Almoço de família
Um casarão bonito lembrando o Império, rodeado de árvores. Entre Carcavelos e a Parede, a Casa das Palmeiras merece uma visita. Aos domingos, há 'buffet' de cozido à portuguesa.
Ao Domingo, digamos que àquela hora de final de almoço, boa para quem acorda tarde e com apetite, a sala de refeições da Casa das Palmeiras não podia ser mais acolhedora. Chego a pedir que a Primavera chegue chuvosa aos domingos - porque, e é uma questão pessoal, não me passa pela cabeça trocar um belo dia de praia por uma ida ao restaurante. Mas imagino que chuvisca; cai aquela melancolia de domingo, aquela nuvenzinha esparsa de humidade que escurece o dia e atrasa a tragédia de fim de tarde. E, finalmente, há apetite. Não vale a pena comer um cozido à portuguesa sem que o apetite bata à porta e sem que haja ambiente. Muitas vezes, a qualidade do cozido à portuguesa, magno prato familiar feito para grupos numerosos, pode até nem ser superlativa - mas tem de haver "ambiente", ou seja, uma sala e uma disposição à mesa.
Sobem-se as escadas que vão do pátio e jardim da Casa das Palmeiras para a sua varandinha de entrada, envidraçada, onde umas cadeiras nos recebem para que se materialize a espera. A sala agrupou mesas, cadeiras, grupos que vêm - em família - celebrar o cozido à portuguesa. O ambiente é familiar, delicado, educado, sereno. Vinhos sobre a mesa, um recanto onde o 'buffet' se organiza, odores de café encaminhando-se para as últimas conversas de almoço, conhaques, aguardentes. Não falarei do cozido propriamente dito; limito-me a dizer o essencial: as couvinhas são suculentas; o nabo, o feijão e a cenoura estão disponíveis com generosidade; o arroz perfumado; as carnes servidas com entusiasmo. A isto acresce uma carta de vinhos bem escolhidos e onde a qualidade suplanta o número das marcas. A mesa de sobremesas é, também ela, convidativa.
Dias antes, numa noite cheia daquela tepidez tardia que envergonha os românticos, lá fomos, não para o cozido mas para debulhar o cardápio onde adivinhámos uma lista de entradas também ela familiar, feita de cogumelos recheados, gambas fritas, espargos gratinados com salmão fumado, mexilhões, um presunto, e saladas muito substanciais e sem designações pernósticas. Corremos pelo capítulo dos 'vol-au-vent', onde havia os de bacalhau, os de caça e de vegetais, e passando os olhos pelos peixes reparámos em dois bacalhaus (gratinado no barro e à marinheiro), nuns rolinhos de linguado com camarão "e um toque de caril" além das alíneas de linguado, servidos na forma de filetes (com arroz de tomate), ou de lombinhos perfeitos (à grenoblesa ou à delícia), até chegarmos às gambas (panadas, com arroz de tomate, ou em sumptuoso molho de caril). Seis bifes diversos (com molhos próprios da espécie, desde os de queijo, que sempre acho recusáveis, até aos de mostarda, pimenta e até frutas) encaminham-nos também para um rosbife que recomendo, para as costeletinhas de cordeiro (fritinhas, de método caseiro, e ainda à provençal ou à aveirense), lombo de porco com coentros e coxas de pato que não cheguei a provar mas de que me chegaram ecos de aprovação.
Se isto não for convidativo, mais duas notas, essencialmente positivas, para a carta de sobremesas, com o "bolo rico de chocolate" transportando tons de 'mousse', muito cremoso, com trouxas-de-ovos, papos-de-anjo, e ainda outras amostras conventuais bejenses (o bolo do abade, do Convento de Nossa Senhora da Esperança, e o "bom como tão bom" do Convento de Nossa Senhora da Conceição). Esclareço ainda que os jantares de sexta e de sábado oferecem a hipótese de um jantar de degustação, acompanhados de vinho a copo, o que é sempre uma excelente oportunidade. Há uma vantagem depois disto: ao descer a escadaria, ao enfrentar a noite, ao passar pelos arbustos floridos da Casa das Palmeiras, antes de regressar ao carro, há uma neblina qualquer a atravessar-se no caminho. Nunca soube se era da aguardente final se da maresia próxima vinda da marginal. É também isso que me faz regressar à Casa: aquele índice de satisfação que marca o final do jantar.
À lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * *
Acesso: * * *
Decoração: * * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 110
Vinhos brancos: 60
Portos & Madeiras: 12
Uísques: 20
Aguardentes & Conhaques: 20
Outros dados
Charutos: Sim
Estacionamento: Fácil
Levar crianças: Sim
Área não fumadores: Não
Reserva: Aconselhável ao almoço
Preço médio: 30 Euros
RESTAURANTE CASA DAS PALMEIRAS
Avenida da República, 628
2775-271 Parede
Tel: 21 4570336
Fecha domingos ao jantar e segundas
in Revista Notícias Sábado – 13 Maio 2006
Ao Domingo, digamos que àquela hora de final de almoço, boa para quem acorda tarde e com apetite, a sala de refeições da Casa das Palmeiras não podia ser mais acolhedora. Chego a pedir que a Primavera chegue chuvosa aos domingos - porque, e é uma questão pessoal, não me passa pela cabeça trocar um belo dia de praia por uma ida ao restaurante. Mas imagino que chuvisca; cai aquela melancolia de domingo, aquela nuvenzinha esparsa de humidade que escurece o dia e atrasa a tragédia de fim de tarde. E, finalmente, há apetite. Não vale a pena comer um cozido à portuguesa sem que o apetite bata à porta e sem que haja ambiente. Muitas vezes, a qualidade do cozido à portuguesa, magno prato familiar feito para grupos numerosos, pode até nem ser superlativa - mas tem de haver "ambiente", ou seja, uma sala e uma disposição à mesa.
Sobem-se as escadas que vão do pátio e jardim da Casa das Palmeiras para a sua varandinha de entrada, envidraçada, onde umas cadeiras nos recebem para que se materialize a espera. A sala agrupou mesas, cadeiras, grupos que vêm - em família - celebrar o cozido à portuguesa. O ambiente é familiar, delicado, educado, sereno. Vinhos sobre a mesa, um recanto onde o 'buffet' se organiza, odores de café encaminhando-se para as últimas conversas de almoço, conhaques, aguardentes. Não falarei do cozido propriamente dito; limito-me a dizer o essencial: as couvinhas são suculentas; o nabo, o feijão e a cenoura estão disponíveis com generosidade; o arroz perfumado; as carnes servidas com entusiasmo. A isto acresce uma carta de vinhos bem escolhidos e onde a qualidade suplanta o número das marcas. A mesa de sobremesas é, também ela, convidativa.
Dias antes, numa noite cheia daquela tepidez tardia que envergonha os românticos, lá fomos, não para o cozido mas para debulhar o cardápio onde adivinhámos uma lista de entradas também ela familiar, feita de cogumelos recheados, gambas fritas, espargos gratinados com salmão fumado, mexilhões, um presunto, e saladas muito substanciais e sem designações pernósticas. Corremos pelo capítulo dos 'vol-au-vent', onde havia os de bacalhau, os de caça e de vegetais, e passando os olhos pelos peixes reparámos em dois bacalhaus (gratinado no barro e à marinheiro), nuns rolinhos de linguado com camarão "e um toque de caril" além das alíneas de linguado, servidos na forma de filetes (com arroz de tomate), ou de lombinhos perfeitos (à grenoblesa ou à delícia), até chegarmos às gambas (panadas, com arroz de tomate, ou em sumptuoso molho de caril). Seis bifes diversos (com molhos próprios da espécie, desde os de queijo, que sempre acho recusáveis, até aos de mostarda, pimenta e até frutas) encaminham-nos também para um rosbife que recomendo, para as costeletinhas de cordeiro (fritinhas, de método caseiro, e ainda à provençal ou à aveirense), lombo de porco com coentros e coxas de pato que não cheguei a provar mas de que me chegaram ecos de aprovação.
Se isto não for convidativo, mais duas notas, essencialmente positivas, para a carta de sobremesas, com o "bolo rico de chocolate" transportando tons de 'mousse', muito cremoso, com trouxas-de-ovos, papos-de-anjo, e ainda outras amostras conventuais bejenses (o bolo do abade, do Convento de Nossa Senhora da Esperança, e o "bom como tão bom" do Convento de Nossa Senhora da Conceição). Esclareço ainda que os jantares de sexta e de sábado oferecem a hipótese de um jantar de degustação, acompanhados de vinho a copo, o que é sempre uma excelente oportunidade. Há uma vantagem depois disto: ao descer a escadaria, ao enfrentar a noite, ao passar pelos arbustos floridos da Casa das Palmeiras, antes de regressar ao carro, há uma neblina qualquer a atravessar-se no caminho. Nunca soube se era da aguardente final se da maresia próxima vinda da marginal. É também isso que me faz regressar à Casa: aquele índice de satisfação que marca o final do jantar.
À lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * *
Acesso: * * *
Decoração: * * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 110
Vinhos brancos: 60
Portos & Madeiras: 12
Uísques: 20
Aguardentes & Conhaques: 20
Outros dados
Charutos: Sim
Estacionamento: Fácil
Levar crianças: Sim
Área não fumadores: Não
Reserva: Aconselhável ao almoço
Preço médio: 30 Euros
RESTAURANTE CASA DAS PALMEIRAS
Avenida da República, 628
2775-271 Parede
Tel: 21 4570336
Fecha domingos ao jantar e segundas
in Revista Notícias Sábado – 13 Maio 2006
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