agosto 22, 2009

Ainda estão nos dribles

Houve, no passado, empates e derrotas que depois se encaminharam para o penta. Empatar na primeira jornada era chato, mas nada que não se resolvesse. Com o tempo aprende-se a esperar pelo tempo – as coisas não estão afinadas, ainda não há «automatismos» (um das palavras que menos tem a ver com o futebol), trata-se de uma equipa nova, com jogadores que ainda não estão a trabalhar a cem por cento. Todos somos capazes de inventar desculpas e algumas delas estarão inteiramente correctas depois de vermos os três empates dos «três grandes». Se não me engano, terminei a crónica da semana passada pedindo para o FC Porto jogar de acordo com o que Jesualdo disse no final do encontro com o Paços (o da Supertaça) – e não de acordo com aquilo que jogou nesse dia. Meu dito, meu feito: fizeram ao contrário.

Não gosto muito de repetir desculpas e prefiro olhar para a semana seguinte, para o jogo seguinte, para a vitória seguinte. Se o futebol fosse da ordem dos «automatismos», jogava-se a régua e esquadro com um transferidor pelo meio; acontece que o Verão ainda vai no seu segundo terço propriamente dito e as temperaturas pedem tranquilidade nos adeptos e concentração aos artistas. É o que faço.

De resto, Paulo Bento, Jorge Jesus e Jesualdo Ferreira não têm entendimento muito diferente do que deve ser um jogo de futebol. No entanto, mandam jogar de maneira diferente – e obtêm os mesmos resultados. Ainda estão nos dribles.

Hulk tem um problema essencial – para o adepto sem rede e munido da fé suficiente para ser adepto. Esse problema chama-se «baliza» e não me venham com explicações rebuscadas. A defesa adversária treme quando vê Hulk, o homem que é capaz de fazer tudo até chegar diante da baliza: arrancar com uma potência quase sobre-humana, correr e desenhar laterais de sonho, fintar, driblar em duplas perfeitas, cruzar com elegância e até cair. As defesas tremem de medo diante de Hulk, os guarda-redes tremem de medo. Mas as balizas, caramba, as balizas não tremem nem por decreto. Ora, um homem destes enerva-se frequentemente. E isso não pode acontecer.

in A Bola - 22 Agosto 2009

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