janeiro 18, 2010

Blog # 526

Durante dois dias, as televisões correram atrás das imagens mais chocantes. Não interessavam apenas as ruínas. Era preciso que, por detrás das ruínas houvesse corpos trucidados – e sobreviventes para iluminar o drama. Depois, era preciso violência. O Haiti era o cenário ideal: um dos países mais desgraçados do mundo, onde os pobres se transformaram nos atores da tragédia da sobrevivência e da luta no meio da morte. Depois, as imagens não editadas passaram a ser rigorosamente escolhidas, à mistura com as do ‘star system’ solidário. Entretanto, a ajuda tardava. São pretos. Morrem por si mesmos. Há uma ‘correção demográfica’ que arrasa os pobres de tempos a tempos e lhes dá a abertura dos telejornais. Depois tudo volta ao normal, é só substituir o sangue das imagens.

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De William M. Thackeray (o génio talentoso de ‘A Fogueira das Vaidades’, o original), a Guerra e Paz publica ‘O Livro dos Snobs’ (com as ilustrações genuínas) – um livro que faz falta em todas as mesas de cabeceira masculinas.

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FRASES

"Não tinha noção de quanto a terra podia tremer. Talvez por isso não tenha pensado na morte." Mariana Palavra, jornalista portuguesa da ONU. Ontem, no CM

"Ainda não vi hospitais, acampamentos, equipas de limpeza dos destroços. Coisas de somenos." Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

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