhante num jogo que terminou em 1-0 favorável ao Equador contra o “escrete” (na altura, “a selecção bailarina”, antes de Scolari tomar conta do assunto). O Brasil tinha um percurso acidentado até então – o tratamento de Felipão foi o de um psicanalista. Quis jogar no Olímpico Monumental de Porto Alegre, onde tinha treinado o Grémio; os seguranças não deixavam que ninguém “xingasse” a equipa, nem nos treinos. Até algumas faixas tinham sido estrategicamente colocadas: “Tinga, eu te amo” era a mais improvável, mas estava lá. “Níveis de confiança” era o seu lema. Tiago, ontem à tarde, falou neles – nos níveis; está tudo confiante para o nosso jogo com o Irão. Não sei se foram os “níveis de confiança” que fizeram do Equador aquele pequeno e triunfal El Niño que marcou cinco golos contra a Polónia e a Costa Rica, mas acho que também foram o talento e a alegria, outros ingredientes fundamentais. Outro é a vontade absoluta, que empurrou Angola; jogar contra Portugal, a velha potência colonial, deu-lhes ânimo – nunca mais vão jogar assim.
Talento, vontade, alegria e confiança. É isso que é preciso para jogar bom futebol. Mas não esqueçam o talento.

2. Anteontem Costinha manifestou-se sobre a contratação de Scolari. Ontem Figo voltou ao tema – o treinador tem de renovar senão tudo estragado. Parece-me um exagero. Os jogadores gostam do clima que ele cria no balneário, gostam de ganhar e gostam, enfim, da voz de comando. É normal. Os professores mais severos são os mais apreciados pelos bons alunos. Mas esta pressão é de meninos.

3. A Inglaterra segue em frente. Mas tem um futebol fraquinho. E ligeiramente chato.

in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 16 Junho 2006