agosto 15, 2009

Não há campeões de Inverno

1. Se olharmos apenas para os números – o que está muito na moda hoje em dia – podemos dizer que se alargou o fosso entre «os três grandes» e o resto dos clubes. O dinheiro movimentado por Benfica, FC Porto e Sporting, por esta ordem (sendo que só o FCP arrecadou mais do que gastou), atinge proporções que são uma ninharia em relação a outros campeonatos, mas muito significativos em Portugal. Eu desconfio sempre da onda gigantesca de contratações que pode gerar muitas primeiras páginas e entusiasmo nas hostes, mas que precisa de talento no campo para crescer. Prefiro as surpresas que rasgam o espectáculo das estrelas e se revelam no jogo propriamente dito. Foi assim com Cissokho, foi assim com Nené (o melhor marcador na última Liga) e até poderia ser assim com Cristiano (do Paços).
A aposta nas «grandes figuras» lembra-me desastres recentes ou distantes que, se não põem em causa o valor desses jogadores, recordam a necessidade de saber a que é que se está a jogar. Se é futebol mesmo, por exemplo.A aposta nas «marcas», um delírio sem justificação para o pequeno futebol português, pode ser o golpe de misericórdia nas suas finanças.
Mas o campeonato começa hoje, e isso é que importa. Do FC Porto espero, por isso, que tivesse aprendido com as declarações de Jesualdo no final do jogo da Supertaça. E com calma, porque não há campeões de Inverno.

2. Em Portugal criou-se a ideia de que fazer perguntas sobre a selecção nacional é semelhante a ser-se «anti-patriota», um crime que comove muita gente que pendura bandeirinhas à janela. Vamos e venhamos, convinha saber o que se aprendeu – em matéria de futebol – com o jogo de quarta-feira com o Liechtenstein. 3-0, uma fartura obtida frente à selecção que está em 150º lugar no ranking da FIFA? 4x4x2 em vez de 4x3x3, se se voltou ao mesmo na segunda parte? Ora bolas. O importante é saber que, para afinar os jogos decisivos que nos faltam para decidir se vamos, ou não, à África do Sul, o Liechtenstein nos recebeu com afabilidade e simpatia. Mas o resto está na mesma: 45 minutos em branco, se é que não repararam.

in A Bola - 15 Agosto 2009

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