março 12, 2011

Escrito nas estrelas

Não estava escrito nas estrelas que o FC Porto ia ganhar ao CSKA; foi uma vitória construída em campo, com uma primeira parte deficiente, no fio da navalha, e um segundo tempo disciplinado, bem alinhavado – e um remate, daqueles, de Guarín. Com o 1-0 confirmado, houve tempo para olés, passes e “jogo do meio”, como se requer nestas circunstâncias. Não basta ganhar ao adversário; é preciso brincar com ele e dar-lhe esperança para que a vitória tenha mais sabor e intensidade.

2. O meu amigo Juan Gabriel, director de comunicação do Benfica, veio ontem em defesa do seu clube e do casamento para toda a vida (é sempre bom haver quem defenda os valores tradicionais). Foram declarações sobre declarações do presidente do FC Porto, que já eram declarações sobre declarações do presidente do Benfica, que por sua vez eram declarações sobre o facto ter sabido, há uns meses, que o Benfica não ia ganhar o campeonato – porque estava escrito nas estrelas. Essa mistura entre futebol e astrologia parece-me, vá lá, uma coisa insólita. Que se preveja, ao longo do campeonato, que as coisas possam correr bem ou mal, vá que não vá – mas que em Agosto ou Setembro, imaginemos, o presidente do Benfica tivesse sabido que o clube da Luz não ia ganhar o campeonato e não nos tivesse alertado em conformidade, isso é uma injustiça de que não recuperaremos tão cedo.

Em Agosto do próximo ano, quando os jornais anunciarem que o Benfica está quase a envergar faixas, é favor dar-nos conta dos segredos das estrelas, tão acessíveis ao seu presidente. Escusávamos de nos angustiar.

Aliás, se o presidente do Benfica souber, por uma das suas fontes (deste ou de outro mundo), que os árbitros se preparam para roubar o seu clube logo no início do campeonato, é favor avisar-nos. A imprensa, livre e democrática, não deixará de denunciar essa grave ameaça. Estaremos na primeira linha, de binóculos, a olhar para as estrelas.

in A Bola - 12 Março 2011

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