Intervalo para a taça
Na próxima segunda-feira, vamos poder ver o jogo entre o Manchester United e o Arsenal em Old Trafford. Chamo a atenção para o facto porque Alex Fergusson e o ManUnited pediram aos adeptos para não insultarem Arsène Wenger, o treinador dos londrinos. Mais. O ManUnited pondera retirar os bilhetes de época aos adeptos que entoarem cânticos ofensivos para Wenger: «Há muito para pensar e admirar no jogo sem ter de se denegrir pessoas.» Eu gostava de ver um clube, até mesmo o meu, a tomar decisões idênticas. O futebol está cheio de coisas funestas, e é pena — na maior parte das vezes, de insultos, bolas de golfe, maçãs e protecção a bandoleiros que deviam estar proibidos de entrar nos estádios.
Isto acontece porque gosto de estádios. Ver um jogo no estádio oferece uma vantagem adicional importante e quase decisiva sobre ver um jogo na televisão: não tem comentadores. Sei que é uma campanha pessoal e solitária (escrevi sobre o assunto no Expresso da semana passada), mas acho que merece discussão. Quando vemos um comentário a um filme, a um livro, a uma obra de arte — pedimos qualidade, gramática e ponderação. Às vezes pedimos humor, que é necessário. Até a parcialidade é aceitável desde que o comentador, ou crítico, esclareça o seu lado da barreira. O futebol, por isso mesmo, é o lado da nossa vida onde são admitidos a cegueira, o entusiasmo excessivo, a falta de imparcialidade. Mas há um mínimo de urbanidade e de cavalheirismo que deviam compor o retrato num estádio. Não sei se viram Invictus, o filme sobre Mandela e o rugby, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman e Matt Damon. A certa altura alguém diz: «O futebol é um jogo de cavalheiros jogado por desordeiros. O rugby é um jogo de desordeiros jogado por cavalheiros.» E era isto que eu gostava: que o futebol voltasse a ser jogado e comentado por cavalheiros. Os cavalheiros têm humor (muito humor), festejam, assobiam, são parciais, mas não passam o limite da absoluta sandice.
É o intervalo para a Taça. Para a semana volto ao ataque.
in A Bola - 11 Dezembro 2010
Isto acontece porque gosto de estádios. Ver um jogo no estádio oferece uma vantagem adicional importante e quase decisiva sobre ver um jogo na televisão: não tem comentadores. Sei que é uma campanha pessoal e solitária (escrevi sobre o assunto no Expresso da semana passada), mas acho que merece discussão. Quando vemos um comentário a um filme, a um livro, a uma obra de arte — pedimos qualidade, gramática e ponderação. Às vezes pedimos humor, que é necessário. Até a parcialidade é aceitável desde que o comentador, ou crítico, esclareça o seu lado da barreira. O futebol, por isso mesmo, é o lado da nossa vida onde são admitidos a cegueira, o entusiasmo excessivo, a falta de imparcialidade. Mas há um mínimo de urbanidade e de cavalheirismo que deviam compor o retrato num estádio. Não sei se viram Invictus, o filme sobre Mandela e o rugby, de Clint Eastwood, com Morgan Freeman e Matt Damon. A certa altura alguém diz: «O futebol é um jogo de cavalheiros jogado por desordeiros. O rugby é um jogo de desordeiros jogado por cavalheiros.» E era isto que eu gostava: que o futebol voltasse a ser jogado e comentado por cavalheiros. Os cavalheiros têm humor (muito humor), festejam, assobiam, são parciais, mas não passam o limite da absoluta sandice.
É o intervalo para a Taça. Para a semana volto ao ataque.
in A Bola - 11 Dezembro 2010
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