Um adeus ao deserto
1. O Lisboa-Dakar foi anulado. O mundo está perigoso, cada vez mais perigoso, e o festival de carripanas a atravessar o deserto já não pronunciará este ano aquelas designações fantásticas, como Marrocos, Atlas, Mauritânia, Senegal. Num mundo sitiado pela indiferença e pela monotonia dos destinos turísticos, o Lisboa-Dakar era uma espécie de intromissão do desconhecido e da paisagem que todas as noites entrava nas nossas televisões. Sinceramente, carripanas é o que há mais e o automobilismo não me comove - mas é a mim, cuide o leitor. Eu ficava fascinado, sim, com as paisagens, com o deserto, com o sol. Atravessei-o em jipe também, numa prova para amadores, e fiquei fã. Fã das paisagens e dos pneus furados, da lentidão da marcha e das paragens a meio das dunas para contemplar o céu, o anoitecer, o rasto de estrelas no meio da escuridão, o ruído dos animais desconhecidos. Mas o mundo está perigoso, cada vez mais perigoso. Um passeio no deserto também já é um risco; um dia, estaremos sitiados dentro de nossas casas, ameaçados na nossa rua. Não estranhem.
2. Carlos Paredes ficou na praia e regressou uns dias depois porque, provavelmente, as águas dos rios paraguaios são mais saborosas do que o banco de suplentes de Alvalade. Com Liedson, parece que afinal o brasileiro não conseguiu desmentir as declarações sobre "a ditadura" e o "quartel-general", e lá veio com aquele ar de semi-esfinge egípcia. Já Paulo Bento foi claro: "Ficava mais preocupado se houvesse anarquia. "À primeira vista, não precisa de se esforçar muito mais.
3. Sou contra estas "paragens de Inverno" no campeonato português. O argumento de que são uma pausa para dar descanso à rapaziada não me convence; se é pelas "festas", mais vale aproveitar para ir ver jogos ao estádio; se é pelo frio, pensem na Finlândia. No ano passado, a "paragem de Inverno" foi funesta para o F. C. Porto. Este ano, para reabrir o campeonato, Jesualdo disse que "no futebol nada se repete", querendo isto dizer que está preparado para o combate. O problema é que a tragédia nunca se prevê; é sempre uma ameaça à espera de ser desmentida.
4. Durante a "paragem de Inverno", para felicidade dos adeptos de bom futebol, vimos jogos ingleses. A verdade é que uma disputa entre os dois últimos da Premiership inglesa é mais emocionante do que a larga maioria dos jogos da primeira metade do nosso campeonato. Não é vontade de dizer mal; o leitor avalie. É com esta manada de jogadores - relaxados, com férias de Inverno e físico enregelado, que entramos no novo ano. Às vezes não percebo como a Liga ainda não pensou em mudar a meteorologia por decreto.
Nota de Redacção do JN: Francisco José Viegas assina hoje a última crónica "Topo Norte". O "Jornal de Notícias" agradece a colaboração prestada desde de 2004.
in Topo Norte - Jornal de Notícias - 5 de Janeiro 2008
2. Carlos Paredes ficou na praia e regressou uns dias depois porque, provavelmente, as águas dos rios paraguaios são mais saborosas do que o banco de suplentes de Alvalade. Com Liedson, parece que afinal o brasileiro não conseguiu desmentir as declarações sobre "a ditadura" e o "quartel-general", e lá veio com aquele ar de semi-esfinge egípcia. Já Paulo Bento foi claro: "Ficava mais preocupado se houvesse anarquia. "À primeira vista, não precisa de se esforçar muito mais.
3. Sou contra estas "paragens de Inverno" no campeonato português. O argumento de que são uma pausa para dar descanso à rapaziada não me convence; se é pelas "festas", mais vale aproveitar para ir ver jogos ao estádio; se é pelo frio, pensem na Finlândia. No ano passado, a "paragem de Inverno" foi funesta para o F. C. Porto. Este ano, para reabrir o campeonato, Jesualdo disse que "no futebol nada se repete", querendo isto dizer que está preparado para o combate. O problema é que a tragédia nunca se prevê; é sempre uma ameaça à espera de ser desmentida.
4. Durante a "paragem de Inverno", para felicidade dos adeptos de bom futebol, vimos jogos ingleses. A verdade é que uma disputa entre os dois últimos da Premiership inglesa é mais emocionante do que a larga maioria dos jogos da primeira metade do nosso campeonato. Não é vontade de dizer mal; o leitor avalie. É com esta manada de jogadores - relaxados, com férias de Inverno e físico enregelado, que entramos no novo ano. Às vezes não percebo como a Liga ainda não pensou em mudar a meteorologia por decreto.
Nota de Redacção do JN: Francisco José Viegas assina hoje a última crónica "Topo Norte". O "Jornal de Notícias" agradece a colaboração prestada desde de 2004.
in Topo Norte - Jornal de Notícias - 5 de Janeiro 2008
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